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Esforçado, Lionel Scaloni construiu trajetória no futebol italiano no fim de sua carreira

Antes de se tornar o homem que tirou a Argentina do seu mais incômodo jejum de títulos e, ainda por cima, lhe dar o tão sonhado tricampeonato mundial, Lionel Scaloni foi um lateral-direito esforçado tecnicamente, razoável no apoio, potente fisicamente e dono de um bom poder de finalização. Com tais características, marcou época no Deportivo La Coruña e, já no ocaso da carreira, foi opção de banco para Lazio e Atalanta, na Serie A.

Nascido em Pujato, cidade localizada a cerca de 40 km de Rosario, Lionel começou no esporte graças a seu pai, Ángel, que treinava o pequeno Matienzo de Pujato. Foi no clube local, guiado por seu rígido progenitor, que o lateral desenvolveu a disciplina que lhe acompanharia pelo restante da carreira. El Toro, como ficou conhecido pela raça e pela força física, logo chamou a atenção do Newell’s Old Boys e ingressou nas categorias de base dos leprosos.

Scaloni passou pouco tempo no seu time do coração, mas conseguiu estrear profissionalmente pelo Newell’s, em 1995. No ano seguinte, foi vendido ao Estudiantes La Plata, onde se destacou como um ala direito aguerrido e capaz de marcar gols – inclusive com a perna canhota. Por isso, apesar dos resultados medíocres da equipe, entrou no radar de José Pékerman e começou a ser convocado para a seleção sub-20 da Argentina.

Pela formação juvenil albiceleste, Scaloni foi campeão mundial, em 1997, fazendo parte de uma geração que contava ainda com nomes como Walter Samuel, Leandro Cufré, Esteban Cambiasso, Pablo Aimar e Juan Román Riquelme. Lionel, vale salientar, teve papel fundamental na campanha do título sub-20, já que foi o autor do primeiro gol da vitória por 2 a 0 sobre o Brasil, nas quartas de final.

O desempenho na seleção abriu as portas do futebol europeu para Scaloni. Em janeiro de 1998, antes mesmo de completar 20 anos, o lateral foi adquirido pelo Deportivo La Coruña, da Espanha. Lionel permaneceu no clube até 2006 e acabou sendo peça importante dos blanquiazules em seu melhor período em toda a história. Durante essas temporadas, teve a companhia de ícones estrangeiros, como Roy Makaay, Fran, Juan Valerón, Sergio, Joan Capdevilla, Diego Tristán, Víctor Sánchez, Manuel Pablo, Noureddine Naybet, Jacques Songo’o, Pauleta, Jorge Andrade e, também, dos brasileiros Djalminha, Mauro Silva, Donato (naturalizado espanhol), Flávio Conceição, Luizão, César Sampaio, Emerson e Renaldo.

Assim que chegou, Scaloni recebeu a camisa de número 12 – que manteria durante toda a sua passagem. Depois de meses de resultados escassos sob as ordens do técnico José Manuel Corral, o argentino pode encontrar Javier Irureta, que potencializaria o seu futebol e elevaria o Depor à condição de postulante a títulos. Ainda assim, em quase toda a sua trajetória no Riazor, teve de revezar com Manuel Pablo no flanco direito.

Scaloni foi contratado para dar experiência à Lazio, mas demorou para engrenar no futebol italiano (Getty)

Ao longo da gestão de Irureta, o Deportivo conseguiu o seu primeiro título de La Liga e ainda foi vice-campeão espanhol em duas ocasiões – além disso, faturou uma Copa do Rei e duas Supercopas da Espanha. Os galegos puderam estrear na Champions League e fizeram bonito em suas participações. Nelas, promoveram diversos duelos acirradíssimos com Juventus e Milan, levando a melhor na maior parte deles.

Em 2003-04, a propósito, o time de Scaloni chegou até a semifinal após eliminar a dupla italiana, e sendo capaz de reverter um 4 a 1 aplicado pelo Milan em San Siro, numa noite de show de Kaká. Com 4 a 0 no Riazor, se classificou para enfrentar o Porto de José Mourinho, que se sagraria vitorioso na competição. Nessa época, El Toro era titular, mas uma lesão lhe tirou do jogo de volta. Foi durante esse período, aliás, que Lionel ganhou as suas primeiras oportunidades na seleção principal da Argentina. Marcelo Bielsa lhe fez estrear, mas a consolidação chegou com Pékerman, que assumiu a albiceleste em 2004.

Em bom momento no Deportivo e já rodado na seleção, o lateral se viu em maus lençóis quando, no verão de 2005, Irureta teve um ano abaixo das expectativas e encerrou a sua exitosa passagem pela Galícia. Joaquín Caparrós, seu substituto, não confiava em Scaloni, ainda que ele utilizasse a faixa de capitão de vez em quando ou até quebrasse um galho como zagueiro e volante: lhe relegou à reserva. Assim, em janeiro de 2006, o argentino pediu para deixar o Riazor, no intuito de salvaguardar sua vaga na Copa do Mundo. O clube atendeu ao seu pedido e, após 274 aparições pelos blanquiazules, Lionel se transferiu para o West Ham.

Na Inglaterra, Scaloni teve minutagem suficiente para que Pékerman decidisse convocá-lo para o Mundial no lugar de Javier Zanetti, surpreendentemente descartado. El Toro foi reserva de Nicolás Burdisso e atuou apenas nas oitavas de final, contra o México. Aquela, inclusive, seria sua última aparição pela albiceleste – que foi eliminada na fase seguinte pela Alemanha, a anfitriã.

Após a Copa do Mundo, o lateral acertou com o Racing Santander e, como titular, ajudou os verdiblancos a terem uma campanha tranquila em La Liga. No entanto, a troca no comando técnico – de Miguel Ángel Portugal por Marcelino, confirmada ao fim da temporada – abreviou a sua passagem pela Cantábria. A custo zero, Scaloni assinou contrato com a Lazio.

Ao longo de seis anos e meio de futebol italiano, o lateral argentino teve raras chances como titular (Getty)

Àquela altura, a Lazio passava por um período de readequação de realidade. Anos antes, a agremiação havia atingido o seu auge, com direito a títulos nacionais e europeus, mas ficou perto da falência: só se salvou porque Sergio Cragnotti foi obrigado a vender suas ações e Claudio Lotito apareceu para adquirir a cota majoritária num negócio parcelado. Logo depois, o envolvimento da equipe no escândalo Calciopoli atrasou os planos de redenção.

Embora tenha precisado lidar com a dedução de pontos, a Lazio conseguiu se classificar para a Champions League de 2007-08. Scaloni foi adquirido para adicionar experiência ao elenco e até recebeu chances consideráveis do técnico Delio Rossi, sendo mais frequentemente utilizado como zagueiro – Valon Behrami era o preferido do comandante na lateral direita. Porém, a experiência não deu muito certo e Lionel foi emprestado por 18 meses ao Mallorca.

Em sua volta à Espanha, o jogador argentino nunca foi titular absoluto: o técnico Gregorio Manzano costumava fazer um rodízio entre ele e Josemi. Scaloni ajudou o Mallorca a ficar no meio da tabela de La Liga em suas duas temporadas nas Ilhas Baleares e, em 2009, se despediu dos bermellones para retornar à Lazio.

Aos 31 anos e sem o mesmo vigor físico de outrora, recebeu pouquíssimas chances de Davide Ballardini e Edoardo Reja em 2009-10 e 2010-11 – ainda assim, sem sequer entrar em campo, celebrou a conquista da Supercopa Italiana de 2009. Em 2011-12, a sua situação foi semelhante, mas problemas físicos do titular Abdoulay Konko lhe permitiram ter maior minutagem na reta final da Serie A.

Scaloni agradou Reja na hora da emergência e virou curinga da defesa nas últimas rodadas, chegando até a substituir Stefan Radu na lateral esquerda. Nesse período, o argentino foi expulso num dérbi com a Roma (concluído com triunfo celeste, para sua sorte) e também forneceu duas assistências. A seu modo, ajudou a Lazio a ser quarta colocada e se classificar para a Europa League.

Scaloni foi reserva da Atalanta, última equipe de sua carreira (Getty)

Essa contribuição não foi suficiente para que Lionel garantisse um papel de maior destaque em 2012-13. Vladimir Petkovic substituiu Reja e rapidamente relegou o argentino à condição de esquentador de banco de reservas. Dessa forma, em janeiro de 2013, Scaloni encerrou sua passagem pela Lazio com 67 aparições e um gol marcado – em derrota por 3 a 1 sobre o Parma, na Serie A. O seu destino foi a Atalanta, que brigava na parte inferior da tabela.

Na Dea, Scaloni foi utilizado a conta-gotas. Ao longo de duas temporadas e meia, realizou somente 17 partidas, sendo 13 como titular – quase todas para substituir algum colega que sofria com problemas físicos. Sendo mais importante nos bastidores do que em campo, o argentino participou de três campanhas de permanência da Atalanta na elite, atingindo o objetivo nas gestões de Stefano Colantuono e de Reja, seu velho conhecido.

Scaloni anunciou sua aposentadoria em 2015, aos 37 anos, e se tornou olheiro da Atalanta. A experiência nesta função foi breve e, pouco depois, Lionel se juntou ao estafe de Jorge Sampaoli: foi seu auxiliar no Sevilla e na seleção argentina que disputou a Copa do Mundo de 2018. Após a queda da albiceleste, o ex-lateral teve rápida passagem pela equipe sub-20 do país e, como seu trabalho agradou, foi alçado ao posto de interino do time principal.

De forma ainda mais inesperada, Scaloni agradou a Associação de Futebol Argentina (AFA) em seus primeiros jogos pela seleção principal: as convocações de jovens e os bons resultados fizeram os dirigentes apostarem no ex-lateral como técnico na Copa América de 2019. Eliminado nas semifinais, Lionel foi mantido no cargo e passou a construir La Scaloneta.

O trabalho de longo prazo deu frutos e, em 2021, em pleno Maracanã, a Argentina venceu o Brasil na decisão da Copa América, encerrando um jejum de 28 anos sem troféus. Meses depois, no mítico estádio de Wembley, Scaloni ainda faturou a Finalíssima, contra a Itália, no troféu disputado entre campeões europeus e sul-americanos. Além disso, bateu o recorde de invencibilidade da história da albiceleste, que era de Alfio Basile: 36 jogos. Na Copa do Mundo, uma estreia com derrota para a Arábia Saudita colocou dúvidas sobre seu trabalho, mas alterações fundamentais no decorrer da competição fizeram a seleção se recuperar e terminar com o tri. Uma miríade de conquistas surpreendentes, sem a menor dúvida.

Atualizado em 18 de dezembro de 2022.

Lionel Sebastián Scaloni
Nascimento: 16 de maio de 1978, em Pujato, Argentina
Posição: lateral-direito
Clubes: Newell’s Old Boys (1995-96), Estudiantes La Plata (1996-97), Deportivo La Coruña (1998-2006), West Ham (2006), Racing Santander (2006-07), Lazio (2007-08 e 2009-13), Mallorca (2008-09) e Atalanta (2013-15)
Títulos: Mundial Sub-20 (1997), La Liga (2000), Supercopa da Espanha (2000 e 2002), Copa do Rei (2002) e Supercopa Italiana (2009)
Carreira como treinador: Argentina Sub-20 (2018) e Argentina (2018-hoje)
Títulos como treinador: Copa América (2021), Finalíssima (2022) e Copa do Mundo (2022)
Seleção argentina: 7 jogos

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