Quando, cerca de dois meses atrás, o Palermo foi humilhado em plena La Favorita pelo arquirival Catania, se esperava que a equipe rosanera entrasse em parafuso. A constante instabilidade interna e falta de credibilidade nos trabalhos dos treinadores, fomentadas pela conhecida impaciência do presidente Maurizio Zamparini, punha o cargo de Davide Ballardini em cima do telhado.
Uma série de fatores faziam crer que o calvo treinador seria demitido: no Derby della Sicilia a equipe jogou muito mal e foi derrotada por quatro a zero com direito a gol de Mascara do meio campo, ampliando uma já incômoda série de jogos sem vitória. Para piorar, os rosaneri, que semanas antes tinham empatado com a Reggina e perdido para a Juventus, visitariam a Fiorentina.
Surpreendentemente, Ballardini permaneceu no cargo e, sem fazer qualquer mudança tática na equipe, viu sua equipe obter um resultado fundamental para a recuperação. Com gols de Fábio Simplício e Fabrizio Miccoli, os sicilianos venceram por dois a zero no Artemio Franchi, acalmaram os ânimos da diretoria e iniciaram uma corrida rumo a disputa por uma vaga para a Liga Europa. Simplício e Miccoli, aliás, já há algum tempo são fundamentais para qualquer técnico que chegue para treinar a equipe de Boccadifalcco. Nesta temporada, o brasileiro marcou 8 gols, quase sempre atuando como trequartista (função na qual aprimorou seu futebol), enquanto o “Romário de Salento”, fez 10.
Miccoli e Simplício: espinha dorsal do Palermo, desde o pré-Ballardini
Porém, o artilheiro da equipe é Edinson Cavani, com 13 gols. O atacante uruguaio, contratado após ter sido artilheiro do Sul-Americano sub-20 de 2007, demorou a se adaptar ao futebol italiano (apesar do golaço na estreia, contra a Fiorentina), mas hoje também é fundamental. Nas duas últimas temporadas, o Caníbal teve muitas dificuldades de conseguir jogar regularmente, pois enfrentava muitos concorrentes na posição: Di Michele, Brienza, Miccoli e, especialmente, Amauri.
Só com a saída do carapicuibano para a Juventus é que Cavani assegurou a titularidade, embora por linhas tortas: nesta temporada, o matador uruguaio deveria ser novamente opção de banco, já que o brasileiro Túlio de Melo havia sido contratado para ser titular. Porém, o ex-atacante do Le Mans não chegou a convencer o então técnico Stefano Colantuono (demitido após a primeira rodada da Serie A) e foi vendido para o Lille no último dia do mercado de verão, após passar apenas dois meses no clube. Só aí Cavani ganhou chances de verdade.
Cavani, Simplício e Miccoli são responsáveis por nada menos que 67,4 % dos 46 gols de toda a equipe. Após a vitória ante a viola, o Palermo ainda conseguiu outros resultados importantíssimos, como boas goleadas contra Lecce e Bologna, ambas equipes buscando a salvezza: nestas partidas, Cavani e Kjær jogaram muito bem e marcaram gols (3 e 2, respectivamente).
No entanto, o melhor resultado foi um empate heróico contra a Inter em 2×2, após um primeiro tempo desastroso, em péssima atuação de Nocerino e de toda a defesa palermitana – incluindo o promissor Kjær, que chegou a cometer um pênalti. Ibrahimovic e Balotelli marcaram dois gols para a Inter nos minutos iniciais do jogo – para a sorte dos visitantes, porque a Inter teve no mínimo mais três chances claras de marcar. Porém, com as entradas de Bresciano e Succi, a postura rosanera mudou completamente e a equipe empatou o jogo. Por pouco a Inter não sofreu a virada.
Uma surpresa: a paciência
Ballardini e Cavani são provas concretas para o presidente Zamparini, no sentido de que é necessário ter paciência, para que se se possa trabalhar com confiança e estabelecer um trabalho contínuo. Nesta temporada incomum em Boccadifalcco, em que a paciência tem sido a práxis, o Palermo pode voltar a obter uma vaga em competições europeias. A classificação para a Liga Europa pode vir com um pouco de esforço, afinal, na sétima colocação (com 49 pontos, a apenas três pontos da Roma), é possível conquistar a vaga. Porém, as boas fases de Cagliari e Lazio, respectivamente com 48 e 47 pontos, põem ainda mais pressão na equipe palermitana.
Há ainda a possibilidade de o sétimo colocado conquistar uma vaga, caso Juventus ou Inter vençam a Copa da Itália. Porém, os planos do presidente são mais ambiciosos: Zamparini quer a classificação para a Liga dos Campeões. A oito pontos do Genoa, o objetivo estabelecido pelo dono do clube é muitíssimo complicado de ser alcançado, faltando apenas seis rodadas para o término do campeonato. Resta saber se, caso o time não se classifique para a LC, um novo surto de impaciência faça com que Ballardini perca seu emprego e um novo treinador tenha que começar tudo do zero (mais uma vez).
Jovens promessas, grandes negócios
Com a saída de Amauri, Cavani ganhou espaço e já marcou 13 gols
Mesmo sendo um clube endinheirado para os padrões italianos, o Palermo não é o tipo de agremiação que costuma relutar muito na hora de vender seus jogadores. O clube contrata jogadores de times e centros menores, os revela para o futebol e colhe os frutos pela revelação em forma de vendas. É a lógica que sustenta os negócios rosaneri. Afinal, parte da receita gerada para as contratações é oriunda da venda de outros jogadores. A diretoria gastou cerca de 50 milhões de euros em contratações para esta temporada, mas este valor foi impulsionado pela venda de jogadores-chave para a equipe, como Amauri, Zaccardo e Barzagli e outros menos importantes, mas que foram bem vendidos (casos de Rinaudo, Brienza e Mariano González).
Seguindo este modelo, o Palermo conseguiu boas opções aos jogadores vendidos e é difícil não pensar que terá de vender alguns de seus destaques desta temporada, caso queira investir em mais reforços. Cavani conseguiu substituir Amauri a altura e faz uma temporada impressionante para um jogador de 22 anos que atua na Itália – lembrando que, no país, a inserção de jovens jogadores nos elencos profissionais é bastante adiada – e já é alvo do West Ham.
Porém, outra peça do elenco chama mais a atenção de outros clubes: a do zagueiro Simon Kjær, de 20 anos recém completados. Contratado ao Midtjylland, da Dinamarca, após ter sido eleito o melhor sub-19 de seu país natal e ter se destacado no Torneio de Viareggio de 2008, o jovem zagueiro dinamarquês foi inserido pouco a pouco na equipe e só conquistou a titularidade no returno da Serie A. Apesar de atuar ao lado de jogadores pouco técnicos, como Bovo e Carozzieri, o jovem tem se mostrado mais seguro que Barzagli e Zaccardo, seus antecessores na zaga palermitana. Não à toa já é sondado por Juventus, Inter e Milan.
Além disso, outros jogadores mais experientes do elenco continuam tendo seus nomes envolvidos em especulações quanto a sua saída, como Amelia, Miccoli e Simplício. todos com quase 30 anos. Se surgirem propostas interessantes por eles, talvez seja oportuno fazer caixa com suas vendas e contratar outros mais jovens, para que o modelo da gestão possa continuar. Para o torcedor fica a esperança que, se houver desmanche, que seja planejado.
Nelson, Parabéns pela análise, está perfeita! Se me permite um único e singelo reparo, quando você faz menção ao ‘Derby della Lanterna’, acho que o objetivo era ‘Derby della Sicilia’,não? Abraços,
Nelson,
Parabéns pela análise, está perfeita!
Se me permite um único e singelo reparo, quando você faz menção ao ‘Derby della Lanterna’, acho que o objetivo era ‘Derby della Sicilia’,não?
Abraços,
isso mesmo, Rodolfo. obrigado pela correção!
A análise tá ótima, mas o Miccoli é conhecido como “Il Romario del Salento”
:p
é, eu troquei as regiões. mas Lecce é logo ali. mais perto que a África do Sul. 😛