Durante a década de 1990, o Brasil começou a se especializar na prática de revelar zagueiros de grande nível para o futebol internacional. A tradição recente, que perdura até hoje, teve início com Aldair, que desenvolveu sólida carreira na Roma durante 13 anos. A lealdade e personalidade, além do bom futebol, deram a Pluto o status de ídolo do clube.
Antes de passar a integrar o elenco romanista, Aldair integrou o time profissional do Flamengo entre 1985 e 1989, ganhando projeção internacional e transferindo-se para o Benfica, no fim da década. Na equipe rubronegra, capitaneada por Zico, começou a demonstrar elegância, tranquilidade e garra acima da média e foi campeão do campeonato Carioca e do Brasileirão. 180 partidas depois da estreia, foi negociado com o Benfica, para substituir seu ex-companheiro Mozer, vendido ao Olympique de Marseille. Sob comando de Sven-Göran Eriksson, ele foi campeão português e vice da Liga dos Campeões – parou no Milan de Sacchi, Costacurta, Maldini, Rijkaard, van Basten e Gullit.
A ascensão meteórica na carreira fez com que Aldair, já integrante da seleção brasileira, fosse convocado por Sebastião Lazaroni para a Copa do Mundo de 1990. Assistiu do banco de reservas à eliminação para a Argentina nas oitavas de final do Mundial. O zagueiro que nem jogou a competição de seleções, entretanto, permaneceu na Itália: foi a última aquisição do presidente Dino Viola. A Roma comprou Aldair por aproximadamente 3,75 milhões de euros, em valores atuais.
Em Roma, ganhou o apelido de Pluto, pela semelhança com a personagem da Disney, e viveu os melhores momentos da carreira. O primeiro título em giallorosso foi conquistado na temporada de seu debute, ainda sem Zago e Cafu, mas com Berthold e Carboni. Na Coppa Italia, a Roma eliminou o Foggia, Genoa, a Juventus de Roberto Baggio e o Milan “invencível”, que foi derrotado graças a gol contra de Van Basten. Na decisão contra a Sampdoria campeã italiana,com Mancini e Vialli, vitória no Olímpico por 3 a 1 e empate em 1 a 1, fora. Nem mesmo o gol contra de Aldair na partida de volta tirou o brilho do brasileiro no título, o único na década de 90. No ano seguinte, a Roma foi freada na Copa Uefa pela Inter de Berti: o marcador agregado na final foi de 2-1 para os nerazzurri.
Mesmo com a fase negativa vivida por uma Roma sem títulos, Aldair mantinha a titularidade com maestria. Por isso, foi convocado por Carlos Alberto Parreira para o lugar de Mozer, machucado às vésperas da Copa do Mundo de 1994. Pluto formou a zaga do tetra com Márcio Santos após lesão de Ricardo Rocha na estreia do Mundial. O setor defensivo do Brasil foi impecável na competição – levou apenas três gols – e Aldair acabou integrando a seleção da Copa.
O senso de posicionamento e marcação para reter a bola no contra-ataque adversário dava o suporte defensivo necessário para que Cafu, contratado em 1996, apoiasse bastante. Não era incomum ver Aldair, já capitão da equipe romana, “brincando” com a bola na zaga para sair da marcação e sair jogando com a bola dominada. A chegada de Zdenek Zeman em 1997-98 fez com que a Roma ficasse mais vulnerável defensivamente, por causa do esquema desbalanceado do treinador, e Aldair acabava tendo dificuldades demais. A idade também ia chegando e o zagueiro perdia velocidade. Perdeu, também, a faixa de capitão, cedida voluntariamente para Francesco Totti, que começava a se tornar o principal jogador da equipe.
Pela seleção brasileira, o zagueiro ainda venceu a Copa América em 1997 e foi vice-campeão mundial em 1998, antes de anunciar a aposentadoria em 1999. No entanto, Pluto teria mais algumas chances em amistoso e foi convocado para jogos das eliminatórias sul-americanas de 2000. A volta, no Maracanã, foi uma lástima: falhou grotescamente no gol do Uruguai, em um empate por 1 a 1, e decretou definitivamente o fim de uma era com a camisa amarela.
Na Roma, as contratações de Fabio Capello e de Walter Samuel deram mais solidez à defesa, mas fizeram com que Pluto começasse a esquentar o banco de reservas. Na temporada do terceiro scudetto romanista, em 2000-01, por exemplo, ele fez apenas 15 partidas da Serie A, enquanto o argentino participou de 31.
Em 2002, aos 36 anos, chegou a ouvir o então presidente Franco Sensi dizer que era velho demais para continuar no elenco. Aldair se irritou e tentou provar dentro de campo que ainda era capaz de continuar no time ao fazer 17 jogos na temporada.
Mas o fim estava mesmo próximo. Ao fim da temporada de 2003, no dia 2 de junho, Aldair fez sua despedida da Roma. O Aldair Day levou 40 mil espectadores ao Olímpico. A renda de 492 mil euros foi doada ao Fome Zero. Para homenagear os 13 anos de serviços prestados aos giallorossi, foram convidados atletas como Dunga, Leonardo e Serginho; isso, claro, além de jogadores da Roma como Cafu, Candela, Balbo, Totti, Giannini e Bruno Conti. O jogo acabou empatado em 3 a 3; Pluto marcou duas vezes e ouviu elogios de Capello, que disse que ele foi um dos defensores mais completos com quem trabalhou. Aldair foi ovacionado pelos tifosi em sua volta olímpica na última de suas 415 partidas com a camisa da Roma.
De saída da Roma após 13 anos, Aldair passou pela Serie B em 2003-04 e encerrou a carreira no Genoa. O jogador repensou a aposentadoria em 2005, quando atendeu um pedido de sua esposa para defender o Rio Branco, do Espírito Santo, por apenas dois jogos – o suficiente para ganhar a segundona estadual.
Em 2007, o amigo Massimo Agostini o convidou para jogar pelo Murata, de San Marino, onde atuou até ficar perto de completar 44 anos de idade. Por lá, ainda faturou dois troféus e disputou fases preliminares da Champions League. Aposentado, o baiano passou a jogar futevôlei pelo Flamengo, mas nunca abandonou a Roma. Volta e meia concede entrevistas com seu italiano peculiar e dá seus pitacos sobre os giallorossi.
Aldair Nascimento dos Santos
Nascimento: 30 de novembro de 1965, em Ilhéus (BA)
Posição: zagueiro
Clubes: Flamengo (1985-89), Benfica (1989-90), Roma (1990-2003), Genoa (2003-04), Rio Branco-ES (2004-05) e Murata (2007-09)
Títulos: Campeonato Carioca (1986), Campeonato Brasileiro (1987), Campeonato Português (1989), Copa América (1989 e 1997), Supertaça Cândido de Oliveira (1989), Coppa Italia (1991), Serie A (2001), Copa do Mundo (1994), Bronze Olímpico (1996), Copa das Confederações (1997), Supercopa Italiana (2001), Série B do Campeonato Capixaba (2005), Copa Titano (2008) e Campeonato Sanmarinês (2008)
Seleção brasileira: 81 jogos e 3 gols
o Aldair jogando bola era um monstro.
saudades de ídolos como ele, Mèxes podia ser o próximo agora fez a cagada de ir para o Milan e será odiado pelos tifosi gialorossi. '-'
Aldair não pode ser esquecido.
Obrigado pela matéria.