Renato Zaccarelli foi o terceiro atleta que mais vestiu a camisa do Torino, com 413 partidas disputadas – atrás apenas de Giorgio Ferrini (566) e Paolino Pulici (437). Foram quase 20 anos como jogador profissional e quase meio século dedicado ao clube granata, somando as funções de jogador, dirigente e treinador. No Torino ele foi tudo. E o Torino foi tudo para ele.
Zaccarelli nasceu em Ancona, nos primeiros dias de 1951. Oriundo do Junior Ancona, time amador da cidade, chegou ao Torino ainda bastante jovem, aos 15 anos de idade, e passou pelas categorias de base até se profissionalizar pelo clube em 1968. Para adquirir experiência após ter subido para o elenco principal, foi emprestado ao Catania, onde disputou somente três partidas de Serie B antes de retornar à agremiação granata.
O meio-campista passou dois anos em Turim e integrou o elenco que conquistou a Coppa Italia de 1971, batendo o Milan na decisão por pênaltis, mas fez apenas um jogo no período e acabou sendo emprestado novamente, dessa vez para o Novara. Zaccarelli disputou duas temporadas da Serie B pelos azzurri e se projetou de vez no cenário profissional, tendo disputado mais de 50 partidas.
Em 1973, então, teve a chance de estrear na elite. Renato foi emprestado ao Verona e continuou evoluindo, especialmente na parte ofensiva. O meia marcou cinco gols em 30 jogos, ajudando o Hellas a se salvar do rebaixamento em campo – por fraude cometida pelo presidente Saverio Garonzi, a equipe acabou punida com o descenso. Sua única temporada no time da região do Vêneto representou um momento de amadurecimento profissional e indicou que Zaccarelli estava pronto para regressar ao clube do coração. E foi o que aconteceu quando Orfeo Pianelli, presidente do Torino, não estava disposto a emprestá-lo novamente e o chamou de volta.
No retorno ao clube, chegou a jogar ao lado da lenda Giorgio Ferrini, que se aposentou ao término daquela temporada, e logo se firmou de vez. Em 1974-75, primeira temporada de verdade de Zaccarelli como jogador granata, o Torino terminou a Serie A no sexto lugar, a um ponto do Milan, quinto colocado e primeiro a integrar a zona de classificação para a Copa Uefa. Já na Coppa Italia, o Toro liderou seu grupo na fase inicial e foi eliminado na etapa subsequente por conta do saldo de gols inferior ao da Fiorentina. Na Copa Uefa, os grenás amargaram a eliminação na qualificatória inicial, graças ao placar agregdo de 4 a 2 para o Fortuna Düsseldorf. O melhor estava guardado para o ano seguinte.
Da tragédia a uma glória memorável
A temporada 1975-76 começou com sensíveis mudanças no Torino. Primeiro, a chegada de Luigi Radice, ex-defensor que começara a sua trajetória como treinador à frente do Monza e se destacara em 1973, quando pôs o Cesena na Serie A. Depois, a aposentadoria do ídolo Giorgio Ferrini, que tinha 16 anos de clube, e a partida de Angelo Cereser e Aldo Agroppi para Bologna e Perugia, respectivamente. Ambos eram importantes jogadores que também estavam no clube havia mais de uma década.
Para reforçar o Toro, Radice foi atrás do líbero Vittorio Caporale e do meia Eraldo Pecci, ambos do Bologna, e do volante Patrizio Sala, que fora revelado pelo Monza e, aos 20 anos, estrearia na Serie A. Ainda foram contratados o goleiro Romano Cazzaniga, o lateral-direito Fabrizio Gorin e o atacante Salvatore Garritano, mas para a composição do elenco.
Radice manteve o 4-3-3 de seu antecessor, Edmondo Fabbri, treinador da Squadra Azzurra na Copa do Mundo de 1966, mas alterou o posicionamento de alguns atletas e também introduziu uma nova filosofia de jogo. Com um futebol mais agressivo e com a defesa jogando de forma mais adiantada, os setores atuavam em linhas mais altas, sufocando a saída de bola adversária.
O time começava com Luciano Castellini no gol e duas adaptações na zaga. De um lado, Nello Santin, marcador por vocação e originalmente um defensor pela esquerda, foi adaptado para atuar na lateral direita após ser testado na função de líbero; do outro, o ágil Roberto Salvadori, volante de origem e de boa passada, foi puxado para atuar no flanco canhoto.
As duas mudanças reforçaram o setor defensivo como um todo, deixando-o polivalente e com maior qualidade para a construção das jogadas na saída de bola. O líbero Caporale era o responsável por comandar os avanços da defesa, organizando as linhas de impedimento. E Roberto Mozzini, cão de guarda, garantia segurança ao setor defensivo com força física e serenidade para jogar.
Na intermediária, o Toro tinha o laborioso Patrizio Sala, um jogador altruísta que sempre se doava ao máximo com naturalidade e simplicidade, sem enfeitar. Implacável na marcação, tinha a incumbência de dar a bola mais limpa possível para Pecci, um meia de muita técnica, que corria, armava o jogo e auxiliava na marcação. À esquerda do regista, o camisa 10 Zaccarelli e seu indefectível bigode, com toda a sua elegância em campo: um autêntico mezzala que tinha todas as prerrogativas que um grande da posição necessitava. Renato era um exímio passador, driblava com velocidade, tinha um bom chute e muita perspicácia tática, o que lhe permitia atuar como ponta de lança, vindo atrás da linha dos atacantes, ou mais aberto pelo flanco esquerdo.
Podemos dizer que o setor ofensivo começava com Claudio Sala, um dos protagonistas do time. Apesar de ter, até então, certa fama de individualista e inconstante, deu a resposta com a bola nos pés. Em sua sétima temporada pelo Toro, o poeta do gol herdou a braçadeira de capitão de Ferrini e mudou de posição, de trequartista para ponta-direita, onde tinha mais espaço para entortar os adversários com seus dribles e servia os companheiros de frente.
Os artilheiros eram Francesco Graziani e Pulici, apelidados como Gêmeos do Gol pela imprensa local. Graziani, fenomenal cabeceador, jogava mais centralizado, mas não guardava posição e puxava a marcação com o intuito de abrir espaços para eventuais infiltrações do companheiro. Pulici, que já havia sido o goleador máximo da Serie A em 1973 e 1975, atuava pela esquerda, tinha excepcional força física e algo de muito valor para um homem de frente: o improviso. O ataque era excelente no jogo aéreo e tinha inteligência no posicionamento e habilidade para converter as chances em gols. A dupla tinha uma fina sintonia na movimentação e era capaz de confundir os adversários.
Na Serie A, a favorita Juventus buscava o bicampeonato consecutivo e se fortaleceu mais quando trouxe Sergio Gori, do Cagliari, e Marco Tardelli, do Como. A Inter de Sandro Mazzola e Giacinto Facchetti, o Milan de Gianni Rivera, o Napoli de Giuseppe Savoldi e a Lazio de Giorgio Chinaglia, campeã dois anos antes, eram tidas como outras grandes forças. A imprensa indicava essas equipes como as principais postulantes ao título, mas Zaccarelli, em entrevista antes do início da competição, disse: “Neste ano, o Torino fará um bom campeonato”.
O início do Torino na competição não foi fácil, mas era justificável: Radice ainda estava acertando seu esquema de jogo e os atletas se adaptavam à nova filosofia. O time foi eliminado na primeira fase da Coppa Italia e a derrota por 1 a 0 para o Bologna, na primeira rodada da Serie A, pode ter deixado uma ponta de dúvida na torcida. Porém, a equipe de Turim ficou invicta da 2ª à 17ª rodada, até ser batida pelo Perugia por 2 a 1. Nesta positiva sequência, Zac contribuiu com uma genial assistência no triunfo sobre a Juve no Derby della Mole: dominou no peito e, sem deixar a bola cair, fez o passe para Graziani abrir o placar. Pulici, de pênalti, fechou a conta e impôs a primeira derrota à Juventus no campeonato.
Uma semana depois, uma vitória em cima do Milan em pleno San Siro. Zaccarelli abriu o placar em belíssima jogada pela ponta esquerda: fez o que quis, deixando o defensor rossonero Maurizio Turone sentado após um corte seco, e bateu com categoria na saída do goleiro Enrico Albertosi. Graziani deixou o dele já no final do jogo e sacramentou um valioso resultado. Na 14ª rodada, o Torino bateu o Verona por 4 a 2 e Zac, numa rápida tabela que o permitiu pisar na grande área com certa liberdade, finalizou para marcar o terceiro gol granata.
Em disputa acirrada pela liderança, a Vecchia Signora assegurou o simbólico título de inverno com 26 pontos, três a mais do que o Torino, que enfileirou cinco vitórias seguidas no fechamento do primeiro turno. No returno, os comandados de Radice deram a resposta à derrota sofrida diante do Bologna na abertura da competição e venceram por 3 a 1. Mas os insucessos diante de Perugia a Inter afetaram o bom ambiente do clube e puseram em xeque a confiança do time, naquela ocasião a cinco pontos da líder Juventus. Coube ao treinador Radice entrar em ação para motivar novamente os jogadores. A força daquele grupo residia na união entre os atletas, e o treinador soube administrar a ansiedade que ali pairava.
A atitude surtiu efeito, o Torino se reencontrou e não perdeu mais nas 11 rodadas restantes. Na 22ª jornada, bateu a Roma com gol de Graziani no mesmo dia em que a Juventus perdeu para o Cesena e passava por um momento de instabilidade. A rodada seguinte foi o Dérbi de Turim e o mando era dos bianconeri. O time granata venceu por 2 a 1, mas o placar foi alterado para 2 a 0 porque torcedores da Juventus lançaram um foguete, que explodiu perto de Castellini, no momento em que as equipes caminhavam para o vestiário. O arqueiro teve um breve momento de desmaio devido ao estrondo.
A ultrapassagem aconteceu na semana seguinte e teve participação decisiva dos rivais Milan e Inter. Em casa, o Toro bateu o Diavolo por 2 a 1 com gols de Garritano e Graziani. Já a Juventus perdeu para os nerazzurri pelo placar mínimo, com gol de Mario Bertini. O campeonato aproximava-se do fim e o Toro se via cada vez mais próximo de realizar o sonho.
Na 26ª jornada, um jogaço contra a Fiorentina terminou em vitória do Torino por 4 a 3. Quando o placar indicava a igualdade em 2 a 2, Zaccarelli aproveitou grande jogada de Marino Lombardo pela esquerda e bateu de primeira, desempatando o marcador. O camisa 10 anotaria outro gol duas rodadas depois, contra o Cagliari – balançou as redes em um difícil e bonito chute de primeira, ao receber um perfeito passe por elevação efetuado por Graziani. Os outros gols foram de Pulici, que assinalou sua terceira tripletta na temporada. O jogo terminou em uma goleada de 5 a 1.
Em um Comunale abarrotado, com mais de 65 mil presentes, a expectativa era de que os anfitriões mantivessem o retrospecto perfeito que tinham até então em seus domínios e vencessem o Cesena, surpresa do campeonato. A Juventus visitou o Perugia, que fazia uma campanha digna de elogios mesmo disputando a primeira divisão pela primeira vez em sua história.
A partida contra o Cesena foi nervosa e o placar manteve-se inalterado até os 11 minutos da segunda etapa, quando Graziani, da esquerda, cruzou para Pulici mergulhar de peixinho e mandar a bola para o fundo da rede. A torcida granata já estava em festa porque tinha recebido a notícia de que a Juventus tinha sofrido um tento de Renato Curi. A alegria logo foi interrompida quando os cavalos marinhos empataram em um gol contra de Mozzini, em desvio que enganou Castellini. O 1 a 1 permaneceu até o apito final, mas o placar adverso do rival bianconero também.
Gigi Radice tinha proibido a presença de aparelhos de rádio no estádio naquele rodada final, no intuito de impedir que seus comandados se preocupassem excessivamente com o jogo do rival e, assim, perdessem o foco. Eis que Lamberto Boranga, goleiro do Cesena, disse a Pecci, durante a partida, que a Vecchia Signora estava perdendo: “ei, fique tranquilo, a Juve está perdendo, juro pelo meu filho”.
Houve uma verdadeira apoteose no Comunale quando o árbitro Paolo Casarin apitou pela última vez e todos foram informados do resultado da Juventus. No dia 16 de maio de 1976, a bandeira granata voltou a tremular com orgulho pelos torcedores, que recuperaram o direito de sorrir após 27 anos da tragédia de Superga. O Torino era novamente o campeão italiano e conquistava o sétimo título em sua história. Uma glória memorável e irrefutável. Foram 18 vitórias, nove empates e três derrotas, com direito a melhor ataque (49 gols marcados) e melhor defesa (22 sofridos). Pulici foi o artilheiro com 21 tentos e Graziani, com 15, vice-goleador ao lado de Roberto Bettega, da Juventus.
Este título também é lembrado pelo fato de o Torino de Radice ter ser um dos primeiros times modernos do Campeonato Italiano. A inspiração do treinador foi o futebol total da escola holandesa, popularizado pela Laranja Mecânica de Rinus Michels e Johan Cruyff na Copa do Mundo de 1974. O Toro praticava um jogo altamente coletivo e de muito volume ofensivo, mesclando técnica e disposição. Radice, sempre muito elogiado pelo elenco, era considerado um inovador. Linhas altas e pressão na saída de bola, linha de impedimento e alternância de funções foram conceitos trabalhados por ele. E Zaccarelli, no centro de tudo isso, era um das peças mais importantes da engrenagem.
O caminho até a Copa na Argentina
Novamente campeão, o Torino recuperou o prestígio de décadas passadas. Isso, entretanto, pode ter sido prejudicial no aspecto da imprevisibilidade, artifício aproveitado pela equipe anteriormente, quando surgiu como fator surpresa. Tudo caminhava bem, o time compreendia perfeitamente o que seu treinador queria e jogava com segurança e entrosamento. Só que aquele ano reservava um triste capítulo na história do Toro: a morte de Ferrini, um herói para o torcedor granata desde o início de sua trajetória por lá, em 1959, ano que marcou a primeira queda do clube.
Apesar da eliminação na segunda fase da Copa dos Campeões para o Borussia Mönchengladbach (derrota por 2 a 1), o Toro jogava bem e, na Serie A, a disputa do título se encaminhava para mais um duelo particular entre os times de Turim. O bom ambiente foi afetado especialmente por conta dos acidentes vasculares cerebrais hemorrágicos que causaram a morte do ex-capitão e, àquele momento, auxiliar de Radice, em novembro de 1976. O Torino ficou com o vice-campeonato com 50 pontos conquistados, apenas um a menos do que a campeã Juventus.
No ano posterior, o time granata ficou em terceiro, tendo somado os mesmos 39 pontos do vice-campeão Vicenza e quatro a menos que a Vecchia Signora, bicampeã consecutiva. Na Copa Uefa, os piemonteses foram eliminados nas oitavas de final pelo Bastia. Somando as duas temporadas, Zaccarelli marcou sete gols – cinco em 1976-77 e dois em 1977-78.
Aquele foi um período de ascensão e consolidação na carreira de Zac. Na metade da temporada da conquista do scudetto, ele foi convocado pela primeira vez para o time principal da Itália, quando entrou nos minutos finais em um empate sem gols com a Polônia, em jogo válido pelas qualificatórias da Eurocopa de 1976 – a Nazionale não obteve a classificação para o torneio continental. Seu primeiro gol pela seleção foi o que selou uma goleada por 6 a 1 em cima da Finlândia, pelas Eliminatórias para a Copa do Mundo de 1978, disputada na Argentina.
A classificação foi confirmada e a Itália de Enzo Bearzot, convocada com Zaccarelli e mais cinco atletas do Torino, desembarcou em Buenos Aires para a disputa do Mundial. Os adversários na fase de grupos seriam a anfitriã, a França e a Hungria. A primeira partida foi contra os franceses, que abriram o placar no primeiro minuto com Bernard Lacombe, de cabeça. Foi o primeiro gol daquela Copa.
Na metade da primeira etapa, Paolo Rossi deixou tudo igual quando a bola sobrou para ele, após bate-rebate na área. A virada veio dos pés de Zaccarelli, que havia entrado no início do segundo tempo na vaga de Giancarlo Antognoni. O bigodudo chegou batendo após um cruzamento que veio da direita, matando o goleiro Jean-Paul Bertrand-Demanes.
O segundo confronto foi contra a Hungria e a Itália venceu por 3 a 1, com gols de Rossi, Bettega e Romeo Benetti. Zaccarelli, todavia, não saiu do banco de reservas. No último jogo da primeira fase, diante da Argentina, Renato disputou os 20 minutos finais no triunfo por 1 a 0, decidido por Bettega. A Squadra Azzurra classificou-se em primeiro no Grupo 1, enquanto a albiceleste passou em segundo.
A segunda fase do torneio pôs a Itália no mesmo grupo de Holanda, Alemanha Ocidental e Áustria. Um empate sem gols com os alemães, uma vitória por 1 a 0 diante dos austríacos e uma derrota por 2 a 1 para os holandeses impediram que os italianos seguissem vislumbrando o título mundial. Zaccarelli entrou no decorrer da primeira peleja e atuou durante 90 minutos nas duas seguintes. Contudo, ficou de fora da disputa pelo terceiro lugar com o Brasil, quando Bearzot preferiu dar espaço a jogadores que haviam atuado menos. Franco Causio abriu o marcador, mas com gols de Nelinho e Dirceu, a Seleção assegurou a virada.
Na época, o meia do Torino chegou a comentar a respeito do desempenho italiano na Copa e da rotação do elenco à revista Guerin Sportivo. “O Mister Bearzot nunca chegou para mim e disse ‘olha, ele joga antes e depois você entra’. Ele sempre diz para quem estiver no banco ficar preparado e o mais concentrado possível, porque a qualquer momento você pode entrar em campo. Somos um grupo de jogadores chamados para vestir essa camisa azul, todo mundo é necessário aqui”, afirmou. Renato confirmou a filosofia ao se mostrar pronto para ganhar a posição durante o torneio.
O pós-Copa e a mudança de posição
Depois do período servindo o time nacional e das merecidas férias, Zaccarelli retornou ao Torino de olho na temporada 1978-79. A equipe teve uma boa participação e brigou na parte de cima da tabela. Com 36 pontos, terminou em quarto lugar; o Milan foi o campeão com 44 e o Perugia ficou em segundo, com 41. Não foi um mau ano, mas ficou a impressão de que poderia ter sido melhor.
Zaccarelli agora era o novo capitão do Torino. Nas três temporadas seguintes, o time chegou à decisão da Coppa Italia, mas não conquistou nenhum título. Primeiro, amargou duas decisões perdidas nos pênaltis, ambas para a Roma de Paulo Roberto Falcão, autor da cobrança decisiva na final de 1981. O terceiro vice-campeonato foi contra a Inter: derrota por 1 a 0 e empate em 1 a 1. E por pouco não houve mais chances de título na copa, já que os granatas foram eliminados por Verona e Roma nas semifinais de 1982-83 e 1983-84, respectivamente.
Importante no Toro, Zac foi vendo seu espaço na seleção minguar e recebeu suas últimas oportunidades em 1980, pouco depois da Eurocopa. O meio-campista até foi convocado por Bearzot para o torneio, disputado em casa, mas não saiu do banco na ocasião.
Em 1984, o capitão do Torino viveu uma revolução em sua carreira. No verão daquele ano, o Toro adquiriu o brasileiro Júnior, então lateral do Flamengo. Como o craque tinha 30 anos, Radice optou por fazê-lo atuar mais avançado, armando pela intermediária, e precisou fazer algumas adaptações no time. Uma delas foi mudar Zac de posição, reinventando-o na função de líbero.
Por ser um meio-campista com conhecimento dos preceitos do totaalvoetbal holandês, Zaccarelli tinha um grande senso de cobertura, o que lhe ajudava a ocupar o posto. Além disso, o capitão se dedicava em demasia e, diferentemente, de outros concorrentes da posição, podia desfilar toda a categoria que lhe era particular. O Toro teve uma grande campanha na Serie A e terminou atrás somente do Verona, campeão inédito.
A mudança bem sucedida de posição arejou a carreira de Zaccarelli. Na campanha de 1985-86, que antecedeu sua aposentadoria, foi eleito com o Guerin d’Oro, prêmio concedido ao melhor jogador da temporada. Antes dele, Diego Maradona (1985) e Michel Platini (1984) haviam levado a honraria. Vestindo a camisa 4 – a 10 ficara com Giuseppe Dossena – jogou no mais alto nível até pendurar as chuteiras, aos 36 anos, em 1987.
Uma nova história
Assim que se aposentou, Renato optou por ausentar-se do futebol durante um tempo e retornou ao Torino como diretor de futebol na turbulenta era do presidente Roberto Goveani e permaneceu no cargo por dois anos, até ir para o Alessandria. Zaccarelli trabalhou durante um tempo na Federação Italiana de Futebol –FIGC à frente da categoria sub-21 e, mais tarde, foi chamado para ser diretor do sub-19 granata, com o propósito de levar e desenvolver jovens talentos para o Toro.
Sob seu comando, a Primavera do Torino conquistou a Coppa Italia da catgoria em 1999, com um time que tinha Fabio Quagliarella, Federico Balzaretti, Stefano Sorrentino e Federico Marchetti. Durante a temporada 2002-03, assumiu a equipe principal de forma interina em duas ocasiões, depois que Giancarlo Camolese e Renzo Ulivieri foram demitidos na tenebrosa gestão de Attilio Romero. O clube acabou rebaixado para a Serie B. Em 2003 foi promovido a manager, função que era de Sandro Mazzola.
A passagem foi breve, mas até hoje é recordada pela reforma realizada no centro de treinamento do clube e pelo o que fez na fatídica temporada 2004-05. Ele ajudou a formar um elenco competitivo e passou a ocupar o banco de reservas como treinador, substituindo Ezio Rossi. Conduziu o Torino aos playoffs – enfrentou Ascoli e Perugia – e, em teoria, conseguiu pôr o time na Serie A. Em teoria, porque na prática o acesso foi frustrado por conta da falência do clube antes da inscrição na principal categoria nacional. Foram cinco vitórias em seis jogos sob o comando de Zaccarelli.
O Torino teve a inscrição na Serie B assegurada por conta de uma normativa da FIGC, conhecida popularmente como lodo Petrucci, que permitia que um clube poderia ser relegado à divisão imediatamente inferior se a propriedade falida fosse assumida imediatamente por outra pessoa jurídica. No caso do Toro, então promovido à elite, a continuidade na segundona foi garantida pela chegada de Urbano Cairo à presidência.
Para Zaccarelli, porém, chegava a hora de uma nova despedida de Turim. Renato deixou o clube granata após a falência para ser diretor esportivo do Bologna. Depois, tornou-se comentarista esportivo na Sky Sports, cargo que ocupa até os dias de hoje. Embora não esteja mais ligado oficialmente ao Torino, Zac e seu bigode são, até hoje, um totem para os torcedores grenás: objeto de culto do Toro, ele conseguiu estabelecer um vínculo eterno com o clube, como merecem as lendas.
Renato Zaccarelli
Nascimento: 18 de janeiro de 1951, em Ancona, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Catania (1968-69), Torino (1969-71 e 1974-87), Novara (1971-73) e Verona (1973-74)
Títulos: Coppa Italia (1971) e Serie A (1976)
Carreira como técnico: Torino (2002, 2003 e 2005)
Seleção italiana: 25 jogos e 2 gols