Jogos históricos

Afirmação europeia da Inter, em 2010, teve prova de maturidade contra o CSKA Moscou

A temporada 2009-10 foi mágica para o torcedor da Inter. O seu desfecho é lembrado com muita glória, mas a construção da trajetória vencedora dos nerazzurri foi tão ou mais saborosa do que a conquista do terceiro título europeu. É que a equipe foi ganhando corpo a cada resultado obtido, exibindo características novas jogo a jogo. Contra o CSKA Moscou, nas quartas de final, a Beneamata reafirmou a maturidade adquirida na Champions League.

As principais contratações feitas pela Inter naquela temporada se mostravam fundamentais na Liga dos Campeões. Primeiro, Wesley Sneijder e Diego Milito foram os protagonistas da sofrida vitória (de virada) sobre o Dynamo Kyiv, num jogo em que a Beneamata flertou com a eliminação na fase de grupos. No mata-mata, Lúcio fez duas grandes partidas contra o Chelsea e anulou Didier Drogba, ao passo que os experientes Milito e Samuel Eto’o chamaram a responsabilidade e marcaram gols que garantiram a passagem da equipe de Milão para as quartas. Diante dos moscovitas, o camisa 10 holandês e o centroavante argentino voltariam a brilhar.

No jogo de ida contra o CSKA Moscou, José Mourinho não poderia contar com Lúcio e Thiago Motta, suspensos. No entanto, os desfalques não foram sentidos pela Inter, pouco agredida pelos visitantes. O time vermelho atuou bastante fechado em sua defesa e tentou segurar uma adversária que começava a ver a mudança para o esquema 4-2-3-1 engrenar. Desde a contratação de Goran Pandev, em janeiro, o técnico português experimentou o módulo tático, puxando Eto’o para a ponta esquerda e isolando Milito na frente. Foi assim que os nerazzurri passaram pelo Chelsea.

A primeira boa chance da Inter aconteceu justamente com Pandev, que chutou forte da entrada da área, mas sobre a baliza de Igor Akinfeev. Se os interistas não puderam comemorar um gol ainda na etapa inicial, pelo menos festejaram os cartões amarelos para Evgeni Aldonin e Milos Krasic, que estavam pendurados e não poderiam jogar em Moscou.

A Inter voltou do intervalo com uma postura mais agressiva, mas quem levou perigo pela primeira vez foi o CSKA, com um ótimo arremate de fora da área de Aldonin, que Julio Cesar mandou para escanteio. Em seguida, aos 60 minutos, um erro na saída de bola moscovita permitiu a Esteban Cambiasso avançar e deixar Dejan Stankovic na cara do gol. No entanto, o meia sérvio não conseguiu chutar com precisão e facilitou as coisas para Akinfeev.

Akinfeev bem tentou segurar, mas a Inter venceu o CSKA Moscou, em Milão, graças a um forte chute de Milito (AFP/Getty)

O goleiro russo começou a se destacar justamente a partir deste lance, já que, nos 15 minutos subsequentes, a Beneamata intensificou o ritmo. Pandev tentou de fora da área novamente, mas o chute colocado foi espalmado pelo camisa 35. Eto’o experimentou uma finalização rasteira, mas Akinfeev estava lá para segurar. Em seguida, porém, o arqueiro não pode fazer nada no arremate seco de Milito, que abriu o placar. Sneijder puxou contragolpe e tocou para o Príncipe, da meia-lua, bater forte e acertar o canto direito da meta do CSKA Moscou.

Logo depois, a Inter começou a forçar ainda mais, vendo que a defesa russa não conseguia segurar seu ímpeto. No lance mais claro, Pandev driblou Akinfeev e já partia para a comemoração quando Aleksei Berezutski cortou, em cima da linha, um gol quase certo. A dez minutos do fim, Sneijder ficou sozinho frente ao goleiro adversário e ainda teve a opção de tocar na área para Milito ou Pandev, mas acabou chutando para fora. Akinfeev ainda salvaria o CSKA por duas vezes, em finalizações seguidas de Cambiasso e Stankovic, mantendo vivo o sonho da equipe moscovita de chegar às semifinais do torneio mais importante da Europa.

A Inter saiu do Giuseppe Meazza com a convicção de que poderia ter matado o confronto contra o CSKA Moscou, já que a vitória por 1 a 0 não refletiu as várias chances criadas. Mesmo assim, Mourinho enxergava uma vantagem clara para os nerazzurri e, já na entrevista coletiva posterior à peleja, avisou que a Beneamata deveria ir para cima dos russos desde o início da partida de volta, realizada no estádio Luzhniki. Afinal, um gol italiano forçaria os donos da casa a marcarem três para alcançarem a classificação.

E assim foi. Logo aos 6 minutos, Sneijder anotou o tento que deixava a Inter com a faca e o queijo nas mãos para administrar a eliminatória. Especialista em bolas paradas, o holandês teve falta na entrada da área e, ao contrário do que costuma fazer, não tentou encobrir a barreira: enganou os jogadores adversários, que saltaram e deixaram Akinfeev desprotegido. A bola foi chutada no meio do gol, mas o arqueiro – que fizera tantas defesas importantes no jogo de ida – não foi rápido o bastante para evitar a prematura e significativa vantagem nerazzurra.

A tarefa para o CSKA Moscou era das mais dura: não contava com Krasic, seu principal jogador na temporada, e Aldonin para equilibrar o fato de o criativo Alan Dzagoev estar longe das melhores condições físicas, e ainda teria de fazer três gols numa defesa formada por Julio Cesar, Maicon, Lúcio, Walter Samuel e Javier Zanetti. O camisa 10 teria o auxílio de Keisuke Honda para orientar o ritmo do time russo, mas a dupla não conseguiu driblar a ausência do sérvio e, assim, Tomás Necid ficou vulnerável a Lúcio e Samuel.

Com pancada no meio do gol, Sneijder encaminhou a classificação da Inter para as semifinais (AFP/Getty)

No desespero, o técnico Leonid Slutsky sacou o lesionado Vasili Berezutski, aos 13 minutos, e colocou o meia Chidi Odiah, atirando seus comandados desesperadamente ao ataque. Não deu muito certo. Tentando de fora da área, o nigeriano até obrigou Julio Cesar a fazer grande defesa e colocar a bola para escanteio, mas foi só. Milito teve ótima chance para matar o jogo quando recebeu lançamento de Sneijder, mas perdeu o tempo da bola e, mal posicionado, chutou fraquinho. Parou em Akinfeev.

No segundo tempo, Odiah facilitou ainda mais a vida da tetracampeã italiana ao cometer falta dura sobre Eto’o, ganhar o segundo cartão amarelo e ir para o chuveiro mais cedo. Os 40 minutos restantes foram apenas uma formalidade para a equipe nerazzurra retornar às semifinais da maior competição europeia, após sete anos de ausência. O fantasma da eliminação nas quartas estava superado.

A Inter teria pela frente o Barcelona e um sobrenatural Lionel Messi, autor dos quatro gols da vitória por 4 a 1 sobre o Arsenal, que garantiu os blaugrana nas semifinais. Era o mesmo Barça que lhe causara problemas na fase de grupos. Sem dúvida, a Beneamata precisaria entrar em campo com uma postura diferente daquela vista nos dois confrontos anteriores com os catalães, terminados num empate sem redes balançadas e numa derrota por 2 a 0. Uma postura de Champions, que a equipe de Mourinho parecia, enfim, ter conseguido alcançar. A história provou que sim.

Inter 1-0 CSKA Moscou

Inter: Julio Cesar; Maicon, Materazzi, Samuel, Zanetti; Stankovic, Cambiasso; Pandev (Mariga), Sneijder, Eto’o; Milito. Técnico: José Mourinho.
CSKA Moscou:
Akinfeev; A. Berezutski, V. Berezutski, Ignashevich, Shchennikov; Semberas, Aldonin (Rahimic); Krasic, Honda (Dzagoev), Mamaev (González); Necid. Técnico: Leonid Slutsky.
Gol: Milito (65’)
Árbitro: Howard Webb (Inglaterra)
Local e data: estádio Giuseppe Meazza, Milão (Itália), em 31 de março de 2010

CSKA Moscou 0-1 Inter

CSKA Moscou: Akinfeev; A. Berezutski, V. Berezutski (Odiah), Ignashevich, Shchennikov; Semberas, Mamaev; Dzagoev, Honda (Rahimic), González; Necid (Guilherme). Técnico: Leonid Slutsky.
Inter: Julio Cesar; Maicon, Lúcio, Samuel, Zanetti; Stankovic, Cambiasso; Pandev (Chivu), Sneijder (Muntari), Eto’o; Milito (Balotelli). Técnico: José Mourinho.
Gol: Sneijder (6’)
Cartão vermelho: Odiah
Árbitro: Stéphane Lannoy (França)
Local e data: estádio Luzhniki, Moscou (Rússia), em 6 de abril de 2010

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