Campeão por Bologna e Juventus, o alemão Helmut Haller viveu a melhor fase da carreira na Itália, onde atuou por 11 anos. O segundo atacante foi descrito pelo histórico Franz Beckenbauer como “um dos melhores companheiros de time que já teve”. Os gols foram comuns na trajetória futebolística, mas Haller se destacava na construção das jogadas, pela facilidade para dar dribles curtos e pelo fato de ser ambidestro.
Durante a carreira, ele teve problemas com o peso, porém isto não atrapalhou o seu sucesso no futebol. Nem mesmo o gosto do alemão pelas noitadas foi um entrave em sua carreira – a não ser em um episódio nos tempos de Juventus, quando foi excluído de um dérbi contra o Torino, perdido pela Juve, depois de farrear a noite inteira.
A vida de Haller começou em Augsburg, onde o pai trabalhava no sistema ferroviário. Foi no ainda semiprofissional clube com o mesmo nome da cidade natal que o alemão começou a carreira, aos 18 anos. Para completar a sua renda mensal, Helmut atuava como motorista de caminhão. Mesmo com a modesta estrutura do Augsburg, aos 19, foi pela primeira vez convocado à seleção.
A trajetória na Nationalmannschaft iniciada muito cedo também deu possibilidade de disputar a Copa do Mundo de 1962, com 23 anos. No Mundial, a a Alemanha Ocidental de Helmut Haller parou na Iugoslávia, nas quartas de final. Na disputa, esteve ao lado de Karl-Heinz Schnellinger, outro alemão que faria sucesso no futebol italiano.
A Copa do Chile foi a vitrine ideal para o camisa 8 da Nationalmannschaft deixar a terra natal para atuar profissionalmente em outro país. O Bologna ofereceu 750 mil marcos para ter o jogador e, além disso, aumentou em 40 vezes os vencimentos de Haller, que, na Alemanha Ocidental, foi acusado de ser mercenário. A profissionalização deixou o meia-atacante de fora das convocações alemãs até 1964.
Na Itália, Haller embarcou em um Bologna, que, à época, era um dos times mais fortes do país. Com isso, em 1963-64, os rossoblù venceram o scudetto, após 23 anos sem a conquista. A campanha teve Harald Nielsen como artilheiro, com 21 gols, mas o alemão também teve destaque. Foram 34 partidas disputadas (ninguém jogou mais do que ele – William Negri, Carlo Furlanis e Francesco Janich disputaram a mesma quantidade de jogos), e sete gols anotados. O time era comandado pelo técnico Fulvio Bernardini e, em campo, tinha Giacomo Bulgarelli como maestro. Pelos felsinei, o alemão ainda foi vice-campeão italiano em 1965-66, quando foi o artilheiro da equipe ao lado de Nielsen, com 12 tentos anotados.
Haller já havia voltado à seleção e, por isso, fez parte da equipe que foi ao Mundial da Inglaterra em 1966. Um de seus companheiros mais jovens do elenco, Jürgen Grabowski, fez vários elogios ao meia em entrevista ao site da Federação Alemã de Futebol. “Era um jogador especial e uma pessoa maravilhosa, sempre queria ajudar. Eu tive a sorte de conviver algum tempo com ele”, afirmou.
Na Copa, Haller foi o artilheiro da Alemanha, balançando as redes quatro vezes. Porém, os gols do camisa 8 não bastaram para a Nationalmannschaft levantar a taça. Na final, 2 a 2 no tempo normal contra a Inglaterra, mas o que será lembrado para sempre é o primeiro gol da prorrogação, marcado por Geoffrey Hurst, pois a bola não cruzou a linha da baliza. O atacante inglês ainda completou o hat-trick e, com o 4 a 2, definiu o título inglês.
Ao final da partida, um fato curioso: o camisa 8 levou para casa a bola da final, contrariando a tradição de que quem marca três gol em uma partida tem o direito de ficar com a redonda. Por isso, 30 anos depois, a equipe do jornal Daily Mirror, da Inglaterra, promoveu um encontro entre o alemão e Hurst, no qual a bola foi dada a quem deveria tê-la “por direito”. Hoje, a redonda está exposta no Museu do Futebol do país campeão mundial de 1966.
Com menos destaque, por conta de uma lesão, Haller também participou da Copa de 1970. Dois anos após o Mundial inglês, a Juventus o contratou, aproveitando desentendimentos entre ele e Nielsen. Assim, o meia encerrou a trajetória em rossoblù com 208 partidas disputadas e 58 gols marcados.
Na Velha Senhora, a participação em campo diminuiu, porém Haller conseguiu vencer mais dois títulos italianos, ao lado de Dino Zoff, Fabio Capello, Franco Causio, Roberto Bettega e José Altafini. Com este grupo foi vice-campeão de duas competições europeias. Primeiro a Copa das Feiras, em 1970-71, quando foi titular nos dois empates contra o Leeds, que foi campeão pelo critério dos gols marcados fora de casa. Em seu último ano em bianconero, o vice-campeonato foi o da Copa dos Campeões. O alemão foi reserva na campanha e, na final contra o Ajax de Johan Cruyff, atuou praticamente em todo o segundo tempo da derrota por 1 a 0, com gol de Johnny Rep.
Em 1972-73, com a vitória do terceiro título italiano, Haller deixou o Belpaese e voltou a jogar na Alemanha, onde o futebol já estava em outro nível em relação ao que ele havia deixado quando foi jogar no Bologna. Na volta ao país natal, acertou com o mesmo clube que o formara, renovado após uma fusão. No time da Baviera, Haller não recebia salário e, sim, 5% do dinheiro arrecadado na bilheteria. O ídolo do futebol alemão passou o restante da carreira jogando nas divisões inferiores da liga alemã principalmente pelo Augsburg, de sua cidade natal, mas com uma rápida passagem pelo BSV Schwenningen.
O final de sua trajetória futebolística no Augsburg, aos 40 anos, permitiu o início de uma rápida carreira de técnico em níveis amadores. Mas, depois de parar de jogar, Haller optou mesmo por frequentar casas noturnas e manter uma loja de roupas. O ídolo alemão ainda teve um sobrinho que jogou futebol: Christian Hochstätter. Ele jogou a vida inteira pelo Mönchengladbach e defendeu a Alemanha Ocidental duas vezes.
Haller se casou três vezes (a última em 2003, com uma jovem de 21 anos) e teve três filhos. Em 2006, teve um ataque no coração e, depois, acabou sofrendo com Parkinson e demência. As doenças o levaram à morte em 11 de outubro de 2012.
Helmut Haller
Nascimento: 21 de julho de 1939, em Augsburg, Alemanha
Morte: 11 de outubro de 2012, em Augsburg, Alemanha
Posição: meia-atacante e atacante
Clubes: Augsburg (1957-62, 1973-76 e 1977-79), Bologna (1962-68), Juventus (1968-73) e BSV Schwenningen (1976-77)
Títulos: Serie A (1964, 1972 e 1973)
Seleção alemã-ocidental: 33 jogos e 13 gols