Brasileiros no calcio

Primeiro Atleta de Cristo da Serie A, o brasileiro Amarildo presenteava colegas com bíblias

Desde o início do século passado, a Serie A consagrou inúmeros jogadores oriundos do Brasil. É possível encontrar pelo menos um brazuca na história dos principais times da Itália. A própria Calciopédia já criou uma lista com os 20 maiores brasileiros do futebol italiano. Porém, entre tantos atletas “verdeoro” que passaram pela Velha Bota, nenhum obteve mais relevância cristã do que Amarildo – homônimo, veja só a ironia, do “Possesso” Amarildo, campeão mundial em 1962 e ex-ponta de Milan e Fiorentina. Embora não tenha tanta fama quanto o seu xará e outros compatriotas, o ex-atacante foi o primeiro Atleta de Cristo a atuar no país.

Criado em um lar cristão e filho de pastor, Amarildo é natural de Curitiba e peregrinou por seis clubes brasileiros antes de aportar na Europa. Em 1982, chegou ao time profissional do Toledo, equipe paranaense. Nos anos seguintes, jogou por Botafogo, Operário-MS, Inter de Limeira e XV de Piracicaba até deslanchar no Internacional. Com o Colorado, ativou seu instinto artilheiro e ajudou o elenco a alcançar a final da Copa União, o Campeonato Brasileiro de 1987. Deixou o Inter em 1988 para viver sua primeira experiência internacional na Espanha, com o Celta de Vigo. A trajetória em solo espanhol seria curta, já que um ano depois assinaria com a Lazio e se mudaria à Itália.

Na Velha Bota, Amarildo encontrou um país bastante ligado ao cristianismo, mas com uma vertente diferente do protestantismo: o catolicismo. O curitibano, porém, não queria falar sobre religião: o objetivo era fazer com que outras pessoas também experimentassem o amor em Jesus. Assim, começou a presentear os colegas de profissão, do mesmo time ou das equipes adversárias, com a Bíblia.

“Eu tive experiências muito boas no Campeonato Espanhol e no Campeonato Italiano. Eu sempre dava uma Bíblia pro adversário. Era uma maneira de expressar a minha gratidão a Deus”, conta o curitibano, em entrevista por telefone à Calciopédia. “E, nesse ano [1989], eu fui o primeiro atleta profissional a declarar publicamente, dentro do estádio, que Jesus era meu salvador, sem levar nenhum tipo de religião, de peso, de dogmas”, acrescenta.

Adorado pela torcida da Lazio, o ex-centroavante deixa bem claro que sua missão era falar sobre Jesus. “Eu sempre digo pras pessoas o seguinte: Jesus veio a esse mundo para salvar todo mundo, o pobre, o rico, o magro, o gordo, o preto, o amarelo… Ele veio com essa missão de salvar. Jesus não faz acepção de pessoas, mas, para usar, ele escolhe alguns. Tem muitos homens e mulheres que ele usa pro reino, e eu fico feliz de ele ter me escolhido nesse monte de atletas cristãos”, celebra.

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De acordo com o relato de Amarildo, não havia resistência por parte dos jogadores quando ele entregava a Bíblia de presente. No entanto, a ideia não caía muito bem entre os jornalistas. “A imprensa, no começo, achava estranho, porque eles diziam que Roma era uma cidade cristã, que tinha o Papa João Paulo II, o Vaticano, [mas] aí eu dizia pra eles: ‘Não, eu não falo de religião, do catolicismo, de protestantismo, de igrejas; eu falo daquilo que Jesus fez’. Então, era uma expressão muito legal. Os jogadores recebiam a Bíblia com muito carinho”, explica.

Diego Armando Maradona, considerado pelo povo napolitano uma entidade sagrada por tudo que deu ao Napoli, “ficou muito feliz de ter recebido” a Bíblia, revela Amarildo. O Pibe d’Oro, porém, certamente não gostou do que o brasileiro aprontou em campo, no dia 30 de dezembro de 1989, quando Lazio e Napoli duelaram pela última rodada do primeiro turno da Serie A 1989-90. O jogo ocorreu no estádio Flaminio, em Roma, porque o Olímpico estava em reformas para a Copa do Mundo de 1990.

O time da capital não tomou conhecimento dos 16 jogos de invencibilidade dos azzurri e venceu o confronto, por 3 a 0. Amarildo anotou uma doppietta. Para o atacante, aquele foi o momento mais marcante vestindo a camisa biancoceleste. “O Napoli era um time praticamente imbatível. Inclusive, eles foram campeões. […] O Maradona veio da Argentina, onde se casou com a Claudia [Villafañe]. Eles vieram para jogar no estádio [Flaminio] e nós fizemos, talvez, o melhor jogo do Campeonato Italiano. Eu fiz o primeiro gol, o [Gabriele] Pin fez o segundo e eu fiz o terceiro. A gente tinha feito o quarto também, mas o juiz anulou. Foi uma vitória épica, muito importante pro clube”, recordou.

A atuação de Amarildo naquele jogo fez os torcedores laziali amarem o centroavante, que terminou a temporada como artilheiro da Lazio, com nove gols – somando todas as competições. “Como o Maradona era ídolo naquele ano, eu ter feito dois gols ficou muito marcado pra torcida da Lazio. O estádio Flaminio estava lotado. Eu ganhei todo tipo de presente que você imaginar, até canarinho me deram. Lembro até hoje. Então, esse jogo contra o Napoli do Maradona talvez tenha sido meu auge na Lazio”, destaca.

Depois que Amarildo deu início ao projeto Atletas de Cristo na Itália, vários jogadores aderiram à causa. “Eu tenho amigos italianos que fazem parte. O Felipe Anderson, que joga na Lazio, é um atleta cristão. O próprio centroavante do Milan, o francês [Olivier Giroud], também é cristão. Então, são atletas referências, né? E também amigos meus, que se converteram logo depois que eu fui embora do país. Eu tenho um lastro de amizade muito grande na Itália. Sou muito grato a Deus pelos amigos que eu consegui dentro e fora da internet”, agradece.

Com planos de lançar uma autobiografia em três idiomas (inglês, italiano e português) e morar na Itália em 2024, Amarildo revela que fará um estágio com Maurizio Sarri, atual treinador da Lazio. O curitibano também está contente com o bom momento da equipe laziale, que faz boa Serie A e garantiu com antecedência vaga à próxima edição da Champions League. “Eu estou [muito feliz pela campanha da Lazio] por causa do meu amigo Felipe Anderson. Tenho essa amizade com o pessoal da Radio Sei Lazio, que tem um carinho especial por mim. A gente fica feliz de ver a Lazio chegar num patamar assim”, comemora o ex-atleta, que também vestiu as camisas de Cesena e Torino na Itália.

Enquanto não arruma as malas e parte com destino ao Belpaese, o curitibano segue treinando a garotada sub-17 do Porto Vitória, time com sede no Espírito Santo. Sua vida sempre esteve ligada ao futebol e ao cristianismo. Não à toa, após pendurar as chuteiras, montou o Centro Esporte Amarildo, uma escola de futebol situada em Limeira, no interior de São Paulo, e se tornou diácono, função que exerce na igreja evangélica Bola de Nove há 10 anos. Mas essas e outras histórias de Amarildo você pode conferir, abaixo, ao ler a entrevista completa.

Pedro Troglio e Amarildo, companheiros na Lazio (Guerin Sportivo)

O que Amarildo faz hoje?

Depois de 17 anos, eu montei uma escola de futebol: Centro Esportivo Amarildo. Era uma escola grande em Limeira, no interior de São Paulo, onde minha esposa é radicada. E aí me radiquei em Limeira, sendo de Curitiba. Meus filhos nasceram, dei prioridade a eles e parei de jogar aos 34 anos. Quando me aposentei, eu montei o Centro Esportivo Amarildo, e fiquei por 17 anos com a escola de futebol.

Sou treinador do Porto Vitória do sub-17, no Espírito Santo. Nós fomos campeões ano passado da Copa Espírito Santo e, agora, começa o campeonato estadual aqui. Então, eu girei esse mundo todo como jogador, como atleta, e também como treinador.

Transferência ao futebol europeu

A primeira vez que eu fui pra Europa, eu fui com o Internacional. Disputei um torneio contra o Celta de Vigo, na cidade de Vigo, e nós fomos campeões. Aí, no ano seguinte, em 1988, eu fui comprado pelo Celta de Vigo. Substituí o Baltazar naquele ano. Baltazar foi pro Atlético de Madrid, e eu fui pro Celta de Vigo. Depois, eu fiz 16 gols no Campeonato Espanhol, e o gol mais importante que marquei foi o que quebrou a invencibilidade de 36 jogos do Real Madrid. Foi a única derrota do Real Madrid naquele ano. Depois desse jogo, eu fui negociado com a Lazio para jogar o Campeonato Italiano.

Processo de chegada à Lazio

Foi o primeiro ano que a Lazio chegou numa pontuação melhor no Campeonato Italiano, depois de muitos e muitos anos. Lá, eu encontrei o Rubén Sosa, que era atacante da seleção uruguaia e virou meu amigo, e o argentino Pedro Troglio, que também é meu amigo até hoje e jogou a Copa do Mundo com o Maradona. Foi um ano expressivo pra mim, até porque a Lazio canta meu nome no estádio todo jogo há 34 anos. Realmente ficou marcado, na época, os gols que eu fiz. Então, foi muito especial esse ano na Lazio, por isso que até hoje eles têm um carinho muito especial por mim.

Vontade de morar e trabalhar na Itália

Eu tenho quatro filhos: uma nasceu na Espanha, uma na Itália, uma em Portugal e outro no Brasil. Eu sou casado há 36 anos, os filhos cresceram e a minha esposa conseguiu a cidadania [italiana]. Há duas semanas saiu a cidadania da minha família, e eu estou fazendo a naturalização via casamento com a minha esposa. Então, a ideia principal é daqui dois ou três anos, no máximo, eu morar na Itália. Tenho vontade de trabalhar lá e tenho vontade, também, de fazer aquilo que Deus me mandou fazer na época [quando jogava no futebol italiano] e dar continuidade ao projeto que Deus colocou no meu coração.

Primeiro Atleta de Cristo do futebol italiano

Eu tive experiências muito boas no Campeonato Espanhol e no Campeonato Italiano. Sempre eu dava uma Bíblia pro adversário. Era uma maneira de expressar a minha gratidão a Deus. Então, eu tinha essa maneira de expressar [meu amor a Deus], dando uma Bíblia pro adversário. E, nesse ano, eu fui o primeiro atleta profissional a declarar publicamente, dentro do estádio, que Jesus era meu salvador, sem levar nenhum tipo de religião, de peso, de dogmas dentro do clube.

E ali a minha história ficou marcada, porque, no começo, eles achavam estranho eu dar uma Bíblia pro adversário. Mas, depois, eles começaram a entender o projeto de Deus na vida do italiano, na vida dos atletas. Eu fui o primeiro Atleta de Cristo, numa geração inteira, a chegar ao país nesse ano. Jamais houve um atleta que declarasse publicamente, e hoje são mais de 500 atletas, treinadores e preparadores físicos convertidos. Fico feliz com isso.

A relação de Amarildo com o evangelho

Há um versículo na Bíblia que eu gosto muito e que diz assim: ‘Nem por força nem por violência, mas pelo espírito de Deus’. E eu venho de uma família evangélica, porém a família da minha esposa é toda católica. Quando eu olho pro meu sogro e pra minha, eu digo que não existe pessoa mais crente que eles, porque é diferente. O evangelho é um evangelho puro. É o evangelho que você olha e fala assim: não é o catolicismo, não é o protestantismo, não são os dogmas da igreja. Aquilo que Deus quer é diferente.

O que mais temos nesse mundo são pessoas esquisitas. E Deus está procurando pessoas diferentes, pessoas que possam pregar o evangelho. Você não precisa ser um grande homem, um grande pastor, um grande missionário: é você abrir a boca e falar aquilo que Deus quer que você fale. Então, foi isso que aconteceu comigo.

A boa campanha da Lazio na Serie A 2022-23

Eu estou [muito feliz pela campanha da Lazio] por causa do meu amigo Felipe Anderson. Tenho essa amizade com o pessoal da Radio Sei Lazio, que tem um carinho especial por mim. A gente fica feliz de ver a Lazio chegar num patamar assim. Em janeiro [de 2024], irei pra Itália para poder fazer um estágio com o [Maurizio] Sarri. Então, é isso que, pra mim, é importante: ver a Lazio lá em cima, no segundo lugar do campeonato. Eu conversei com eles [Lazio] para poder passar um período em dezembro [de 2023], poder ficar lá pelo menos uma semana fazendo esse estágio. Eles não colocaram nenhuma objeção.

Qual o momento mais importante da carreira de Amarildo?

Os pontos altos [da minha carreira] são realmente as semifinais do Campeonato Brasileiro [de 1987], onde eu fiz o gol da vitória contra o Cruzeiro e levei o Internacional pra final. Isso foi, pra mim, um ponto alto na minha carreira aqui no Brasil. Já o ponto alto na Espanha foi a quebra de invencibilidade do Real Madrid de 36 jogos.

Aquele foi o dia mais especial pra mim, porque eu também estava sendo negociado com a Lazio. E na Lazio foram os 13 gols que eu marquei: oito pelo campeonato e cinco pela Coppa Italia – todos em Roma. Acho que Deus me honrou ao me permitir fazer aqueles gols ali. E depois [tive] experiências importantes no Cesena, no Logroñés, da Espanha, que marcaram a minha vida na Europa.

Atletas cristãos na Serie A e amizades na Itália

Eu tenho amigos italianos que fazem parte [do projeto Atletas de Cristo]. O Felipe Anderson, que joga na Lazio, é um atleta cristão. O próprio centroavante do Milan, o francês [Olivier Giroud], também é cristão. Então, são atletas referências, né? E também meus amigos, que se converteram logo depois que eu fui embora do país.

Eu tenho um lastro de amizade muito grande na Itália. Sou muito grato a Deus pelos amigos que eu consegui dentro e fora da internet. Até mesmo algumas torcidas organizadas de Rimini [comuna localizada na região da Emília-Romanha], que fizeram uma festa pra mim há três anos. Eles têm um carinho muito grande por mim nas redes sociais, e eu sou muito grato a Deus por isso.

A história de Amarildo transformada em livro

Eu escrevi uma uma biografia baseada naquilo que Deus fez na minha vida através do futebol. É uma biografia com histórias muito importantes: histórias de gols, de pessoas sendo curadas, histórias dos 17 clubes que eu passei, os gols importantes pelo Internacional. No Internacional, eu sou o centroavante com maior média de gols por jogo. Eu disputei 80 jogos e fiz 52 gols pelo Internacional. Sou muito privilegiado pelo que Deus fez comigo.

Minha filha está terminando de corrigir [a biografia] e provavelmente vamos lançar no começo do ano que vem. Vamos lançar em três línguas: inglês, italiano e português. Vai ser muito bacana, porque talvez eu seja o único ex-atleta e hoje treinador que teve história em quatro países e um filho em cada país. Vai ser muito difícil encontrar um parecido comigo. Então, a ideia é lançar na Itália também, porque eu tenho esse carinho. O espanhol também tem esse carinho por mim.

Amarildo também passou pelo Cesena, onde foi treinado por Marcello Lippi (Arquivo/AC Cesena)

As raízes de Amarildo com o evangelho

Eu nasci num lar cristão, né? Meu pai era pastor. Sou de uma família de seis irmãos. Eu sempre digo pras pessoas o seguinte: Jesus veio a esse mundo para salvar todo mundo, o pobre, o rico, o magro, o gordo, o preto, o amarelo… Ele veio com essa missão de nos salvar. Jesus não faz acepção de pessoas, mas, para usar, ele escolhe algumas. Tem muitos homens e mulheres que ele usa pro reino, e eu fico feliz de ele ter me escolhido nesse monte de atletas cristãos. Uma maneira de expressar a minha gratidão a Deus era dando Bíblias, era dizendo que Jesus era o centro da minha vida.

Como era a reação das pessoas ao ver um jogador entregando uma Bíblia a outro jogador

A imprensa, no começo, achava estranho, porque eles diziam que Roma era uma cidade cristã, que tinha o Papa João Paulo II, o Vaticano, [mas] aí eu dizia pra eles: “Não, eu não falo de religião, do catolicismo, de protestantismo, de igrejas; eu falo daquilo que Jesus fez”. Então, era uma expressão muito legal. Os jogadores recebiam a Bíblia com muito carinho.

História curiosa envolvendo futebol e fé

Há três anos, eu fui fazer a cidadania da minha esposa. Um jornalista da Radio Sei Lazio me chamou. Eu estava na Itália e ele disse: “Onde você tá?” Eu falei: “eu tô em Forlì [comuna localizada na região Emília-Romanha]”. E ele disse: “Quando você vem pra Roma?”. Eu falei: “Eu vou semana que vem”. Ele disse assim: “Você não imagina há quanto tempo estou te procurando”. Eu fiquei feliz e falei: “Tudo bem, vamos dar uma entrevista pra vocês lá na Radio Sei Lazio”. Ele falou: “Só tem uma coisa que eu vou te pedir, se você puder me arrumar: eu quero uma Bíblia sua”.

Perguntei quantas pessoas trabalhavam na rádio, e ele respondeu quatro. Então, eu levei quatro Bíblias, e ele foi me buscar no hotel. Aí, na narração dele como jornalista na rádio, ele disse o seguinte: “No ano de 1989, o Napoli veio jogar em Roma, com Maradona, Careca e Alemão, e sem perder há 26 jogos. Eu vi você dando uma Bíblia pro Maradona. Eu tinha somente 12 anos de idade. Eu perguntei pro meu pai por que o Amarildo dá Bíblia pro adversário. Meu pai, sabiamente, respondeu: ‘Filho, ele é brasileiro, é uma maneira dele demonstrar sua fé ao Deus que ele serve’. Eu virei pro campo, você fez o segundo gol e [na comemoração] saltou por uma placa e veio na minha direção. Quando você abriu os braços, eu disse pro meu pai: ‘Papai, se o Deus dele existe, um dia eu quero abraçar ele’. E aí, com 33 anos, ele, chorando, me abraçou”.

Não existe uma religião que possa fazer isso. Não existe um padre, um pastor que possa fazer isso. Só Deus quem pode fazer. Então, começo a entender o que eu preciso fazer na Itália. Há muitas pessoas que precisam de Jesus. Há muitas pessoas que precisam ser transformadas.

O melhor momento de Amarildo pela Lazio

O Napoli era um time praticamente imbatível. Inclusive, eles foram campeões. Esse era o último jogo do primeiro turno, eles chegaram com 16 jogos de invencibilidade. O Maradona veio da Argentina, onde se casou com a Claudia [Villafañe]. Eles vieram para jogar no estádio [Flaminio, em Roma] e nós fizemos, talvez, o melhor jogo do Campeonato Italiano. Eu fiz o primeiro gol, o [Gabriele] Pin fez o segundo e eu fiz o terceiro. A gente tinha feito o quarto também, mas o juiz anulou.

Foi uma vitória épica, muito importante pro clube. Como o Maradona era ídolo naquele ano, eu ter feito dois gols ficou muito marcado pra torcida da Lazio. O estádio Flaminio estava lotado. Eu ganhei todo tipo de presente que você imaginar, até canarinho me deram. Lembro até hoje. Então, esse jogo contra o Napoli do Maradona talvez tenha sido meu auge na Lazio.

Quando Amarildo entregou a Bíblia para Maradona

Eu sou muito amigo do Alemão. Ele jogou comigo no Botafogo, depois jogamos no São Paulo, trabalhamos juntos no futebol — ele como treinador, e eu como diretor dele. Então, o Maradona, na época, ficou muito feliz de ter recebido [a Bíblia], o Alemão contou. Era um cara espetacular e foi embora muito cedo desse mundo.

Anedota de Amarildo sobre futebol italiano e fé

No Cesena, nós estávamos no último jogo do Campeonato Italiano contra o Brescia. Eu estava concentrado com um jogador chamado [Franco] Turchetta, que era meu companheiro de ataque – ele jogava pelo lado direito. Nós tínhamos amizade muito estreita, com a família, com os filhos. Nesse dia, eu estava lendo um livro do Paul Yonggi Cho, que era o maior pregador da Coreia do Sul e acabou falecendo há uns dois anos. Ele escreveu um livro chamado A Quarta Dimensão, no qual mostrava a maneira como ele evangelizava os coreanos na época da guerra entre a Coreia do Norte e a Coreia do Sul.

No livro, ele pediu três coisas: uma bicicleta, uma escrivaninha e uma cadeira; mas Deus não deu pra ele. Eu estava lendo o livro antes do jogo, pouco antes de ir para o estádio, dentro do hotel. Aí, ele perguntou para Deus: “Por que o Senhor não me dá isso aqui?” Aí, Deus falou, em uma oração, que ele tinha que especificar a oração. Então, ele especificou a oração, pedindo uma cadeira de madeira, uma bicicleta de marca e uma escrivaninha do jeito que ele queria. Deus deu.

Eu fechei o livro e disse pro Turchetta: “Vamos orar?” Ele concordou e eu comecei a orar: “Senhor, hoje é o último dia do campeonato, e a tua palavra diz que a nossa alegria seja completa. Então, quero terminar pedindo: quero fazer dois gols, um com o pé direito e o outro eu quero de cabeça. Eu quero especificar a oração para o Senhor”. Aí, eu lembro que, quando terminei a oração, o Turchetta estava me olhando estranho pra mim.

Nós fomos para o jogo, eu perdi uns quatro gols, mas fiz o gol de pé direito. No segundo tempo, eu perdi mais uns três gols, mas fiz o terceiro gol, de cabeça. O jogo terminou em 3 a 3. Depois que terminou, eu estava saindo na boca do túnel e esse jogador, Turchetta, veio correndo em minha direção e disse assim: “Você é muito burro, burro, burro”. Eu falei: “Por quê?” Ele respondeu: “Cara, pede cinco [gols], você só pediu dois, você seria o artilheiro do campeonato”. Essa história ficou marcada e eu coloquei no livro.

Além do futebol, Amarildo exerce algum trabalho dentro de igreja?

Eu sou diácono na igreja Bola de Neve há 10 anos. Mas, como estou no futebol, Deus me coloca para trabalhar no meio dos meninos. Tenho a cobertura de toda a liderança da igreja, porém aqui eu trabalho mais evangelizando os meninos.

Amarildo Souza do Amaral
Nascimento: 2 de outubro de 1964, em Curitiba, Paraná
Posição: atacante
Clubes: Toledo (1982-83), Botafogo (1984 e 1985), Operário-MS (1984), Inter de Limeira (1985), XV de Piracicaba (1986), Internacional (1986-88), Celta de Vigo (1988-89), Lazio (1989-90), Cesena (1990-91 e 1991-92), Torino (1991), Famalicão (1992 e 1993-98), Logroñés (1992-93), União São João (1995), São Paulo (1995), Bahia (1996) e Ribeirão (1998-99)
Títulos: Copa Mitropa (1991)

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