Nigel de Jong teve uma carreira vitoriosa, mas provavelmente é pela violência dentro de campo que ficou mais conhecido. Ao longo de sua trajetória truculenta, o volante neerlandês ganhou apelidos como “The Destroyer” e “der Rasenmäher” (“o cortador de grama”) e foi protagonista de um dos lances mais icônicos da Copa do Mundo de 2010. O volante também passou um período na Itália, quando defendeu as cores do Milan por três anos e meio.
Assim como diversos craques holandeses, Nigel tem origem surinamesa. Filho de Jerry De Jong, também ex-jogador, ele começou sua carreira no Ajax – curiosamente, clube que seu pai nunca defendeu. O volante, que também tem ascendência indonésia, ingressou na base do time de Amsterdã aos 9 anos e estreou profissionalmente no dia 19 de outubro de 2002, em jogo vencido por 6 a 2 contra o AZ Alkmaar. Três dias depois, debutou também na Champions League, entrando aos 83 minutos, no lugar de Richard Witschge, num empate por 1 a 1 com o Rosenborg.
A partir daí, a carreira de De Jong começou de vez – e, curiosamente, na época, ele atuava como meia ofensivo, chegando a ser escalado aberto, como ala. Após alguns meses, Nigel anotou o seu primeiro gol como profissional, pela Champions League, em empate por 1 a 1 com o Arsenal, na casa dos Gunners. Ali, já apresentou sinais de algo que viria a marcar toda a sua carreira: o status de “bad boy”. Na comemoração, o holandês fez sinal de silêncio para a torcida adversária.
Depois de galgar espaço no Ajax, em 2004 De Jong já apresentava certa regularidade e foi convocado pela primeira vez para a seleção holandesa, fazendo sua estreia no dia 31 de março, num amistoso contra a França. Apesar de seu debute naquele ano, acabou não sendo convocado para a Euro e continuou seu processo de amadurecimento no time de Amsterdã. Naquela temporada, inclusive, faturou a Eredivisie pelos Godenzonen.
Pelo Ajax, De Jong começou a quebrar o galho em diversas posições: volante, lateral e ala nos dois extremos do campo e até zagueiro. Sua polivalência fazia ter espaço sempre garantido no time de Amsterdã e o fez ser escolhido como melhor jogador dos Godenzonen em 2005 – ao mesmo tempo, tal característica propiciava sua ascensão na Oranje. Até que, em janeiro de 2006, após boas atuações, Nigel partiu para a sua primeira experiência internacional ao assinar com o Hamburgo, da Alemanha. Lá, reencontrou o meia Rafael van der Vaart, colega de clube na Holanda e na seleção.
Logo na reta inicial de sua militância pelos alemães, Nigel já causou impacto: marcou um gol contra o Bayern de Munique e ajudou sua equipe a bater os bávaros por 2 a 1, naquela que foi a primeira derrota dos Roten na Allianz Arena, sua então nova casa. Ao fim da temporada, o Hamburgo conseguiu o terceiro lugar na Bundesliga e garantiu seu retorno à Champions League depois de cinco anos longe da principal competição europeia.
Na temporada seguinte, o time do técnico Thomas Doll caiu bruscamente de produção e a diretoria acabou demitindo o ex-meia, em fevereiro de 2007 – embora ele tivesse o apoio de membros do elenco, como o próprio De Jong e o zagueiro Vincent Kompany. O holandês Huub Stevens o substituiu e mudou a cabeça de Nigel, que passou a entender melhor o jogo do ponto de vista tático e se tornou definitivamente um volante durante a gestão do compatriota. Em 2006-07, o Hamburgo conseguiu uma arrancada que lhe garantiu a sétima posição e a classificação para a Copa Intertoto. O torneio, que dava acesso à Copa Uefa, viria a ter o HSV como um de seus vencedores.
Em 2008, após ajudar o Hamburgo a ser quarto colocado na Bundesliga, De Jong finalmente teve a oportunidade de jogar sua primeira competição pela seleção holandesa – já que a Oranje não havia se classificado para o Mundial de 2006. Na Eurocopa, sob o comando da lenda Marco van Basten, Nigel foi titular e atuou também na dramática partida que resultou na eliminação de sua equipe: a Rússia de Andrey Arshavin precisou da prorrogação para vencer as quartas de final por 3 a 1.
De Jong seguiu no Hamburgo após a Euro, mas não por muito tempo. Em janeiro de 2009, o Manchester City, recém-adquirido por um endinheirado grupo emiradense, decidiu repetir a forte janela de transferências realizada no início da temporada e, dentre outras contratações, desembolsou 18 milhões de euros para tirar Nigel do Hamburgo – a mudança de ares de Kompany, no verão, havia servido para abrir boas relações entre os clubes.
Os investimentos não adiantaram muita coisa e o Manchester City conseguiu apenas um decepcionante 10º lugar na Premier League. Apesar disso, De Jong encontrou seu espaço no time e se tornou um dos pilares defensivos de Mark Hughes. O holandês manteve o posto após a demissão do técnico, em meados da temporada posterior, e seguiu prestigiado pelo italiano Roberto Mancini. Em 2009-10, os citizens ficaram com a quinta posição no campeonato nacional.
Naquele mesmo ano, De Jong viveu sua primeira grande controvérsia relacionada à violência em campo. Em março de 2010, pela seleção holandesa, na disputa de um amistoso contra os Estados Unidos, Nigel efetuou uma entrada duríssima e quebrou a perna do meia Stuart Holden – o que lhe rendeu apenas um cartão amarelo. Uma fatalidade, afirmou o volante.
Também em 2010, De Jong viveu aquele que foi provavelmente o ponto mais alto de sua carreira: a disputa da Copa do Mundo, na África do Sul. O volante foi titular do time de Bert van Marwijk, compondo uma dupla duríssima com Mark van Bommel, e só ficou de fora da semifinal, contra o Uruguai, por suspensão. Voltando ao onze inicial para a final contra a Espanha, Nigel mais uma vez protagonizou um episódio extremamente violento. Aos 28 minutos, deu uma solada no peito de Xabi Alonso, num dos lances mais duros da história das Copas. A entrada lhe rendeu apenas um cartão amarelo, mas o juiz da partida, Howard Webb, admitiu depois que errou e deveria tê-lo expulsado. No fim das contas, a Oranje perdeu a decisão graças a um gol de Andrés Iniesta, no fim da prorrogação.
Durante seus anos de Manchester City, De Jong ainda se envolveu em mais uma polêmica ao cometer falta duríssima sobre Hatem Ben Arfa e fraturar a perna do adversário. Também esteve presente no elenco que venceu a Copa da Inglaterra de 2010-11 e a Premier League de 2011-12, tendo sido inclusive titular na final da FA Cup e entrado no histórico jogo em que os Sky Blues bateram o Queens Park Rangers por 3 a 2. Em 2012, após já ter sido especulado no Napoli e até ter negociado com a Inter, o volante assinou com o Milan no último dia da janela de transferências, se juntando aos rossoneri por 3,5 milhões de euros. Sua estreia ocorreu no dia seguinte, em vitória por 3 a 1 sobre o Bologna.
De Jong chegou ao Milan em um momento conturbado, na janela em que a equipe havia vendido Thiago Silva e Zlatan Ibrahimovic, os dois principais jogadores do time, e perdido diversas outras peças importantes, por aposentadoria, fim de contrato ou negociações: numa tacada só, saíram também Alessandro Nesta, Gennaro Gattuso, Clarence Seedorf, Filippo Inzaghi, Gianluca Zambrotta, Alberto Aquilani, Antonio Cassano e van Bommel. Ou seja, o camisa 34, por sua rodagem, já aportava na Lombardia como líder do elenco em potencial.
Prestes a completar 28 anos, o holandês começou bem no Milan e logo se firmou na equipe titular, apesar de alguns resultados negativos do time, que não vivia uma boa temporada. De Jong era um dos melhores jogadores do Diavolo até romper o tendão de Aquiles, contra o Torino, em jogo válido pela 16ª rodada da Serie A. A lesão foi séria e fez com que o volante perdesse o restante da campanha, concluída com 16 aparições e um gol. Os rossoneri terminaram na terceira posição no Italiano.
Na temporada seguinte, De Jong, recuperado de lesão, voltou à equipe titular do Milan. Porém, mais uma vez, o time começou mal o campeonato e só venceu cinco jogos no primeiro turno. Assim, após uma derrota por 4 a 3 para o Sassuolo, Massimiliano Allegri foi demitido, dando espaço para o retorno de Seedorf a Milanello, dessa vez como técnico.
Nigel conhecia bem o compatriota e a sintonia entre os dois contribuiu para que o volante se consolidasse como pilar do time, com 44 partidas disputadas – foi o líder rossonero no quesito. Inclusive, De Jong foi herói num Derby della Madonnina: de cabeça, completando cruzamento de Mario Balotelli, marcou o gol da vitória por 1 a 0 sobre a Inter. O Milan, porém já entrava em tempos sombrios e encerrou a temporada num modesto oitavo lugar na Serie A, ficando fora de todas as competições europeias.
Apesar do momento do Milan, De Jong ainda era um dos líderes da seleção holandesa e mais uma vez, foi um dos principais jogadores da Oranje numa Copa do Mundo. Em 2014, ocupou o posto de titular do time de Louis van Gaal em quase todos os jogos da campanha de pódio dos Países Baixos – só ficou de fora das quartas de final, contra a Costa Rica, por lesão, e da decisão pelo terceiro lugar vencida sobre o anfitrião Brasil.
Na volta para a Itália, se especulava que De Jong iria sair do Milan após a demissão de Seedorf. Contudo, o holandês permaneceu no time e mais uma vez foi um de seus pilares. Mastim no meio-campo, Nigel não se furtou a levar cartões amarelos para conter adversários (foram incríveis 11 em toda a Serie A) e também contribuiu com gols, como o marcado numa alucinante vitória por 5 a 4 sobre o Parma e os anotados em empates com Fiorentina e Sampdoria. Em 2014-15, o volante chegou inclusive a usar, pela primeira vez, a braçadeira de capitão rossonera.
O Milan, contudo, não engrenava. Inzaghi levou os rossoneri a um péssimo 10º lugar e terminou demitido, passando o comando a Sinisa Mihajlovic. De Jong começou a temporada 2015-16 sendo o capitão do time, mas perdeu espaço entre os titulares depois de apenas duas rodadas – um pouco pelas já frequentes lesões musculares na coxa e pelo fato de o técnico sérvio preferir Juraj Kucka.
Preterido, Nigel atuou em somente cinco jogos do primeiro turno. Apesar de ter contrato até 2018, estava insatisfeito com a situação, já que ainda tinha 31 anos e acreditava ter bastante lenha para queimar. Dessa forma, rescindiu amigavelmente o seu vínculo com os rossoneri em fevereiro de 2016. Durante sua passagem, De Jong somou 96 aparições, sete gols, 26 cartões amarelos e, pasmem, apenas um vermelho – diante do Verona, em sua derradeira peleja pelo Diavolo.
Logo após deixar o Milan, o holandês foi oficializado como reforço do Los Angeles Galaxy. Nos Estados Unidos, De Jong viveu mais um episódio controverso: em seu primeiro jogo como capitão, contra o Portland Timbers, lesionou Darlington Nagbe por conta de uma entrada duríssima. Nigel foi agraciado apenas com um amarelo outra vez, mas o júri desportivo lhe atribuiu um gancho de três rodadas.
De Jong disputou a Major League Soccer por cerca de seis meses e, em agosto de 2016, assinou com o Galatasaray. Pelos turcos, deu continuidade a um período de passagens pouco marcantes por diversos clubes, o que culminaria no fim de sua carreira. Nigel ainda teve experiências opacas pelo Mainz, em seu retorno à Alemanha, e no futebol do Catar, onde defendeu Al Ahli e Al-Shahania – neste último time, chegou a ser rebaixado para a segunda divisão catari. Foi após não tirar a equipe da região metropolitana de Doha da divisão inferior, inclusive, que o holandês se aposentou, aos 36 anos.
O volante teve sua carreira marcada por entradas duras e, no mínimo, falta de prudência com seus adversários. Mas, por outro lado, é inegável que De Jong teve grande destaque por onde passou, sendo um dos homens mais importantes da seleção holandesa quando a mesma conseguiu a segunda e a terceira colocação em Copas do Mundo. Além disso, foi referência de um Milan que já se encontrava em caminho descendente e, quem sabe, impediu que a queda fosse mais brusca. Nigel fez parte do quadro de comentaristas da rede britânica ITV, após ter sido contratado para a Euro 2020 e, em janeiro de 2023, se tornou diretor técnico da KNVB, a Federação de Futebol dos Países Baixos.
Nigel de Jong
Nascimento: 30 de novembro de 1984, em Amsterdã, Países Baixos
Posição: volante
Clubes: Ajax (2002-06), Hamburgo (2006-09), Manchester City (2009-12), Milan (2012-16), Los Angeles Galaxy (2016), Galatasaray (2016-18), Mainz (2018), Al Ahli (2018-19) e Al-Shahania (2019-21)
Títulos: Eredivisie (2004), Supercopa da Holanda (2005), Copa Intertoto (2007), Copa da Inglaterra (2011), Premier League (2012) e Community Shield (2012)
Seleção holandesa: 81 jogos e 1 gol