Liga dos Campeões

Num San Siro em frenesi, o Milan virou sobre o PSG e respirou na Champions League

Poucas vezes em sua história o Milan chegou a um jogo de fase de grupos de Liga dos Campeões sob tanta pressão quanto aquela com a qual teve que lidar nesta terça, 7 de novembro, diante do Paris Saint-Germain. Sem triunfos e sem gols marcados pela competição até o momento do pontapé inicial, o time rossonero ainda acumulava jejum de três partidas sem vitórias pela Serie A e, por conta de todos esses fatores, vinha sendo alvo de críticas. Para afastar esse princípio de crise e continuar a ter chances de se classificar para o mata-mata da Champions League, o Diavolo tinha que ganhar do PSG de qualquer jeito. E conseguiu, graças a um 2 a 1 de virada.

Antes de a bola rolar, havia muita expectativa sobre a recepção da torcida do Milan a Donnarumma, considerado traidor e mercenário por grande parte dos rossoneri devido a sua transferência sem custos ao PSG, em 2021. Os ultras da casa confeccionaram milhares de notas falsas de dólares e se imaginava que as atirariam sobre o goleiro durante a partida, tal qual ocorrera anos atrás, quando ele ainda representava o Diavolo – mais exatamente num duelo entre Itália e Dinamarca, em 2017, pela Euro Sub-21. A hostilidade era uma arma para tentar intimidá-lo, mas isso não deu muito certo, visto que Gigio foi um dos melhores do duelo.

O Paris Saint-Germain de Luis Enrique foi a campo com a mesma escalação com a qual arrasou o Milan no Parc des Princes, quando o 3 a 0 pareceu um placar barato pelo jeito que o jogo ocorreu. Ou seja, os franceses contavam com Donnarumma e mais dois desafetos da torcida rossonera – Hakimi e Skriniar, ex-atletas da Inter. Por sua vez, Stefano Pioli fez duas alterações em relação ao onze inicial que lidou com o pesadelo vivido na Cidade Luz. O capitão Calabria regressou à lateral direita, devido à contusão de Kalulu, ao passo que Loftus-Cheek, recuperado de lesão muscular, tornou a ser titular. A volta do inglês mudou a dinâmica do time lombardo, que não vinha mostrando intensidade, e foi uma das chaves para a vitória em San Siro.

O dinamismo e a potência física de Loftus-Cheek foram essenciais para o Milan desde o minuto inicial, quando o jogo se desenhou extremamente intenso. Influenciados pelo calor que vinha das arquibancadas, os times começaram uma verdadeira trocação desde os primeiros segundos – panorama que durou por toda a etapa inaugural. As transições em velocidade representariam as maiores ameaças dos mandantes, ao passo que o Paris conseguia responder na mesma moeda e também em jogadas mais construídas, uma vez que teria mais posse de bola.

Logo aos 6 minutos, o Milan conseguiu ter a sua primeira chance no jogo – e justamente com Loftus-Cheek. Rafael Leão fez boa jogada pela esquerda, deixou Hakimi para trás e cruzou rasteiro para o inglês, que se infiltrou na área e mandou para longe. De imediato, o PSG respondeu com contragolpe rápido, puxado por Kolo Muani, mas Mbappé pegou mal e atrasou para Maignan.

Persona non grata em San Siro, Donnarumma foi alvo de protestos por parte da torcida do Milan e evitou derrota maior do PSG (AFP/Getty)

Em outro trabalho com velocidade, aos 9, os franceses conseguiram escanteio e, na bola parada, abriram o placar. A pelota foi alçada à área e Marquinhos ganhou de Tomori no primeiro pau, de modo que teve a felicidade de escorar para Skriniar – que se chama Milan, vale lembrar – aparecer sozinho na pequena área e empurrar para a rede. Ex-nerazzurro, o eslovaco acabou comemorando junto à tradicional Curva Nord da Inter, setor em que a torcida do PSG foi alocada nesta noite.

O Milan não sentiu o gol e tentou responder de imediato. Aos 11, Pulisic avançou pela direita, em jogada similar à que Rafael Leão tinha produzido do outro lado, mas Musah só recuou para Donnarumma. O português seria fatal no minuto seguinte.

Aos 12, Rafael Leão iniciou ação em velocidade, dialogou com Giroud e pisou na área para aproveitar o rebote de Donnarumma no chute forte do francês. De puxeta, o camisa 10 marcou o primeiro do Diavolo nesta Champions League e provocou polêmica na comemoração. Enquanto choviam notas falsas sobre o arqueiro italiano, o português fez sinal de silêncio para a torcida. Após o fim da partida, contemporizou: disse que as críticas podem continuar e que tratará de respondê-las em campo.

Muita coisa havia acontecido até cerca de 10% da partida ter sido jogada e o ritmo continuaria intenso. Aos 14 minutos, a zaga do Milan cometeu um ato de desatenção que quase resultou em gol de Mbappé: o atacante francês, apagado no restante do duelo, só não recebeu a bola sozinho cara a cara com Maignan porque o arqueiro foi rápido o suficiente para antecipá-lo.

Depois, apesar de os times terem continuado a se atacarem, poucas chances claras aconteceram até os 27 minutos. Ali, Dembélé carimbou o travessão do Milan com um belíssimo chute de fora da área e, no contra-ataque, Giroud arrematou na parte externa da rede parisiense. Até o fim da primeira etapa, foi o Diavolo que teve novas oportunidades, numa cobrança de falta de Tomori – defendida por Donnarumma – e numa finalização de Rafael Leão.

Inspirado contra o PSG, Rafael Leão calou os críticos (Getty)

O crescimento que o Milan mostrou nos últimos instantes da primeira etapa se sustentou na volta do intervalo, embalado pela regularidade de Loftus-Cheek e pelos esforços de Rafael Leão. E, para a felicidade dos mandantes, resultaram num gol pouco tempo depois de os times terem subido novamente para o gramado. Aos 50 minutos, Hernandez cruzou na medida e Giroud, após ganhar do ex-nerazzurro Skriniar no alto, testou violentamente para a rede. No dia do aniversário de 62 anos de Hateley, célebre atacante que vestira a camisa rossonera na década de 1980, o francês reeditou um dos tentos mais conhecidos do inglês, que virou ídolo do Diavolo devido a uma cabeçada mortal, que encerrou jejum de seis temporadas sem vitórias sobre a Inter no Derby della Madonnina.

Com a vantagem no placar, decorrente da virada, o Milan ganhou confiança e passou a mandar no jogo. Maignan teve de continuar muito atento até o apito final, mas o fato é que precisou fazer poucas defesas relevantes dali em diante. Donnarumma, ao contrário: já que o time da casa manteve a superioridade e não deixava de incomodar, devido às estocadas de Rafael Leão, o arqueiro trabalhou para evitar uma derrota maior para o Paris.

Aos 63 minutos, Hernandez cobrou falta com perigo e Donnarumma voou para, com a ponta dos dedos, mandar a bola para escanteio. As chances rarearam na sequência, já que os times cansaram um pouco – até por conta disso, o PSG precisava cometer faltas quando o Milan partia em contra-ataques. Na casa dos 85, Okafor, que acabara de entrar no lugar de um exausto Rafael Leão, chutou bem no cantinho e obrigou Gigio a fazer outra defesaça. No escanteio e no bate-rebate subsequentes, o atacante suíço desperdiçou a oportunidade de matar o jogo. E quase fez falta para o Diavolo, visto que Lee Kang-in carimbou a trave rossonera aos 89.

No fim das contas, o Milan resistiu à pressão final do PSG e conquistou a sua primeira vitória de virada na Champions League desde 2009, quando contou com uma doppietta de Alexandre Pato para bater o Real Madrid por 3 a 2, na fase de grupos da edição 2009-10 do torneio. Naquela ocasião, o triunfo também foi vital, já que os rossoneri viviam crise no certame, com direito até mesmo a derrota caseira para o Zürich, da Suíça. Agora, o sucesso permitiu ao Diavolo sobreviver no chamado grupo da morte.

Faltando duas rodadas para o fim desta fase da Liga dos Campeões, o Grupo F segue totalmente aberto. O líder é o Borussia Dortmund, próximo adversário do Milan, que chegou aos 7 pontos após bater o lanterna Newcastle (4). Os italianos estão na terceira posição, com 5, colado no Paris Saint-Germain (6). Alguém arrisca um palpite sobre como esta balbúrdia irá terminar?

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