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Andrea Barzagli: o campeão mundial que atingiu o ápice depois dos 30 anos

Quando completam 30 anos, muitos jogadores já têm sua carreira definida e contam com uma menor participação nos gramados até pendurar as chuteiras. Ao se tornar um balzaquiano, Andrea Barzagli estava prestes a viver a mesma situação: atuava na Alemanha e não era mais intocável no time titular do Wolfsburg. Em janeiro de 2011, recebeu a oportunidade de voltar para Itália, para reforçar uma Juventus em crise, e tudo mudou. O toscano renovou sua carreira e se tornou um dos melhores de sua geração. Um zagueiro central completo, rápido, forte fisicamente e capaz de construir o jogo.

Barzagli é natural de Fiesole, cidade da região metropolitana de Florença, e desde cedo cultivava o sonho de ser jogador de futebol. Andrea buscava concretizá-lo atuando no meio-campo da Cattolica Virtus, time juvenil da capital da Toscana, até ser notado pela Rondinella, em 1998. Embora seja a segunda principal agremiação florentina, a equipe estava na quinta divisão na época.

Ainda jogando no setor central do campo, Barzagli estreou pela Rondinella aos 17 anos, já atuando como titular. Na primeira temporada pelas andorinhas, comemorou o acesso à Serie C2, na qual manteve o status de titular. Aos 19 anos, então, o jovem passou à Pistoiese. Vestindo a camisa da olandesina, Barzagli se tornou zagueiro graças ao treinador Giuseppe Pillon, mas teve poucos minutos na Serie B. Seis meses depois, em janeiro de 2001, voltou a seu clube de origem.

Com destaque no Palermo, Barzagli chegou à seleção italiana e foi campeão mundial em 2006 (AFP/Getty)

Em julho do mesmo ano, Barzagli acertou com o Ascoli, que estava na Serie C1. No clube marquesão, o zagueiro voltou a ser treinado por Pillon, começou a jogar com uma maior frequência e colaborou bastante com a campanha do título do campeonato, que deu aos bianconeri o acesso à segundona. Em 2002, a carreira do toscano começou a mudar: primeiro, foi contratado pelo Piacenza, clube da elite que optou por mantê-lo mais um ano na B. Pouco depois, recebeu chances na seleção sub-20 italiana.

Após uma campanha positiva no Ascoli, o defensor pode jogar pela primeira vez na Serie A em 2003-04, ao ser contratado pelo Chievo. Naquela temporada, Barzagli fez 29 partidas e marcou três gols, colaborando para uma razoável participação dos veroneses na competição. Com a consistência na zaga, Barza foi chamado para a Euro sub-21 de 2004, vencida pela Itália. No mesmo ano ainda disputou os Jogos Olímpicos de Atenas e conquistou a medalha de bronze. A primeira participação com a seleção principal veio também em 2004, num amistoso contra a Finlândia.

A essa altura, Barzagli já havia assinado com o Palermo, que no mercado de verão de 2004 pagou 2,5 milhões de euros para contar com o seu futebol. O time rosanero voltava à Serie A após 31 anos de ausência e protagonizou uma campanha excelente: os sicilianos obtiveram um sexto lugar e se classificaram à Copa Uefa, na qual acabaram eliminados nas oitavas de final, pelo Schalke 04. Em 2005-06, graças ao escândalo Calciopoli, o Palermo voltaria a ganhar uma vaga no torneio continental, uma vez que galgou três posições por causa das punições a adversários e pulou da oitava para a quinta posição.

Ao lado do compatriota Zaccardo, o italiano fez parte de um surpreendente elenco do Wolfsburg, que venceu a Bundesliga (Bongarts/Getty)

Barzagli era presença garantida entre os zagueiros e fundamental para o histórico time do Palermo. Em alta, também era nome certo nas convocações de Marcello Lippi e foi selecionado para a Copa do Mundo, disputada na Alemanha. O toscano era reserva de Alessandro Nesta e Marco Materazzi, mas entrou em campo em duas oportunidades, por conta da lesão do primeiro e da expulsão do segundo – nas oitavas, contra a Austrália. Andrea cobriu Matrix após o vermelho e foi titular contra a Ucrânia nas quartas. Deixou, portanto, sua marca no tetracampeonato azzurro.

Barzagli continuou ocupando lugar de destaque no Palermo nos dois anos seguintes e chegou a ser capitão das águias. O zagueiro também ajudou a equipe a, mais uma vez, terminar a Serie A na quinta posição e ganhar uma vaga na Copa Uefa – em 2006-07. Depois de defender a Nazionale na Euro 2008, na qual sofreu uma séria lesão no menisco, o zagueiro deixaria o clube. Até hoje, Barza é o jogador que mais vezes defendeu a Itália enquanto atuava pelo Palermo: foram 23 aparições em azzurro. Também é, empatado com Franco Brienza e Mattia Cassani, um dos atletas com mais partidas internacionais pelo clube, com 15 jogos.

O destino do zagueiro era a Alemanha, onde vestiria a camisa do Wolfsburg. Barzagli foi contratado por 12,95 milhões de euros e foi para a Bundesliga juntamente com o companheiro Cristian Zaccardo. O defensor chegou a ter negociações avançadas com a Fiorentina, time da região em que nasceu, mas o salário mais alto oferecido pelos Lobos acabou pesando em sua decisão.

Transferência à Juventus deu sobrevida à carreira de Barzagli, que atingiu o auge em Turim (Getty)

Barza chegou a terras germânicas impondo respeito, ganhando respaldo com Felix Magath e jogando todas as partidas da Bundesliga 2008-09 sem ser substituído. Naquela impecável campanha, o zagueiro ajudou o Wolfsburg a conquistar um título inédito do Campeonato Alemão, superando o favorito Bayern de Munique. Em setembro de 2009, Barzagli fez a sua estreia na Champions League em uma vitória de 3 a 1 sobre o CSKA Moscou.

Mesmo ocupando lugar de destaque no futebol alemão, Barzagli foi relegado na Nazionale. Após a Euro 2008, só participou de mais dois compromissos preparatórios para a Copa de 2010: assim, não disputou nem o Mundial nem a Copa das Confederações, um ano antes. Visando retornar ao radar azzurro, Barzagli não hesitou quando recebeu uma proposta da Juventus e, em janeiro de 2011, após 94 partidas pelo Wolfsburg, retornou à Itália.

O responsável por contratar o zagueiro foi Giuseppe Marotta, então diretor da Velha Senhora. A transferência do zagueiro foi uma das primeiras grandes oportunidades de negócio aproveitadas pelo cartola, que percebeu que Barzagli estava em fim de contrato e pode acertar a sua contratação por apenas 300 mil euros. Como todos sabem, este acabou sendo um baita negócio tanto para o time, que conseguiu formar uma das melhores defesas da Europa, quanto para o jogador, que conseguiu dar um novo rumo a sua carreira.

Consolidado na Velha Senhora, Barzagli levantou incríveis 16 taças com a camisa bianconera (Getty)

Os primeiros seis meses, contudo, foram ruins – como para toda a Juventus, que vivia uma crise de resultados. Barzagli estreou com derrota contra o Palermo e, no fim das contas, a Juve terminou a Serie A apenas na sétima colocação. Tudo mudaria com a chegada de Antonio Conte, que estabeleceu uma defesa com três zagueiros. A Velha Senhora concedeu apenas 20 gols em 38 jogos no campeonato 2011-12 e abocanhou o primeiro título de sua histórica sequência. Coube a Barza marcar o último gol da campanha. Na derradeira rodada, diante da Atalanta, o zagueiro era o único titular que ainda não havia encontrado as redes. Um pênalti nos acréscimos e a insistência da torcida para que ele cobrasse resolveram esse “déficit”.

A temporada 2011-12 foi a primeira completa do chamado trio BBC, que Barzagli formou com Leonardo Bonucci e Giorgio Chiellini. Os três compunham o muro à frente de Gianluigi Buffon e, por anos, fizeram da defesa da Juventus uma das melhores da Europa. Essa linha defensiva também entrou para a história do clube, juntamente a outros grupos famosos, como o formado por Gianpiero Combi, Virginio Rosetta e Umberto Caligaris na década de 1930, e a antológica linha com Dino Zoff, Claudio Gentile, Gaetano Scirea e Antonio Cabrini – que manteve o nível depois que Zoff e Gentile foram substituídos por Stefano Tacconi e Sergio Brio.

Com a força da defesa e um time equilibrado, a Juventus continuou empilhando títulos nacionais. As conquistas continuaram e a zaga manteve a força e o desenho mesmo depois da saída conturbada de Conte, em 2014. Com Massimiliano Allegri, ex-colega de time de Barzagli na Pistoiese, a Juve também ganhou títulos da Coppa Italia e cresceu em nível europeu. Andrea continuou tendo grande participação nas conquistas e chegou a disputar duas finais de Champions League, em 2015 e 2017. Nas ocasiões, a Vecchia Signora foi derrota por Barcelona e Real Madrid, respectivamente.

Além de integrar o trio BBC na Juve, Barzagli pode repetir a parceria na seleção (Getty)

O reencontro com os bons momentos fez com que Barzagli também retornasse à seleção, depois de uma ausência de três temporadas. Curiosamente, o zagueiro fez mais partidas pela Squadra Azzurra após os 30 anos do que as somadas até completar 27: foram 48 contra 25. Sob as ordens de Cesare Prandelli, Barza foi titular na Euro 2012, na Copa das Confederações de 2013 e no Mundial de 2014. Os itálicos foram vice-campeões europeus, perdendo para a Espanha, ficaram na terceira posição do torneio menos importante entre os citados acima e fracassaram na Copa do Mundo.

Como não teve culpa alguma no fracasso italiano e continuava em ótima fase, Barzagli nem cogitou a aposentadoria da seleção. Como Conte assumiu a Nazionale, suas chances de ser chamado continuavam altas. Dito e feito: Antonio manteve a estrutura da Juve na Itália, mantendo o trio BBC e Buffon por todo o ciclo da Euro 2016. Na França, a esquadra jogou bem, mas caiu nos pênaltis para a Alemanha, então campeã mundial. Barza tinha dito que se aposentaria da seleção após o torneio europeu, mas – a pedido de Gian Piero Ventura, substituto de Conte –, continuou para tentar ajudar os azzurri a se garantirem na Copa do Mundo de 2018. Após o fracasso na repescagem, frente a Suécia, o zagueiro parou: foram 73 jogos com a camisa azul.

Concentrado apenas na Juventus, Barzagli teve a última temporada como protagonista em 2017-18, ano do heptacampeonato bianconero. Na campanha do octa, a idade pesou: com 37 anos e uma série de lesões musculares, foi pouco utilizado e, muitas vezes, nem mesmo teve condições de estar no banco. Assim mesmo, manteve o status de “rocha”: somente Andrea, Chiellini, Buffon, Claudio Marchisio e Stephan Lichtsteiner conquistaram sete títulos seguidos na Itália. Barza e Chiello foram além: somaram oito em sequência.

No final de sua trajetória como profissional, o sólido zagueiro foi acometido por muitas lesões musculares (Getty)

La Roccia, como era conhecido pela torcida, fez sua última partida na 37ª rodada, quando a Juve recebeu a Atalanta. Quando substituído, foi aplaudido de pé por todos os jogadores e torcedores presentes no Allianz Stadium. Com lágrimas no rosto, Barzagli encerrava uma grande carreira e entrava para o panteão dos grandes zagueiros da história italiana. Pela Juve, o toscano fez 282 partidas.

Depois de se aposentar, Barzagli continuou ligado ao futebol: concluiu formação como treinador e foi auxiliar de Juventus e seleção italiana, além de comentarista do DAZN. Além disso, se dedica a sua vinícola, LeCaseMatte, e passa mais tempo com a família. Desde 2004 Andrea é casado com a modelo Maddalena Nullo, com quem tem dois filhos: Mattia, nascido em 2008, e Camilla, classe 2011.

Andrea Barzagli
Nascimento: 8 de maio de 1981, em Fiesole, Itália
Posição: zagueiro
Clubes: Rondinella (1998-2000 e 2001), Pistoiese (2000-01), Ascoli (2001-03), Chievo (2003-04), Palermo (2004-08), Wolfsburg (2008-11) e Juventus (2011-19)
Títulos: Campionato Nazionale Dilettanti (1999), Serie C1 (2002), Supercopa da Liga da Serie C (2002), Europeu sub-21 (2004), Bronze Olímpico (2004), Copa do Mundo (2006), Bundesliga (2009), Serie A (2012, 2013, 2014, 2015, 2016, 2017, 2018 e 2019), Coppa Italia (2015, 2016, 2017 e 2018) e Supercopa Italiana (2012, 2013, 2015 e 2018)
Seleção italiana: 73 jogos

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