Romário de Souza Faria nasceu em janeiro de 1966, na comunidade do Jacarezinho, no Rio de Janeiro. O menino cresceu com o sonho de se tornar jogador de futebol e não demorou muito para chamar atenção com as cores do Olaria, seu primeiro clube. De lá saltou para o Vasco da Gama e o resto é história: acumulou 1117 jogos, 1002 gols marcados, 22 títulos, um prêmio de Melhor do Mundo e uma Bola de Ouro da Copa de 1994, na qual foi campeão ao superar a Itália.
A decisão daquele Mundial, que culminou no tetracampeonato ao Brasil, é o capítulo mais famoso da trajetória de Romário contra adversários provenientes da Itália. No total, o Baixinho enfrentou a Squadra Azzurra em duas ocasiões e fez mais três jogos oficiais contra times italianos, mas nunca saiu vitorioso durante os 90 minutos.
O primeiro embate, pelo PSV Eindhoven
Quando encarou um italiano pela primeira vez na carreira, Romário ainda estava construindo o caminho que lhe fez ser amplamente considerado como um dos melhores atacantes da história do futebol. Em 1992-93, o carioca tinha 26 anos, já estava consolidado na Seleção e, bem ambientado na Europa, vivia a sua quinta temporada no PSV Eindhoven.
O primeiro confronto do baixinho contra equipes italianas aconteceu na primeira edição da Uefa Champions League, cujo formato renovado substituía a antiga Copa dos Campeões. Na época, a fase de grupos acontecia após duas etapas de mata-mata e tinha apenas oito participantes. Na chave B, o PSV encarava Milan, Porto e IFK Gotemburgo.
Em dezembro de 1992, o PSV recebeu, em Eindhoven, o Milan de Fabio Capello, campeão italiano de maneira invicta na temporada anterior – na qual Marco van Basten jogou em altíssimo nível. Depois de empatar com o Porto na estreia, num 2 a 2 com doppietta de Romário, o time holandês sabia que precisaria pontuar diante do Diavolo em casa, ainda que a missão fosse bastante complicada.
O jogo começou muito quente na Holanda, com Romário recebendo um cartão amarelo logo nos primeiros minutos. O jogo era todo do Milan, que controlava as ações através de Frank Rijkaard e Ruud Gullit, e também buscava trabalhar as jogadas de maneira cuidadosa. O PSV marcava no 4-4-2, tentava recuperar a bola e tinha em Romário a sua única certeza em campo. Aos 19 minutos, Demetrio Albertini lançou Van Basten pela esquerda, o atacante do Milan cruzou e Rijkaard testou para o fundo da rede. Poucos minutos depois, Romário recebeu uma bola pela esquerda, deixou Mauro Tassotti sentado no chão e quase empatou.
O jogo continuou apresentando o mesmo cenário no restante do primeiro tempo e, logo na volta para a segunda etapa, Marco Simone aumentou a vantagem do Milan. Sem meios coletivos para reagir, o PSV se agarrava em Romário. Apenas três minutos após sofrerem o segundo gol, os Boeren conseguiram acionar Gerald Vanenburg em profundidade; o ponta foi até a linha de fundo e encontrou o Baixinho no comando do ataque. Romário recebeu, arrumou com embaixadinhas na frente de Paolo Maldini e girou, batendo sem chances para Sebastiano Rossi, marcando um golaço. O PSV até tentou pressionar nos minutos restantes, mas foi o Milan que assustou mais – chegou a acertar a trave, com Simone.
O time de Eindhoven perdeu as três partidas seguintes na competição. Dessa maneira, quando viajou até a Itália para enfrentar o Milan, na partida que encerrava a fase de grupos para as duas equipes, Romário e seus companheiros já estavam eliminados. Ainda assim, ter uma boa atuação contra um Milan tão forte, jogando em San Siro, poderia ser uma injeção de ânimo para os holandeses para o restante da temporada no âmbito local.
Os visitantes começaram o jogo marcando forte e explorando os contra-ataques. Só que, logo aos 5 minutos, Enzo Gambaro disparou pela esquerda e cruzou na medida para Simone, que testou para o fundo da rede. Aos 18, Zvonimir Boban encontrou um passe magistral para o mesmo Simone, que se infiltrou em meio à defesa do PSV e anotou a sua doppietta. O restante da partida foi de poucas emoções e Romário teve apenas uma boa chance de marcar, após receber um cruzamento e cabecear a bola rente ao travessão. A derrota por 2 a 0 acabou marcando a última partida de Romário em competições europeias com a camisa dos time holandês.
Romário e Milan frente a frente na final da Liga dos Campeões
Depois de encantar pelo PSV, conquistar três vezes a Eredivisie e ser artilheiro da Champion League 1992-93, com sete gols, o craque brasileiro partiu para o Barcelona na temporada 1993-94. Contratado para ser a grande estrela da equipe, o Rei da Grande Área recebeu a camisa 10 e fez uma primeira campanha fantástica, com 30 gols marcados em 33 partidas de La Liga – competição vencida pelo Barça.
O time da Catalunha também obteve grande sucesso em solo europeu, uma vez que se classificou para a grande decisão da Liga dos Campeões. Romário por sua vez, foi mais discreto em âmbito continental: marcou apenas dois gols em toda a campanha, sendo ambos contra o Spartak Moscou, na fase de grupos. Mesmo assim, o brasileiro tinha sido eleito como o segundo melhor jogador do mundo pela Fifa, em 1993.
O Baixinho era o principal craque do Barcelona e a maior esperança do técnico Johan Cruyff para fazer frente ao poderoso Milan de Capello – vice-campeão europeu da temporada anterior graças à derrota para o Marseille. Dentro de campo, entretanto, a esperança blaugrana durou muito pouco tempo. Diante de uma brilhante atuação coletiva do Milan, o Barcelona jamais se encontrou e acabou sendo goleado.
Daniele Massaro (duas vezes), Dejan Savicevic e Marcel Desailly foram os autores dos gols no triunfo dos rossoneri 4 a 0, que deu ao Milan o seu pentacampeonato europeu. Contra um desempenho coletivo tão superior, Romário pouco pode fazer: o meio-campo milanista dominou o jogo e, além disso, Filippo Galli efetuou uma ótima marcação sobre o brasileiro, que perdeu a sua única chance de levantar a orelhuda.
Dois meses depois, Romário teve a sua revanche
Se não conquistou a Liga dos Campeões naquela noite em Atenas, Romário tinha pouco tempo para digerir a derrota. Menos de duas semanas depois, o Brasil embarcou rumo aos Estados Unidos, para disputar a Copa do Mundo de 1994. O craque do Barcelona realizou uma competição fantástica: marcou contra Rússia, Camarões e Suécia na primeira fase; deu a assistência para Bebeto eliminar os donos da casa nas oitavas de final; e fez gols decisivos contra Holanda e Suécia na sequência. Sem dúvidas, o Baixinho foi a principal figura do elenco que levou a Seleção de volta a uma decisão mundial depois de uma ausência de 24 anos.
Na grande final, Romário teria um reencontro com os italianos. O craque nunca tinha enfrentado a Squadra Azzurra, mas ainda sentia o gosto amargo da goleada sofrida ante o Milan, menos de dois meses antes. E a seleção italiana até poderia vestir azul, mas tinha o rubro-negro correndo no sangue de vários de seus integrantes – Maldini, Albertini, Massaro e Roberto Donadoni, além de Franco Baresi, que não entrara em campo na Grécia, mas que o camisa 11 enfrentara nos tempos de PSV.
Apesar de cercada de muita expectativa pela reunião de grandes jogadores voltados à produção ofensiva – como Mazinho, Romário, Bebeto, Donadoni, Massaro e Roberto Baggio – a final da Copa de 94 acabou sendo uma partida dominada pelas defesas. Debaixo de um calor escaldante em Pasadena, o jogo foi muito intenso e disputado em cada centímetro do campo, recheado de tensão ao longo de seus 120 minutos.
Se havia realizado uma campanha fantástica em todo o Mundial, Romário teve uma final bastante apagada, na qual perdeu a maioria dos duelos contra um Baresi em estado de graça – e, de longe, o melhor em campo na decisão. Contudo, as coisas mudam muito rapidamente no futebol e, poucos minutos depois, na decisão por pênaltis, a situação se inverteu. Baresi foi o primeiro a cobrar e jogou para fora. Márcio Santos veio na sequência e poderia ter colocado o Brasil em vantagem, mas Gianluca Pagliuca defendeu. Albertini, Romário, Alberico Evani e Branco converteram as suas cobranças, de modo que a disputa continuou empatada até que Massaro bateu e Taffarel defendeu.
Dunga teve a chance de colocar o Brasil na frente do placar e não desperdiçou. Baggio, o grande craque italiano, melhor do mundo à época e principal responsável pela ida de sua seleção à grande final veio na sequência – e todos sabemos como essa história terminou. Ainda que em partida discreta, Romário converteu seu pênalti quando foi preciso e se tornou para sempre uma lenda do futebol mundial. O Baixinho foi escolhido pela Fifa como o melhor jogador da Copa do Mundo e, em 1994, também ganhou o prêmio de melhor do planeta.
O histórico do Rei do Rio contra os italianos teve o seu capítulo final em 1997, no Torneio da França, uma competição realizada entre Brasil, Itália, Inglaterra e França, que serviu como preparação para a Copa do Mundo do ano seguinte. No Estádio Gerland, em Lyon, brasileiros e italianos se reencontraram com muitas novidades em relação aos elencos de 1994 e terminaram fazendo um jogo muito aberto.
O primeiro tempo foi todo da Itália, que abriu o placar com Alessandro Del Piero, após grande cruzamento de Christian Vieri. Depois, foi a vez de Albertini marcar em cobrança de falta. O Brasil descontou com um gol contra de Attilio Lombardo, após chute forte de Roberto Carlos.
No segundo tempo, o panorama foi outro: Romário e Ronaldo levaram perigo constante à defesa italiana, mas quando o Brasil parecia pronto para marcar o gol de empate, Aldair derrubou Filippo Inzaghi na grande área. Del Piero cobrou com categoria, marcando sua doppietta. Sem muito a perder, o Brasil se lançou de vez ao ataque e Roberto Carlos carimbou o travessão defendido por Pagliuca, após bom passe de Romário. Pouco depois, o lateral encontrou Ronaldo livre na área e o Fenômeno não perdoou. Já aos 85 minutos, a dupla Ro-Ro tabelou próximo à entrada da área italiana e o lance terminou com Romário driblando o goleiro italiano antes de decretar o empate.
Romário jogou frequentemente pela Seleção até 2001, deixou a amarelinha em 2005 e se aposentou apenas em 2009, com 43 anos. Contudo, nunca mais encarou adversários italianos. Em sua trajetória contra equipes daquele país, fez apenas dois gols, além de somar três derrotas (todas por clubes) e dois empates – ambos pelo Brasil. Este retrospecto certamente não condiz com a qualidade do craque, mas a história marcada por bons duelos e ótimo futebol teve o ápice com um momento mágico para o Baixinho. O suficiente para que as suas recordações da Itália sejam as melhores possíveis.