único jogo em que a Itália marcou algum gol. De Rossi deixou o dele (AP Photo)
“Se dependesse só de mim, estaria pronto para amanhã de manhã assinar um contrato por mais cinco, dez anos, talvez até o fim de 2030. Não me imagino com outra camisa”. No final de 2007, assim Daniele De Rossi respondeu às especulações que o colocavam na mira de gigantes do futebol internacional. Até hoje, pelo menos, a promessa está cumprida. O contrato de Capitan Futuro vai até 2012 e já ultrapassou o teto salarial do clube, algo que só os romanos de casa conseguem. Como bom filho da Cidade Eterna, De Rossi possui lealdade e carisma muita vezes testados em campo em contraste com sua forte personalidade e com a vontade dentro de das quatro linhas. O que já foi suficiente para convertê-lo em ídolo capitolino.
Atacante da amadora Ostiamare, aos 14 anos foi levado para a Roma por seu pai, Alberto De Rossi, técnico dos allievi – a categoria sub-18 no futebol da Itália. Ocasião perfeita para pipocarem os boatos de nepotismo, que não demoraram a sumir. Quatro anos depois, o agora meio-campista já tinha quatro jogos e dois gols pelo time principal, algo surpreendente para um jogador da idade no cenário italiano. Os gols, aliás, têm marcado sua carreira. Logo na estreia pela Squadra Azzurra, nas Eliminatórias para a Copa de 2006, De Rossi precisou de apenas quatro minutos para decretar a vitória do time contra a Noruega.
Na temporada 2003-04, De Rossi já era figura comum na Roma, com apenas 19 anos. Sob a batuta de Fabio Capello, começou a jogar mais recuado até ganhar mais confiança para assumir de vez o meio-campo giallorosso, no ano seguinte. E foi essencial substituindo Emerson, para ajudar o time a se livrar do rebaixamento nos meses traumáticos que se seguiram à saída do técnico para a Juventus. Se não conseguiu se firmar com Rudi Völler nas primeiras rodadas, logo agarrou as oportunidades com Luigi Del Neri até se transformar em homem de confiança de Bruno Conti, na espinhosa reta final que atingiu a salvezza com apenas três pontos de distância.
Com a chegada de Luciano Spalletti, no verão de 2005, De Rossi escolheu a camisa 16 que usa até hoje e se efetivou como titular absoluto, responsável direto pela marcação no 4-1-4-1 do técnico toscano (que posteriormente viraria um 4-2-3-1 com o recuo de um entre Pizarro e Aquilani). Liderança efetiva dentro do elenco, usou a faixa de capitão pela primeira vez contra o Middlesbrough, em março de 2006, pela Copa da Uefa. Na partida seguinte, o romanista foi centro das atenções em todo o mundo por marcar um gol de cabeça contra o Messina depois de ajeitar a bola no braço. O gol foi validado por Mauro Bergonzi, mas o próprio De Rossi pediu a anulação e venceu o prêmio fair play da Uefa naquele ano. Para coroar aquela temporada, foi ele quem guiou o time na sequência de 11 vitórias seguidas na Serie A, recorde que a Inter bateria dois anos depois. Nestas partidas, o capitão Totti esteve fora de seis. Não à toa, foi escolhido o melhor jogador jovem da competição.
Ainda pela Roma, De Rossi provou sua inteligência tática e domínio da leitura do jogo ano após ano, à medida que a carreira de Totti vai chegando a seu fim. Em Roma, o capitão exerce sempre uma influência notável e a faixa já tem dono depois que o camisa 10 deixar o futebol: um feito marcante, já que a última vez que um romano a herdou de um conterrâneo foi em 1934, quando Attilio Ferraris a transmitiu para Fulvio Bernardini. Nos últimos anos, De Rossi ganhou uma aura tão impenetrável na Cidade Eterna que a torcida praticamente relevou o pênalti isolado por ele nas quartas-de-final da Liga dos Campeões, contra o Manchester United. Naquele abril de 2008, os Red Devils venceriam por 1 a 0, placar exato para eliminar a Roma pela segunda vez seguida, no “pior episódio da minha carreira”, segundo o próprio jogador. Carreira que às vezes acaba prejudicada por excessos de vontade, como nas partidas mais complicadas a se disputar longe de sua torcida. Um exemplo claro é a vitória no último dérbi com a Lazio, no qual Claudio Ranieri sacou seus dois romanos no intervalo e conseguiu fazer o time ficar mais calmo e conseguir virar o placar.
Com os nervos no lugar, porém, é possível que De Rossi realmente esteja entre os cinco melhores meio-campistas do mundo, como garantiu Marcello Lippi em 2008. Na África do Sul, já com mais de 50 jogos com a camisa azzurra nas costas, o jogador terá sua maior prova de fogo na seleção em que estreou em 2004, logo depois da vitória no Europeu Sub-21 e do bronze olímpico em Atenas. Na Copa de 2006, foi expulso na segunda rodada por uma cotovelada em McBride e ficou suspenso até a final, na qual entrou no lugar de Totti para converter um dos pênaltis para o tetracampeonato. No grupo de Roberto Donadoni que caiu para a Espanha na Euro 2008, De Rossi herdou até mesmo a camisa 10 de Totti, número que manteve mesmo com Lippi, na Copa das Confederações. Foi um dos poucos italianos a se salvar no torneio. Em junho, será outra vez fundamental para o treinador de Viareggio.
Daniele De Rossi
Nascimento: 24 de julho de 1983, em Roma
Posição: meio-campista
Clubes: Roma (2001-hoje)
Seleção italiana: 52 jogos, 8 gols
Títulos: 2 Coppa Italia (2007, 08), 1 Supercoppa (2007), 1 Europeu Sub-21 (2004), 1 Copa do Mundo (2006)