Não é mais segredo para ninguém que a Itália tem perdido espaço e prestígio entre as grandes ligas de futebol mundial. Os problemas são muitos: maus resultados em competições europeias; altos impostos que diminuem o poder de competição dos clubes por jogadores de outras ligas; falta de diversificação de ações de marketing que façam os clubes aumentarem suas receitas; estádios ultrapassados e sem estrutura adequada; os ultrà e, por fim, falta de diversificação tática. Ao menos em relação a este último ponto, as grandes equipes do futebol italiano parecem prontas para dar um basta.
O modelo de futebol desenvolvido pelo Barcelona conquistou admiradores em todo o mundo e também na Itália. Udinese e, em menor proporção, Napoli, Milan e Inter jogaram de maneira ofensiva na última temporada, conquistando resultados positivos. A valorização de um modelo importado também tem muito a ver com o fato de que técnicos consagrados do Belpaese, como Marcello Lippi e Fabio Capello estão desvalorizados por causa de maus trabalhos nos últimos anos.
Carlo Ancelotti, após um ótimo ano de estreia no Chelsea, também foi muito contestado após um 2010-11 decepcionante – assim como Claudio Ranieri, que vinha conquistando respaldo no país após bons trabalhos. Giovanni Trapattoni, por sua vez, caminha para o final da carreira. Cesare Prandelli e Luciano Spalletti, valorizados nos últimos anos e optantes de um futebol um pouco mais vistoso, preferem seguir com experiências mais interessantes financeiramente, na seleção italiana e no Zenit.
Com isso, o futebol italiano se renova, não só em nomes, mas também em mentalidade. Na última temporada, nenhum treinador dos vinte clubes que jogaram a Serie A haviam conquistado um campeonato italiano. Neste ano, o único vencedor é Max Allegri, campeão com o Milan. O treinador rossonero, por sinal, pode ter dado o pontapé para a mudança de mentalidade dos grandes clubes: depois de ótimo trabalho, com um futebol bonito, pelo Cagliari, o livornês topou assumir o Diavolo, em sua primeira grande chance no futebol, apenas dois anos depois de treinar o Sassuolo, na Lega Pro.
O caminho de Allegri é semelhante ao dos outros três técnicos que assumiram o comando dos outros grandes italianos que devem brigar pelo scudetto. É o primeiro trabalho de peso de Gian Piero Gasperini, que chegou à Inter após três anos no Crotone (na Lega Pro) e três anos e meio no Genoa, e também de Antonio Conte, que chega à Juventus com respaldo de ídolo, mas que só fez bons trabalhos na Serie B, com Bari e Siena. Mais inexperiente ainda é Luis Enrique, novo técnico da Roma, único técnico estrangeiro nesta Serie A (Sinisa Mihajlovic, radicado na Itália há 20 anos não entra na lista), que treinou o Barcelona B por três temporadas antes de chegar a Trigoria para, literalmente, importar o jeito blaugrana de conceber o futebol.
Por mais que seja possível vencer sem dar show, como mostram a Juventus de Fabio Capello ou a Inter de José Mourinho, a nova geração de bons treinadores italianos pensa em divertir os torcedores. O campeonato italiano provavelmente mais técnico e empolgante de se ver dos últimos anos pode ser, também, a chance de o futebol italiano começar a retomar espaço em nível continental, à medida em que os clubes comecem a, de maneira conjunta, realizarem campanhas positivas nas competições europeias. Resta saber se a paciência dos dirigentes italianos, que nunca foi muito grande, será suficiente para bancar um projeto de renovação deste calibre, que demanda tempo e, necessariamente, encontrará percalços.