Jogadores

Pasquale Padalino, o xerife que viveu anos dourados de Foggia e Fiorentina

Os anos 1990 foram uma montanha-russa para Foggia e Fiorentina. Enquanto um subia para a Serie A sob a batuta de um treinador lendário e seria um dos times mais divertidos de se assistir no início da década, o outro viveu uma sequência de desgraças, mas estava em processo de se reencontrar. Mas o que une as duas equipes? Ambas tiveram, naqueles tempos, um xerife discreto, porém eficiente: Pasquale Padalino.

Padalino nasceu em julho de 1972 em Foggia, na região da Apúlia. Foi pelo clube da cidade que o zagueiro começou nas categorias de base e estreou no futebol profissional cedo, aos 16 anos – ainda como meio-campista. No entanto, Zdenek Zeman assumiu o time em 1989, após o acesso à Serie B conquistado por Giuseppe Caramanno, e deslocou o jovem para a defesa, setor em que ele se encontrou e de onde nunca mais saiu. Foi na zaga que Pasquale fez parte da era de ouro dos satanelli.

A trajetória do Foggia na metade inicial da década de 1990 poderia dar um roteiro de Hollywood: depois de uma curta passagem em 1986, Zeman retornou ao clube da Apúlia em 1989 e gerou uma revolução, graças a um estilo de jogo extremamente ofensivo e ousado para a época, com um 4-3-3 baseado em uma defesa em zona e o maior número possível de jogadores no campo adversário.

A Zemanlândia, como foi apelidada, era um carrossel de diversões – para o bem e para o mal. Graças a um forte ataque, os rossoneri conquistaram o título da Serie B e voltaram à elite, em 1991, e mantiveram a toada no principal campeonato da Itália, em 1991. Padalino, que foi titular na categoria inferior, porém, perdeu a posição na primeira divisão e teve muitas dificuldades para ganhar o posto de Angelo Consagra e Salvatore Matrecano, o que só ocorreu na parte final da temporada. O Foggia foi a sensação do ano, com o segundo ataque mais positivo do certame, e, apesar de a defesa ter tido a segunda mais vazada, o zagueiro era visto como um dos jovens mais badalados do futebol italiano.

Mas não demoraria muito para Padalino se despedir do time de sua cidade natal. Após conflitos com Zeman, ele foi emprestado em novembro de 1992 para o Bologna, que estavam na Serie B, mas os rossoblù não atenderam as expectativas de retorno à elite. Ao contrário: sofreram com os severos problemas econômicos que atravessavam e caíram para a terceira divisão.

No ano seguinte, Pasquale teve outra passagem curta e sem muito destaque. Desta vez, foi emprestado ao Lecce, também da Apúlia, e não conseguiu ajudar os giallorossi a evitarem o rebaixamento para a segundona, apesar das 30 aparições e dos três gols marcados no campeonato. Por fim, em 1994, Padalino voltou aos satanelli, que já haviam se divorciado de Zeman – o checo aceitara uma proposta da Lazio. Por lá, o defensor repetiu a história: foi titular e não foi capaz de impedir o descenso de um Foggia que já não tinha o brilho de outrora. A queda foi a deixa para o zagueiro se despedir em definitivo do time do estádio Pino Zaccheria.

Duro marcador, Padalino ajudou a Fiorentina a obter bons resultados na década de 1990 (imago)

Sua nova casa seria a cidade de Florença. A Fiorentina tinha ido do céu ao inferno, mas em 1995 estava no processo de reencontrar a glória de outrora. Depois de começar a década com um elenco estrelado, com nomes como Roberto Baggio e Dunga, o que veio em seguida foi uma sequência de desgraças: o escândalo proporcionado por uma camisa repleta de suásticas, em 1992; o rebaixamento para a Serie B, no ano seguinte e, logo depois, a morte de seu presidente, Mario Cecchi Gori. Apesar disso, a Viola tinha um esquadrão recheado de craques e ótimos jogadores, como Francesco Toldo, Daniele Carnasciali, Francesco Baiano (que fora companheiro de Padalino no Foggia) e, obviamente, Gabriel Batistuta. A volta por cima, iniciada durante a temporada 1993-94, estava a cargo de Claudio Ranieri, que tinha o objetivo de fazer a equipe disputar títulos.

Em 1995-96, além de Padalino e dos atletas citados acima, a Fiorentina já contava com o futebol de Rui Costa e Stefan Schwarz. Com esse elenco, a equipe fez uma campanha histórica na Coppa Italia: oito vitórias em oito jogos, 17 gols marcados e apenas três sofridos. Ao lado de Lorenzo Amoruso, Giovanni Piacentini e Giulio Falcone, Pasquale foi fundamental para fechar a zaga e levar os gigliati até a final, quando venceram a Atalanta em ida e volta. Os violetas encerraram um jejum de 21 anos sem o título da competição, garantiram vaga na Recopa Uefa e ainda ficaram na quarta posição da Serie A. Titular absoluto, o apuliano entrou em campo em 37 das 42 partidas possíveis naquela temporada.

Logo no início da temporada seguinte, a Fiorentina faturou mais um título: o da Supercopa Italiana, numa atuação de gala de Batistuta, que fez os gigliati superarem o favoritíssimo Milan de George Weah, então campeão da Serie A. Padalino, no entanto, teve que assistir a conquista da taça de casa, já que estava machucado e não conseguiu se recuperar a tempo da final. O defensor só voltou aos campos dois meses depois e, na sequência, pode ser testado na Nazionale, comandada por Cesare Maldini. A aparição numa vitória por 2 a 1 em amistoso sobre a Bósnia, contudo, foi a sua única com a camisa azzurra.

Em 1996-97, aliás, nem tudo foram flores para Padalino e a Fiorentina. O zagueiro perdeu minutagem, devido a lesões, e a equipe alternou altos e baixos: fez campanhas medíocres na Serie A (nono lugar) e na Coppa Italia (eliminação precoce nas oitavas de final), mas desenvolveu uma bela trajetória na Recopa, além de ter vencido a Supercopa nacional. No torneio europeu, os violetas passaram por Gloria Bistrita, Sparta Praga e Benfica, até encontrarem o Barcelona de Luís Figo e Ronaldo nas semifinais. Depois do empate turbulento no Camp Nou e a suspensão de Batistuta para o jogo de volta, os gigliati foram derrotados pelos culés por 2 a 0 em pleno Artemio Franchi, com direito a um gol lindo de falta de Pep Guardiola.

Ao fim da campanha, Ranieri deixou a Viola e foi substituído por Alberto Malesani – e, por consequência, as brigas com Vittorio Cecchi Gori, dono do clube. Os dois viviam se bicando publicamente e a gota d’água foi a contratação de Edmundo, que não agradava ao treinador pelo temperamento explosivo. Para Padalino, pouco mudou, visto que ele manteve a titularidade. Só que a passagem do técnico por Florença foi curta: após um ano irregular e um quinto lugar na Serie A, o vêneto se demitiu e deu lugar ao icônico Giovanni Trapattoni.

A era Trapattoni na Fiorentina é lembrada com bastante carinho pelos torcedores. Afinal, a dupla formada por Batistuta e Rui Costa vivia o seu auge e outros grandes craques, como o próprio Edmundo, exaltavam a equipe – e coadjuvantes, como Padalino, Moreno Torricelli, Jörg Heinrich e Sandro Cois, seguravam as pontas lá atrás. O começo da temporada 1998-99 foi meteórico, regado a atuações de gala, que levaram o time a ocupar a liderança da Serie A por várias rodadas.

Vestindo a camisa da Fiorentina, o zagueiro chegou até a disputar a Champions League (Bongarts/Getty)

No fim das contas, o gás acabou na segunda metade da campanha (e após a escapada do atacante brasileiro para curtir o Carnaval no Rio de Janeiro) e a Viola terminou em terceiro, atrás de Milan e Lazio. Ao menos os gigliati se classificaram para a Champions League e poderiam estrear na fase moderna da competição. Até então, haviam disputado apenas a Copa dos Campeões, sua antecessora. Além disso, a Fiorentina foi vice da Coppa Italia, sendo derrotada pelo Parma na decisão.

O ano seguinte terminou sendo o último de Pasquale na Fiorentina. Em 1999-2000, o zagueiro atuou em apenas 14 jogos, por conta de uma lesão, mas ao menos pode estrear na Champions League e até mesmo usar a braçadeira de capitão em algumas oportunidades, na ausência de Batistuta e Rui Costa. Naquela temporada, a Viola foi sétima colocada da Serie A, caiu nas quartas da Coppa Italia e na segunda fase de grupos da Liga dos Campeões. Em crise financeira, a equipe passou por uma pequena revolução, que resultou nas saídas de Trapattoni, Batigol e Padalino.

Após encerrar a sua militância com a camisa violeta após 142 aparições e oito gols, Pasquale voltou ao Bologna, rival toscano que já havia defendido anteriormente. Convivendo com lesões e forma física questionável, o zagueiro só foi entrar em campo em janeiro de 2001. Dali em diante, foi titular e ajudou os emilianos a concluírem a Serie A na décima posição. Em seguida, rumou à Inter para ser reserva, mas só atuou pelos nerazzurri por cerca de 25 minutos, nas oitavas de final da Coppa Italia, contra a Udinese. Naquela partida, ele lesionou o joelho direito e perdeu o restante da temporada.

Longe do auge físico, Padalino assinou com o Como, que seria o seu último clube como profissional. Os azzurri da Lombardia tinham acabado de subir para a primeira divisão em 2002, mas não ficariam por muito tempo na categoria: eles terminaram a competição na penúltima colocação e caíram para a Serie B. Em 2003-04, outro rebaixamento, desta vez para a terceirona, deu um ponto final à carreira do zagueiro italiano, que ainda estava prestes a completar 32 anos na época.

Após pendurar as chuteiras, Padalino se tornou adjunto de Gian Piero Ventura, nas passagens do treinador pelo Verona e Pisa. Seu debute como técnico principal se deu na modesta Nocerina, na quarta divisão – porém, ele logo se demitiu, por conta dos fracos desempenhos com o time. Depois, acertou com o clube de sua cidade e comandou o Foggia pela primeira vez na carreira, entre 2012 e 2014. Em 2018-19, o ex-zagueiro teve outra curta passagem pelos satanelli.

Nas divisões inferiores, Pasquale teve experiências por vários outros clubes, obtendo maior destaque por Matera, Lecce e Juve Stabia, que chegou a colocar na briga pelo acesso à Serie B – porém, sem sucesso. Padalino ainda comandou Grosseto, Siena e Turris, obtendo resultados modestos.

Pasquale Padalino
Nascimento: 26 de julho de 1972, em Foggia, Itália
Posição: zagueiro
Clubes como jogador: Foggia (1988-92 e 1994-95), Bologna (1992-93 e 2000-01), Lecce (1993-94), Fiorentina (1995-2000), Inter (2001-02) e Como (2002-04)
Títulos: Serie B (1991), Coppa Italia (1996) e Supercopa Italiana (1996)
Clubes como treinador: Nocerina (2009-10), Foggia (2012-14 e 2018-19), Grosseto (2014-15), Matera (2015-16), Lecce (2016-17), Juve Stabia (2020-21), Siena (2021-22) e Turris (2022)
Seleção italiana: 1 jogo

Compartilhe!

Deixe um comentário