Não é Serie B se não tivermos um ano cheio de surpresas e dramas. Em 2022-23, a segundona italiana teve nomes pesados entre os clubes e os jogadores participantes, campeão inédito, tradicionais rebaixados, grandes reações e muitas reviravoltas.
No papel, a Serie B tinha um dos elencos mais fortes dos últimos anos. Por isso, se imaginava que a disputa pelo título fosse ferrenha – o que não aconteceu. Contudo, se a definição do campeão não teve tanto suspense quanto o esperado, houve disputas acirradas em todas as partes da tabela. E, mesmo após o seu fim, a competição ainda não conta com o resultado de campo consolidado. Confira, abaixo, a retrospectiva.
O campeão
Nesse sentido, o campeão Frosinone foi uma das gratas surpresas. Donos apenas da 11ª maior folha salarial da Serie B, os canarini tiveram um ano muito regular e chegaram não só a seu primeiro título da segunda divisão como ao terceiro acesso à elite em oito anos. Inclusive, apesar das curtas passagens na máxima categoria, o clube ciociaro é um bom exemplo de administração responsável.
Sem dispor de grandes investimentos, conseguiu construir um estádio com boa estrutura e também um novo centro de treinamentos após as experiências na primeira divisão – foi penúltimo colocado em ambas, em 2015-16 e 2018-19. Depois de bater na trave em 2020, quando foi superado pelo Spezia na final do playoff de acesso, o Frosinone teve campanhas medianas nas temporadas seguintes, comandado por Fabio Grosso.
De toda forma, o herói do tetra italiano de 2006 foi mantido no cargo para o terceiro ano. Modesto, o elenco foi formado por alguns nomes experientes em acessos, como o zagueiro Fabio Lucioni, ex-Benevento e Lecce, o lateral Mario Sampirisi, ex-Crotone e Monza, e o atacante Roberto Insigne, ex-Napoli e Benevento. Além disso, o Frosinone contou com promessas que não vingaram, como o lateral Gianluca Frabotta, o volante Luca Mazzitelli e o meia Luca Garritano.
Ao longo de 2022-23, o time gialloblù fez bons jovens despontarem. Os maiores destaques ficaram por conta do goleiro Stefano Turati, emprestado pelo Sassuolo, do volante romeno Daniel Boloca e dos atacantes Giuseppe Caso, ex-Fiorentina, e Samuele Mulattieri, cedido pela Inter. Autor de 12 gols em 29 aparições, Mulattieri acabou sendo envolvido no negócio que levará Davide Frattesi à Beneamata e vestirá verde e preto ano que vem. Tal qual Luca Moro, seu concorrente pelo comando de ataque do Frosinone na temporada, que não repetiu os bons números da época de Catania.
Superando todas as projeções, o Frosinone realizou uma campanha consistente do início ao fim do campeonato. Com 80 pontos, teve o segundo melhor aproveitamento da história da Serie B com 20 equipes e quebrou outras marcas importantes: foi dono do melhor ataque, com 63 gols marcados, e da melhor defesa, com 26 sofridos, além de ter sido o time que mais somou pontos no turno (39) e no returno (41). Título mais do que merecido para uma equipe que foi líder em 32 das 38 rodadas do certame.
Os outros promovidos
Promovido de forma direta junto com o campeão, o Genoa também teve uma certa folga na reta final do torneio. No entanto, o início da temporada do mais tradicional clube da última Serie B, que se vangloria de ter conquistado nove títulos da primeira divisão, não esteve à altura das expectativas. Tanto que, mesmo com a manutenção de boa parte do elenco de 2021-22, o esperado heptacampeonato do mais antigo time do futebol italiano não foi possível.
De toda forma, o mais importante para os grifoni era subir. E o objetivo foi alcançado sob o comando de um ídolo do clube, o ex-atacante Alberto Gilardino, terceiro técnico da gestão da 777 Partners no Genoa em cerca de um ano e meio. O tetracampeão mundial pegou o time na terceira posição, rendendo o alemão Alexander Blessin – que sobreviveu ao rebaixamento dos rossoblù, mas não resistiu a uma sequência de maus resultados entre outubro e dezembro de 2022.
Com duas séries invictas, o Genoa consolidou a vice-liderança e conquistou o retorno à elite com duas rodadas de antecedência. Liderado pelos veteranos Domenico Criscito, Kevin Strootman, Milan Badelj, Stefano Sturaro e Massimo Coda, teve como principal destaque o atacante islandês Albert Gudmundsson, autor de 11 gols. Também tiveram boa participação na campanha o goleiro Josep Martínez e os zagueiros Mattia Bani e Radu Dragusin.
Se imaginava que o Genoa fosse brigar pelo título com o Cagliari. Contudo, o time sardo teve apenas a quinta melhor campanha na temporada regular e obteve um acesso dramático, com enorme sufoco nos playoffs. Mesmo com uma das maiores folhas salariais do campeonato e contando com muitos jogadores com experiência na Serie A, a equipe teve um primeiro turno medíocre, na segunda metade da tabela.
O Cagliari reagiu após a demissão de Fabio Liverani e a contratação do veterano Claudio Ranieri, que já tinha muito crédito na Sardenha por conta de um trabalho histórico entre 1988 e 1991 – na ocasião, tirou o time da terceira categoria, obteve duas promoções consecutivas e o manteve na máxima divisão italiana. Com seu ídolo, os isolani reagiram no returno e, mesmo sem resultados impressionantes, fizeram o suficiente para consolidarem a sua posição dentro da zona de classificação aos playoffs. A não ser por Gianluca Lapadula, artilheiro da Serie B com 21 gols, os rossoblù não contaram com grandes destaques individuais.
No drama dos playoffs, enquanto Lapadula garantiu a vitória contra o Venezia, na primeira fase, o jovem angolano Zito Luvumbo foi o responsável pela eliminação do Parma, na semifinal. Contra o Bari, na decisão, empate em casa na ida. Na volta, o acesso foi obtido graças a Leonardo Pavoletti, que marcou o gol salvador aos 94 minutos, e frustrou os quase 60 mil torcedores adversários presentes no estádio San Nicola.
Os remanescentes
Recém-promovido da Serie C, e em reconstrução sob o comando da família De Laurentiis, o Bari teve um fim de ano melancólico. Porém, deve se orgulhar da grande campanha que fez em 2022-23. Comandado por Michele Mignani, técnico remanescente do título da terceira divisão, os galletti fecharam a temporada regular na terceira posição.
Com os gols do artilheiro Walid Cheddira, a equipe chegou até mesmo a liderar o campeonato por duas rodadas no primeiro turno. Mas o atacante marroquino teve uma queda de desempenho vertiginosa no returno, após a Copa do Mundo, e acabou como vilão por conta das chances perdidas na final dos playoffs – sim, nós sabemos que você já viu isso antes.
Se o acesso não foi conquistado, ao menos o Bari mostrou bons destaques individuais. Em especial, o jovem goleiro Elia Caprile, um dos mais promissores de sua geração – e já integrante da seleção sub-21 italiana. Depois de bons anos em outras equipes, o meia ítalo-nigeriano Michael Folorunsho, do Napoli, também despontou na Apúlia, assim como o promissor Sebastiano Esposito, emprestado pela Inter.
O Parma, por sua vez, vai amargar mais uma temporada na Serie B em pleno terceiro ano de investimentos do grupo liderado pelo norte-americano Kyle J. Krause. Depois de uma campanha medíocre em 2021-22, o clube apostou no técnico Fabio Pecchia, recém-promovido com a Cremonese. Na prática, porém, o time manteve a irregularidade e esboçou alguma força somente na reta final do certame.
O Parma contou com veteranos como Gianluigi Buffon, Cristian Ansaldi, Franco Vázquez e Roberto Inglese no elenco, mas os destaques ficaram por conta dos jovens Adrián Bernabé e Enrico Delprato, que mostraram para os times da Serie A que merecem um lugar na elite. O mesmo não se pode dizer do clube, superado pelo Cagliari na semifinal do playoff.
Uma das principais surpresas do campeonato foi o novato Südtirol, que teve uma campanha sólida no seu ano de estreia na Serie B. Depois de demitir o técnico Lamberto Zauli ainda na pré-temporada, o time da região de Trentino-Alto Ádige foi comandado de forma interina pelo auxiliar Leandro Greco e perdeu as três primeiras rodadas. Depois, o veterano Pierpaolo Bisoli deu muita consistência à equipe biancorossa.
Muito disso se passou por um sistema defensivo forte, liderado pelo goleiro Giacomo Poluzzi e pelos zagueiros Giovanni Zaro e Andrea Masiello. O Südtirol teve a terceira melhor retaguarda do campeonato e amargou apenas oito derrotas. O bom desempenho ainda levou o talentoso Hans Nicolussi Caviglia de volta à Serie A – formado na base da Juventus, o meia foi contratado pela Salernitana no mercado de inverno.
O Südtirol sonhou muito intensamente com a possibilidade de ser o primeiro time de Trentino-Alto Ádige a obter o acesso à Serie A. Entretanto, a equipe do norte da Itália caiu na semifinal dos playoffs, após vencer o Bari por 1 a 0, na ida, e perder o jogo de volta pelo mesmo placar. Uma dura eliminação pelos critérios de desempate: por regulamento, resultados iguais nesta fase favorecem o dono da melhor campanha na temporada regular.
Do outro lado da Itália, no extremo sul, a Reggina também surpreendeu. Na temporada passada, os calabreses contrastaram um bom início com um fim dramático de campanha, chegando a flertar com o rebaixamento. Desta vez, não foi muito diferente, ainda que o descenso não tenha ficado próximo. Os amaranto lideraram seis das oito primeiras rodadas da Serie B e fecharam o primeiro turno na vice-liderança. Mas o que se viu na sequência foi uma queda impressionante do time de Pippo Inzaghi, com direito a 12 derrotas no returno – além de uma punição de cinco pontos por não cumprimento de obrigações financeiras. A vaga no playoff foi obtida graças a uma vitória na última jornada.
Uma constante no time foi Giovanni Fabbian, promissor volante emprestado pela Inter – artilheiro da equipe, com oito gols –, além do ala Niccolò Pierozzi, cedido pela Fiorentina. Com um grupo bastante experiente e valioso, o clube apostou alto em busca do acesso, que acabou frustrado pelo Südtirol logo na fase preliminar do playoff. O pior viria depois: em crise há alguns anos, a Reggina não teve sua inscrição na próxima Serie B aceita pela Covisoc, a Comissão de Vigilância das Equipes de Futebol da FIGC, a Federação Italiana. O recurso dos amaranto está em análise.
Lanterna da Serie A em 2021-22, o Venezia também decepcionou na temporada da segundona – ainda que contasse com nomes como Denis Cheryshev, Joel Pohjanpalo, Jesse Joronen e Gianluca Busio. O acesso nunca foi uma realidade para o time, que teve um início de campeonato desastroso e foi derrotado em metade dos jogos do primeiro turno. O início do returno tampouco foi inspirador, e os lagunari chegaram a frequentar na zona de rebaixamento por oito rodadas.
A chave virou a partir de março, na 30ª jornada, quando o Venezia foi liderado pelos gols do finlandês Pohjanpalo – foram nove só nessas partidas, que lhe levaram aos 19 e à vice-artilharia da categoria. O ex-atacante do Bayer Leverkusen até chamou atenção por começar a beber cerveja após os jogos, indicando que o momento era de desestresse no Vêneto. Com seis vitórias em oito rodadas, os arancioneroverdi saíram da 16ª posição para a zona dos playoffs e entraram na repescagem graças ao oitavo lugar. Mas, no fim, mesmo com um elenco digno de maiores aspirações, a volta à elite acabou na fase preliminar, com a derrota para o Cagliari.
De volta à Serie B após ser refundado e comprado pelo City Football Group, o Palermo retornou com muita expectativa. Além de confiar o trabalho a Eugenio Corini, a nova diretoria buscou jogadores interessantes e apostou no ítalo-brasileiro Matteo Brunori para seguir liderando o time com os seus gols.
O artilheiro rosanero fez bem o seu papel, com 17 gols no campeonato, mas o mesmo não se pode dizer de Corini e o restante da equipe, que teve um início de campanha atribulado – inclusive, o Palermo chegou a entrar na zona de rebaixamento. Após uma reação no returno, se estabeleceu no meio da tabela e sonhou com o playoff na reta final, porém uma derrota e um empate nas últimas duas rodadas, adiaram o sonho de um retorno à Serie A para os sicilianos.
Também promovido da Serie C, na qualidade de campeão de sua chave, o Modena era outro clube que prometia muito, mas entregou pouco. Sob o comando do experiente Attilio Tesser, a expectativa era de luta pelo acesso. Entretanto, a volta para a elite nunca esteve realmente ao alcance dos emilianos. Depois de um início fraco, com cinco derrotas nas seis primeiras rodadas, o time esboçou uma reação e até chegou a entrar na zona do playoff por duas jornadas, no returno. Só que o período logo foi acompanhado por uma sequência de derrotas que tirou os canarinhos da briga de uma vez por todas.
O mesmo se pode dizer do Pisa, que acabou fora da briga pelo acesso mesmo com um elenco bastante interessante, com bons destaques individuais – em especial o meia romeno Olimpiu Morutan. Depois do começo desastroso com Rolando Maran, que foi demitido após seis rodadas, o time mudou de cara com a volta de Luca D’Angelo.
Treinador que tirou o clube da Serie C e fez boas campanhas na segunda divisão, D’Angelo comandou uma reação com 14 jogos de invencibilidade e manteve os nerazzurri toscanos por 19 rodadas na zona dos playoffs. Mas tudo desandou na reta final do campeonato, quando o Pisa não obteve vitórias nas últimas oito partidas e ficou pelo caminho.
O Ascoli, por sua vez, iludiu os seus torcedores por um breve momento – com um início promissor, ocupou até a liderança na terceira rodada. Mas, ao contrário da temporada anterior, nem mesmo uma vaga na repescagem os bianconeri conseguiram, tornando à tendência de ficar na parte inferior da tabela.
Com os mesmos 47 pontos dos marquesãos, o Como foi o 13º colocado. O clube lombardo é mais um da Serie B controlado por estrangeiros e o grupo britânico que tem o ex-jogador inglês Dennis Wise na administração fez a torcida sonhar alto no mercado. Afinal, buscou o veterano Cesc Fàbregas e atletas da elite, como Daniele Baselli, Alberto Cerri e Patrick Cutrone. A campanha dos lariani, no entanto jamais decolou.
Treinador do título da Serie C em 2021 e da campanha mediana na volta à segunda divisão, em 2021-22, Giacomo Gattuso durou apenas quatro rodadas, mas a má fase da equipe seguiu com o interino Massimiliano Guidetti e o contratado Moreno Longo. Os lombardos frequentaram a zona de rebaixamento em 13 das 19 jornadas do primeiro turno.
Enquanto Fàbregas, em sua última temporada como profissional, mal impactou o desempenho do time, Cutrone e Cerri estiveram longe do que poderiam entregar – marcaram nove gols, cada. O suficiente, de toda forma, para distanciar o Como da briga contra o rebaixamento e repetir a mesma campanha do ano passado, com 47 pontos, a apenas dois do Venezia, oitavo colocado.
A Ternana também esperava melhor sorte em 2022-23. Depois de uma campanha mediana na primeira temporada de retorno à Serie B, a equipe rossoverde aspirava uma luta por vaga nos playoffs, por conta do trio formado por Antonio Palumbo, Anthony Partipilo e César Falletti, além dos atacantes Alfredo Donnarumma e Andrea Favilli. E, por um momento, isso pareceu bastante possível para os umbros.
Com cinco vitórias seguidas, os rossoverdi chegaram até mesmo a liderar o campeonato por uma rodada e ocuparam a zona de classificação para a repescagem até a 23ª jornada. Nesse meio tempo, houve a primeira troca entre Cristiano Lucarelli e Aurelio Andreazzoli, com o veterano treinador contratado em dezembro.
Só que uma nova sequência de maus resultados apareceu e, dessa vez, Andreazzoli é que foi trocado por Lucarelli. O ex-atacante conduziu a equipe em uma reta final fraca, sem expectativa de playoffs, e culminada com cinco derrotas seguidas nas últimas rodadas. Tudo isso com muita polêmica nos bastidores entre Stefano Bandecchi, presidente do clube e prefeito de Terni, com os torcedores. O dirigente deixou a gestão da Ternana ao fim da Serie B e a nova diretoria já confirmou o retorno de Andreazzoli para 2023-24.
Com a mesma pontuação final da Ternana, o Cittadella, depois de anos batendo na porta do acesso no playoff, voltou a ser definitivamente um time da parte inferior da tabela e escapou por pouco do playout. A responsabilidade ficou quase toda na conta do camisa 10 Mirko Antonucci, que marcou 11 dos 34 gols dos grenás na campanha.
Por fim, o milagroso Cosenza foi o último a se salvar em campo. Em seu quinto ano seguido na Serie B, o clube calabrês mais uma vez teve uma temporada de sobrevivência e, mesmo com o pior ataque – com 30 gols marcados – e a segunda pior defesa, com 53 sofridos, conseguiu a permanência através do playout, superando o Brescia. Os lupi, comandados pelo simpático presidente Eugenio Guarascio escaparam nessa fase também em 2022 e, em 2021, continuaram na categoria apenas por causa da exclusão do Chievo.
Os rebaixados
A decisão do playout, que levou o Brescia para a terceirona, deu o que falar no Mario Rigamonti. Embora a partida tenha sido finalizada com o 1 a 1 no placar – o Cosenza venceu a ida por 1 a 0 –, o resultado acabou anulado após a confusão envolvendo a torcida lombarda no fim do jogo, com a derrota por 3 a 0 posteriormente atribuída na justiça desportiva. Além de sinalizadores atirados ao gramado, ultras assediaram o elenco biancazzurro e promoveram quebra-quebra nas imediações do estádio.
Em mais uma temporada digna de um roteiro escrito por Massimo Cellino, o Brescia teve quatro diferentes treinadores no comando. Roteiro que culminaria no primeiro rebaixamento do clube à terceira divisão em quatro décadas, desde 1982 – sem contar 2014-15, quando os andorinhas caíram, mas se mantiveram na Serie B por conta da falência do Parma.
Auxiliar de Pep Clotet, o ex-zagueiro Daniele Gastaldello terminou o ano como treinador dos rondinelle, após curtas passagens de Alfredo Aglietti e Davide Possanzini. Em campo, o time até teve um bom início, com cinco vitórias nas primeiras seis rodadas e a liderança do campeonato. A sequência, contudo, foi interrompida por um jejum de sete jogos sem triunfos.
Durante as três trocas de treinadores, o Brescia passou 17 jogos sem vitórias, até uma breve reação com Gastaldello, que tirou o time da zona de rebaixamento – que, inevitável, viria no playout. Junto com o Brescia, também caíram três grandes surpresas: Perugia, Spal e Benevento, antes consolidados no segundo escalão do futebol italiano. No caso dos dois últimos, até com passagens recentes pela Serie A.
Sob o comando do folclórico Fabrizio Castori, o Perugia, que brigou pelo acesso à elite em 2022 – e levou Massimiliano Alvini para treinar a Cremonese na Serie A –, teve uma temporada atribulada desde o início. Mesmo com um elenco decente para brigar pelos playoffs, o time nunca conseguiu a competitividade marcante de Castori.
Muito mais confusa foi a gestão da Spal, que já tinha flertado com o rebaixamento na temporada anterior e não escapou desta vez. Valorizado pelo ótimo trabalho no Cittadella, Roberto Venturato foi contratado já no ano passado e teve um início mediano em 2022-23. Duas derrotas seguidas custaram o seu emprego já na oitava rodada.
Para o seu lugar, uma aposta que acabou por não vingar: Daniele De Rossi, em sua primeira experiência como treinador. O ex-volante romanista comandou a Spal em 16 jogos, com apenas três vitórias e sete derrotas, sendo demitido com o time na zona de rebaixamento. De lá, outro tetracampeão de 2006 não conseguiu sair: Massimo Oddo, com mais um péssimo trabalho na Serie B. Em desespero, os biancazzurri tentaram até buscar Radja Nainggolan na Bélgica e ofereceram um novo contrato a Giuseppe Rossi, mas nenhum dos veteranos conseguiu render o suficiente.
Ainda mais confusão viveu o Benevento, lanterna da Serie B. O time campano simplesmente viu um elenco que deveria lutar pelo acesso sucumbir de forma clamorosa: o plantel contava com nomes como Kamil Glik, que disputou a Copa do Mundo de 2022 como titular da Polônia, e Simy, artilheiro da segundona em 2020 e autor de 20 gols na elite, em 2020-21 – mas capaz de passar em branco no certame dessa temporada. Além deles, Diego Farias, Pasquale Schiattarella, Gaetano Letizia e Camillo Ciano, figurinhas carimbadas do futebol provincial italiano.
O Benevento teve a proeza de contar com quatro treinadores diferentes. Depois de lutar pelo acesso em 2022, Fabio Caserta durou apenas seis rodadas e foi demitido após duas derrotas em sequência. O substituto, Fabio Cannavaro, teve seu primeiro trabalho na Itália. A experiência para o capitão do tetra italiano, no entanto, não foi nada positiva, uma vez que foi demitido após 17 jornadas e deixou o time na zona de rebaixamento. Roberto Stellone conseguiu tirar os giallorossi de lá por um breve momento, apenas para ter uma sequência de derrotas e ser demitido já na lanterna. O rebaixamento e a última posição acabaram ocorrendo na gestão de Andrea Agostinelli.
Quem vem da Serie C
Depois de bater na trave na temporada passada, o Feralpisalò disputará a Serie B pela primeira vez em sua história. Com DNA interista, o modesto clube lombardo contou com o trabalho de Stefano Vecchi, treinador bicampeão da categoria Primavera com a Inter, e alguns ex-jogadores nerazzurri para ter um campanha sólida – impecável na reta final – para confirmar o inédito acesso. No Grupo A, ficaram pelo caminho clubes tradicionais como Padova, Vicenza e Pro Vercelli, enquanto Mantova e Piacenza acabaram rebaixados.
Já no Grupo B, o acesso direto ficou por conta da Reggiana, que está de volta à Serie B após dois anos. Treinada por Aimo Diana, a equipe emiliana também tinha batido na trave pelo acesso na temporada anterior, e confirmou o quinto título da terceirona em uma disputa acirrada com Cesena e Virtus Entella, que somaram dois pontos a menos. A nota negativa da chave fica para mais uma falência do Siena, 12º colocado, que quebrou pela terceira vez em uma década. Os 13 gols de Alberto Paloschi foram em vão para os bianconeri.
No carismático Grupo C, formado por clubes do sul italiano, o Catanzaro, depois de quatro anos parando nos complexos e desgastantes playoffs da categoria, enfim conseguiu o tão sonhado acesso à segunda divisão, que não disputa desde 2006, com seu terceiro título da Serie C – e também o da Supercopa da Serie C, triangular realizado entre os vencedores das chaves. A conquista do clube calabrês foi autoritária: uma campanha histórica de 96 pontos, 30 vitórias e apenas duas derrotas em 38 rodadas, que deixou Crotone, Pescara e Foggia para trás. Os giallorossi foram liderados pelo artilheiro Pietro Iemmello, autor de 28 de seus 102 gols.
O trio sulista citado acima, inclusive, protagonizou uma disputa acirrada pela última vaga para a Serie B com o Lecco, que conquistou em campo a sua volta à segundona depois de 50 anos. Entretanto, a vaga está ameaçada: o estádio dos blucelesti não tem condições de receber jogos da segunda divisão e, por estarem envolvidos em uma quente disputa com o Foggia de Delio Rossi nas finais dos playoffs, os lombardos não apresentaram a tempo a documentação necessária para a indicação de uma praça alternativa. Agora, a situação está sob análise da justiça desportiva e vários clubes estão de olho no desfecho. Inclusive o Brescia, que outra vez pode escapar do rebaixamento por problemas alheios.