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O hiato inglório de Thierry Henry na Juventus

Todo mundo conhece o fantástico Thierry Henry que encantou o planeta com as camisas de Arsenal, Barcelona e da seleção da França. O jogador que passou pela Juventus, porém, talvez não seja tão lembrado assim: quando uma carreira é tão vitoriosa, às vezes a narrativa oficial deixa de dar atenção aos momentos de menor glória de um craque. Para Titi, este hiato foi a sua curta passagem pela Velha Senhora.

Falar das qualidades de um dos melhores atacantes franceses de toda a história é como chover no molhado, uma vez que o seu currículo (descrito com detalhes no final deste texto) praticamente fala por si só. Afinal, não se conquista 23 títulos por acaso, sobretudo quando estes são troféus cobiçados, como os da Copa do Mundo, da Euro, da Liga dos Campeões, do Mundial de Clubes e de campeonatos nacionais de grande porte, como o francês, o inglês e o espanhol.

Henry também é o maior artilheiro da história do Arsenal e, por 15 anos, também o da França. Por duas vezes foi o maior goleador da Europa… e esses são apenas algumas das honras de sua penca de méritos individuais. Quando ele chegou a Turim, no entanto, ainda era um jovem que tinha potencial de crescimento.

Era janeiro de 1999 quando a Velha Senhora se mexeu no mercado em busca de um atacante de alto nível. O clube precisava suprir a ausência de Alessandro Del Piero, que havia rompido os ligamentos do joelho esquerdo, e o diretor esportivo Luciano Moggi escolheu Thierry Henry para preencher esta lacuna, pagando o equivalente a 11,5 milhões de euros. Àquele momento o francesinho de 21 anos era jogador do Monaco e já havia sido campeão francês e semifinalista da Champions pelos monegascos, além de campeão do mundo pela França meses antes, na Copa de 1998.

Na Juve, Henry não rendeu o futebol que havia lhe projetado pelo Monaco (imago)

Henry era tido como uma das joias de seu país: com apenas três amistosos pelos Bleus ele convenceu Aimé Jacquet a convocá-lo para o Mundial e escalá-lo como titular em três jogos do torneio, no qual fez três gols. Pelo Monaco, Arsène Wenger não chegou a achar sua posição fixa e o utilizou como ala esquerdo e atacante de área, mas obteve alto rendimento do jogador em ambas as posições. Não à toa Henry fez sete gols na LC 1997-98 (o maior número feito por um jogador francês até então) e foi eleito o melhor jovem do país. A expectativa era a de que ele explodiria de vez na Juve, afinal chegava com o status de francês mais caro da história.

Thierry Henry recebeu a camisa de número 6 e estreou no dia 24 de janeiro, substituindo o uruguaio Daniel Fonseca nos 20 minutos finais de uma vitória por 2 a 1 contra o Perugia. Três dias depois, foi titular na eliminação nas quartas de final na Coppa Italia contra o Bologna, mas voltou a sair do banco nas derrotas para Cagliari e Parma pela Serie A, que resultaram na demissão de Marcello Lippi. A troca no comando levou Carlo Ancelotti ao Delle Alpi e acabou mudando o destino do francês no Piemonte.

Don Carletto deu uma vaga no time titular a Henry, mas não na posição em que ele estava acostumado a jogar. O treinador de Reggiolo experimentou diversos esquemas na Juve, como o 4-4-2, o 3-5-2 e até mesmo o 3-4-3, mas Titi atuou quase sempre como ala/esterno pelo lado esquerdo do meio-campo ou do ataque. Rendeu muito menos do que o esperado, mas também não contou com a colaboração dos companheiros bianconeri: era um ano de crise em Turim e a Juventus ficou apenas com a sétima posição e uma vaga na Copa Intertoto.

No total, Henry marcou apenas três vezes nos 17 jogos que disputou pela Velha Senhora entre janeiro e junho de 1999 – 16 destes pela Serie A. O camisa 6 precisou de 11 partidas para anotar seus primeiros gols: diante da Lazio, contou com duas falhas do goleiro Luca Marchegiani para marcar uma doppietta na vitória por 3 a 1 e acabar com o sonho da equipe da capital, que perderia a liderança e o título para o Milan. O outro gol do francês foi marcado na última rodada, contra o Venezia, mas ele nem se deu ao trabalho de comemorar, já que seu chute saiu mascado, desviou no zagueiro Gianluca Luppi e tirou o goleiro Alessio Bandieri de ação.

Utilizado muitas vezes fora de posição, o atacante não vingou no Delle Alpi (Allsport)

Titi estava infeliz em Turim, era nítido. Apesar de tudo, o atacante foi mantido no elenco para a temporada 1999-2000 e entrou em campo na Copa Intertoto, diante do Ceahlaul, da Romênia. Alguns dias depois, no entanto, uma notícia surpreendente: a Juve recebeu uma proposta de 10 milhões de libras do Arsenal e Henry acabou reforçando os Gunners, comandados por seu mentor, Arsène Wenger.

Somente alguns anos depois da transação o atacante francês revelou porque deixou Turim: sem entrar em maiores detalhes, Henry declarou que o diretor Luciano Moggi havia lhe faltado com respeito. Titi disse que se não fossem os atritos com o cartola ele teria permanecido na Juventus… Mas a que preço?

Ancelotti não o considerava fundamental ao projeto e, diante da boa proposta do clube inglês, não ofereceu resistência para deixá-lo ir. Em entrevista ao jornal La Repubblica, em 2014, o emiliano admitiu que ter errado na avaliação das características de Henry e não ter percebido que ele não servia para ser winger foi um dos maiores erros de sua carreira como profissional. Até porque os recursos da venda de Henry não foram usados para grandes contratações. O único dos reforços que serviu o clube durante um novo ciclo vencedor foi o lateral Gianluca Zambrotta.

Um ano depois de Henry deixar a Juventus e começar a traçar as primeiras linhas de sua longa história no Arsenal quem chegava ao Delle Alpi era David Trezeguet, seu parceiro de ataque no Monaco e no elenco da França em 1998. O franco-argentino viraria ídolo bianconero e tudo o que a torcida juventina pode fazer foi imaginar que a Velha Senhora poderia ter conquistado ainda mais títulos com um ataque formado por Trezeguet, Del Piero e Henry.

Thierry Daniel Henry
Nascimento: 17 de agosto de 1977, em Les Ulis, França
Posição: atacante
Clubes como jogador: Monaco (1994-99), Juventus (1999), Arsenal (1999-2007 e 2012), Barcelona (2007-10) e New York Red Bulls (2010-11 e 2012-14)
Títulos como jogador: Torneio de Toulon (1997), Ligue 1 (1997), Supercopa da França (1997), Copa do Mundo (1998), Eurocopa (2000), Community Shield (2002 e 2004), Copa da Inglaterra (2002, 2003 e 2005), Premier League (2002 e 2004), Copa das Confederações (2003), La Liga (2009 e 2010), Copa do Rei (2009), Liga dos Campeões (2009), Supercopa da Espanha (2009), Supercopa Uefa (2009), Mundial de Clubes da Fifa (2009), Conferência Leste da MLS (2010 e 2013) e Supporters’ Shield (2013)
Carreira como treinador: Monaco (2018-19), Montréal Impact (2019-21), França Sub-21 (2023-24) e França Olímpica (2024)
Títulos como treinador: Prata Olímpica (2024)
Seleção francesa: 123 jogos e 51 gols

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