Um baixinho que infernizava defesas e que marcou época no futebol italiano. A descrição poderia muito bem cair como uma luva para descrever a marcante passagem de Diego Maradona no Napoli. Muito antes do Pibe brilhar em solo italiano, porém, outro estrangeiro não se deixou levar pela pouca estatura e fez história com um faro para gols mais do que apurado. Rápido e letal, o sueco Kurt Hamrin se destacou vestindo as camisas de Milan e, principalmente, Fiorentina na década de 1960.
Precoce, o atacante viu sua carreira no futebol profissional deslanchar muito cedo, aos dezesseis anos. O início no AIK, um dos times mais tradicionais da Suécia, entretanto, não foi dos melhores. A pouca idade fez com que o pequeno atacante tivesse poucas chances de atuar em seus primeiros anos no futebol. Sua maior oportunidade aconteceria apenas em sua terceira temporada como profissional. Nas 22 vezes em que esteve dentro de campo em 1953, marcou 15 vezes no Campeonato Sueco, atraindo toda a atenção da mídia local.
A idolatria em sua terra natal, então, não demorou a acontecer: com média de gols impressionantes, chegou a marcar 13 vezes em apenas 12 partidas disputadas em sua última temporada no AIK. Ficou conhecido como um dos atacantes mais letais de toda a Europa devido às sequenciais artilharias que conquistava. Todo esse talento chamou a atenção de um dos grandes centros do futebol e a transferência para a Juventus em 1956 se tornou uma das maiores negociações da época.
Toda a expectativa criada pela chegada de Hamrin à Vecchia Signora, no entanto, foi por água abaixo na única – e decepcionante – temporada na qual o sueco fez parte do elenco bianconero. Marcando apenas oito vezes em todos os 23 jogos que fez pela Juve, Hamrin não conseguiu fazer jus à fama que havia trazido da Suécia e logo foi vendido para o Padova, onde daria início a uma reviravolta em sua carreira.
Cheio de desconfiança, o baixinho sueco aproveitou a falta de holofotes em Pádua para voltar a brilhar como nos tempos de AIK. Com 20 gols feitos nos 32 jogos que disputou com o uniforme biancorosso, Hamrin foi o principal responsável pela melhor campanha do Padova na Serie A – a terceira colocação na temporada 1957-58.
A retomada do sucesso na Itália foi coroada com a ótima participação do atacante na Copa do Mundo de 1958, na Suécia. Com quatro gols feitos no Mundial, Hamrin foi um dos grandes destaques da campanha dos anfitriões até a final, perdida para o Brasil de Pelé. Todo esse sucesso reacendeu o interesse dos grandes times italianos por seu futebol. Colhendo os frutos da boa temporada como atacante do Padova, o sueco acertou então sua transferência para a Fiorentina.
E foi no comando do ataque da Viola que Hamrin chegou ao ápice de sua carreira. Em nove temporadas defendendo a equipe de Florença o sueco fez nada menos do que 208 gols nas 362 partidas das quais participou – incluindo a marca de cinco em uma única partida, na goleada por 7 a 1 contra a Atalanta, em Bérgamo, em 1964. Até hoje, Hamrin é o único jogador a ter anotado tantos fora de casa em um jogo pela Serie A. Não à toa, é o maior artilheiro da equipe gigliata. Coroando sua passagem, foi fundamental para os títulos da Recopa Europeia de 1961 e da Coppa Italia no mesmo ano.
Hamrin ainda voltaria a vencer o torneio nacional em 1967, além de ter levado a Fiorentina ao título da Copa Mitropa em 1966. Os títulos conquistados e a excelente performance na hora de decidir jogadas fizeram do sueco um dos grandes ídolos da história da Fiorentina. Venerado, o atacante só deixou Florença em 1967, quando foi para Milão ganhar os títulos mais importantes de sua carreira.
Com fama de artilheiro e com o peso de ser um dos melhores atacantes do mundo, Hamrin não decepcionou ao chegar desembarcar no Milan. Apesar de não ter feito tantos gols nas duas temporadas em que foi rossonero, o sueco conseguiu finalmente levar uma equipe ao scudetto. Logo em sua primeira temporada em Milão ajudou o Milan a acabar com um jejum de cinco anos sem títulos na Serie A. Sua conquista mais importante, porém, viria apenas em sua segunda e última temporada no clube.
Jogando ao lado de Prati e Rivera, Hamrin foi um dos principais nomes na segunda conquista rossonera na Copa dos Campeões da Europa, marcando inclusive um dos gols do time nas semifinais contra o Manchester United. Na final contra o Ajax, apesar de não ter marcado gols, foi declarado um dos melhores em campo, consagrando seu nome na história do Milan. O título e os elogios, porém, não foram suficientes para manter o atacante sueco em Milão. Já em final de carreira, Hamrin partiu para o Napoli, último time que defendeu na Itália.
Já sem a mesma condição dos anos anteriores, o atacante participou de apenas 34 jogos nos dois anos em que foi azzurro – marcou apenas cinco gols neste meio-tempo. Claramente fora de forma, deu uma pausa na trajetória como atleta e se tornou técnico da Pro Vercelli. Em seguida, deixou a Itália e decidiu encerrar sua carreira no seu país, pelo IFK Estocolmo, da terceirona sueca. Nos 10 jogos que fez em seu último ano como profissional, marcou cinco vezes, dando adeus ao futebol em 1972.
Após se aposentar, Kurt seguiu vivendo na Toscana e passou a exercer a função de olheiro do Milan, cargo no qual ficou durante toda uma década. Hamrin faleceria na Florença que o adotou, aos 89 anos, em 2024. Àquela altura, era o único remanescente da final da Copa de 1958.
Atualizado em 4 de fevereiro de 2024.
Kurt Roland Hamrin
Nascimento: 19 de novembro de 1934, em Estocolmo, Suécia
Morte: 4 de fevereiro de 2024, em Florença, Itália
Posição: atacante
Clubes como jogador: AIK (1951-55), Juventus (1956-57), Padova (1957-58), Fiorentina (1958-67), Milan (1967-69), Napoli (1969-71) e IFK Estocolmo (1972)
Títulos como jogador: Recopa Uefa (1961 e 1968), Coppa Italia (1961 e 1966), Copa Mitropa (1966), Serie A (1968) e Copa dos Campeões (1969)
Clubes como treinador: Pro Vercelli (1971-72)
Seleção sueca: 32 jogos e 16 gols