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Álvaro Recoba foi o ‘queridinho’ de Massimo Moratti na Inter

Álvaro Recoba é ícone de uma geração uruguaia, ao lado de Fabián Carini, Paolo Montero e Darío Silva, responsáveis por levar a Celeste Olímpica a uma Copa do Mundo após 12 anos. O ex-atacante completa 40 anos hoje e o homenageamos com um texto sobre sua carreira, que teve fim apenas em 2015. Recoba atuou em 11 de seus 22 anos como profissional na Itália e teve sucesso principalmente pela Internazionale.

El Chino, como era conhecido devido a seus olhos puxados e traços orientais, começou sua carreira no pequeno Danubio, do Uruguai, já mostrando muito talento. No clube suburbano de Montevidéu, mesmo com apenas 17 anos, foi peça importante na equipe que se remontava depois do primeiro título uruguaio de sua história. O destaque, somado aos problemas financeiros que a equipe passava, culminaram na inevitável transferência para um dos dois grandes gigantes do Uruguai. A essa altura, Recoba já atuara ao lado de seu grande ídolo, Enzo Francescoli, no selecionado celeste e criara cobiça no mundo europeu.

Recoba explodiu em definitivo no Nacional. O uruguaio chegou com alguma desconfiança, por se tratar de um jogador bastante novo e com a responsabilidade de criar as jogadas de ataque do Bolso, mas transformou tudo em títulos, gols e uma precoce idolatria. O “novo Maradona” então chamou a atenção de uma das principais equipes do mundo, a Internazionale. Antes, porém, fez a saudade bater no coração dos hinchas nacionalistas que viram seu histórico gol contra o Wanderers, no qual ele passou por sete jogadores, ao melhor estilo Diego Maradona. Contratado pela Inter, aos 21 anos, El Chino havia marcado 28 gols em seus primeiros passos como profissional.

Recoba chegou junto de Ronaldo, num time que já contava com Iván Zamorano e Youri Djorkaeff. O brasileiro, já com fama na Europa, assumiu a titularidade, mas quem brilhou na estreia dos dois foi El Chino: Recoba via a partida contra o Brescia do banco de reservas e, na reta final do jogo o treinador Luigi Simoni apostou suas fichas no camisa 20, que substituiu Maurizio Ganz. No minuto seguinte à sua entrada, os visitantes abriram o placar, mas na sequência o uruguaio mostrou todo seu potencial e com dois golaços de fora da área, um deles de falta, virou a partida para a Inter. Em seu primeiro ano na Inter, o meia-atacante foi vice-campeão italiano com os nerazzurri e também conquistou seu primeiro título, a Copa Uefa.

Até mesmo no pequeno e conturbado Venezia o uruguaio conseguiu brilhar, no fim dos anos 1990 (Guerin Sportivo)

Recoba rapidamente deixou todos impressionados com seu talento e capacidade de finalização, mas, apesar do início promissor, viveu às sombras de seus companheiros mais famosos durante sua primeira temporada: foram apenas 19 partidas, com cinco gols. Para ficar ainda pior, Roberto Baggio chegou ao nerazzurri na temporada seguinte, limitando ainda mais o espaço do uruguaio no time. Depois de somente quatro jogos em seis meses, El Chino acabou emprestado ao Venezia para ter mais tempo de jogo. Na rápida passagem pelos lagunari, Recoba justificou o investimento, marcando 11 gols (inclusive um contra a própria Inter) e dando nove assistências em 19 jogos, o que livrou o time vêneto do rebaixamento.

De volta à Beneamata, Recoba teria um novo técnico, Marcelo Lippi. O italiano encontrou uma forma de encaixar o uruguaio sem que precisasse mexer no comando de ataque, que agora também tinha Christian Vieri. Como trequartista, Recoba conquistou seu espaço na Inter e era um dos jogadores mais bem pagos do mundo na época, porém, em 2001 se envolveu em um escândalo de falsificação de passaportes europeus – alguns times acabaram sendo réus, uma vez que a cidadania tirava o status de extracomunitário do jogador – e foi suspenso por quatro meses. Mesmo assim, El Chino ajudou o Uruguai a conquistar a vaga na Copa de 2002.

Durante toda a passagem por Milão, Recoba sempre deu a sensação de que poderia render mais, se não se lesionasse com tanta frequência e fosse tão irregular – uma de suas mais graves lesões, no tornozelo, o afastou dos gramados por quase seis meses. O talento estava lá, sem dúvidas, mas ele não conseguia ser decisivo, um verdadeiro protagonista. Ainda assim, o presidente Massimo Moratti tinha o uruguaio como jogador preferido e o tratava como um filho.

As melhores temporadas de El Chino pela Beneamata foram as de 2000-01 e 2002-03, quando ele entrou mais vezes em campo e marcou mais gols. Sob o comando de Marco Tardelli, na primeira das campanhas, ele atuou em 41 jogos e anotou 15 gols; enquanto dois anos depois, treinado por Héctor Cúper, fez 12 em 42 partidas. Nas mãos do treinador argentino, a Internazionale foi vice-campeã nacional e caiu nas semifinais da Liga dos Campeões, diante do Milan.

Pela Inter, Recoba alternou grandes momentos a sumiços (imago)

As boas atuações em temporadas anteriores de nada serviram para que Recoba conquistasse um lugar no time de Roberto Mancini, técnico do clube a partir de 2004. No entanto, um dos momentos mais incríveis da carreira do uruguaio foi na gestão do ex-trequartista da Sampdoria: justamente contra os dorianos, El Chino entrou no segundo tempo quando o adversário vencia por 2 a 0 aos 42 minutos e ajudou a virar o jogo para 3 a 2, com um golaço e uma assistência.

Apesar de querido pela torcida, Mancini não dava tanto espaço a Recoba, por causa de sua irregularidade. Flutuar entre o time titular e o reserva incomodava o atacante que queria ritmo para recuperar sua forma física para ajudar o Uruguai a se classificar à Copa de 2006 – não conseguiu. Fora de forma e insatisfeito com a reserva, o atacante deixou a Beneamata no início da temporada 2007, quando foi emprestado ao Torino, para jogar sua última temporada na Bota. Com isso, concluiu sua passagem pela Inter com 262 jogos e 72 gols, além de sete títulos: duas Serie A, duas Copas da Itália, duas Supercopas Italianas e uma Copa Uefa.

Após jogar a Copa América de 2007 e se aposentar da seleção do Uruguai, Recoba desembarcou em Turim e teve uma temporada discreta, para dizer muito. Não deixou saudade na torcida granata e começou a ter seu futebol contestado, já que o Torino escapou do rebaixamento apenas nas últimas rodadas. Por outro lado, uma torcida ficou aliviada com a queda do rendimento de Recoba: a da Roma. El Chino teve a Loba como sua vítima preferida e anotou oito gols em jogos contra os giallorossi – cinco pela Inter, dois pelo Torino e um pelo Venezia.

Após não ser contratado em definitivo pelo Toro e encerrar seu vínculo com a InterRecoba, foi aventurar-se no Panionios, da Grécia, antes de voltar à sua terra para jogar pelo Danubio. Para muitos, aquele seria os últimos passos do Chino como profissional. Porém, as boas atuações fizeram com que voltasse ao Nacional para levar o clube novamente aos títulos: foi com o clube bolsilludo que ele levantou o caneco do Apertura 2011, tirando o título das mãos do Danubio, clube que o formou. Uma daquelas ironias do futebol.

Na parte final da carreira, Recoba atuou pelo Torino, seu último time na Itália (LaPresse)

Após 20 anos, a carreira de Recoba deixa grandes recordações e momentos únicos. Exímio cobrador de faltas e grande chutador de meia distância, hoje deixa saudade. Sua técnica e exuberância em campo são talentos praticamente extintos não apenas em solo uruguaio, como também mundial.

Seus últimos lampejos no Nacional lembraram ao mundo que ele tinha tudo não para ser um novo Maradona, mas para mostrar que sua carreira teve muitos bons momentos. “Quero que me recordem jogando futebol e não que terminei minha carreira lesionado”, disse. A carreira não terminou no departamento médico, como imaginava aos 37 anos. Durou mais dois anos que apenas engrandeceram sua história.

Atualmente, Recoba curte a tranquilidade de Montevidéu, capital do Uruguai, mas já projeta o futuro. Em entrevista recente a um canal de TV de seu país ele rejeitou a possibilidade de ser técnico e disse querer se tornar dirigente. Será que será no estilo paizão, como Moratti foi com ele?

Álvaro Alexander Recoba Rivero
Nascimento: 17 de março de 1976, em Montevidéu, Uruguai
Posição: atacante
Clubes como jogador: Danubio (1993-95 e 2010-11), Nacional (1996-97 e 2011-15), Inter (1997-99 e 2000-07), Venezia (1999), Torino (2007-08) e Panionios (2008-09)
Títulos conquistados: Copa Uefa (1997-98), Coppa Italia (2004-05 e 2005-06), Supercoppa Italiana (2005 e 2006), Serie A (2005-06 e 2006-07), Campeonato Uruguaio (2011-12 e 2014-15)
Seleção uruguaia: 69 jogos e 11 gols

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