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Com classe, Pavel Nedved se tornou um dos estrangeiros com mais jogos pela Juventus

Com 327 partidas pela Juventus, Pavel Nedved se tornou ídolo da geração recente e o estrangeiro que mais vezes vestiu a camisa bianconera, deixando saudades em um meio de campo que não se encontrou após sua saída – anos mais tarde, foi igualado pelo brasileiro Alex Sandro. Na Itália, fez história também jogando pela Lazio, no final da década de 1990. Mas tudo começou na pequena cidade de Cheb, na então Checoslováquia (atual República Checa).

Em 1977, com apenas cinco anos de idade, Pavel já mostrava gosto pela coisa, jogando nas categorias infantis do pequeno clube da região, o TJ Skalná. Passou ainda por mais três clubes amadores, antes de desembarcar no Dukla Praga, em 1990. Um ano nas divisões de base do clube foi suficiente para chamar a atenção como um meia esquerda de muito futuro e passar a integrar o time principal.

Estreou profissionalmente na temporada 1991-92, com 19 anos. Foram 19 jogos na temporada e três gols marcados. No ano seguinte, já jogava pelo maior clube do país, o Sparta Praga. Dos últimos dez campeonatos nacionais disputados, oito tinham ido parar na sala de troféus do time. Na temporada anterior, contudo, os rumini tinham sido superados pelo Slovan Bratislava, e amargado um vice-campeonato. E para não acontecer de novo, a diretoria assinou com o jovem Nedved, jogador de boa força física, passe de bola refinado e chutes poderosos com as duas pernas.

A aposta foi mais que certa e o clube ganhou os três campeonatos seguintes e mais uma Copa da República Checa, com grande ajuda do meio-campista. Em 1996, após campanha perfeita com o Sparta Praga, acumulando 19 gols em 38 partidas, Nedved foi chamado para a integrar a seleção que iria disputar a Eurocopa daquele ano, na Inglaterra.

A Lazio foi a porta de entrada de Nedved no futebol italiano (Allsport)

A campanha checa surpreendeu. Nedved e seus companheiros levaram a seleção à final do torneio, após eliminar Itália (na fase de grupos), Portugal (nas quartas de final) e França (nas semi). O título ficou com a Alemanha de Klinsmann. Foi a oportunidade perfeita para Nedved aparecer em nível internacional e abrir os olhos da Europa para seu futebol. Lazio e PSV lutaram pelo seu passe até o último momento, mas quem se deu bem foi o time romano, do conterrâneo Zdenek Zeman, então técnico biancoceleste.

Sua estreia na Serie A foi dia sete de setembro, na boa partida contra o Bologna. A boa temporada fez de Nedved um dos favoritos dos torcedores laziale. O primeiro título veio no ano seguinte, na vitória sobre o Milan, na final da Coppa Italia. Levou para casa também o título da Supercopa Italiana. O amor dos torcedores pelo checo aumentou na temporada seguinte, quando ele recusou uma proposta milionária do Atlético de Madrid, para permanecer na capital. E o melhor ainda estava por vir. Em 1999, conquistou a Recopa e a Supercopa Uefa, além de ter feito o último gol da história da citada Recopa, na vitória por 2 a 1 contra o Mallorca, na derradeira final do torneio.

Na temporada que começava, a de 1999-2000, o bom time que contava com Alessandro Nesta, Juan Sebastián Verón, Marcelo Salas, Roberto Mancini, entre outros, disputou o scudetto rodada a rodada com a Juventus. O título veio na última rodada, na vitória contra a Reggina, enquanto a Juve perdia para o Perugia, em casa. Foi o primeiro scudetto laziale depois de 1974.

Numa Lazio estrelada, o checo faturou seis taças (Allsport)

Ao final da temporada, foi a vez do Manchester United abordar o jogador e ouvir uma recusa. Sua permanência em Roma duraria uma temporada ainda. Foram 207 jogos e 51 gols pela Lazio, antes de se transferir para a Juventus, em julho de 2001. O preço? 70 milhões de liras (aproximadamente 41 milhões de Euros, na moeda de hoje).

O checo chegava a Turim com a missão de substituir ninguém mais, ninguém menos que Zinédine Zidane, que estava de saída para o Real Madrid. O início não foi dos melhores para Nedved, que procurava seu lugar ideal na equipe. Só em dezembro, quando Marcello Lippi decidiu centralizar um pouco mais seu jogo, as coisas começaram a funcionar. Atuando como trequartista e cobrindo parte da ala esquerda, Pavel encaixou bem no time e ajudou a Juve a conquistar o scudetto, naquele fim de temporada.

No ano seguinte, atingiu seu auge vestindo bianconero. Com passes perfeitos, chutes e gols fantásticos com as duas pernas e forma física grandiosa, Nedved tornou-se o principal jogador juventino daquela temporada, ao lado de Del Piero, e levou o time a mais um scudetto e à final da Liga dos Campeões, contra o Milan. O título europeu, contudo, ficou em Milão. Coincidência ou não, Pavel não jogou aquela final, suspenso.

Em 2003, vivendo o auge pela Juve, o checo ficou com a Bola de Ouro (Getty)

O grande ano foi premiado com a Bola de Ouro, prêmio que a France Football dá ao melhor jogador de cada ano. Já com 31 anos, o rendimento do Mago Checo parecia começar a cair, depois de uma temporada mediana da Juventus, em 2003-04. Fez parte da seleção sensação da Euro 2004, ocasião em que jogou muita bola. Porém, os eslavos caíram nas semifinais para a campeã Grécia, na prorrogação. O meia, que fora apelidado de “Fúria Checa”, ainda chegou a jogar uma Copa do Mundo, em 2006, mas a seleção decepcionou.

À época do Mundial, Nedved já havia recuperado seu futebol. Com a chegada de Capello, em 2004, Nedved voltou a apresentar seu melhor futebol e ajudou a Velha Senhora a ganhar mais dois campeonatos italianos (posteriormente revogados, por causa do escândalo de arbitragem).

E foi aí que Nedved ganhou total carisma dos torcedores. O time acabava de ser rebaixado para a Serie B, por causa do Calciopoli, jogadores começavam a deixar o clube, mas Pavel optou por continuar em Turim e ajudar o time na campanha campeã da Serie B de 2007, que levaria a Velha Senhora de volta para a elite do futebol nacional. Foi também o último título de Nedved pela Juventus.

Nedved vestiu a camisa da Juve por oito anos e virou ídolo em Turim (AFP/Getty)

De volta à Serie A sua condição física já não era como a de outrora e sua participação em campo era menos intensa. Ainda assim chegou a seu 300º jogo pelo time de Turim e ajudou na classificação para a Liga dos Campeões do ano seguinte, que viria ser sua última. No dia 31 de maio de 2009, anunciou sua aposentadoria.

Apesar dos 36 anos de idade, a temporada de despedida foi praticamente completa e sem lesões. Somou 44 jogos entre Serie A, Coppa Italia e Liga dos Campeões. O jogo final foi exatamente contra a Lazio que lhe abriu tantas portas. Vitória da Juve e aplausos mais do que merecidos, em um estádio lotado.

Depois da aposentadoria, o ídolo se tornou membro do conselho de administração da Juventus e, em 2015, ascendeu à vice-presidência. Nedved ocupou o cargo até o fim de novembro de 2022, quando se demitiu juntamente à cúpula da diretoria, em virtude de um escândalo de falsificação de balanços fiscais – que tirou pontos dos bianconeri na Serie A e os impediu de disputar competições europeias por uma temporada. O checo foi absolvido ao fim das investigações, ao contrário do presidente Andrea Agneli e do diretor esportivo Fabio Paratici.

Pavel Nedved
Nascimento: 30 de agosto de 1972, em Cheb, na então Checoslováquia
Posição: meio-campista
Clubes: Dukla Praga (1991-92), Sparta Praga (1992-96), Lazio (1996-2001) e Juventus (2001-09)
Títulos: Campeonato Checo (1993, 1994 e 1995), Copa da República Checa (1996), Coppa Italia (1998 e 2000), Supercopa Italiana (1998, 2000, 2002 e 2003), Recopa Uefa (1999), Supercopa Uefa (1999), Serie A (2000, 2002 e 2003) e Serie B (2007)
Seleção checa: 91 jogos e 18 gols

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