Tristeza romanista: após tropeço, scudetto depende (principalmente) da Lazio (Getty Images)
Após a ótima vitória no Dérbi de Roma, na última rodada, o título da Roma (2ª colocada, 71 pontos), parecia muito bem encaminhado. Porém, tudo foi por água abaixo por causa de Giampaolo Pazzini e sua Sampdoria (4ª, 60), que aplicaram uma virada espetacular para cima dos giallorossi e devolveram a liderança para a Inter (1ª, 73) – não sem antes gerar um descontentamento por parte dos romanistas com o árbitro Antonio Damato, que, a parte as reclamações, apitou bem. Em campo, a equipe de José Mourinho volta a ser favorita ao inédito pentacampeonato consecutivo, a apenas três rodadas do fim do campeonato, e comemora uma semana dourada, na qual derrotou o Barcelona pela Liga dos Campeões e passou a sonhar com a Tríplice Coroa.
Jogando para um Olímpico lotado e em festa, a Roma começou o jogo com muita velocidade, apoiada pela sua numerosa torcida. Em campo, a equipe aproveitava uma série de desatenções da zaga doriana: primeiro, após jogada ensaiada, Juan quase marcou de bicicleta; depois, abriu o placar com Totti, que completou cruzamento de Vucinic. A Roma continuou pressionando, aproveitando-se da fragilidade do lado direito da zaga doriana, mas esbarrava no azar e em grande atuação do goleiro Storari. Para o segundo tempo, a Sampdoria voltou mais compacta no meio-campo após a saída de Poli e a entrada de Tissone. Substituição que deu certo e mostrou efetividade quando permitiu que Cassano chamasse toda a marcação para o lado direito da zaga romanista e cruzasse para Pazzini, livre, cabecear firme para empatar. A equipe capitolina voltou a pressionar muito, mas recaía sobre seu nervosismo e encontrava um Storari cada vez mais estratosférico, que fez pelo menos quatro defesas difíceis e fundamentais: em cabeçada à queima-roupa de Toni; saindo heoricamente nos pés de Vucinic e até mesmo num canudo de Riise. No fim do jogo, já sem Cassano, Mannini armou ótimo contra-ataque e cruzou para Pazzini, de carrinho, marcar uma dolorosa doppietta para os romanos, que emudeciam em pleno Olímpico e viam a Inter reassumir a ponta.
Só restou a Cassano e companhia respeitar a dor giallorossa e não comemorar demais o grande feito, sobretudo após a vitória do Palermo (5º, 58) sobre o Milan (3º, 64). No Renzo Barbera, as duas equipes fizeram uma partida extremamente aberta e empolgante de se ver. Partida que parecia definida com menos de 20 minutos, já que os rosanero abriram dois gols de diferença, primeiro com Bovo – após falha coletiva da defesa do Milan – e depois com o ótimo Abel Hernandez, que aproveitou falha incrível de Oddo (improvisado como zagueiro) e fez o segundo. O Milan não desistiu e até deu bastante trabalho ao goleiro Sirigu durante o restante do primeiro tempo, até diminuir com Seedorf – após bom passe de Ronaldinho – aos 54. Porém, a reação rossonera durou pouco: menos de 15 minutos depois, Miccoli recebeu passe de Liverani na grande área e teve toda a calma do mundo para pensar e chutar no ângulo de Dida, chegando aos 17 gols na temporada. Se não fosse o baiano, teria sido mais: demonstrando ótimos reflexos para um goleiro de sua idade, Dida evitou gol certo de Pastore pouco depois. Após a geração de Grosso, Toni, Corini, Barone, Barzagli e Zaccardo, quatro anos atrás e, assim como hoje, antes de uma Copa do Mundo, o Palermo conta com nomes em ótima fase, como Pastore, Miccoli, Abel Hernandez e Sirigu, que pode classificar o time para a LC. Na semana que vem, em casa, os sicilianos recebem a Sampdoria no jogo mais importante da rodada, confronto direto para a cobiçada vaga europeia.
Tudo perfeito para a Inter, que venceu a Atalanta (18ª, 34) por 3 a 1 no jogo que abriu a rodada assistiu de camarote a derrota dos rivais. Mesmo assim, os meneghini ainda passaram por sustos: logo aos 7 minutos, Materazzi dormiu no ponto e permitiu que Tiribocchi abrisse o placar para os visitantes. O atacante ainda perdeu grande chance em seguida e o defensor poderia ter sido expulso por agredir Ferreira Pinto, embora o árbitro Daniele Orsato não tenha visto o lance. Foi a partir daí que apareceu a figura de Sneijder: o holandês achou Milito com um lançamento longo que Bianco não conseguiu cortar, dando ao atacante apenas o trabalho de encobrir Coppola com um pallonetto para marcar seu 20º gol no torneio. Sneijder seguia mandando no jogo e, após uma triangulação sua com Eto’o, Mariga recebeu na grande área para virar o jogo e marcar seu primeiro pelo clube. Para a segunda etapa, a Inter voltou sem o meia – que sentiu um estiramento na coxa e preocupa para a partida contra o Barça – e cadenciou a partida. A Atalanta até teve chances com Guarente e Manfredini, mas foi a Inter que marcou, quando Chivu acertou chute de fora da área para marcar seu primeiro gol após a lesão na cabeça que o deixou afastado por dois meses. Outro destaque positivo na Inter foi Arnautovic, que disputou ótimos 15 minutos e, enfim, mostrou seu valor para a torcida.
Na briga pela Liga Europa, a Juventus (6ª, 54) foi a única equipe a vencer e pode comemorar os tropeços dos rivais. No Olímpico de Turim, os bianconeri impuseram um 3 a 0 sobre o Bari (12º, 43), que nada mais objetiva neste campeonato. Após um péssimo primeiro tempo, em que atuou muito nervosa por conta do clima tenso provocado pelas manifestações (violentas, por vezes) de torcedores do clube, a equipe juventina voltou a campo na segunda etapa com outra postura, a partir das entradas de Candreva e Iaquinta nos postos de Camoranesi e Amauri. O atacante, aliás, decidiu o jogo: logo deixou o dele, após receber lançamento de Diego, cortar Gillet e tocar para o gol. Depois, sofreu penalidade, que foi convertida por Del Piero, e colocou a cereja no bolo após desviar para as redes um cruzamento de Candreva. Após passar longo período afastado por lesão e em jejum de gols desde setembro, foi um ótimo retorno aos gramados para o bomber, que, como Pazzini e Miccoli, demonstrou a Marcello Lippi que quer ir para a África do Sul. Com a vitória, a Juve deixou para trás o Napoli (7º, 53), que pressionou o Cagliari (14º, 42) durante os 90 minutos, mas não conseguiu vencer o muro chamado Marchetti. Ótima prestação para o goleiro da Nazionale, que passou por uma queda de rendimento ao longo da temporada, mas mostra fortes sinais de recuperação conforme vai se aproximando a convocação de Lippi para o Mundial. Menos mal para o Napoli que a final da Coppa Italia, disputada entre Inter e Roma, dá a chance de que o sétimo colocado do campeonato participe da próxima Liga Europa.
Em Florença, a Fiorentina (10ª, 46) abandonou todas as chances de classificação para a Liga Europa após sofrer muito e perder em casa para o Chievo (11º, 44). Nenhum outro adjetivo pode definir a partida que não “atípica”: em 38 minutos, os viola já haviam efetuado todas as substituições. Todas relativas a defensores e todas elas por lesões: Felipe, aos 10; Gamberini, aos 16; e Comotto, aos 38. Assim, os donos da casa sofriam com o ataque clivensi, que exigiu de Frey atenção redobrada. Na segunda etapa, a Fiorentina buscou o gol de maneira desesperada, mas o goleiro Sorrentino estava inspirado. Até mesmo pênalti ele defendeu, quando Vargas desobedeceu a ordem de cobradores do time e telegrafou o canto em que iria bater, o que deve lhe valer uma multa aplicada pelo clube. Desanimada, a Fiorentina pouco teve a fazer para segurar os contra-ataques gialloblù, que abriram o placar com Pellissier e fecharam com Sardo, para garantir a salvezza matemática.
Tropeço também para o Genoa (8º, 48), que saiu na frente da Lazio (16ª, 40), mas levou a virada ainda no primeiro tempo e praticamente deu adeus às chances de conseguir mais uma classificação para uma competição europeia. Não adiantaram a esperteza de Milanetto e o bom chute de Palacio, que abriram o placar: a desatenção da defesa rossoblù – segunda pior do campeonato, com 57 gols sofridos – custou caro nos dois gols da Lazio. No primeiro, André Dias subiu sozinho e cabeceou firme para as redes de Scarpi – antecipando o que estaria por vir em sua ótima partida em fase defensiva, cortando várias bolas pelo alto. Sete minutos depois, outra bola levantada na área do Genoa e trapalhada da defesa, que não cortou bem a bola e permitiu que Floccari tocasse em diagonal e vencesse o goleiro adversário. Rocchi ainda acertou a trave, antes que a Lazio segurasse o jogo e conseguisse uma vitória fundamental na briga pela salvezza, praticamente garantida. Agora, quem diria, o scudetto da Roma está nas mãos da rival, que enfrenta a Inter na semana que vem e, se dependesse da vontade de seus torcedores, entregaria o jogo para ver o rival longe do título deste ano e, de quebra devolveria a provocação que Totti comandou ao fim do dérbi da última semana. Edy Reja, técnico biancoceleste (que foi expulso no domingo), garante que seu time entra para vencer. Se suas palavras são apenas discurso, saberemos apenas no fim de semana que vem.
Muito perto de escapar do rebaixamento está também o Bologna (17º, 39), que derrotou o Parma (9º, 46) no dérbi emiliano e está a apenas uma vitória de garantir a permanência na Serie A. O Parma começou melhor no jogo, apostando na velocidade de Biabiany como chave para garantir um bom resultado fora de casa e manter as poucas esperanças de classificação para a Liga Europa. Foi o próprio atacante francês que colocou os crociati em vantagem, mas a expulsão justa de Zaccardo minutos depois colocou tudo a perder. Numa partida em que vários jogadores já haviam atuado pela equipe adversária, é óbvio que um a lei do ex valeria: Di Vaio aproveitou o espaço deixado pela expulsão do campeão mundial com a Squadra Azzurra em 2006 e desviou cruzamento de Buscè para empatar. No segundo tempo, o mesmo Di Vaio virou a partida, aproveitando falha do jovem zagueiro Gigli, estreante na Serie A. Menos mal para o Parma que a superioridade numérica e moral dos felsinei não foi transformada em outros gols graças a uma boa prestação do goleiro Mirante. Mas, o importante para o Bologna foi ter vencido um jogo fundamental, afastando a série de sete partidas sem vitória e recuperando o moral após o empate sofrido nos acréscimos no último jogo, contra a Udinese. Na próxima rodada, os rossoblù visitarão a Atalanta no spareggio que pode definir a sobrevivência na elite do futebol italiano por mais um ano.
Fim da linha para Livorno (20º, 29) e Siena (19º, 30). Com os três pontos do Bologna, foi confirmado o rebaixamento matemático da equipe treinada por Gennaro Ruotolo, que acordou tarde demais. Em uma de suas melhores partidas na temporada, jogou para um Armando Picchi praticamente vazio e venceu por 3 a 1 o Catania (15º, 40) treinado por Sinisa Mihajlovic, com direito a golaço de Bellucci e réplica do argentino Maxi López, em lindo voleio. A vitória de Pirro só não foi mais melancólica porque o ídolo Cristiano Lucarelli anunciou que não permenecerá no clube para a disputa da Serie B e deverá encerrar a carreira em outro clube por conta de divergências com a diretoria. No caso do Siena, a derrota por 4 a 1 contra a Udinese (15ª, 42) não chegou a decretar oficialmente o rebaixamento da equipe, mas não deixa esperanças para o clube toscano, após sete temporadas consecutivas na elite do futebol italiano: se o Bologna conseguir apenas mais um ponto nos jogos que restam, Maccarone e companhia estarão rebaixados. Já a Udinese pode dedicar a salvezza a Di Natale, autor de 25 gols até agora nesta temporada. Na partida de domingo, Totò marcou um, mas o destaque foi Simone Pepe, que não fez grande temporada mas deve estar presente na lista de convocados de Marcello Lippi para a Copa do Mundo.
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Seleção da 35ª rodada
Storari (Sampdoria); Zanetti (Inter), Bovo (Palermo), André Dias (Lazio), Radu (Lazio); Pepe (Udinese), Sneijder (Inter), Pastore (Palermo); Miccoli (Palermo), Iaquinta (Juventus), Pazzini (Sampdoria).