Na última semana, o Napoli anunciou seu maior reforço para a Liga dos Campeões, o suíço Gökhan Inler, que foi contratado junto à Udinese por cerca de 18 milhões de euros. O novo reforço chegou arrasando em sua inusitada apresentação (veja o vídeo ao fim do texto), muito festiva: além de Inler, o clube apresentou, em um transatlântico. o novo uniforme azzurro e o novo patrocinador, a MSC Crociere, empresa de cruzeiros napolitana. Já idolatrado em Nápoles, Inler ganhou até homenagem. O famoso cantor napolitano Luca Sepe, que já fez paródias para Maradona, Lavezzi e Cavani, aprontou mais uma e a partir de Thriller, de Michael Jackson, gravou Acchiapp ‘a Inler, que deve se tornar hit no San Paolo.
Pomposo, como os clipes e produções de Michael Jackson, o mercado do Napoli ganhou, rapidamente, reforços pontuais e contornos de superprodução, mas com orçamento reduzido. Segundos dados do Transfermarkt, até o presente momento desta janela de transferências, a sociedade partenopea é a que mais gastou com contratações, em toda a Europa – considerando aí os 16 milhões de euros acertados com o Palermo, no início da temporada passada, para a obrigatória compra de Cavani.
São quase 59 milhões de euros gastos e apenas 12,5 arrecadados, um prejuízo nítido, levando em consideração que o presidente Aurelio De Laurentiis não venderá nenhuma das estrelas do tridente azzurro. Problemas para o fair-play financeiro da Uefa? De forma alguma, pois como explica detalhadamente o blog Swiss Ramble (em inglês), o Napoli é um dos times que mais tem lucrado no futebol italiano e tem conseguido balanços positivos anualmente. Além disso, a participação na Liga dos Campeões já trouxe o patrocínio da MSC, e também levará ao menos 40 milhões de euros aos cofres do clube, que pode levar mais em caso de resultados positivos e passagem de fase na competição. Para o ano seguinte, quando acaba o contrato com a Macron, o Napoli pode ganhar o patrocínio da Adidas, disposta a pagar 40 milhões de euros para vestir os azzurri por cinco temporadas.
Os napolitanos ainda tem o mérito de terem evitado gastos nesta temporada, por mais que os números possam parecer dizer o contrário, adicionando qualidade ao plantel, sem que o elenco fosse necessariamente ampliado. Entre saídas e entradas relevantes, o Napoli tem, até agora, apenas um atleta a mais que na última temporada. Entre os jogadores que estavam fora dos planos de Mazzarri, o Napoli conseguiu negociar Cribari com o Cruzeiro e emprestar Santacroce (Parma) e Vitale (Bologna). O clube também não arcará mais com os altos salários de Yebda, Pazienza e Blasi (este último tinha o quinto maior salário do elenco e só jogou 80 minutos na última Serie A). A venda em definitivo de Quagliarella à Juve ainda rendeu 10,5 milhões de euros. O clube ainda deverá negociar jogadores que retornaram de empréstimo e tem mercado, como Rinaudo, Bogliacino, Cigarini e Mannini.
Para seus lugares, o clube agiu bem. Quatro das 11 contratações feitas foram de graça: Lucarelli (que ficou em definitivo, após o fim do contrato com o Parma), Colombo (Triestina, chega para ser terceiro goleiro), além de Donadel e Santana (ambos da Fiorentina), que chegam para a reserva, reforçar, o meio-campo da equipe. O argentino Santana ocupará o posto de vice-Lavezzi, que teve Zúñiga improvisado em boa parte da última temporada. Na reserva, ao lado de Mascara (contratado em janeiro), será responsável por dar um pouco de folga ao argentino e também a Hamsík, raramente poupados por Mazzarri ao longo de 2010-11.
Os únicos reservas que custaram algo aos bolsos de De Laurentiis foram Dumitru, contratado em definitivo após empréstimo ao Empoli, o zagueiro Fernández, do Estudiantes, e o goleiro Rosati, destaque do Lecce, opção muito mais confiável em relação ao ex-reserva Iezzo, embora De Sanctis quase nunca fique de fora. Por nove milhões de euros, o Napoli contratou um dos principais jogadores do Bologna, o zagueiro Britos, que deverá ser titular ao lado de Cannavaro e Campagnaro, reforçando um setor que já tinha os experientes Grava e Aronica, além da promessa Ruiz.
Pelo mesmo valor, o companheiro de Inler no centro do forte meio-campo azzurro será Dzemaili. Os dois jogaram juntos durante um ano e meio pelo Zürich, conquistando o bicampeonato suíço e transferências para mercados centrais da Europa, e reeditarão a dupla de sucesso. Dzemaili teve três excelentes anos na Itália, por Torino e Parma, e demorou para chegar a um clube de maior porte. Inegavelmente, as contratações representam um enorme acréscimo técnico no setor, que tinha Pazienza e Yebda (ou Gargano), jogadores que tinham menos presença ofensiva do que a dupla suíça, que preserva a boa marcação, mas é mais qualificada no toque de bola e ainda tem como arma os chutes de longa distância.
Na apresentação da equipe para a temporada, nesta segunda-feira, Walter Mazzarri elogiou a postura azzurra no mercado. De fato, o Napoli interpretou bem as novas necessidades, com a participação em três frentes diferentes, e tem dado fortes sinais à torcida, sobretudo ao segurar Hamsík: não deve reduzir as forças em nenhum torneio. O elenco está quase fechado. Falta, ainda, desfazer-se dos jogadores excedentes e também um reserva para Dossena, na ala esquerda. Um reserva mais gabaritado para Cavani, ainda que Dumitru e Lucarelli tenham permanecido, poderia ser importante, sobretudo na Liga dos Campeões. De qualquer forma, dificilmente o renascimento napolitano, planejado por De Laurentiis quando comprou o clube, sete anos atrás, será interrompido de forma trágica como o retorno planejado pelo Rei do Pop. Polêmico, como costuma ser, De Laurentiis poderia, como Michael Jackson, instigar os adversáros com um provocativo beat it.
Além dos reforços pontuais e do planejamento correto que vem sendo feito tanto pelo Mazzari e pelo De Laurentis, é bom perceber que prefiriram optar por jogadores dispostos a crescer e se destacar junto com o clube, e não medalhões dispostos ao ganhar dinheiro e disputar uma UCL. Só ainda sinto necessidade de um reserva pro Dossena, um mais gabaritado pra fazer sombra ao Cavani e outro nome mais forte e confiavel pra defesa. Queria muito ver o Zapata em San Paolo, mas seria dificil a Udinese liberar Inler e Zapata juntos pro Napoli, já que este não foi tão caro ao Villareal (9 mi).
Ao longo prazo, além de se manter no topo e conseguir patrocinios maiores, acho extremamente fundamental a construção de um estádio próprio, fugindo dos impostos e restrições referentes ao San Paolo, como já fez a Juve e começa a esboçar o Palermo.
No caso do Napoli, o clube ainda ganha uma grana com o San Paolo porque a torcida é fervorosa e comparece muito. O ideal fosse, talvez, tentar comprar o estádio juntamente ao governo – como a Juve fez com o Delle Alpi – e modernizá-lo, garantindo uma estrutura melhor e uma renda possível além do dia dos jogos.