Liga dos Campeões

Berlim, de novo

Vestindo azul, como a Itália, Juventus honrou as cores da seleção e decidirá título
na capital da Alemanha, como a Azzurra em 2006 (LaPresse)

Dizem que a Juventus é o time que mais representa a Itália. O mais identificado com o país. Aquele time que é a locomotiva da seleção: quando a Velha Senhora está forte, a Squadra Azzurra é forte. São máximas antigas e sem comprovação científica. Mas o fato é que, hoje, a Juventus entrou em campo com seu uniforme reserva: azul, da mesma tonalidade que o da Itália. Enfrentou uma equipe branca – com detalhes em preto –, fora de casa. E avançou à final em Berlim. Semelhanças de sobra com 2006, quando a Nazionale bateu a Alemanha em Dortmund e decidiu no Olímpico. O veredito será igualmente feliz para o time da Bota?

Os números estavam a favor da Juventus. Nas cinco últimas vezes que a Juventus tinha enfrentado o Real Madrid nos mata-matas da fase moderna da Liga dos Campeões (pós-1992), a Juve levou a melhor quatro vezes – perdeu apenas em 1998, na final. Após vencer a partida de ida por 2 a 1, a Velha Senhora nunca tinha sido eliminada, ao mesmo tempo em que os madridistas nunca haviam se classificado após uma derrota no primeiro jogo. 

Ficou na mesma e, cinco anos depois, um time italiano está na final da Champions de novo. Após 12 anos de jejum, a Juve volta a decidir a principal competição europeia. Pela oitava vez consecutiva o Real é eliminado em um mata-mata contra italianos: foram quatro vezes contra a Juve, duas contra o Milan e uma contra Roma e Torino; a última vez que passou foi em 1987, contra o Napoli. Assim, a tão sonhada e inédita final da LC entre Real Madrid e Barcelona, Cristiano Ronaldo e Messi, continuará apenas na imaginação. 

Teremos outras histórias e duelos: Buffon e Barzagli voltam a Berlim, onde foram tetracampeões com a Itália, Chiellini e Suárez jogam um contra o outro após a famosa mordida em Uruguai 1-0 Itália, jogo da eliminação azzurra na Copa de 2014 – o charrua ainda enfrenta Evra, com quem teve entrevero relacionado a ofensas racistas, nos tempos em que jogavam no futebol inglês. Teremos também confronto de estrelas: Buffon, Vidal, Pirlo, Marchisio e Pogba contra Mascherano, Piqué, Iniesta, Xavi e Neymar, além do duelo argentino entre Messi e Tevez. Mas, principalmente, uma inédita final entre Barça e Juve.

A partida acontece no dia 6 de junho, daqui a quase um mês. Até lá, a Juventus cumprirá tabela pela Serie A – mas terá dois jogos de bastante rivalidade, contra Inter e Napoli, bons “testes”– e enfrentará a Lazio, na final da Coppa Italia. O jogo, que aconteceria dia 7 de junho, foi remarcado para a próxima quarta, 20 de maio, em virtude da classificação bianconera. Dessa forma, há grandes chances de a Juventus chegar a Berlim em busca da Tríplice Coroa – assim como o Barcelona. No futebol italiano, só a Inter de 2010 conseguiu tal feito.

Em junho, Pogba deve estar plenamente recuperado de uma lesão que o deixou afastado do futebol por quase dois meses, o que é um grande ganho para a Juve. O francês voltou no final de semana, contra o Cagliari, e jogou no Santiago Bernabéu. Visivelmente sem ritmo, o meia não jogou mal, mas se mostrou aquém do que pode. Ainda assim, participou do gol de empate juventino e teve uma ótima chance de marcar um gol.

Na Espanha, quem marcou primeiro foi o Real Madrid. Depois de assustar com Benzema e Bale, os merengues abriram o placar depois de James Rodríguez dobrar os joelhos e forçar o contato com Chiellini, dentro da área. Ronaldo bateu e fez. Os madrilenhos foram superiores no primeiro tempo, e a Juventus pouco chutou a gol, apesar de ter vantagem na posse de bola. Tevez, apagado, não foi acionado muitas vezes. Muito porque Pirlo errou muitos passes e jogou bem abaixo do que pode.

No segundo tempo, a Juventus voltou com mais ímpeto, afinal estava sendo eliminada. Passou a chutar mais no gol, e quase empatou com Marchisio. Marcelo respondeu na sequência, após erro de Pogba. O francês, então, se redimiu: aproveitando erro de Sergio Ramos na formação da linha de impedimento, aproveitou uma sobra na área e fez a torre para quem chegava de trás. Morata, esquecido por Kroos no meio da área, dominou e bateu bem, empatando o jogo – sem comemorar contra seu ex-clube.

O Real Madrid partiu para cima, enquanto a Juventus demorava para estacionar seu ônibus na entrada da área – Barzagli jogou somente os 15 minutos finais. Bale perdeu duas ótimas oportunidades – uma de cabeça e outra completando cruzamento com o pé canhoto. James bateu por cima do gol em outra oportunidade e Chicharito incendiou o jogo após a saída de um cansado Benzema. Só quem não apareceu foi Cristiano Ronaldo, cada vez menos criador de jogadas e mais definidor delas. Foi a Juventus, no entanto, quem mais fez o goleiro adversário trabalhar. Com Marchisio e Pogba poderia ter definido o jogo, mas Casillas defendeu bem. Buffon, por sua vez, fez uma partida extremamente segura, sem grandes defesas, mas fundamental em seu papel de liderança.

Allegri superou Conte e as desconfianças (Getty Images)

A Juventus, claro, foi a grande vencedora da noite. Mas não dá para deixar de mencionar a vitória pessoal do técnico Massimiliano Allegri. Ele chegou à Juventus de forma conturbada. Antonio Conte se demitiu com a pré-temporada já iniciada e não contava com o apreço da torcida. Seu último ano e meio à frente do Milan tinha sido muito ruim, por diversos fatores – muitos por culpa própria, também, já que perdeu o elenco e teve escolhas confusas. Seu grande trabalho pelo Cagliari, quando chegou a ser eleito o técnico da temporada na Itália, e o scudetto conquistado já pelo Milan pareciam coisa de um passado distante. Mas o técnico toscano deu a volta por cima.

Allegri conseguiu superar Conte – nos bastidores, dizem que o atual técnico da seleção italiana está mais do que mordido pelo sucesso do seu sucessor. Conte foi tricampeão italiano, mas não passou das quartas na Liga dos Campeões – chegou até a cair na primeira fase e não foi campeão da Liga Europa, quando a final era em casa. Allegri queria chegar entre os quatro no torneio continental. 

Conseguiu e superou: está na final. Além disso, modificou o esquema tático da equipe, adaptando-o aos adversários e circunstâncias de cada momento do jogo. Mais: ao começar a usar o 4-3-1-2 como base – seu melhores trabalhos foram com este esquema –, aproveitou o melhor setor da Juve, o seu meio-campo. Apesar de, nesta quarta, na partida no Bernabéu a Juventus não ter sido impecável na meia cancha, isso se viu bastante no jogo de ida e em toda a temporada, o que conferiu bastante confiança à equipe de Turim. Agora, é hora de comemorar.

Real Madrid 1-1 Juventus 

Estádio Santiago Bernabéu, Madrid (Espanha)
Árbitro: Jonas Eriksson (SUE)

REAL MADRID: Casillas; Carvajal, Varane, Sergio Ramos; Marcelo; Kroos, Isco, James Rodríguez; Bale, Cristiano Ronaldo, Benzema (Chicharito). Técnico: Carlo Ancelotti.

JUVENTUS: Buffon; Lichtsteiner, Bonucci, Chiellini, Evra; Pirlo (Barzagli), Marchisio, Pogba; Vidal; Tevez, Morata. Técnico: Massimiliano Allegri.

 

Gols: Cristiano Ronaldo (RM, 23′) e Morata (J, 58′)

Cartões amarelos: Isco e James Rodríguez (RM); Tevez e Lichtsteiner (J)

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