Fora desde 2006, Totti pode voltar a vestir a camisa da seleção na Copa. Vale a pena convocá-lo? (Goal.com) |
Publicado também no blog Fuoriclasse, da Trivela.
Fora desde 2006, Totti pode voltar a vestir a camisa da seleção na Copa. Vale a pena convocá-lo? (Goal.com) |
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Desde que a Itália garantiu sua vaga na Copa de 2014, a eventual participação de Francesco Totti na competição é um dos temas mais quentes no que se refere à Squadra Azzurra. Totti vive uma grande fase na Roma e sua possível convocação é defendida por muitos jornalistas italianos, e o mundo do futebol (ex-jogadores e ex-técnicos de todas as gerações, além de jogadores e treinadores ainda em atividade) é a favor da volta do capitão à seleção italiana treinada por Cesare Prandelli. A discussão trouxe à tona também a possibilidade de outros veteranos que vivem boa fase, como Di Natale, Cassano e Toni, voltarem à Nazionale, mas não com o mesmo clamor que o “movimento pró-Totti” tem gerado.
Assim como Marcello Lippi, em 2010, Prandelli deixou a possibilidade de convocar o atacante romano em aberto e declarou que, em maio, quando fechar os seus 23 escolhidos para o Mundial, se ele estiver bem, poderá ser chamado. Disse, ainda, que Totti não precisa de testes e que só o convocará nessas circunstâncias.
Discurso similar ao de Lippi, que levou a Itália ao tetracampeonato, em 2006, com Totti no grupo, mas acabou optando por renunciar ao jogador para a Copa de 2010. Totti havia se declarado disponível, mas não foi convocado, assim como Cassano e Balotelli (embora para estes dois as portas nunca tivessem sido abertas pelo treinador), e uma Itália sem brilho deu vexame na África do Sul.
Hoje, a Itália tem mais opções de talento, e uma boa geração de jogadores justamente em seu setor, o ataque. Totti não é imprescindível, e o vice-campeonato na Euro 2012 e o terceiro lugar na Copa das Confederações mostram isso. Se o romanista pode dar um grande ganho técnico à equipe, é outra história.
Apesar de as vozes contrárias a Totti na seleção serem poucas, há motivos que podem fazer seu retorno ser visto com desconfiança. Para fortalecer o debate, elencamos aqui alguns motivos que podem ajudar o torcedor a fazer sua cabeça sobre o assunto. Obviamente, cada um dos critérios tem peso diferentes na questão, mas são aspectos que devem ser levados em consideração.
Prós
1) Sua técnica e faro de gols são inquestionáveis
Totti é um dos maiores jogadores do futebol italiano em sua história, e um patrimônio da Serie A, com coração e cabeça de líder, faro de gol, uma boa dose de improvisação e, claro, um vasto repertório da “fantasia” que tanto encanta os italianos. Não ficar de olho em um atacante que já fez 230 gols na Serie A e fez 38
gols nas últimas quatro temporadas, com uma média de quase 15 gols/ano a partir de
1997, seria burrice. Desde que Totti foi avançado ao ataque por Luciano
Spalletti, seu futebol voltou a render tanto quanto nos anos 90 e
início do milênio, e as lesões diminuíram na mesma proporção em que ele começou a balançar as redes com mais frequência.
O Pupone, bandeira da Roma, é um dos atletas italianos mais importantes dos últimos 20 anos, e é isso o que mostram as notas atribuídas pelos jornalistas da Gazzetta dello Sport. Na Itália, desde os anos 70, há o hábito de se avaliar, com notas, o desempenho dos jogadores nas partidas, considerando que, a partir de 6, a partida foi boa, e um 8 é uma nota altíssima – nem cinco jogadores receberam nota 10, na história. A média de Totti (6,45), é a maior dos últimos 20 anos – a maior em uma única temporada é de Platini, em 1983-84, um 6,94. Isso mostra como Totti é uma constante na Roma e pode ajudar a Nazionale.
2) Experiência internacional
Se é algo que Totti tem, é história para contar. Do alto dos seus 37 anos e 21 de carreira, o Pupone é bandeira de um time importante como a Roma, e é capitão da equipe desde 1997. Também é o jogador com mais partidas pelo clube na história, segundo maior artilheiro da Serie A, além de ter disputado 18 competições europeias (sete Liga dos Campeões), duas Copas do Mundo e duas Euro. Tarimba internacional não vai faltar e, dentro de um grupo majoritariamente jovem, Totti pode ajudar a chamar a responsabilidade juntamente a Buffon, Barzagli, De Rossi e Pirlo, os quatro remanescentes do título mundial de 2006 que compõem a seleção italiana.
3) Impõe respeito em uma seleção com poucas estrelas
Por ser um dos maiores ícones do futebol italiano dos últimos anos, Totti certamente impõe respeito dentro de um grupo e frente aos adversários. Sua presença pode ser um fator importante para o elenco, pela sua já comentada técnica e experiência, e os jogadores mais inexperientes podem ter uma referência também no ataque – Florenzi, que também é romanista, por exemplo, pode se espelhar no craque que ele viu levar a sua Roma ao scudetto, em 2001, quando tinha apenas 12 anos. Jogar ao lado do ídolo e poder aprender com ele é gratificante.
Além disso, frente aos adversários, o capitão romanista é visto com mais reverência do que qualquer um dos outros jogadores do ataque azzurro – mesmo Balotelli não tem esse status. Em uma seleção italiana que se vale mais pelo coletivo, e que tem como maiores craques Buffon, Pirlo e Balotelli, seguidos por De Rossi e Chiellini, a presença de Totti pode ser benéfica e auxiliar a garantir resultados nos jogos mais complicados.
4) Vontade de se redimir na seleção
A história de Totti na Nazionale italiana não é das mais ricas. Apesar do título mundial em 2006, foi discreto na Copa e ganhou apenas uma nota 7 da Gazzetta, que sempre lhe teve em boa conta. Naquele torneio, retornava de lesão e teve dificuldades de jogar até a final; e esse foi um dos fatores para ter desempenhado papel de coadjuvante. Marcou só um gol, convertendo com frieza e categoria um pênalti inexistente contra a Austrália, decidindo o jogo que classificou a seleção às quartas. Foi, ainda, responsável por quatro assistências: apenas uma delas realmente digna de nota, já que duas delas aconteceram em cobranças de escanteio (uma delas, um corner curto), e outra foi um passe curto para um gol de fora da área, com méritos totais para Zambrotta.
Também decepcionou na Euro 2004: jogou apenas na estreia da competição, contra a Dinamarca, e foi expulso, por cusparada em Poulsen – a Itália acabaria eliminada ainda na fase de grupos. Na Copa de 2002 foi discreto, e também foi expulso, desta vez erroneamente, por simulação – em jogo contra a anfitriã Coreia do Sul, com arbitragem vergonhosa de Byron Moreno. Na Euro 2000 foi bem, saindo da reserva, marcando dois gols e sendo frio ao cobrar pênalti com cavadinha na semifinal contra a Holanda, dona da casa. Mas, convenhamos, foi há 13 anos.
Para completar, Totti jogou na seleção em uma fase em que jogava mais recuado, como trequartista, e tem apenas 9 gols em 58 jogos pela Nazionale – uma marca que não está de acordo com sua carreira de segundo maior goleador da Serie A, com 230 gols. Hoje, jogando mais perto do gol, como um verdadeiro atacante, é mais letal, e utiliza sua inteligência com mais eficiência. Com vontade de engrandecer sua carreira vestindo o manto azzurro, Totti pode ser mais útil do que Osvaldo ou Gilardino.
Contras
1) Pode tirar espaço de jovens
Se a convocação de Totti pode acrescentar experiência ao elenco, pode também acabar tirando a oportunidade de que um jogador jovem, que evoluiu com Cesare Prandelli, ganhe experiência jogando uma Copa do Mundo, depois de anos de trabalho com a seleção. Se isto acontecer, e a Itália abrir mão de sua linha de trabalho e, consequentemente, de um jovem talento, a experiência pode ser nociva visando o Mundial seguinte, em 2018, no qual o jovem promissor de hoje já pode ter se tornado um craque, e chegaria “verde” (em termos de Copa) à Rússia.
Claro, Prandelli pode optar por cortar um jogador mais experiente do ataque, como Gilardino ou Osvaldo, o que poderia ser mais coerente, visando a Euro 2016 e a Copa de 2018, mas aí estaria abrindo mão de uma opção para o jogo aéreo. O mais provável seria cortar um jogador mais jovem, e aí há vagas em aberto, em um setor em que há muita concorrência. Se for chamado, Totti deixará um entre Cerci, El Shaarawy, Florenzi, Giovinco e Insigne fora da Copa. Outro que pode rodar é Diamanti.
2) Forma física
Aos 37 anos, Totti não é nenhum menino, mas continua jogando quase todos os jogos da Roma como titular. O que significa que, ao fim da temporada, poderá estar esgotado, e não terá muitos minutos nas pernas mesmo para um torneio de tiro curto, contando com a preparação prévia. Além disso, a depender das cidades em que a Itália jogar, a umidade pode deixar o ambiente mais complicado do que o do quente e seco verão europeu.
Durante a Copa das Confederações, a Itália jogou em Fortaleza, Recife, Rio de Janeiro e Salvador, e em todas as cidades a dupla calor e umidade foi considerada como uma dificuldade a mais pelo grupo azzurro. Sabemos que Totti não ajuda muito na marcação e que precisa de um time que corra por ele. No clima de algumas regiões brasileiras, isso pode ser prejudicial à Itália. Além disso, há questões táticas envolvidas, como vemos no próximo ponto.
3) Seu lugar no elenco e no time de Prandelli
Roberto Renga, jornalista italiano que escreveu um livro sobre o craque, e é próximo a ele, disse em entrevista à Mediaset: “Não basta um telefonema de Prandelli. Totti só iria à Copa como protagonista, não como referência aos jovens”. Todos sabem que o capitão da Roma, de fato, não gosta de ser reserva (e teve vários atritos com Ranieri e Luis Enrique, quando frequentou o banco), e recentemente ele afirmou ser o melhor jogador italiano em atividade, dizendo estar atrás apenas de Messi. Totti não é de fácil convívio e pode estremecer o ambiente interno – algo que, atualmente, Balotelli e Osvaldo já fazem, às vezes.
No caso de aceitar ir à Copa sem a titularidade garantida, Prandelli teria de tentar acomodá-lo em seu esquema tático. No 3-5-2, que viraria um 3-5-1-1, Totti poderia jogar um pouco recuado, dando suporte a Balotelli, o que obrigaria o jogador do Milan a ajudar mais na marcação, quando a Itália não tiver a bola, deixando Totti mais à frente neste momento.
A presença de Totti pode permitir que o tão sonhado 4-3-3 que Prandelli tem em mente saia do papel, mas há dois problemas nisso: o primeiro, seria a falta de treinamentos, e o segundo é que a estrutura do time mudaria bastante. Hoje, Prandelli utiliza a defesa e o esquema tático da Juventus como base nos jogos mais complicados, por ter sido o módulo que deu mais resultados e se mostrou mais sólido e adequado à Squadra Azzurra, e para encaixar Totti em um 4-3-3 similar ao da Roma de Rudi Garcia, precisaria fazer mudanças na defesa.
Um time hipotético poderia ter Maggio, De Sciglio e Abate disputando vaga na lateral direita, Barzagli e Chiellini ou Bonucci no centro da zaga, fechada por um lateral esquerdo ainda a ser escolhido por Prandelli – como o setor está em aberto, até mesmo Chiellini pode jogar ali, para manter a base juventina. No meio-campo Marchisio (ou Montolivo), Pirlo e De Rossi estão garantidos, e o ataque precisará ser similar ao da Roma, com um jogador com características como as de Florenzi ou Candreva pelo lado direito, Balotelli do outro, e Totti centralizado. No papel, pode funcionar, sobretudo durante partidas em que a Itália possa se soltar mais, mas haverá pouco tempo para fazer o time ganhar familiaridade com uma nova forma de atuar.
4) Não fez um só jogo sob o comando de Prandelli
Fora da seleção desde 2006, Totti precisa se readaptar ao ambiente de uma seleção de futebol da qual ele não é o dono – na Roma, de longe ele é o mais importante jogador, e sua opinião tem peso decisivo. Estar fora da Nazionale há tanto tempo significa, também, desconhecer a forma de trabalho do técnico, o que demandaria algum tempo para que ele a assimilasse. Óbvio, Totti é um jogador inteligente. O que está em discussão, aqui, é a disponibilidade do jogador para acatar a filosofia de Prandelli, e colocá-la em prática.
Além disso, a entrada de um jogador que não contribuiu para a
classificação da Itália para a Copa tirará um jogador que participou do
grupo italiano nos últimos anos, e vai de encontro à meritocracia
pregada por Prandelli, e que é uma das maiores filosofias do trabalho do
técnico azzurro. O fato pode tirar um pouco da credibilidade do
treinador perante os jogadores e pode deixar alguns contrariados.