Nesta quarta, 31 de maio, tivemos uma das finais mais disputadas da história da Liga Europa – tão acirrada que começou em um mês e terminou no outro, pois já havia passado da meia-noite de 1º de junho em Budapeste, capital da Hungria. Na Puskás Arena, Sevilla e Roma protagonizaram um épico: após 1 a 1 no tempo normal e na prorrogação, a decisão foi para os pênaltis e terminou com a sétima vitória rojiblanca na competição.
Uma das grandes expectativas da noite girava em torno das consequências do título: em volta de qual marca seria quebrada e qual seria a nova linha na história do torneio e dos envolvidos. De um lado, José Mourinho, em sua segunda final continental desde que chegou a Roma, há duas temporadas. Vencedor da primeira edição da Conference League, o Special One queria manter sua invencibilidade em decisões dos certames da Uefa, excluindo Supercopas, e levar a Loba a seu segundo título em competições organizadas pela máxima entidade do futebol europeu.
Do outro lado, o Sevilla. Um time que mudou três vezes de treinador ao longo desta temporada e que brigou para não cair em La Liga. Mas, em se tratando de Liga Europa, não dá para ignorar o manda chuva da competição. Os rojiblancos chegavam a Budapeste com seis títulos em seis finais disputadas, todas num espaço de 17 anos. E, na Hungria, o pacto seria renovado.
Outra expectativa que pairou no pré-jogo foi se o argentino Dybala iniciaria a decisão no onze inicial da Roma, já que estava retornando de lesão. Mourinho disse, em entrevista coletiva, que o camisa 21 teria capacidade de atuar por, no máximo, 30 minutos. Porém, era cortina de fumaça: o português escalou La Joya como titular, mas sabendo que ele não teria condições físicas de aguentar a partida inteira.
A princípio, a decisão de sair jogando com Dybala se mostrou acertada. Aos 11 minutos, ele recebeu um passe dentro da área e tocou para Çelik ajeitar para Spinazzola: também dentro da área, sozinho, o lateral-esquerdo finalizou para a defesa de Bono. A primeira grande chance da Roma na partida foi desperdiçada, apesar de claríssima.
Dybala também foi o responsável por abrir o placar, aos 34 minutos. Após excelente trabalho de Cristante para roubar a bola de Rakitic no meio-campo, Mancini aproveitou a posse e deu um belo passe em profundidade para o atacante. O argentino que, já dominou correndo entre os marcadores, saiu cara a cara com Bono e guardou com um chute cruzado.
O Sevilla respondeu com uma cabeçada para fora de Fernando, após escanteio cobrado por Rakitic. E, já nos acréscimos, o próprio meia croata recebeu na entrada da área e efetuou um belo chute, que parou na trave de Rui Patrício. Por pouco a bola não voltou no corpo do goleiro e morreu no fundo das redes.
Embora perigosas, foram pouquíssimas as grandes chances para os dois lados na primeira etapa. Muito truncado, o jogo parou várias vezes devido às faltas marcadas por Anthony Taylor. Foram poucos minutos de bola rolando e isso satisfazia a Roma, que tinha vantagem no placar.
Porém, algo que chamou a atenção é que, em fase ofensiva, o Sevilla tinha muita facilidade para atacar o lado direito e conseguia chegar inteiro para alçar bolas na área. Jogadores como Ocampos, Óliver Torres, Fernando e Navas eram capaz de fazer boas associações e efetuar cruzamentos para a área romana.
Na segunda etapa, o Sevilla voltou mais agressivo, buscando atuar no campo da Roma e impondo o seu ritmo de jogo. As entradas de Lamela e Suso nos lugares de Bryan Gil e Óliver Torres deram maior profundidade e amplitude ao time de José Luis Mendilibar, ao passo que o reposicionamento de Ocampos pelo centro deixou a defesa giallorossa mais empenhada.
O Sevilla continuou a apostar em cruzamentos e, numa dessas bolas alçadas à área, Mancini fez gol contra, empatando o jogo. Navas foi até a linha de fundo e buscou a cabeçada de Ocampos, mas a bola passou pelo argentino e bateu no capitão romanista, que disputava espaço com En-Nesyri. Autor da assistência para o tento de Dybala, o zagueiro prosseguia a sua caminhada para se tornar um dos grandes personagens da decisão – se não o principal.
Buscando o desempate, a Roma teve uma enorme chance com Abraham. Após cruzamento em direção à pequena área, a bola sobrou para o camisa 9, que finalizou já caindo. No entanto, Bono se utilizou de sua envergadura e fez grande defesa. No rebote, houve um bate-rebate e Ibañez mandou para fora. Na sequência, o arqueiro marroquino cresceu para cima do substituto do inglês no ataque giallorosso: em jogada ensaiada numa cobrança de falta, Belotti ficou cara a cara com o goleiro, que espalmou com as pontas do dedo da mão direita.
Já no final da etapa complementar, o Sevilla subiu a intensidade e tentou, de diversas maneiras, furar o bloqueio romano para virar o jogo. A chance mais perigosa aconteceu nos derradeiros segundos dos acréscimos do tempo regulamentar, em chute de fora da área efetuado por Suso. Rui Patrício bateu roupa, Lamela teve a finalização bloqueada no primeiro rebote e, na sobra, Fernando arrematou para fora.
A prorrogação foi bem semelhante à primeira etapa. Truncado, devido às várias paralisações, o tempo extra teve quase 45 minutos; muito mais do que os 30 previstos. Mas, novamente, foi a Roma que criou mais perigo. No finalzinho, uma cabeçada despretensiosa de Smalling encobriu Bono e bateu no travessão. Com isso, a decisão do título foi para os pênaltis.
A Roma chegaria às penalidades sem os seus três principais batedores. Afinal, Dybala, Pellegrini e Abraham haviam sido substituídos – argentino e italiano, por razões físicas; o inglês, por estratégia. E esse fato pesou demais contra os giallorossi, que tinham em Belotti a sua melhor peça no quesito, com aproveitamento de 79%, graças a 34 cobranças convertidas em 43 tentadas. Porém, o camisa 11 sequer iria à marca da cal. De maneira exemplar, o Sevilla teve sucesso em todos os seus pênaltis. Já na Loba, só Cristante, que atuou em todas as partidas da equipe na Liga Europa, logrou êxito.
Mancini, que portava a faixa de capitão desde a saída de Pellegrini, acrescentou o erro na cobrança a sua epopeia pessoal em Budapeste: bateu no meio do gol e parou nas pernas de Bono, outro protagonista da final da Liga Europa. Depois, Ibañez mandou na trave.
Assim, Montiel, que já havia cobrado o pênalti decisivo para o título mundial da Argentina na Copa do Mundo, ficou encarregado de resolver a parada para o Sevilla na Puskás Arena. Rui Patrício defendeu, mas se adiantou, o que invalidou a sua intervenção. Na segunda chance, o lateral rojiblanco guardou e decretou o triunfo por 4 a 1 dos espanhóis.
No fim das contas, continua vigente a escrita do Sevilla, que caminhou para se tornar ainda mais absoluto na Liga Europa. Para a Roma, dúvidas: Mourinho deixou escapar que precisa de mudanças no elenco e na gestão da diretoria para permanecer em Trigoria e cumprir pelo menos o seu último ano de contrato com a agremiação.