Brasileiros no calcio

Antes de ser herói do Palmeiras, Evair marcou época na Atalanta

Grande ídolo do Palmeiras, Evair completou na última semana 50 anos de idade. O ex-atacante de tanta história pelos alviverdes paulistano e de Campinas, teve também uma passagem marcante pela Itália e ajudou a alçar de patamar a Atalanta, então desconhecida internacionalmente. Nos três anos em Bérgamo, foram 76 jogos e 25 gols, o suficiente para cair nas graças da torcida e levar a equipe nerazzurra à 6ª colocação, segunda melhor posição da história da equipe na Serie A, e à disputa da Copa Uefa por duas temporadas.

O herói do fim da fila palmeirense começou sua carreira no Guarani e teve ascensão meteórica. Alçado aos profissionais por Lori Sandri, em 1984, Evair deixou o ataque para jogar no meio campo, como típico regista, seguindo os passos de seu ídolo, o holandês Marco van Basten. Sua qualidade e técnica apurada facilitaram a adaptação e também a consolidação no time de cima. Em dois anos e mesmo no meio, brigou pela artilharia do Brasileirão de 1986 com Careca, então no São Paulo. Ficou com a vice-artilharia, com 24 gols – um a menos que o são-paulino.

No ano seguinte, teve sua primeira oportunidade na Seleção Brasileira que venceu os jogos Pan-Americanos e sua consolidação no time bugrino, já chamando a atenção de equipes da Europa e da Ásia. A artilharia do Paulistão em 1988, com 19 gols e o vice-campeonato à equipe campineira decretaram o fim de sua passagem pelo Guarani. O destino, a Atalanta, equipe que acabara de conquistar o acesso à Serie A com a 4ª colocação na segundona.

Com a ambição de se fixar novamente na primeira divisão da Bota, a Atalanta tinha como destaques os meias Glenn Strömberg, Cesare Prandelli e Valter Bonacina. Para se reforçar na elite, o time comandado pelo agora folclórico treinador Emiliano Mondonico trouxe como principais reforços o meia Robert Prytz, que faria dupla sueca com Strömberg, e também Evair, que teria a incumbência de comandar o ataque.

Se Strömberg, peça fundamental do acesso em 1987-88, continuava tendo importância, Evair logo tratou de se tornar o nome do time e começar a se tornar o Matador. Com 11 gols – 10 deles na Serie A – na temporada de estreia em solo estrangeiro, o brasileiro foi o artilheiro do time na campanha que acabou com a 6ª colocação, à frente de Fiorentina, Roma, Lazio e Torino, e a vaga para a Copa Uefa – algo inédito na história atalantina. Os destaques de Evair foram os gols sobre a campeã Inter, a Roma e, sobretudo, o gol no final do jogo que valeu uma preciosa vitória sobre a Juventus, em Turim. Na mesma temporada, a Atalanta foi até as semifinais na Coppa Italia, quando acabou eliminada pela futura campeã, a Sampdoria de Roberto Mancini, Gianluca Vialli e Toninho Cerezo.

Na segunda temporada na Lombardia, Evair ganhou um companheiro de peso para ajudá-lo a guiar o time na Copa Uefa. Foi contratado, junto ao Verona, o atacante argentino Claudio Cannigia, que formou com o brasileiro a principal dupla de ataque da história da equipe de Bérgamo. Na primeira temporada da dupla, o sonho continental parou ainda na primeira fase, contra o Spartak Moscou. Na Serie A, Caniggia foi mais importante, mas Evair seguiu tendo peso e anotou cinco gols na campanha que levou novamente a Dea à Copa Uefa, com a conquista do 7º lugar.

Nessa imagem, Evair não parece estar gostando muito de brincadeira feita pelo técnico Mondonico (Acervo pessoal)

Após a Copa de 1990, com o sucesso de Caniggia em campos italianos e o vice-campeonato mundial, a dupla cresceu ainda mais e chegou a seu auge. Era uma temporada de mudanças, já que Cesare Bortolotti vendera o clube para Antonio Percassi, ex-jogador orobico, que foi presidente até 1994 e que voltou ao comando dos nerazzurri em 2010. O comando técnico também mudara: Emiliano Mondonico deu lugar a Pierluigi Frosio, que comandou o time por metade da temporada – Bruno Giorgi foi contratado para seu lugar.

Naquele ano, Evair marcou o seu maior número de gols pela Atalanta. Foram 14 ao todo, 10 na Serie A, dois na Coppa Italia e mais dois na Copa Uefa. Na competição continental, o time caiu nas quartas de final no duelo local contra a Inter, que se sagraria campeã, mas Evair caiu ainda mais nas graças da torcida, ao marcar contra Dinamo Zagreb e Fenerbahçe, nas duas primeiras fases. No entanto, após 89 jogos e 30 gols (veja todos os gols do atacante pela Atalanta) vestindo nerazzurro, aquela seria a última temporada do brasileiro em Bérgamo.

Apesar da vontade de permanecer mais um ano, até o final de seu contrato, Evair sentia saudade do Brasil – por isso, foi apelidado pela torcida de “o artilheiro triste”. Mesmo sendo um dos principais brasileiros em atividade na Itália, em 1991, o atacante optou por ganhar menos na América do Sul e deixou a Lombardia para realizar o desejo de voltar a seu país e fazer parte de um “novo Palmeiras”, numa troca pelo atacante Careca Bianchesi mais uma contrapartida de US$ 700 mil, mostrando que a época de ouro bergamasca estava chegando ao fim. Não é preciso dizer quem se deu melhor nessa história…

Enquanto Bianchesi passaria apenas um ano no clube e a Atalanta chegaria a amargar o rebaixamento na temporada 1993-94, Evair já havia superado problemas físicos e com treinadores, se tornado ídolo e símbolo do Palmeiras, vencido dois Campeonatos Paulistas e estava prestes e vencer seu segundo Campeonato Brasileiro. Virou ídolo de um time histórico no Palmeiras, ao lado de Edmundo, e por pouco não participou da campanha do tetracampeonato mundial do Brasil, em 1994.

Evair ainda rodaria por Japão e pelo Brasil, defendendo diversos times, com destaque pela passagem pelo Vasco, onde reeditou a dupla mortal com Edmundo e se sagraria novamente campeão brasileiro. Nesse tempo, nunca deixou de ser idolatrado pelos italianos – como mostra este vídeo da chegada triunfal do brasileiro e de Caniggia em uma festa promovida pela Atalanta – e pelos oriundi alviverdes.

Evair Aparecido Paulino
Nascimento: 21 de fevereiro de 1965, em Ouro Fino (MG)
Posição: atacante
Clubes: Guarani (1985-87), Atalanta (1988-91), Palmeiras (1991-94 e 1999), Yokohama Flugels (1995-96), Vasco (1997), Atlético-MG (1997), Portuguesa (1998), São Paulo (2000), Coritiba (2001), Goiás (2002) e Figueirense (2003).
Títulos: Campeonato Paulista (1993, 1994 e 2000); Campeonato Brasileiro (1993, 1994 e 1997); Campeonato Japonês (1995), Copa Libertadores (1999); Jogos Pan-Americanos (1987).
Seleção brasileira: 10 jogos e 2 gols

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