Serie A

900 minutos em 9: 38ª e última rodada

Milito, artilheiro e principal jogador da Inter na Serie A levanta seu primeiro scudetto (Reuters)

Numa rodada totalmente desinteressante para 16 das 20 equipes do campeonato, seria decidido o título italiano. Com quase tudo definido, boa parte das equipes mandava a campo times repletos de jogadores reservas, testados com vistas para a próxima temporada. No fim das contas, é irônico que para a última rodada tenham se reservado a disputa pelo scudetto e a última vaga para a Liga dos Campeões, que deveria ser ocupada por uma equipe que nunca participou do torneio.

Na Toscana, o rebaixado Siena (19º colocado, 31 pontos) receberia a Inter (campeã, 82) e não prometia vida fácil para a equipe nerazzurra. No dia do aniversário de Massimo Moratti, presidente da Inter, outros presidentes estavam atentos aos campos: Massimo Mezzaroma, mandatário do Siena, romanista, e Luca Campedelli, dono do Chievo (16º, 44), interista. Alguns jogadores também tinham um comprometimento especial com as partidas, como Curci e Rosi, torcedores da Roma (vice-campeã, 80). Porém, só viu reais dificuldades quem assistiu a partida do Artemio Franchi, na qual uma Inter ofensiva não conseguia marcar seu gol contra os bianconeri. Em todo o primeiro tempo foram criadas mais de dez chances, entre jogadas mal concluídas ou boas finalizações, como as de Balotelli – uma delas, em voleio, explodiu no travessão. Curci também contribuía para o resultado, ao fazer atuação bem acima da (sua) média. Maccarone, Ekdal e Jajalo, do time senese, também tiveram chances de marcar sobre Júlio César.

No Bentegodi, a Roma também dominava, mas com mais ímpeto, e por pouco não chegou ao gol com Totti, que teve três ótimas oportunidades e chegou a acertar a trave. Porém, aos 39 minutos, De Rossi achou Vucinic com um bom lançamento, que o montenegrino concluiu com um chute violento para vencer Squizzi. Naquele momento, a Roma se sagrava campeã italiana, com o empate interista. O gol capolavoro do mesmo De Rossi, cinco minutos depois, poderia ser a cereja do bolo de um título inimaginado em boa parte do decorrer desta temporada e levava os quatro times para os vestiários com uma Roma virtualmente campeã. Mas a Inter tem Diego Milito, vice-artilheiro da Serie A pela segunda vez consecutiva, com 22 gols, e melhor contratação da temporada. O capitão Zanetti, com quase 37 anos e em sua melhor temporada na carreira, arrancou e deixou três marcadores para trás, apenas rolando para seu compatriota fazer o gol do título, na saída de Curci. Após o gol da Inter, a Roma desanimou, assim como a partida do Bentegodi. Em Siena, a Inter ainda teve mais boas chances, sempre com Milito, mas o jogo acabou no 1 a 0 que valeu o pentacampeonato e levou, quem diria, José Mourinho às lágrimas. Com o histórico pentacampeonato consecutivo, conseguido na Itália apenas pela Juventus dos Agnelli, na década de 30, e pelo Grande Torino dos 40, a Inter chegou ao 18º scudetto de sua história, ultrapassando o Milan (17), que havia tomado a segunda posição em 1994. Agora, o time dirigido por José Mourinho concentra suas forças na final da Liga dos Campeões, que pode valer a Tríplice Coroa para a Inter. Caso obtida, será a primeira conseguida por um clube italiano em toda a história. A Roma, por sua vez, fez um belo campeonato graças ao ótimo trabalho de Claudio Ranieri, e valorizou a conquista da Inter.

Já a Sampdoria (4ª, 67) conquistou o seu “scudetto” ao bater o Napoli (6º, 59) por 1 a 0 e alcançar a primeira classificação para a Liga dos Campeões em sua fase moderna. A Samp precisava vencer para conseguir sua classificação, enquanto o Palermo (5º, 65) precisava vencer a rebaixada Atalanta (18ª, 35) e torcer para um tropeço doriano. As duas partidas começaram tensas e parecia que a equipe atalantina estava disposta a atrapalhar a vida dos rosanero. As primeiras chances, claríssimas, do jogo vieram com Doni e Tiribocchi mas quem saiu na frente foi o Palermo. Pastore recebeu belo lançamento de Liverani e só tocou para Cavani abrir o placar. O gol, que levava o Palermo à LC, botou fogo no jogo do Marassi, onde o Napoli dominava e chegava próximo ao gol, comandado por um Quagliarella que parecia querer convencer Marcello Lippi a levá-lo para a África do Sul, mas que parava em defesas valiosas de Storari.

Porém, logo no retorno para o segundo tempo, Fabio Ceravolo, emprestado pela Reggina à Atalanta, empatou o jogo em Bérgamo com um lindo gol, que devolvou o ânimo para a Sampdoria: três minutos depois, Pazzini cabeceou para o fundo das redes uma falta batida por Ziegler, jogando o nervosismo para o lado siciliano. Dali em diante, o Napoli seguiu pressionando, mas Storari continuava em tarde fenomenal, suficiente para garantir a vitória doriana. Em Bérgamo não adiantou a blitz palermitana, que esbarrava em uma prestação inacreditável do goleiro Consigli, vencido apenas após cobrança de pênalti de Cavani, nos acréscimos. Na Samp, pode ser o fim de um cinclo, já que o diretor esportivo Giuseppe Marotta deixa o clube rumo a Juventus, provável destino do técnico Del Neri e de alguns outros jogadores do clube. Para o Palermo, não obstante a perda da quarta colocação, foi uma temporada igualmente vitoriosa, que deve ser valorizada.

Nos jogos que pouco valiam, destaque para a goleada do Milan (3º, 70), sobre a Juventus (7ª, 55), por 3 a 0, em mais uma boa partida e doppietta de Ronaldinho. A partida, com tons melancólicos, marcava várias despedidas: no lado rossonero, Leonardo, Favalli e Dida. No bianconero, Zaccheroni, Cannavaro e, talvez, Buffon e Del Piero. Com dois erros da Juve, Antonini e Ronaldinho abriram o placar ainda no primeiro tempo, frente a uma Juve que perdia os seus, com Iaquinta. Na segunda etapa, Ronaldinho fechou a conta, depois que a zaga juventina não conseguiu afastar cruzamento de Zambrotta. No fim do jogo, Leonardo foi levado ao centro do gramado pelos jogadores, para ser ovacionado pela torcida, que já exibia faixas de apoio ao treinador durante a partida e outras, criticando duramente a administração de Silvio Berlusconi. No outro amistoso do sábado, a Lazio (12ª, 46) aplicou 3 a 1 na Udinese (15ª, 44) e encerrou uma temporada de calvário com Edy Reja falando em classificação para a Liga Europa na próxima temporada. Com muitos reservas em campo, destaque para o 29º gol de Di Natale, que finalizou a temporada como artilheiro da Serie A, sete gols a frente do vice, Milito.

O Bari (10º, 50) concluiu sua boa reestreia na Serie A com uma vitória por 2 a 0 sobre uma Fiorentina (11ª, 47) que começara a temporada sonhando em fazer bom papel na LC e conseguir mais uma classificação para o torneio via Serie A. No entanto, tudo começou a degringolar com a eliminação nas oitavas europeias, para o Bayern, e acabou sem motivos de festa e muita incerteza com a derrota no San Nicola, em que marcaram Stellini (primeiro gol na Serie A com 36 anos) e Rivas. Entre os times que subiram nesta temporada, o Parma (8º, 52) foi o que teve o melhor desempenho. Sob a batuta de Franceso Guidolin, que está de saída e deve ir, muito provavelmente, para a Udinese, o time se superou e fechou a temporada goleando o Livorno (20º, 29) por 4 a 1, alcançando a oitava posição para entrar diretamente nas oitavas da Coppa Italia. Os visitantes foram a campo com um onze inicial repleto de jovens jogadores, que já começam a serem testados para a Serie B, mas ofereceram pouca resistência para o time parmiggiano. Lanzafame fuzilou o goleiro Bardi com dois chutaços, abrindo caminho para os outros gols, marcados por Morrone, ex-Livorno, e Crespo, que fazia seu primeiro desde seu retorno em gialloblù, em janeiro. Danilevicius, o mais perigoso amaranto em campo, teve algumas chances e acabou descontando para o Livorno.

Na Sicília, em ouro jogo que também não valia muita coisa, o Catania (13º, 45) venceu o Genoa (9º, 51) por 1 a 0 e encerrou com uma vitória a melhor campanha de sua história, chegando a cota de 45 pontos. Os méritos da salvezza vão para o ótimo trabalho de Sinisa Mihajlovic, que surge como um dos técnicos mais promissores do cenário italiano atualmente. Também para Maxi López, contratado em janeiro após uma boa passagem pelo Grêmio e artilheiro do time, com 11 gols em quatro meses. Fácil imaginar que se o argentino, que relançou sua carreira em solo europeu, estivesse no clube desde o início da Serie A, a salvezza viria muito mais cedo. Assim como a Fiorentina, o Genoa encerra sua temporada decepcionante sem nem ao menos garantir a oitava posição, que evitaria um jogo dos turnos preliminares da Coppa Italia. Na Sardenha, Cagliari (14º, 44) e Bologna (17º, 42) também cumpriram tabela, em um jogo agradável de se ver. Com muitos reservas em campo, os dois times pouparam seus goleiros (Marchetti e Viviano) e o 1 a 1, com gols do experiente Adaílton e do jovem Ragatzu, ficou de bom tamanho, já que cada equipe dominou um tempo.

Para resultados, escalações, classificação e estatísticas da 38ª rodada, clique aqui.

Seleção da 38ª rodada
Storari (Sampdoria); Zanetti (Inter), Lucchini (Sampdoria), Samuel (Inter), Antonini (Milan); De Rossi (Roma); Balotelli (Inter), Lanzafame (Parma), Ronaldinho (Milan); Pazzini (Sampdoria), Milito (Inter).

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