O começo da década de 1990 foi especial para a Portuguesa. Sempre jogando nas elites do futebol paulista e brasileiro, o time do Canindé foi responsável por revelar alguns dos craques que desfilaram pelos gramados brasileiros da época. Entre eles, um lateral-direito ganhava destaque pela eficácia com a qual atacava e defendia, lembrando os laterais clássicos do futebol, nas linhas de quatro zagueiros que ficaram famosas na década de 1960. Zé Maria fez história com a camisa do Perugia, na Itália, e hoje se considera praticamente um italiano, tamanha sua identificação com o país. Mas antes de brilhar na Serie A, o jogador suou nos gramados brasileiros.
Em uma época na qual a Lusa costumava disputar títulos, Zé Maria foi lançado como uma das grandes esperanças para o futuro. Destaque das categorias de base, estreou entre os profissionais em 1991, com apenas 18 anos. A falta de maturidade, porém, fez com que o lateral não repetisse as atuações que fizeram dele um dos destaques lusitanos na campanha do título da Copa São Paulo daquele mesmo ano.
A solução encontrada pela diretoria do time paulistano, então, foi emprestá-lo para clubes de menor expressão. Em 1993, após não se firmar como titular na Portuguesa, Zé Maria foi emprestado para o Sergipe, no qual obteve maior destaque. Na sequência, passou um ano na Ponte Preta, de mais tradição, e também foi bem.
As passagens com futebol em alto nível pelo Nordeste e pelo interior de São Paulo credenciaram o lateral para voltar para a Lusa e disputar posição. Mais maduro, Zé Maria não teve dificuldades para assumir a titularidade na equipe, ganhando destaque em dimensão nacional. Seu bom futebol rendeu uma transferência para o Flamengo, onde ficou finalmente conhecido em todo o Brasil.
Contratado pelo rubro-negro em 1996, conquistou um Campeonato Carioca, mas destacou-se mesmo com a seleção brasileira, com a qual obteve o título do torneio pré-olímpico e a medalha de bronze na Olimpíada de 1996, em Atlanta. Seu bom futebol continuou em destaque, apesar da escassez de títulos no Rio de Janeiro e, com isso, o jogador deixou o Rio de Janeiro para sua primeira aventura internacional, sendo contratado, ainda naquele ano, pelo Parma.
Zé Maria chegou à Itália em uma época de bonança dos gialloblù, que com a ajuda da Parmalat montavam times com astros do quilate de Buffon, Cannavaro, Thuram, Zola e Crespo. O lateral-direito brasileiro, então, chegou para disputar posição com o francês, já consagrado em nível internacional como um dos melhores da posição. Com o time indo muito bem dentro de campo – terminou a Serie A daquele ano na segunda colocação, atrás apenas da Juventus de Zidane e Del Piero -, Zé Maria não era titular absoluto.
Buscando ainda mais continuidade, para continuar no giro da seleção brasileira, ele transferiu-se para o recém-promovido Perugia, em 1998, após atuar em 56 oportunidades em duas temporadas na equipe de astros formada pela Parmalat. Na seleção brasileira, era reserva de Cafu, fez parte do elenco que venceu a Copa das Confederações de 1997, mas não pode comemorar tanto: acabou ficando de fora da Copa do Mundo de 1998 porque foi mal na Copa Ouro meses antes.
Sua primeira passagem pelos grifoni, porém, foi fadada ao fracasso que parecia perseguir Zé Maria na Itália. Em meia temporada, teve raras oportunidades de atuar e voltou a viver situação delicada, que já vivera no início de sua carreira. Para recuperar seu melhor futebol, voltou ao futebol brasileiro. Seu destino foi o Vasco, clube que defendeu até junho de 1999 e no qual teve boas exibições, chegando a ganhar o Torneio Rio-São Paulo.
No mesmo ano, transferiu-se para o Palmeiras de Luiz Felipe Scolari para, finalmente, desembarcar, em 2000, no Cruzeiro, último clube que defenderia antes de ser chamado novamente para integrar o elenco do Perugia. Com o futebol revigorado pela passagem no Brasil, o lateral-direito finalmente conseguiria atingir seu ápice na Europa.
Com atuações mais constantes, Zé Maria retomou os bons tempos de Portuguesa e passou a ser uma peça-chave do Perugia do presidente Luciano Gaucci e voltou à seleção brasileira, tendo sido titular no fracasso na Copa das Confederações de 2000, última oportunidade em que vestiu a amarelinha. Dedicou-se, então, inteiramente ao Perugia, que fez campanhas consistentes na Serie A no começo dos anos 2000, alcançando posições no meio da tabela. Entre elas, destaque para o oitavo lugar em 2002, que credenciou o time a disputar a então Copa Intertoto no ano seguinte.
Na extinta competição europeia, os umbros conseguiram a classificação para a Copa Uefa, mas o sonho europeu durou pouco e acabou na terceira fase do torneio, diante do PSV, que eliminou os grifoni após empate em 0 a 0 na Itália e vitória por 3 a 1 na Holanda. Zé Maria, porém, foi um dos destaques da campanha do Perugia. Destaque esse que se repetiria no ano seguinte, na fatídica campanha que resultou no rebaixamento do time para a Serie B. Suas constantes boas atuações, porém, lhe renderam uma transferência para a Inter, aos 31 anos.
No time de Milão, Zé Maria voltou a ter menos chances, sendo integrado ao elenco principalmente por sua experiência. Fez parte do elenco que conquistou, em 2005 e 2006, o bicampeonato da Coppa Italia, além do scudetto de 2006, originalmente conquistado pela Juventus, mas passado para os nerazzurri devido ao escândalo do Calciocaos. Ou seja, a passagem pela Inter rendeu ao lateral-direito seus únicos títulos como profissionais nos clubes pelos quais passou no futebol europeu.
Em 2006, já sem nenhuma chance de atuar na equipe nerazzurra depois da tímida participação na temporada anterior, o brasileiro voltou a peregrinar pelo futebol, passando pelo Levante, da Espanha, e por um período de testes que não resultou em contratação no Sheffield United, da Inglaterra, antes de voltar à Lusa em 2008.
Seu retorno ao time que o revelou, porém, não foi dos melhores. Após divergências com a diretoria da equipe paulistana, logo voltou para a Itália, onde encerrou a carreira atuando pelo pequeno Città di Castello. Após se aposentar, passa então a se concentrar no desejo de se tornar treinador, iniciado no Don Bosco, time de jovens que tem ligação direta com o Perugia, no qual Zé Maria havia sido ídolo. Para melhorar seu desempenho e começar a trabalhar com profissionais, voltou à Inter, na qual realizou estágio com José Mourinho, que faz muitos elogios ao aspirante a treinador.
As palavras de Mourinho abriram as portas do Città di Castello, time pelo qual havia se retirado como jogador. Em apenas uma temporada, o ex-jogador aproveitou para aprimorar seus conhecimentos, fazendo boa campanha na Serie D que seu clube disputou. Depois disso, deixou a equipe e assumiu, no início da temporada 2010-11, o Catanzaro, clube que vivia crise societária enorme na Lega Pro e teve de anunciar falência. Depois, passou a vagar pelo mundo: treinou clubes da Romênia, do Quênia e da Albânia, até retornar à Portuguesa, em 2019, por um curto período. Em 2022, o ex-lateral se tornou colaborador das categorias de base do Parma.
José Marcelo Ferreira
Nascimento: 25 de julho de 1973, em Oeiras (PI)
Posição: lateral-direito
Clubes como jogador: Portuguesa (1991-93, 1995 e 2008), Sergipe (1993), Ponte Preta (1994), Flamengo (1996), Parma (1996-98), Perugia (1998-99 e 2000-04), Palmeiras (1999), Vasco (1999), Cruzeiro (2000), Inter (2004-06), Levante (2006-07) e Città di Castello (2008-09)
Títulos como jogador: Campeonato Sergipano (1993), Campeonato Carioca (1996), Torneio Pré-Olímpico (1996), Copa América (1997), Copa das Confederações (1997), Torneio Rio-São Paulo (1999), Copa do Brasil (2000), Copa Intertoto (2003), Serie A (2005-06), 2 Coppa Italia (2004-05 e 2005-06) e Supercoppa Italiana (2005)
Clubes como treinador: Città di Castello (2009-10), Catanzaro (2010), Ceahlaul (2015), Gor Mahia (2016-17), KF Tirana (2017-18) e Portuguesa (2019)
Títulos como treinador: Supercopa Queniana (2017), Supercopa Albanesa (2017) e Segunda Divisão Albanesa (2018)
Seleção brasileira: 46 jogos e 2 gols
Olá, Leonardo.
Sem querer ser chato, mas já sendo (hehe), lá vai uma pequena correção:
Zé Maria realmente defendeu o Fla em 96, mas aquele não era o ano do centenário do clube que foi fundado em 1895 e, sim, não ganhou nada cem anos depois.
Mas em 1996, o Flamengo de Zé Maria, Gilberto, Mancuso, Marques, Sávio e Romário foi campeão carioca invicto sob a batuta de Joel Santana.
Abraço.
A saída dele do Flamengo nada tem a ver com a falta de títulos, como menciona o texto. Ele ficou nem 6 meses no clube, praticamente disputou uma competição e foi campeão invicto. Uma pena, grande jogador. Aí foi pro Parma, nem chegou a jogar a Copa Ouro (o titular na ocasião foi o Paulo César, que depois passou por Fluminense, PSG, etc).
Em tempo: O citado título estadual aparece creditado na ficha do lateral.
Opa! Valeu pela correção, Michel. Já foi ajeitado. 🙂
Foi meu tio por um tempo rs.