Diria bem José Simão: “buemba, buemba! Milan em crise!” Porque uma goleada surpreendente não traz de volta a chance de um bom planejamento. Mesmo que seja sobre a Sampdoria, mesmo que seja no Marassi.
No fim de agosto, este que vos escreve apostou numa fase de transição para o Milan, mesmo com dezenas de especialistas apontando o contrário. Mas, queira ou não, os maus resultados deste início da temporada tiveram a honra de inaugurar o prólogo desta fase. Não vencer nenhuma das cinco primeiras partidas do campeonato jogadas no San Siro é feito digno de nota. A última vez em que isso ocorreu foi na temporada 1981-82 (empates com Fiorentina, Como e Genoa; derrotas para Juventus e Inter). E, naquele ano, o Milan terminou a Serie A rebaixado.
Um mau auguro? Claro que não. As coincidências só chegam até o fato de o Milan contar com nomes do nível de Tassotti, Collovatti, Baresi, Maldera e Evani em seu elenco, todos campeões indiscutíveis, assim como os titulares de hoje. A partir daí vale lembrar que o prazo de reação do Milan foi bastante menor. Naquela época, apenas dezesseis equipes disputavam a série máxima. Ou seja, o Milan deste ano tem oito jogos a mais para se recuperar, além de mais equipes de menor nível para vencer. Se o que não falta hoje são campeões, sobra experiência. Por mais que esta seja sempre bem-quista, há sempre um equilíbrio a ser buscado. Ter dezesseis jogadores acima dos 30 anos num elenco com 26 atletas definitivamente não é o caminho.
Desastre anunciado? Longe disso. Até porque, mesmo com todas as declarações apontando para o outro lado, a meta do Milan para esta temporada jamais foi o scudetto, mas sim repetir a façanha na Liga dos Campeões e garantir vaga na próxima edição do torneio. Elenco pra isso, inexiste. Há, somente, um time – com pouquíssimas opções efetivas, cada vez mais reduzidas por questões médicas.
O ponto principal, hoje, é a Serie A. Inter e Roma estão bastante à frente do Milan, tanto na questão de plantel quanto na de efetividade do plano de jogo. Juventus, Fiorentina e até mesmo Udinese têm se apresentado bem mais confiáveis do que o elenco comandado (talvez em sua última temporada) por Ancelotti. O título, passadas apenas dez rodadas, já é trabalho hercúleo. E o sprint terá de ser fantástico para que o Milan recupere-se ao ponto de chegar à Liga da próxima temporada. Qualificação para a Copa da Uefa, considerando um grupo que custa cerca de €120 milhões apenas com salário dos jogadores profissionais, é um prejuízo incalculável nos níveis técnico e financeiro. E apostar todas as fichas em Pato e Ronaldo para o returno é, no mínimo, masoquismo.
Confira um breve resumo das quatro últimas partidas do Milan:
Milan 0-1 Empoli (21 de outubro)
Ponto de partida da crise milanista. Ser vaiado pela própria torcida no San Siro era algo que o eterno capitão Maldini não via desde a década de 90. Sem Kaká, Ancelotti cedeu às críticas e optou por dois atacantes em campo, Inzaghi e Gilardino. Sem consistência no meio de campo, o Milan tornou-se presa fácil para um Empoli bem armado e jogando em fuga à serie cadetta. Maldini, que não jogava desde a final em Atenas, recuperou a titularidade ao lado de Nesta. Destaque para Buscé, que com muita correria não deixou o Empoli sentir falta do capitão Vannucchi, lesionado. E também para o interminável portiere Balli, que, em ótimo dia, não permitiu nenhum gol dos rossoneri. O gol saiu no segundo tempo, com Saudati cabeceando cruzamento de Marianini pela direita após falha de Maldini no corte.
Milan 4-1 Shakhtar Donetsk (24 de outubro)
Kaká de volta, grande jogo do brasileiro, dobradinha Gilardino-Seedorf, com dois gols para cada. O encontro milanista com o Shakhtar serviu para mostrar como não é difícil a equação do time. Num bom dia de Kaká, Pirlo e Nesta, o trio transforma a água de Milão em vinho das melhores távolas. A facilidade encontrada pelo Milan a chegar ao gol de Pyatov foi incrível, não deixando espaço para o bom time do Shakhtar causar maiores problemas. Lucarelli reencontrou a torcida do Livorno no San Siro – não foram poucos os “infiltrados” com a camisa amaranta entre a torcida do Shakhtar. Esse é o verdadeiro Milan, certo?
Milan 0-1 Roma (28 de outubro)
Errado. Porque não há um Milan verdadeiro nesta temporada. A Roma, mesmo sem Totti, passou pelos rossoneri no San Siro sem tomar conhecimento. A dupla Juan-De Rossi não permitiu que Kaká vencesse sequer uma jogada e o Milan, outra vez, passou incólume em casa. A Roma pressionou o Milan durante todo o primeiro tempo, em especial com um lado direito bastante consistente formado por Cicinho e Mancini. Brighi desarmou Pirlo no meio de campo e abriu para o ex-lateral do Real Madrid tabelar com Mancini e cruzar na medida para um cabeceio indefensável de Vucinic. Palmas para os brasileiros da Roma, todos muito bem na partida. Ao contrário dos do Milan, onde apenas Dida se destacou: sem ele, havia espaço para goleada giallorossa.
Sampdoria 0-5 Milan (31 de outubro)
Jogo de dois extremos, com a Samp dominando todo o primeiro tempo e o Milan envolvendo os blucerchiati no segundo. Sem Cassano, polemicamente lesionado na última rodada, e Campagnaro suspenso, Mazzarri contou com um problema de última hora: Mirante teve de ser poupado, a favor de Castelazzi. Na frente, Sammarco e Bellucci dando apoio a Montella. No Milan, Ancelotti optou por Bonera e Serginho de terzini, enquanto Brocchi venceu a disputa com Emerson pelo lugar do suspenso Ambrosini. Na frente, Gilardino com Kaká e Seedorf logo atrás. Todos os gols saíram no segundo tempo, quando o Milan, finalmente, convenceu. Kaká recebeu de Gilardino logo no primeiro minuto para abrir o placar, e pouco depois o atacante recebeu cruzamento de Serginho para ampliar. Gilardino conseguiu a doppietta aproveitando-se de trapalhadas da defesa da Samp, e Seedorf fechou o placar com um gol e um passe para Gourcuff.
Para o Milan, um pouco de oxigênio. O time reencontra o Torino, no sábado, em casa. No último encontro entre os dois, Gilardino chegou a mandar pra fora um pênalti, com a partida terminando em 0-0. Da última vez que o Milan venceu o Toro, porém, Inzaghi foi às redes três vezes num 6-0 fulminante. Naquela oportunidade, no longínquo outubro de 2002, a linha defensiva era composta por Dida, Simic, Nesta, Maldini e Kaladze. E cinco anos depois…
Braitner,
Muito bom a análise do Milan. Como você, acredito que alguns reforços são indispensáveis para o time voltar a ser plenamente competitivo, principalmente na defesa e no meio.
Abraços,
Assaz boa a análise[/braitner]
O mau momento teve mais um capítulo hoje