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Perugia, milagroso ou profano?

No último domingo a, hoje centenária, Internazionale perdeu a sua invencibilidade no campeonato da Serie A para o Napoli, após várias rodadas. Na temporada passada, tudo caminhava para um título invicto da mesma Inter, quando foi batida pela Roma em Milão após mais de 30 rodadas sem derrota. E você, sabe qual foi a primeira equipe a terminar uma Serie A invicta? Milan, Juve, Roma, Inter? Nada. Foi o Perugia – óbvio, essa é uma coluna sobre o Perugia- em 78/79. O “Perugia do Milagre”, como ficou conhecido, foi vice-campeão naquela temporada, com 19 empates em 30 jogos, perdendo o título para o Milan.

Fundado em 1905, os biancorossi tinham como maiores feitos, até então, três títulos da Serie C (1933/34, 1945/46, 1966/67), um da Serie B (1974/75), um da Copa Rappan, obscuro torneio europeu esquecido até pela Uefa, um ano antes do miracolo, e a vitória sobre a Juventus na última rodada, dando ao Torino o título de 1975/76, último dos granata. Após tal feito, porém, só desgraças se abateram sobre o clube.

Com o eterno carrasco brasileiro Paolo Rossi em sua rosa na temporada posterior, a invencibilidade caiu contra o mesmo Torino, pelo jeito não muito grato, com uma derrota em casa por 2×0. Terminariam o campeonato de 1979/80 na 10ª colocação e eliminados na segunda fase da Copa da Uefa, e sem Rossi, suspenso por envolvimento com a máfia da loteria esportiva italiana. Em 1980/81, o desastre: 15ª colocação na Serie A e o rebaixamento para a Serie B, apenas dois anos após assolar a Itália com o seu milagre.

Como desgraça pouca é bobagem, após 6 anos lutando pelo acesso, sem êxito, foi rebaixada para a Serie C2 – equivalente à 4ª divisão – pela justiça, por problemas fiscais. Depois de dois anos, então, conseguiu subir para a 3ª divisão, vencendo um dos grupos da C2. Na C1, mais quatro anos no purgatório, sem conseguir a vaga para a Serie B. Nesse momento, em 1991, Luciano Gaucci compra o clube, mas falaremos dele mais pra frente.

Em 1993, o que já dava ares de “novo milagre” finalmente aconteceu. Com o 2º lugar no seu grupo na C1, o Perugia teve de disputar o spareggio contra o Acireale, vencendo os sicilianos e garantindo o acesso à Serie B. Venceu, mas não levou. Pra variar um pouco, mais um infortúnio na vida biancorossa: de novo com problemas fiscais, a justiça determina que o clube continue na Serie C1. Mas, um ano depois, o Perugia fica em primeiro no campeonato e, enfim, retorna à Serie B.

Gaucci entre Liverani e Materazzi, dois jogadores que chegaram à seleção italiana após brilharem no Perugia (imago/Buzzi)

No segundo ano na B, após um ano de reestréia razoável, o 3º lugar em 1995/96 e a tão sonhada volta à Serie A, mais de 15 anos depois da temporada invicta, que já nem era mais exclusiva do Perugia – o Milan repetiu o feito em 91/92. Porém, novamente, tudo deu errado e os biancorossi voltaram à segunda divisão, após um decepcionante 16º lugar na Serie A de 1996/97. No melhor estilo ioiô, então, conseguiram o 4º lugar na Serie B em 1997/98 e garantiram o acesso no spareggio, dessa vez sem problemas com a justiça e, de quebra, se “vingando” do Torino, seu adversário na disputa.

Consolidado na Serie A, surge de vez a figura de Gaucci, já citado dono do clube. Ex-vice presidente da Roma, Luciano passou a dar sinais de sua completa fanfarronice: demitiu o coreano Ahn, por ter feito o gol que eliminou a Azzurra da Copa de 2002; contratou o filho do ditador líbio, que nem jogou direito pelo clube; tentou inscrever uma mulher para jogar com os homens; contratou Ben Johnson, velocista canadense que perdeu suas medalhas olímpicas por correr dopado, para auxiliar na preparação física da equipe, entre outras.

Em 2004, o auge: o Perugia conquista a Copa Intertoto, torneio de pré-temporada que dá vagas na Copa da Uefa, onde os biancorossi não passaram da terceira fase. E, como nada é tão ruim que não possa piorar, mais um rebaixamento viria naquele ano.

Chegava então o ano do centenário do clube, 2005. O 4º lugar na Serie B e a derrota no play-off para o – sempre ele – Torino já pareciam motivos suficientes para o fracasso do clube no seu aniversário, mas o castigo era muito maior. A Associazione Calcio Perugia S.p.A. decretou falência ao fim da temporada, tendo que ser refundado sob o nome de Perugia Calcio S.r.l. e rebaixado para a C1, de novo.

Depois de dois anos sem sucesso na C1 sob novo nome e escudo, com dois 6º lugares consecutivos, o Perugia se encontra em 6º lugar – oh! – na atual temporada, sem dar pinta de que possa subir para a Serie B ao fim da temporada. Nessa vida toda cheia de desgraças e castigos, só um novo milagre mesmo para trazer o clube de volta ao convívio dos grandes.

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