
para a Lega Pro, clube lombardo corre risco real de desaparecer (Gazzetta di Mantova)
Com o empate em 2 a 2 que selou seu rebaixamento, o Mantova transferiu a luta pela sobrevivência: do terreno de jogo para os gabinetes. Afogado em dívidas próximas de 13 milhões de euros, sem perspectivas de novos investimentos de sua propriedade – capitaneada pelo presidente Fabrizio Lori, cujas empresas estão sob risco de moratória – e com a compreensível dificuldade de se achar um parceiro ou novo comprador, o clube biancorosso corre seríssimo risco de desaparecer.
Crônica de uma morte anunciada
A permanência na Serie B já seria um sonho difícil. Nos bastidores, o Mantova já estava condenado há algum tempo. A Nuova Pansac, empresa de seu presidente e única proprietária do pacote acionário do clube, entrou em crise financeira e deixou de pagar os salários de seus trabalhadores, espalhados em filiais pela Itália. Após ser vitima de protestos e ameaçada de intervenção, a empresa começou a saldar as pendências com seus funcionários, em janeiro.
Mas ao que tudo indica, os acordos com os funcionários da Nuova Pansac foram feitos em detrimento dos dependentes e jogadores do Mantova, onde os pagamentos já estavam atrasados desde outubro passado. Daí em diante, o que se viu foi um festival de promessas seguidas de adiamentos. No final de abril, já em situação desesperadora na tabela, o Mantova foi considerado, ao lado do Gallipoli, o clube em maior atraso de pagamentos da Serie B. Seus jogadores, em silêncio à imprensa, ameaçavam processar o clube.
Mesmo em grande desvantagem técnica e estrutural diante de boa parte dos clubes da Serie B, os jogadores biancorossi foram protagonistas de um primeiro turno que deixou o Mantova em condições de reverter a história. Já o segundo, todo disputado numa atmosfera de terra arrasada, foi de menor performance. Abalado, o time desperdiçou pontos preciosos em casa, como no empate em confronto direto com o Modena e no jogo sem gols contra um Torino completamente dominado no estádio Danilo Martelli.
Nos bastidores, Lori seguia com sua política de promessas e adiamentos, explicada com comunicados à imprensa. A propriedade também dizia negociar com interessados no pacote societário do clube e clamava para que a cidade “se unisse em prol do Mantova”.
O levante da torcida – e do próprio time
Estava claríssimo que, se dependesse do empresariado local, o Mantova morreria em meio à indiferença de quem espera por um bom negócio a baixo preço. Leia-se: a aquisição do título esportivo pós-falência, possivelmente em um campeonato amador. Por isso, a própria torcida organizou um movimento de acionariado popular, visando a construção de um capital sólido para o clube. A proposta, acessível através da Gazzeta di Mantova e do Facebook, é de que cada torcedor disponibilize mil euros para o clube, por um período de quatro anos. Uma demonstração de pensamento a longo prazo, mas também um possível indício de que a esperança nos resultados do campo já eram limitadas.
Em Ancona, na última rodada da Serie B, foi impossível parar Mastronunzio. O artilheiro do time da casa marcou duas vezes no empate por 2 a 2 e o Mantova estava rebaixado. Era o final de uma era vitoriosa, que viu o Mantova reestrear na Serie B depois de 32 anos de ausência e durar cinco anos na serie cadetta. E uma mácula definitiva no currículo de Fabrizio Lori, presidente que havia transformado o Mantova de um clube decadente: de perdido no meio de outros tantos da antiga Serie C2 em equipe que ficou apenas a um gol de distância da promoção à Serie A, em 2006.
Na triste história atual do Mantova, a dor uniu jogadores e torcida. Mesmo sendo a parte mais prejudicada pelos maus humores financeiros do clube, a equipe resolver renunciar a parte de seus salários para fazer um apelo à cidade e pedir que o Mantova seja salvo da falência:
Ao final de uma temporada conturbada, na qual fomos responsáveis por um insucesso em campo, nós, jogadores, queremos dar um último sinal de identificação com as cores sociais e tentar garantir um futuro à Associazione Calcio Mantova. Pela manhã, a equipe se dispôs a renunciar de uma parte consistente dos pagamentos, diminuindo, assim, o montante dos débitos societários, com o fim de permitir a inscrição do Mantova Calcio no próximo campeonato profissional. A esperança é de que, em sequência ao nosso gesto, venha uma concreta e solícita resposta de nosso Presidente, de grupos empreendedores e de todas as instituições mantovanas – prefeitura, em primeiro lugar. O objetivo é o de não fazer que uma praça importante, que merece outros cenários, afunde-se no abismo e no anonimato dos campeonatos amadores.
Corrida contra o tempo
30 de junho é a data limite para que o Mantova salde suas dívidas, ou ao menos dê garantias de que poderá fazê-lo. A cessão societária, que poderia resolver o problema, está cada vez mais fora de questão. O acionariado popular ainda é de baixa adesão e, mesmo que fosse de alta, não conseguiria dar ao clube uma solução imediata para seus problemas mais urgentes. Tudo indica que o Mantova fará parte de uma estatística cruel que, nos últimos dois anos, viu quatro clubes – Spezia, Treviso, Avellino e Pisa – falirem após o rebaixamento para a Lega Pro. Com a mesma fé da fatídica partida de Ancona, seus torcedores esperam.