A importância de um capitão na Itália pode ser considerada maior do que em outros países do mundo e até mesmo da Europa. Na maior parte dos casos, é a bandeira do clube ou, em alguns times, o jogador mais experiente do grupo. No Genoa, acontece uma coisa semelhante: por seis temporadas, o capitão da equipe foi o meia Marco Rossi, que vestiu rossoblù em três divisões distintas, desde quando assinou seu primeiro contrato com os grifoni, em 2003. Ao longo de quase uma década, o atleta acumulou marcas importantes e mereceu ter a camisa de número 7 aposentada pelo Vecchio Balordo.
Antes de ter sido o jogador mais popular para a tifoseria do clube de Gênova, Rossi começou a carreira em 1995, na Lucchese, clube toscano que disputava a Serie B. Em três anos pelo time da cidade de Lucca, Rossi assumiu posição mais importante apenas em sua última temporada, quando atuou por 25 partidas na Serie B – embora tivesse apenas 20 anos. Assim que o futebol europeu retornou às atividades após a Copa da França, em 1998, o meio-campista rossonero se transferiu para a Salernitana, que tinha sido campeã da segundona e havia se classificado para a Serie A.
Pelos granata, Rossi jogou ao lado de Ighli Vannucchi, Michele Fini, David Di Michele, Marco Di Vaio e Gennaro Gattuso. começou entrando aos poucos, para, apenas na segunda temporada assumir uma posição mais importante no elenco. Ao lado do mesmo Gattuso, fez parte da seleção sub-21 italiana que foi campeã europeia na Eslováquia, após bater a República Checa na final. Porém, 2000 acabou com um gosto amargo, já que um empate contra o Piacenza não foi suficiente para garantir a salvezza da Salernitana, que ficou um ponto atrás do Perugia e retornou à Serie B.
As boas prestações de Rossi em seus dois anos de Salerno lhe valeram uma transferência para a Fiorentina, que, sob o comando de Giovanni Trapattoni, havia jogado a última Liga dos Campeões após 30 anos de ausência. Mas Trap havia deixado o clube para treinar a Itália e quem havia assumido era o turco Fatih Terim, credenciado por quatro títulos consecutivos da Süper Lig turca e uma Copa Uefa.
Rossi estreou oficialmente logo contra a Salernitana pela Coppa Italia e marcou um gol na goleada por 5 a 0 aplicada em plena Campânia. O toscano jogava com frequência com Terim e continuou o fazendo com Roberto Mancini, que assumiu a equipe em janeiro, após uma sequência de maus resultados sob as ordens do turco. Pela Coppa Italia, o meia continuava tendo importância e participou de um dos gols do segundo jogo da final contra o Parma, fundamental para o título que acalmou o conturbado ano gigliato.
Se esta temporada havia sido turbulenta, a seguinte foi ainda mais: em pleno processo falimentar, seus craques precisavam ser vendidos (Gabriel Batistuta em 2000, Rui Costa e Francesco Toldo em 2001) e a equipe viola ia mal na Serie A. No meio da temporada, o meia pediu, juntamente a Nuno Gomes, a rescisão de contrato por não receber algumas bonificações e passou a ser visto como traidor pelos torcedores violetas. Os dois foram os primeiros a sair antes de a Fiorentina decretar falência ao fim da temporada em que terminaria rebaixada e obrigada a recomeçar do zero, na antiga Serie C2.
O meia acertou com o Como para a temporada 2002-03, mas não obteve sucesso e não conseguiu evitar a queda do clube azzurro para a Serie B. Na temporada seguinte, a transferência que daria uma guinada em sua carreira: Enrico Preziosi, dono e presidente do Como, vendeu o clube e comprou o Genoa, para onde levou consigo o atacante Nicola Caccia e o próprio Marco Rossi.
O meia destro chegou ao clube do Luigi Ferraris emprestado pelo Como e rapidamente assumiu a titularidade na equipe rossoblù. Na primeira temporada em Genoa, foi um dos artilheiros da equipe com oito gols marcados em 38 partidas, ficando apenas atrás de Sasa Bjelanovic e Diego Milito (contratado em janeiro), que ficaram com 12. Um dos gols mais comemorados por Rossi na campanha (e na vida) foi justamente um marcado contra a Fiorentina, de onde saiu brigado. Sempre que visitou Florença como adversário, Rossi foi hostilizado pelos ultras.
No fim da temporada, o Genoa expressou a vontade de contratar o meia em definitivo, mas não conseguiu concluir as negociações com o Como antes do fechamento da janela de verão. Dessa maneira, Rossi ficou vinculado aos lariani durante o restante de 2004 e só pode atuar pelos grifoni a partir de janeiro de 2005, mas não deixou de ser fundamental para a campanha. Milito e Roberto Stellone marcavam muitos gols e lideravam o time treinado por Serse Cosmi, que caminhava a passos largos para voltar a Serie A após 10 anos, mas Rossi foi seu “principal coadjuvante” a partir de janeiro.
Nos dois últimos compromissos da temporada, o mediano mostrou sua característica mais marcante: estar em todos os lugares aos quais era requisitado. Ele marcou dois gols nos jogos decisivos daquela temporada e ainda deu uma assistência para Milito anotar na última partida, na qual bastava apenas bater o rebaixado Venezia em casa para garantir matematicamente o acesso. Porém, a cúpula diretiva do Genoa, encabeçada por Preziosi, preferiu pagar a jogadores do clube vêneto para que entregassem a partida, que nada valia, constituindo mais um escândalo de manipulação de resultados no futebol local.
A trapaça foi descoberta logo após o jogo e punida com o rebaixamento do Genoa para a antiga Serie C1. As consequências foram tão severas que Franco Scoglio, ex-treinador e torcedor histórico do clube, morreu meses depois ao sofrer um infarto fulminante após discutir com Preziosi sobre os rumos do time que amava.

Sempre importante para o Genoa, Rossi chegou a anotar uma doppietta no clássico contra a Sampdoria (Getty)
Mesmo assim, Rossi permaneceu no Genoa, em prova de uma lealdade que preferiu não demonstrar quando jogava na Fiorentina. O toscano foi um dos jogadores que permaneceram no time após o rebaixamento e, assim, logo passou a se consolidar como um dos seus líderes em campo. O Grifone logo retornaria a Serie B, após apenas um ano no inferno da C1 e também não demoraria a recuperar o bom futebol demonstrado na temporada 2004-05.
Numa Serie B “enobrecida” com as participações de Napoli, Bologna e Juventus, os rossoblù coroaram o futebol eficiente aplicado pelo técnico Gian Piero Gasperini com a classificação direta para a elite junto ao Napoli, num jogo que terminou de forma emocionante. Ambos os times não precisaram passar pelos play-offs, já que terminaram 10 pontos à frente do Piacenza, quarto colocado.
Foi com Gasperini que Rossi aprendeu a se multiplicar cada vez mais em campo. O treinador improvisou o jogador, originalmente um meia que cai pelo lado direito do meio-campo, na lateral destra, no centro ou no flanco esquerdo do meio-campo e até como esterno no tridente de atacantes, mas sempre com sucesso. O sacrifício em campo e seu perfil de liderança fizeram de Marco o homem no qual Gasperson poderia confiar e entregar a faixa de capitão, que ostentou até sua aposentadoria, em 2013.
A história de Rossi pelo clube rossoblù nunca pareceu perto de acabar, na medida em que o capitão fazia temporadas cada vez mais interessantes, como se envelhecesse como o vinho. Em 2008-09, tendo parceiros como Thiago Motta, Ivan Juric e Omar Milanetto, fez o trabalho sujo para que Milito se consagrasse em seu retorno ao clube. Naquela temporada, a classificação do Genoa para a Liga dos Campeões não foi conquistada por critérios de desempate. Porém, o Vecchio Balordo voltava a disputar uma competição europeia após quase duas décadas de ausência.

Rossi decidiu se aposentar quando percebeu que não tinha mais condições de atuar no seu nível habitual de futebol (Getty)
Rossi continuou a escrever sua história vestindo rossoblù e, em 2009-10, foi o jogador mais importante do time, à frente até de Rodrigo Palacio, substituto de Milito. Naquela temporada, marcou um dos gols na fantástica vitória no Derby della Lanterna, contra a Sampdoria, e ainda deixou uma doppietta contra a Juventus, totalizando cinco gols na Serie A.
Foi difícil para o Genoa manter o alto nível de 2008-09 em meio a tantas reformulações no elenco, já que Preziosi jamais prezou pelo projeto esportivo, mas sim por lucrar com transações. Rossi, ao contrário de muitos colegas, permaneceu no time como seu pilar, sempre se desdobrando em campo para tentar elevar o seu nível. Entre 2009 e 2011, ainda ajudou os grifoni a ficarem no meio da tabela; já nos dois últimos anos de sua carreira, teve de se contentar em salvá-lo do rebaixamento e impedir que campanhas abaixo da média fossem concluídas com consequências ainda mais nefastas.
Rossi se aposentou em 2013, pouco depois de completar 35 anos, por sentir que não podia mais render no nível em que estava acostumado. Em sua trajetória pela capital da Ligúria, utilizou a braçadeira de capitão do Genoa em seis das nove temporadas e meia em que vestiu rossoblù, além de ter totalizado exatas 300 partidas pelo clube – entrando, assim, para a lista dos 10 atletas que mais vezes entraram em campo pelos grifoni. Em 2014, os genoanos homenageariam o ex-meia ao aposentar a camisa 7, imortalizada por sua dedicação dentro do gramado. Mais tarde, em 2019, o ídolo tornaria ao Vecchio Balordo para assumir um cargo na diretoria.
Marco Rossi
Nascimento: 1º de abril de 1978, em Seravezza, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Lucchese (1995-98), Salernitana (1998-2000), Fiorentina (2000-02), Como (2002-03 e 2004), Genoa (2003-04 e 2005-13)
Títulos: Europeu Sub-21 (2000) e Coppa Italia (2001)