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Roberto Rambaudi encantou na Zemanlândia do Foggia

Aniversariante deste dia 12 de janeiro, o meia-atacante Roberto Rambaudi foi um daqueles jogadores pouco badalados, mas que escreveram bela história na província e acabaram por se tornar úteis em um time maior, da metrópole. Um dos mais célebres representantes desta classe de atletas, Rambaudi fez sucesso no milagroso Foggia do início dos anos 1990 e teve bons momentos pelo Lazio, temporadas depois.

Natural de Moncalieri, cidade da região metropolitana de Turim, Rambaudi começou no futebol como jogador das categorias de base do Torino. Aos 18 anos, Roberto foi integrado ao plantel principal pelo técnico Luigi Radice, mas não entrou em campo em nenhuma partida do vice-campeonato grená, em 1984-85. O meia-atacante destro acabou deixando o Toro na temporada seguinte e disputou a Serie C2 pelo Omegna, pequeníssimo clube piemontês que acabou rebaixado para o Interregionale. Ainda assim, Rambaudi mostrou bom futebol e acertou com o Pavia: ele marcou 18 gols em duas temporadas pelos lombardos, nas séries C2 e C1, e acabou interessando ao Perugia.

Os peruginos haviam sido vice-campeões italianos uma década antes, mas o envolvimento de jogadores nos escândalos Totonero e Totonero-bis fizeram o time despencar para a Serie C2, cujo título foi conquistado enquanto Rambaudi estava nos azzurri da Lombardia. O meia foi um dos reforços dos biancorossi para a disputa da terceira divisão, em 1988-89, e fez um bom campeonato: marcou oito gols em 28 partidas e foi contratado pelo Foggia, que havia garantido o acesso à Serie B com o vice-campeonato da terceirona. A partir de então, sob o comando de Zdenek Zeman, a trajetória futebolística do meia-atacante entrou em uma crescente mais impactante.

Baiano, Signori e Rambaudi: o trio que encantou Foggia em tempos de Zemanlandia (Wikipedia)

Rambaudi chegou à corte de Zeman juntamente a Giuseppe Signori, que também havia atuado na Serie C1, pelo Piacenza. Os dois jovens, praticamente desconhecidos, passaram por um trabalho de amadurecimento feito pelo treinador – que costuma dar chances a novos talentos e revelou dezenas de craques ao longo de sua carreira –, mas não conseguiram levar os satanelli à elite. Em 1990-91, o time da Apúlia ganhou o reforço de Francesco Baiano, que se entrosou com Rambaudi e Signori e formou um trio de ataque imparável.

Na campanha que terminou com o título do Foggia na segundona, o tridente fez 48 gols: 22 de Baiano, 15 de Rambaudi e 11 de Signori. O número foi superior ao de 16 times do torneio e os rossoneri, claro, tiveram o melhor ataque da Serie B, com 67 tentos. Foi o prelúdio da ascensão do Foggia, que iria dar espetáculo na badalada liga italiana e com Rambaudi como protagonista, atuando sempre com velocidade e destreza pela ponta direita da ofensiva equipe de Zeman. Àquele tempo, a torcida já o chamava carinhosamente de Rambo.

Na Serie A, o estilo ultraofensivo do Foggia deixou o mundo boquiaberto e ganhou o apelido de Zemanlândia, pois era um divertimento para os olhos. Rambaudi descreveu bem o estilo da equipe em uma entrevista ao Corriere del Mezzogiorno, em 2010: “A proposta de Zeman estava dez anos à frente do seu tempo. Um time pequeno desafiar um grande, atacando-o como se estivesse jogando de igual para igual era algo que nunca tinha sido visto. Era um futebol diferente, total, nada calculista, em que se buscava a vitória de verdade – e não apenas na conversa. Claro, podia acontecer de perdermos, mas tínhamos a certeza de que dávamos tudo para vencer e a torcida compreendia isso”.

Depois de impressionar no Foggia, Rambaudi subiu de patamar e acertou com a Atalanta (imago)

O futebol corajoso daquele Foggia não era apenas utopia; dava resultados. Entre goleadas contra e a favor, a equipe rossonera teve a segunda pior defesa e o segundo melhor ataque da Serie A 1991-92, com 58 gols sofridos e marcados, e ficou com a 9ª posição – por cinco pontos não se classificou para a Copa Uefa. O tridente ofensivo brilhou de novo e Rambo, o menos matador dos três, entrou em campo em 33 das 34 partidas do campeonato e fez nove gols. As grandes atuações fizeram com que Rambaudi deixasse o pequeno clube do calcanhar da Bota e rumasse a Bérgamo para acertar sua ida para a Atalanta.

Rambo vestiu a camisa nerazzurra por duas temporadas, período em que foi treinado por Marcello Lippi, Francesco Guidolin e Cesare Prandelli – todos em início de carreira. Seu melhor momento pelos orobici foi na primeira temporada, período em que foi uma peça importante do 4-4-2 lippiano e se tornou vice-artilheiro da equipe, com seis gols. Depois do oitavo lugar na Serie A, a Atalanta viu suas principais peças caírem de rendimento e foi rebaixada, em 1994, mas Rambaudi não ficou para a disputa da segundona. Zeman havia sido contratado pela Lazio e pediu a contratação de seu pupilo, que voltaria a fazer dupla com Signori.

O treinador checo continuou aplicando sua filosofia ofensiva em Roma e deu a Rambaudi um lugar de destaque em sua Lazio. O meia-atacante piemontês atuou em 32 das 34 partidas do Campeonato Italiano (31 como titular), marcou quatro gols e foi um dos destaques da campanha do vice-campeonato da Lazio, ao lado de Alen Boksic, Pierluigi Casiraghi e de seu amigo Signori. Na maturidade da carreira, aos 28 anos, Rambo foi convocado por Arrigo Sacchi para duas partidas das Eliminatórias para a Euro 1996, defendendo a Itália diante de Estônia e Croácia.

Com o sucesso na Lazio, Rambaudi chegou à seleção (Guerin Sportivo)

O meia-atacante continuou exercendo papel importante na Lazio durante mais um ano e meio, período em que Zeman ficou no cargo – foi demitido em janeiro de 1997. Rambaudi ajudou os biancocelesti a ficarem com a terceira e a quarta posições na Serie A mas só conquistou títulos mesmo sob as ordens de Sven-Göran Eriksson, que pouco o utilizou. Após 109 jogos, 13 gols e três títulos na Cidade Eterna (Coppa Italia, Supercopa Italiana e Recopa Uefa), Rambo entrou na fase final da carreira: defendeu Genoa e Treviso, na Serie B, e se aposentou em 2000, aos 34 anos.

Nos anos seguintes à aposentadoria, Roberto Rambaudi se dividiu entre as funções de treinador e comentarista, como tantos outros ex-atletas. Na mídia, trabalhou nos canais Dahlia TV, Mediaset Premium e Rai – neste último, foi um dos titulares do prestigioso Giostra del Gol –, e teve poucos trabalhos como técnico. Rambo fixou domicílio em Roma e só comandou pequenas equipes da região do Lácio, incluindo a Astrea, formada por agentes penitenciários e participante da sexta divisão italiana. Nada mais adequado para quem recebeu um apelido em referência a um dos soldados mais casca-grossas do cinema.

Roberto Rambaudi
Nascimento: 12 de janeiro de 1966, em Moncalieri, Itália
Posição: meia-atacante
Clubes em que atuou: Torino (1984-85), Omegna (1985-86), Pavia (1986-88), Perugia (1988-89), Foggia (1989-92), Atalanta (1992-94), Lazio (1994-98), Genoa (1998-99) e Treviso (1999-2000)
Títulos: Coppa Italia (1998), Supercopa Italiana (1998), Recopa Uefa (1999) e Serie B (1991)
Carreira como técnico: Latina (2004), Viterbese (2007-08), Astrea (2013-15) e ASD Luiss (2016)
Seleção italiana: 2 jogos e nenhum gol

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