Depois de Jorginho desperdiçar, contra a Suíça, o pênalti que praticamente colocaria a Itália na Copa do Mundo de 2022, a Nazionale viajou até Belfast para enfrentar a Irlanda do Norte, precisando vencer e, de preferência fazer saldo, para não precisar ficar de olho no que os helvéticos fariam em casa, diante da Bulgária. Contudo, a Squadra Azzurra não triunfou, sequer fez gols e vai ter de enfrentar o novo e complicado modelo de repescagem da Uefa para voltar a disputar a grande competição de seleções.
Com muitos desfalques, Roberto Mancini fez apenas duas mudanças em relação à equipe que empatou com a Suíça no San Siro, com Tonali e Berardi assumindo as vagas de Locatelli e Belotti. Sem Immobile, lesionado, o técnico decidiu jogar sem um centroavante de referência e escalou Insigne como falso nove.
O primeiro tempo teve um padrão repetido nos últimos jogos da Itália contra adversários mais frágeis, que defendem com bloco baixo e muitas peças dentro da área. A Squadra Azzurra circulou a bola de um lado a outro, sem velocidade e com pouca movimentação, sendo muito previsível e facilitando a vida dos defensores. Além dessa dificuldade técnica e tática que vem se repetindo, o fator da importância da partida fez claramente muita diferença. A equipe foi muito cautelosa em buscar as jogadas, com medo de cometer erros.
Mancini repetiu o padrão ofensivo, fixando Emerson na base da jogada e liberando Di Lorenzo pela direita, para fixar a marcação bem próximo à linha lateral – na esquerda, Chiesa ou Insigne faziam o mesmo papel. Jorginho ficou responsável pelo primeiro passe, enquanto Tonali e Barella tinham a missão de circular, buscando se conectar com Insigne e Berardi.
O time criou uma chance ou outra, principalmente quando o passe longo achou Di Lorenzo, Insigne e Chiesa em situação de um contra um, ou pelo menos com o segundo marcador mais afastado. A Irlanda do Norte chegou a ocupar sua área de defesa com nove jogadores, dificultando muito as finalizações da Itália.
Depois de um primeiro tempo tão ruim, se imaginava que Mancini faria mudanças radicais já na volta do intervalo – em termos de peças e, principalmente, na postura. Isso não aconteceu. O treinador trocou apenas o amarelado Tonali por Cristante e o segundo tempo seguiu com na mesma toada do primeiro, com um time lento e sem entender a urgência de buscar o resultado.
Logo antes dos 55 minutos, a situação piorou, pois a Suíça abriu o placar contra a Bulgária. Isso não alterou a postura da Itália em campo. Nada mudou mesmo quando Vargas aumentou a vantagem dos suíços. O risco foi aumentando, Mancini colocou Belotti, Bernardeschi e Locatelli em campo, mas o desempenho continuou muito ruim. Embora o esquema tático e as peças fossem diferentes, os azzurri continuaram atuando mal.
Além da lentidão para trocar passes, a Itália perdeu até mesmo as poucas escapadas que conseguia para tentar o mano a mano, além de começar a permitir descidas perigosas da Irlanda do Norte em contra-ataques. Enquanto isso, a Suíça teve dois gols anulados e não desperdiçou na terceira oportunidade, fazendo 3 a 0 contra a Bulgária: a Squadra Azzurra, acéfala em campo, precisava de pelo menos dois gols em Belfast. Mancini lançou sua última cartada, pondo Scamacca no lugar de Emerson, mas o cenário permaneceu o mesmo – e a Suíça ainda faria o quarto em Lucerna.
Nos derradeiros minutos da partida, a Itália tentou uma finalização ou outra de fora da área, efetuou cruzamentos ruins, que favoreciam a defesa bem postada dos norte-irlandeses, e empilhou escanteios cobrados de maneira muito displicente. Além disso, o time da casa ainda chegou perto de marcar quando Washington foi lançado e Donnarumma passou em branco, deixando o gol aberto. Acerbi amaciou no bloqueio parcial e Bonucci salvou em cima da linha. Pouco depois, o árbitro István Kovács apitou o final da partida e o filme de terror do ciclo de 2018 irá se repetir: a Itália ficou com o segundo lugar do Grupo C e terá de enfrentar a repescagem para a Copa do Mundo.
Não precisava ser assim. A Itália teve dois pênaltis perdidos contra a Suíça (na ida e na volta), amargou um empate melancólico contra a Bulgária, desperdiçando muitas chances de gol em Florença, e ainda fez um jogo muito morno contra a Irlanda do Norte, no momento onde a equipe mais precisava entregar. Chances não faltaram e a Itália conseguiu desperdiçar todas elas. Não passaria impune, portanto.
Agora resta à comissão técnica aguardar o sorteio do quadrangular no dia 26 de novembro. Cabeça de chave, a Itália fará a semifinal da repescagem em casa, em jogo único, e ainda precisará de um sorteio para, caso vença o seu primeiro compromisso, descobrir onde atuará na final – no mesmo sistema. Até lá, Mancini e seus subordinados deverão estudar bastante as seleções que podem enfrentar em março e trabalhar muito para recuperar emo desempenho alcançado até a Euro. Na repescagem, a campeã do continente não pode falhar.