Entre os principais campeonatos da Europa, o Italiano é, provavelmente, aquele que oferece mais dificuldades para a adaptação de jogadores estrangeiros. Brasileiros de diferentes gerações, por exemplo, penaram para mostrar seu valor: a extensa lista inclui nomes como Renato Gaúcho, Geovani, Caio Ribeiro, Philippe Coutinho e Gabigol. Não foi diferente com o esforçado Igor Simutenkov, bom valor ofensivo russo dos anos 1990.
O centroavante Simutenkov surgiu no Dynamo Moscou em 1990, quando ainda tinha 17 anos. Baixinho para a posição, com apenas 1,74m, Igor era um jogador técnico, que conseguia sair bastante da área para trabalhar a bola com os companheiros. Também se revelou como um grande finalizador, inclusive com a cabeça. Dessa forma, foi um dos atacantes mais letais das primeiras edições da liga russa, formada após a dissolução da União Soviética.
Simutenkov anotou 16 gols em 1993 e 21 no ano seguinte, colaborando para – respectivamente – um terceiro e um segundo lugares para o time ligado ao serviço secreto. Em 1994, foi artilheiro e eleito como o melhor atleta russo da temporada, mas não foi convocado para a Copa do Mundo. Igor ainda era considerado como jogador da seleção sub-21 e disputou o Europeu da categoria.
O atacante só foi chamado para a seleção pelo técnico Oleg Romantsev, que sucedeu Pavel Sadyrin após o Mundial. Três meses depois da estreia pela “mãe Rússia”, Simutenkov aportou no futebol italiano: em novembro, assinou com a pequena Reggiana, que fazia sua segunda temporada na elite do Belpaese. Emprestado pelo Parma, o goleiro Taffarel havia salvado la Reggia do rebaixamento no campeonato anterior e agora os grenás apostavam nos jovens Sunday Oliseh e Simutenkov e nos experientes Paulo Futre e Michele Padovano para conseguir uma nova façanha.
Simutenkov começou com o pé direito – ou melhor, com a cabeça boa. Logo em sua estreia, 11 de dezembro de 1994, contra a Cremonese, o russo deu início à vitória por 2 a 0 com um gol de centroavante. Igor ainda garantiu um triunfo contra o Torino e anotou dois outras vezes no campeonato, mas a equipe emiliana era muito fraca e acabou rebaixada, com apenas 18 pontos – 22 a menos que o Padova, último acima da zona da degola.
Na Serie B, Simutenkov se transformou na maior esperança grená – e correspondeu, em sua melhor temporada no futebol italiano. A Reggiana deu a Carlo Ancelotti o seu primeiro trabalho como técnico profissional e seguiu com o treinador mesmo depois de um início lento, com sete rodadas sem vitórias na segundona. O atacante russo foi o comandante do ataque de Don Carletto e anotou oito gols na campanha do retorno à elite. Depois da boa performance na Itália, Igor partiu para a Inglaterra, onde defendeu a Rússia na Euro 1996.
Com a Reggiana de volta à primeira divisão, Ancelotti partiu para o Parma e a diretoria da equipe de Reggio Emilia contratou o técnico Mircea Lucescu e uma miríade de reforços, incluindo o volante Georges Grün e os atacantes Adolfo Valencia e Sandro Tovalieri. Com o treinador romeno, Simutenkov perdeu espaço para a dupla, mas voltou a ser titular a partir da troca no comando.
Sob a batuta de Francesco Oddo, o russo garantiu o retorno ao onze inicial depois de anotar os dois primeiros gols da vitória por 3 a 1 sobre o Perugia. Igor voltou a ser decisivo contra o Verona e garantiu seis tentos na temporada, mas novamente o time emiliano foi rebaixado – dessa vez, com dois recordes negativos. A Reggiana não somou uma vitória sequer como mandante e só triunfou duas vezes no total. Enquanto nenhum outro time passou em branco em seus domínios numa Serie A, somente Varese (1965-66), Brescia (1994-95), Napoli (1997-98) e Ancona (2003-04) venceram tão pouco quanto aquele elenco grená.
Estava claro que Simutenkov se esforçava, mas não conseguia se adaptar ao futebol italiano. Jogando de centroavante ou como segundo atacante, buscando os flancos, dificilmente conseguia fazer a diferença. Nem mesmo na segunda divisão 1997-98 o jogador russo se destacou: fez apenas 19 jogos e dois gols. Ainda assim, foi homenageado com uma música pela banda de new wave Offlaga Disco Pax e ganhou uma chance de defender, por empréstimo, o Bologna na Serie A.
Em Bolonha, Igor Simutenkov jamais conseguiu competir por uma vaga com Giuseppe Signori, Davide Fontolan, Kennet Andersson e Igor Kolyvanov. Em 14 partidas, fez apenas três como titular e somente uma (a última da Serie A) completa. A quantidade de gols até que não foi tão ruim (três em 400 minutos), mas as atuações não chamaram atenção. O russo acabou sendo mais lembrado pela torcida da Sampdoria do que pela do Bologna, já que sofreu uma penalidade discutível na penúltima rodada – a cobrança convertida por Klas Ingesson condenou a Samp à segundona após 17 anos de elite.
Depois do ano transcorrido com a camisa rossoblù, Simutenkov deixou a Itália. O russo foi vendido pela Reggiana ao Tenerife, da Espanha, e ainda rendeu cerca de 2 bilhões de velhas liras à endividada agremiação grená. Em baixa na Península Ibérica, ficou mais conhecido por acionar a justiça para ser equiparado a jogador comunitário – embora a Rússia até hoje não faça parte da União Europeia.
O triênio pouco glorioso nas paradisíacas Ilhas Canárias acabou sendo a última experiência de Simutenkov no alto nível europeu. Em 2002, o russo foi jogar na Major League Soccer e ganhou o único título da carreira – uma US Open Cup – pelo Kansas City Wizards. Antes de se aposentar, aos 33 anos, o atacante ainda defendeu o Rubin Kazan e o minúsculo Dynamo Voronezh.
Atualmente, Simutenkov é auxiliar técnico. O ex-atacante teve uma rápida experiência à frente do Torpedo-RG, na segundona russa, e em seleções de base de seu país. Entre 2009 e 2015, Igor voltou a se associar com o futebol italiano e se tornou assistente de Luciano Spalletti no Zenit. Após o careca deixar São Petersburgo, Simutenkov permaneceu nos quadros do clube e está lá até hoje.
Igor Vitalyevich Simutenkov
Nascimento: 3 de abril de 1973, em Moscou, Rússia (antiga União Soviética)
Posição: atacante
Clubes: Dynamo Moscou (1990-94), Reggiana (1994-98), Bologna (1998-99), Tenerife (2000-02), Kansas City Wizards (2002-04), Rubin Kazan (2005) e Dynamo Voronezh (2006)
Títulos conquistados: US Open Cup (2004)
Seleção russa: 20 jogos e nove gols