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As várias facetas de Stefano Mauri: capitão da Lazio e pivô de esquema de apostas ilícitas

Ex-capitão da Lazio e um dos jogadores que mais vestiram a camisa azul celeste na Serie A, Stefano Mauri é, sem dúvida, um dos ícones da história do clube no século XXI. O meia que veio do Brescia despontou sob o comando de Delio Rossi, chegou à seleção italiana, mas não largou a equipe nem mesmo nos piores momentos. Pelo contrário, foi uma das referências técnicas da briga contra o rebaixamento à classificação para a Liga dos Campeões.

Mauri começou nas categorias de base do Monza, de sua cidade natal, e com apenas 16 anos passou ao Brugherio, modesto time das imediações. Rapidamente o talentoso meio-campista mostrou potencial nas divisões amadoras da Itália, com gols e boas apresentações. Assim, chamou a atenção do Meda, clube que ajudou a conquistar o acesso à Serie C2.

O meia ficou por três temporadas no time bianconero até conseguir sua primeira oportunidade num clube de relevância. Em 2001, o Modena, então recém-promovido à segunda divisão, apostou em Mauri para dar qualidade técnica ao meio-campo. Embora Stefano tenha sido titular nas primeiras apresentações do time na Coppa Italia e na Serie B, teve dificuldades em encontrar espaço no elenco comandado por Gianni De Biasi, que obteve a surpreendente promoção à elite.

A estreia na primeira divisão italiana ocorreu em setembro de 2002, numa derrota contra o Milan, em San Siro. Diferentemente da temporada anterior, Mauri foi titular dos canarini na maior parte da temporada, com 26 jogos e um gol marcado, que ajudaram na permanência na Serie A.

Mauri abraça Robi Baggio na despedida do craque (Brescia Oggi)

Mauri agradou e subiu um degrau: em julho de 2003 foi emprestado ao Brescia, onde atuaria ao lado de Roberto Baggio, que fazia sua última temporada como jogador. E a experiência ao lado do refinado atacante se traduziu em maturidade para o lombardo, que se firmou como titular na elite italiana, jogando como um segundo atacante, atrás do ex-camisa 10 da Squadra Azzurra. Foram 30 jogos e 7 gols anotados pelas andorinhas.

A qualidade com a bola nos pés, a facilidade para realizar diversas funções no meio-campo e a visão de jogo chamaram a atenção da Udinese, que aproveitou-se do rebaixamento do Modena para firmar um contrato em co-propriedade e levar o meia ao Friuli. Os bianconeri, treinados por Luciano Spalletti, tinham um forte elenco, com Marek Jankulovski, Roberto Sensini, David Pizarro, Sulley Muntari, Antonio Di Natale, David Di Michele e Vincenzo Iaquinta.

Mauri, espécie de 12º jogador do elenco, ajudou o time a ser semifinalista da Coppa Italia e, mais importante, a conseguir uma histórica classificação à Liga dos Campeões da Europa – foram 40 jogos e sete gols para o meio-campista naquela temporada. Em 2005-06, com Serse Cosmi, o lombardo conseguiu uma vaga como titular e fez um bom início de campanha, com 25 partidas e um gol. Em janeiro, assinou por empréstimo com a Lazio, equipe pela qual jogaria nos próximos dez anos.

Na Cidade Eterna, sob o comando de Delio Rossi, Stefano Mauri jogou bem nos cinco primeiros meses e foi contratado em definitivo pelos laziali. Depois, viveu um ano de sonho: transformado em trequartista, ajudou o clube romano a faturar a terceira colocação da Serie A e a classificação para a principal competição europeia, e do ponto de vista individual, fez sua estreia pela seleção italiana. Com a camisa da Squadra Azzurra, porém, Mauri nunca conseguiu se firmar: teve apenas 11 oportunidades, distribuídas em amistosos e jogos das Eliminatórias para a Eurocopa.

Antes de brilhar pela Lazio, Mauri vestiu a camisa da Udinese (Getty)

Se com a Nazionale não foi possível decolar, ao menos Mauri fez da Lazio a sua seleção. O meia se tornou um dos pilares da equipe, ao lado de Cristian Ledesma e Valon Behrami, jogando ora mais avançado, ora mais recuado. Mauri faturou seu primeiro grande título com a conquista da Coppa Italia na temporada 2008-09 e, na sequência, venceu também a Supercopa. Nesta ocasião, foi responsável por uma assistência na vitória por 2 a 1 sobre a Inter.

O meio-campista se consolidou nos anos seguintes como um dos principais jogadores do elenco, sem ter a sua titularidade questionada. Mauri foi absoluto na Lazio com Delio Rossi, Edy Reja, Vladimir Petkovic e Stefano Pioli, ficando de fora apenas por problemas físicos e suspensões. Com tal importância, o camisa 6 celeste assumiu a braçadeira de capitão em algumas oportunidades. A partir de 2013, isso veio a acontecer de forma definitiva, com a saída de Tommaso Rocchi.

Pouco antes de virar capitão de vez, Mauri foi um dos protagonistas de uma das maiores glórias da história da Lazio. A Coppa Italia da temporada 2012-13 foi a primeira que teve um dérbi romano na final e o meia estava lá para participar deste momento memorável. O lombardo saiu do banco no segundo tempo, pegou a braçadeira de Ledesma e participou da jogada do gol decisivo, marcado por Senad Lulic. Foi Mauri que teve a honra de levantar a taça conquistada sobre a arquirrival.

Meses depois, Mauri e uma série de jogadores foram alvo de um processo judicial que abalou o futebol italiano. Todos eles foram processados por envolvimento no escândalo de manipulação de resultados e fraude através de apostas esportivas, ocorridas em 2011. O capitão da Lazio foi suspenso inicialmente por quatro anos e meio, mas teve sua pena reduzida para seis meses, após recurso. Com isso, perdeu a primeira parte da temporada 2013-14.

Na fase final da carreira, Mauri foi suspenso por ilícito esportivo (AP)

Depois de cumprir sua sentença, Stefano Mauri retornou ao time da Lazio e, em 2014-15, sob as ordens de Pioli, teve uma das temporadas mais importantes de sua carreira. O jogador encontrou uma espécie de segunda juventude, do alto de seus 35 anos e foi vital para a campanha do surpreendente terceiro lugar celeste. O time extremamente ofensivo montado pelo técnico emiliano anotou 71 gols naquela campanha (teve o segundo ataque mais positivo) e Mauri deixou nove bolas nas redes. Só Miroslav Klose (13), Felipe Anderson, Antonio Candreva e Marco Parolo (os três com 10) marcaram mais do que o lombardo.

Mauri continuou sua carreira até julho de 2015, quando seu contrato com os laziale chegou ao fim. Com o destino indefinido, ficou sem clube até que a Procuradoria de Cremona retirasse a acusação, em meados de agosto. Assim, o meia fez um novo contrato de uma temporada com o clube romano, mas já não seria mais o capitão – a braçadeira ficou com Lucas Biglia. Dessa vez, Stefano foi pouco utilizado, mas alcançou uma marca histórica: se tornou o nono jogador que mais vestiu a camisa biancoceleste.

Ao deixar a Lazio, Mauri passou alguns meses inativo, mas em janeiro de 2017 acabou por assinar com o Brescia, então comandado por Cristian Brocchi, seu ex-companheiro na Lazio. No clube que defendeu no início da carreira, o lombardo fez também sua despedida, atuando pela Serie B italiana.

Depois de pendurar as chuteiras, Stefano Mauri se dedicou a cursos profissionalizantes. Primeiro, tirou a licança B da Uefa, conquistando o direito para treinar equipes de base e amadoras. Em seguida, obteve também a certidão para trabalhar como diretor esportivo. Mauri ainda sonha em retornar à Lazio para trabalhar nos bastidores e disse já ter conversado sobre o assunto com o presidente Claudio Lotito.

Stefano Mauri
Nascimento: 8 de janeiro de 1980, em Monza, Itália
Posição: meio-campista
Clubes como jogador: Brugherio (1997-98), Meda (1998-2001), Modena (2001-2003 e 2004), Brescia (2003-04 e 2017), Udinese (2004-06) e Lazio (2006-16)
Títulos conquistados: Coppa Italia (2009 e 2013), Supercopa Italiana (2009)
Seleção italiana: 11 jogos

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