Seleção italiana

Em amistoso pobre, Retegui brilhou e deu vitória à Itália sobre a Venezuela

A partir dos limões, uma limonada. A Itália certamente não teve uma boa atuação no amistoso contra a Venezuela, mas a sofrida vitória por 2 a 1 deu alguns caminhos ao técnico Luciano Spalletti. Em um contexto de muitos testes contra a seleção vinotinto, o treinador recebeu ótimos sinais do centroavante Retegui, que marcou dois gols e aparece como favorito à vaga de titular do ataque na Euro 2024 e atestou que algumas peças rendem melhor em determinados esquemas táticos.

Para o primeiro duelo com a Venezuela em toda a história, realizado em Fort Lauderdale, Flórida, no sul dos Estados Unidos, Spalletti optou por escalar a Itália num 3-4-2-1, com Di Lorenzo na zaga, Cambiaso e Udogie nas alas e Frattesi e Chiesa em suporte a Retegui. Por sua vez, a Venezuela do técnico argentino Fernando Batista foi ao campo do Chase Stadium, casa do Inter Miami e de Messi, espelhada. E, a princípio, mais bem postada do que a Nazionale.

Existe o seguinte ditado na Itália: “il buongiorno si vede dal mattino”. Em tradução livre para o português brasileiro, seria como “começar com o pé direito”, tanto de forma literal quanto sarcástica. Os azzurri adotaram o segundo formato da expressão. Logo aos 2 minutos, a equipe italiana foi pressionada na saída de bola entre Donnarumma e Scalvini – improvisado no lado esquerdo da defesa, ao invés do oposto habitual. O beque da Atalanta passou curto para Udogie, que foi desarmado, e, na sequência do lance, Buongiorno derrubou Rondón na área. Pênalti cristalino.

Para a sorte da Nazionale, Donnarumma vive um grande momento no Paris Saint-Germain e o levou a tiracolo para os Estados Unidos. O capitão italiano saltou no canto certo e negou a alegria ao experiente Rondón, o dono da braçadeira venezuelana – no rebote, Savarino ainda isolou. Excluindo disputas por pênaltis, ou seja, com a bola rolando, esta foi a primeira defesa de uma cobrança feita por um arqueiro azzurro desde Buffon, contra a Croácia, em 2015.

Em atuação pavorosa na defesa, Buongiorno cometeu erro remediado por Donnarumma – o mesmo não ocorreu com Bonaventura (Getty)

Com o passar dos minutos, a Itália continuou sofrendo pelos flancos. Cambiaso e Udogie não atacavam com frequência nem se ofereciam como opções de passe para seus colegas, ao posto que Machís incomodava pelo lado esquerdo. Foi por ali que, aos 19, saiu um cruzamento para Rondón, dentro da pequena área. Muito mal marcado, o venezuelano só não empurrou para as redes porque teve de chegar de carrinho e, ao não alcançar a bola em cheio, a mandou para fora.

Do outro lado do campo, a Itália não criava. Bonaventura não circulava a bola, Locatelli não o fazia por não ser o principal designado para isso e Frattesi, mais avançado do que de costume, não tinha como atacar os espaços em velocidade, como gosta. A única oportunidade digna de nota surgiu aos 14 minutos, quando Chiesa recebeu na entrada da área e arriscou um chute com curva, que passou perto da trave de Romo.

Na casa dos 40, então, um erro crasso da Venezuela na saída de bola movimentou o placar. Romo falhou feio ao tentar um passe vertical e Ángel, zagueiro do Criciúma, simplesmente esqueceu que existe linha de impedimento: não se mexeu para tentar deixar Retegui em condição irregular após a rebatida de Locatelli. Cambiaso ajeitou e o atacante ítalo-argentino aproveitou para anotar o seu primeiro gol pela Itália após quase um ano. Vale destacar que o centroavante do Genoa só atuou em duas partidas com a camisa azzurra no período, pois esteve indisponível em algumas datas Fifa.

Só que, menos de três minutos depois, a Itália devolveu o presente para a Venezuela, falhando novamente em outra construção oriunda do primeiro terço do campo – a etapa inicial, aliás, pareceu um manifesto contra saídas de bola curtas. Donnarumma passou para Bonaventura, que recebeu de costas para a marcação e errou feio ao tentar encontrar Buongiorno. Apagado no duelo, o meia da Fiorentina acabou fornecendo uma “assistência” involuntária para Machís, ex-Udinese, só chapar para o gol aberto.

Após uma atuação pálida, Bonaventura foi sacado por Spalletti no intervalo e Barella entrou em seu lugar, dando uma maior organização para o meio-campo italiano. Entretanto, os azzurri continuaram criando pouco e, principalmente, cometendo falhas defensivas. Aos 63 minutos, Buongiorno errou muito feio no tempo de bola e não cortou um lançamento longo, deixando Cádiz sair na cara do gol. Donnarumma rebateu o primeiro chute e Scalvini bloqueou o rebote do venezuelano.

Jorginho entrou bem no jogo contra a Venezuela e forneceu assistência para um dos gols de Retegui (Getty)

A Itália melhorou lentamente, com as entradas de Jorginho e Pellegrini nos lugares de Locatelli e Frattesi, mas foi a mudança do 3-4-2-1 para o 4-3-3, ocorrida após Zaniolo render Cambiaso, que mudou o jogo. Os azzurri conseguiram desencaixar a marcação venezuelana, produziram mais e, aos 80 minutos, marcaram o gol decisivo.

Jorginho pegou a sobra do corte do são-paulino Ferraresi, deu um belo drible e só ajeitou para o giro perfeito de Retegui, que marcou seu quarto gol em cinco jogos pela seleção. Em seguida, Osorio ainda puxou o centroavante do Genoa na área, mas não havia VAR e o pênalti cristalino não foi assinalado pelo árbitro Rubiel Vázquez. Melhor em campo, a Itália ainda criou algumas oportunidades e não sofreu mais até o apito final.

No fim das contas, a sofrida vitória por 2 a 1 sobre a Venezuela mostrou a Spalletti que o 3-4-2-1 é uma alternativa válida apenas se tiver jogadores mais acostumados a ele e, principalmente, se tiverem entrosamento. Falando mais explicitamente: tendo a base da Inter na defesa e nas alas, além de Barella no meio. E também com Pellegrini no suporte ao ataque, como atuou diversas vezes sob o comando de José Mourinho na Roma. Em outras condições, o 4-3-3 se mostrou mais eficiente e tem que ser uma variação a ser considerada e utilizada ao menos em alguns momentos das partidas.

Se a atuação de Retegui pode ter sanado quaisquer dúvidas de Spalletti em relação à convocação do ítalo-argentino e sobre sua provável titularidade na próxima Eurocopa, o que deixa a questão tática em aberto é uma lacuna defensiva. Para a disputa do torneio em solo alemão, o treinador terá que encontrar um substituto para Acerbi, que não deve mais vestir a camisa da seleção por conta da acusação de racismo a Juan Jesus. Buongiorno, testado nesta quinta, entregou uma atuação grotesca e desperdiçou uma oportunidade de se firmar. Pelo que tem mostrado no Torino, vale a pena insistir em sua presença no onze inicial para a partida contra o Equador, no domingo. Afinal, não há mais tempo para testes, visto que esta é a última data Fifa antes do fim da temporada.

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