Três times e quatro vitórias. Desde 1960 a Serie A não contava com tantas equipes com 100% de aproveitamento após o primeiro mês de competição. Naquela ocasião, Inter, Juventus e Roma eram as líderes; hoje, ao passo que duas protagonistas são as mesmas, o Napoli assumiu o lugar da equipe giallorossa. Este é apenas mais um indício de como a edição 2017-18 do Campeonato Italiano está nivelada por cima e de que a Velha Senhora terá mais dificuldades na briga por mais um caneco.
O ponto de desequilíbrio para os bianconeri pode ser Dybala, que cresce cada vez mais e ensaia ultrapassar, ainda no início da temporada, a sua melhor marca de gols como profissional. O artilheiro da competição, com oito gols, nunca foi tão importante para a Juve. Acompanhe o resumo da 4ª rodada.
Sassuolo 1-3 Juventus
Politano | Dybala (Mandzukic), Dybala (Cuadrado) e Dybala
Tops: Dybala e Pjanic (Juventus) | Flops: Cannavaro e Magnanelli (Sassuolo)
Paulo Dybala, com muito prazer. Reclamaram tanto do argentino pela falta de gols na temporada passada, que La Joya começou 2017-18 atropelando todas as defesas que encontrou pela frente. Além de ter marcado em todas as quatro rodadas, um recorde na Juventus, o camisa 10 segue mais do que líder na artilharia da Serie A, com oito gols. São dez em todas as competições, número já próximo da marca do ano passado e do seu recorde na Itália. Pudera, em 2016-17, o argentino assumiu uma função que lhe afastou do gol, algo que não acontece agora.
Contra o desfigurado Sassuolo, Dybala aproveitou uma série de fatores para brilhar. Para começar, o adversário tem passado por tempos difíceis desde a saída de Di Francesco e a falta de competitividade da equipe de Bucchi é notória. Além disso, La Joya se valeu da atenção sobre Higuaín (mal na partida) e da ajuda dos pontas Cuadrado e Mandzukic para marcar a diferença. O primeiro gol saiu aos 15 minutos, quando Paulo recebeu passe lateral do croata e chutou à sua maneira, de primeira e da entrada da área no canto de Consigli, que já tinha evitado duas vezes a abertura do placar. O segundo foi de muita classe: logo após a volta do intervalo, recebeu na frente de Cannavaro e, sem muito espaço, deu um simples toque fatal no espaço entre o goleiro e a trave. Os anfitriões tentaram reagir e, na saída de jogo, o garoto Adjapong aproveitou falha clamorosa de Lichtsteiner para tocar para Falcinelli dividir com Rugani; na sobra, Politano aproveitou o gol vazio para descontar. O gol de honra de pouco adiantou, uma vez que os donos da casa não voltaram a ameaçar o gol adversário. Além disso, não demorou para Dybala decidir o jogo com mais um gol de falta, dar números finais a partida e manter os 100% de aproveitamento da Velha Senhora.
Napoli 6-0 Benevento
Allan, Insigne (Ghoulam), Mertens (Insigne), Callejón (Ghoulam), Mertens (pênalti) e Mertens (pênalti)
Tops: Mertens e Insigne (Napoli) | Flops: Armenteros e Venuti (Benevento)
Havia quase 30 anos que não acontecia um confronto entre times da Campânia na Serie A – desde que Napoli e Avellino se enfrentaram, em 1987-88. No primeiro dérbi entre Napoli e Benevento disputado na elite, só um time entrou em campo: o jovem time do Benevento tem mostra organização com Baroni, mas as coisas na primeira divisão vão muito além disso e o time de Sarri não teve problemas para golear. Foi tudo muito rápido no San Paolo e os azzurri fizeram 4 a 0 ainda antes do intervalo. Com menos de três minutos, Allan puxou ataque e aproveitou o rebote do chute de Mertens para abrir o placar. Aos 15 minutos começou o show do lado esquerdo partenopeo: com Hamsík de volta à forma, Ghoulam e Insigne foram protagonistas nos três gols seguintes. O segundo da partida veio em cruzamento do argelino para o italiano, que girou com rapidez e chutou colocado para ampliar a vantagem. Aos 27, foi a vez de Insigne dar a assistência através de um cruzamento para Mertens antecipar a defesa e, à Ibrahimovic, se esticar para marcar o terceiro. O quarto veio logo na sequência, em uma jogada que começou com Hamsík, teve a condução de Insigne e o passe de Ghoulam para Callejón, desmarcado na área, fazer a festa em Nápoles.
Com o jogo controlado, tempo para Jorginho seguir batendo recordes de passes e continuar no topo do ranking da Serie A em intervenções com a bola. O ítalo-brasileiro foi o centro de controle dos anfitriões, que não permitiram aos visitantes nem mesmo competirem. Jorginho e Hamsík tocaram mais na bola que todo o time do Benevento: 158 vezes para o camisa 8 e 130 para o 17 (288 no total) contra 261 dos stregoni. Por outro lado, enquanto Belec tentou evitar o pior e foi autor de oito defesas, Reina tocou na bola apenas para iniciar as jogadas com Koulibaly. Ainda houve tempo para Mertens aumentar o massacre e chegar a sua tripletta: duas vezes de pênalti, aos 65 e 90, o belga converteu as cobranças das infrações sobre os reservas Giaccherini e Ounas. A goleada foi importante para o Napoli fazer saldo e também consolidou a sua nona vitória consecutiva na Serie A, algo que nunca acontecera na história do clube. Mais um recorde para a conta de Sarri.
Crotone 0-2 Inter
Skriniar e Perisic (João Mário)
Tops: Martella (Crotone) e Handanovic (Inter) | Flops: Budimir (Crotone) e Icardi (Inter)
Spalletti não poderia ter imaginado um início melhor pela Inter. Quatro vitórias em quatro jogos e três partidas sem sofrer gol – a defesa, aliás, é a melhor do campeonato e foi vazada apenas uma vez. Dessa vez sua equipe não teve grande desempenho, mas não houve muito espaço para lamentações, visto que a Beneamata manteve 100% de aproveitamento e a posição no topo da tabela. O time de Davide Nicola não teve problema em ceder a posse de bola para o adversário na quente tarde da Calábria, mas se defendeu muito bem, manteve uma disputa física e levou perigo nas transições durante quase 80 minutos, exigindo a primeira grande atuação de Handanovic na temporada. O esloveno não precisou trabalhar nas três rodadas anteriores, mas fez defesas que mantiveram o placar inalterado no Ezio Scida.
Handanovic fez sua parte e a dupla de zaga interista também marcou a diferença, mantendo os adversários longe do gol. E se Perisic e João Mário não aproveitaram as primeiras oportunidades, Skriniar mais uma vez foi decisivo, só que dessa vez no ataque: aos 82 minutos, quando a partida se encaminhava para o empate, o eslovaco aproveitou bate-rebate na área dos squali e marcou um gol bizarro. No longo tempo extra, que teve sete minutos acrescidos pelo árbitro Luca Banti, Perisic e João Mário se redimiram e o croata ampliou a vantagem, enfim dando tranquilidade para a Inter comemorar mais uma vitória.
Milan 2-1 Udinese
Kalinic (Calabria) e Kalinic (Kessié) | Lasagna
Tops: Kalinic e Kessié (Milan) | Flops: Stryger Larsen e Danilo (Udinese)
O experiente Kalinic foi contratado para oferecer garantias a um setor protagonizado pelos jovens André Silva e Cutrone, e o croata correspondeu muito bem na primeira partida como titular na Serie A. A formação com três zagueiros, utilizada na vitória sobre o Austria Viena na Liga Europa foi repetida no campeonato e também foi bem sucedida, visto que o sistema trouxe mais segurança para o time de Montella. Apesar do placar apertado, os rossoneri não encontraram grandes problemas para vencer a Udinese e esbarraram mais nos erros de criação do que na competitividade oferecida pelos oponentes.
Todos os gols da partida saíram em um intervalo de nove minutos, na metade da primeira etapa. O primeiro aconteceu em uma boa jogada milanista, que começou na esquerda, com Rodríguez, foi para a direita, com Calabria, e parou em Kalinic, no centro da pequena área. Um cochilo de Romagnoli permitiu o empate de Lasagna, que aproveitou passe errado do zagueiro na saída de bola. Mas logo depois saiu o gol da vitória do time da casa, quando Kalinic completou cabeceio de Kessié, novamente na pequena área. Algumas observações sobre o 3-5-2 rossonero: a defesa esteve bem e foi criteriosa na hora de iniciar as jogadas, apesar do erro de Romagnoli; os alas participaram bastante e foram importantes na criação dos ataques; Kessié foi praticamente onipresente no meio-campo e uma importante referência para Biglia, que distribuiu o jogo sem problemas; Suso e Bonaventura criaram linhas de passes, porém não receberam a bola em boas condições de oferecerem perigo, enquanto Kalinic, além dos gols, deu o volume de jogo prometido. Vale louvar ainda as intervenções cirúrgicas do VAR, que anulou corretamente dois gols – um de cada time – e com menor perda de tempo do que em rodadas anteriores.
Roma 3-0 Verona
Nainggolan (El Shaarawy), Dzeko (Florenzi) e Dzeko (Kolarov)
Tops: Dzeko e Pellegrini (Roma) | Flops: Souprayen e Kean (Verona)
Depois do jogo adiado contra a Sampdoria, na última semana, somente agora a Roma teve a oportunidade de se redimir da derrota em casa para a Inter na segunda rodada. Apesar da forte chuva que caiu durante a partida, o time de Di Francesco não teve problemas para atropelar a pior equipe da Serie A, que também tem disparada a defesa mais vazada do campeonato. Antes, porém, foi um parto para Dzeko balançar as redes: contra o brasileiro Nícolas, o bósnio perdeu duas oportunidades inacreditáveis. O baixinho Cengiz Ünder, por sua vez, aprontou pelo lado direito, com direito a bola na trave.
Com tantas chances perdidas, até parece que o gol demorou para sair, mas foi com apenas 22 minutos de bola rolando que Nainggolan começou a festa. Aos 34, enfim Dzeko se redimiu, completando ao seu jeito na pequena área o cruzamento de Florenzi, de volta ao time titular desde a última lesão. Sem perder o ritmo, os anfitriões seguiram pressionando e Nícolas suportou o máximo as chances criadas por vários giallorossi, com destaque para Pellegrini – titular pela primeira vez – e El Shaarawy. O terceiro e último gol saiu já nos acréscimos e em mais um cruzamento para Dzeko. Dessa vez foi Kolarov quem deixou o camisa 9 na cara do gol para confirmar sua doppietta. Depois da expulsão do estabanado Souprayen, Schick estreou pelo novo clube e Pazzini teve gol corretamente anulado por impedimento. Pela primeira vez nesta temporada, a Roma entregou uma grande atuação e poderia ter construído um placar maior. Agora será necessário mostrar o mesmo futebol diante de equipes mais organizadas que este pífio Hellas Verona.
Genoa 2-3 Lazio
Pellegri e Pellegri (Zukanovic) | Bastos, Immobile (Lukaku) e Immobile)
Tops: Pellegri (Genoa) e Immobile (Lazio) | Flops: Gentiletti (Genoa) e Lucas Leiva (Lazio)
“Ciro Immobile is on fire, your defence is terrified”, poderiam ter cantado os laziali em Gênova. Se a fraca equipe de Juric deu mais problemas que o previsto para os visitantes, o artilheiro teve de garantir a vitória que manteve a Lazio no encalço dos líderes, a dois pontos de distância. Somente Immobile poderia ofuscar a noite do garoto Pellegri, que já mostrou que tem estrela contra equipes da capital: o atacante de 16 anos quase frustrou a despedida de Totti, em maio, e voltou às redes com uma doppietta em sua primeira partida na temporada. Nascido em 2001, o alvo de Inter, Milan e Juventus tem apenas quatro presenças na Serie A e começa a estabelecer marcas impressionantes.
Entre o gol de Bastos e o empate do garoto, após falha de De Vrij e Radu, pouquíssimo aconteceu. Foi por causa da reação visitante que o jogo mudou de ritmo: para buscar a vitória, Inzaghi tirou um zagueiro para colocar o atacante Caicedo e renovou as laterais com Marusic e Lukaku. Foi exatamente o belga, irmão menos famoso do camisa 9 do Manchester United, que deu o passe para Immobile balançar as redes e voltar a colocar sua equipe na frente do placar. A vantagem não durou muito tempo, uma vez que Pellegri completou cruzamento perfeito de Zukanovic e contou com falha de Strakosha para empatar mais uma vez. A partir de então, muito drama no Marassi, até que o ex-laziale Gentiletti entregou a bola de presente para Immobile avançar, encobrir Perin e finalmente garantir a vitória dos romanos.
Torino 2-2 Sampdoria
Baselli (Niang) e Belotti (Ljajic) | Zapata (Ramírez) e Quagliarella (Strinic)
Tops: Belotti (Torino) e Quagliarella (Sampdoria) | Flops: Moretti (Torino) e Sala (Sampdoria)
Belotti de um lado, Zapata e Quagliarella do outro. Ninguém levou a melhor no empate entre as equipes de Mihajlovic e Giampaolo, em um jogo cheio de reencontros. Com apenas 17 segundos, Zapata marcou seu primeiro gol pela Sampdoria (e também o mais rápido desta Serie A), aproveitando falha de Moretti em um cruzamento de Ramírez, que tem tido bom impacto neste início de campeonato.
O empate veio aos 13 minutos, em belo gol da entrada de área de Baselli, e a virada apenas um minuto depois, quando Belotti recebeu de Ljajic e chutou cruzado para marcar seu segundo gol no certame. O novo empate também não tardou: Quagliarella tratou de acionar a lei do ex mais uma vez, completando cruzamento de Strinic na segunda trave. A expectativa era de partida movimentada entre equipes que buscam frustrar os favoritos na parte de cima da tabela e têm bons sistemas ofensivos. Promessa cumprida.
Fiorentina 2-1 Bologna
Chiesa (Gil Dias) e Pezzella (Biraghi) | Palacio (Taïder)
Tops: Chiesa (Fiorentina) e Palacio (Bologna) | Flops: Astori (Fiorentina) e Poli (Bologna)
No Dérbi dos Apeninos, a Fiorentina sofreu para manter a invencibilidade em casa nesta década sobre seu rival. Se o Bologna foi carregado pelo veterano Palacio, do lado violeta estava Chiesa, o filho da arte, que diante da pouca participação de seus companheiros de ataque, foi um dos poucos pontos positivos do time de Stefano Pioli. Foi dos pés do talentoso ponta saiu o primeiro gol. Na verdade, um golaço: depois de Gil Dias virar o jogo para o outro lado da área, Chiesa fintou o marcador e acertou um chute cheio de curva para tirar de Mirante e abrir o placar.
No entanto, imediatamente após a saída de jogo, o capitão Astori foi superado por Palacio e, do chão, viu o atacante argentino de 35 anos acertar um belo chute da entrada da área. O gol não abalou o time da casa, que seguiu apertando em busca de mais uma vitória. O gol decisivo aconteceu somente aos 69 minutos, quando Biraghi levantou a bola na área em cobrança de escanteio e Pezzella pulou alto para cabecear no contrapé do goleiro. O clássico ainda teve drama na parte final, porque Palacio acertou a trave e Pioli teve que recuar sua equipe para assegurar o resultado. No fim das contas, o Bologna até voltou a marcar no Artemio Franchi, mas a Fiorentina conseguiu sua segunda vitória em sequência.
Spal 0-2 Cagliari
Barella e João Pedro (Diego Farias)
Tops: João Pedro e Barella (Cagliari) | Flops: Gomis e Paloschi (Spal)
Todas as atenções estavam voltadas para Borriello, que saiu do Cagliari no final da janela de transferências por divergências com a direção e deixou a torcida sarda revoltada. Porém, o protagonista da partida foi o garoto Barella, que tem assumido um lugar de destaque no time titular de Rastelli e, com muita personalidade, tem mostrado porque é um dos melhores jogadores da geração 1997 da Itália.
Em uma partida equilibrada, sem grandes oportunidades, prevaleceu o surpreendente bom desempenho da defesa visitante, a segunda mais vazada na última temporada. A retaguarda rossoblù foi ajudada pelo primeiro gol de Barella na Serie A: o meia abriu o placar aos 17 minutos, após rebote de Gomis, e deu tranquilidade para os sardos controlarem o jogo. Não sem sofrimento, afinal o goleiro Cragno realizou pelo menos cinco intervenções importantes na partida, entre defesas e cortes. Do brasileiro João Pedro veio o gol que definiu o placar: o camisa 10 acertou um belo chute de longa distância para dar a segunda vitória ao Cagliari, que já se recuperou das derrotas esperadas para Juventus e Milan no início do torneio.
Chievo 1-1 Atalanta
Bastien (Inglese) | Gómez (pênalti)
Tops: Inglese (Chievo) e Gómez (Atalanta) | Flops: Cesar (Chievo) e Petagna (Atalanta)
O VAR dá, o VAR tira. No caso da Atalanta, aconteceu em ordem contrária: Ilicic teve gol anulado e, no final do jogo, Orsolini recebeu uma falta na área que ninguém tinha percebido até o árbitro de vídeo apontar. Papu Gómez, poupado no primeiro tempo, converteu o pênalti e evitou o tropeço dos nerazzurri contra o Chievo. Jogando em casa, o time de Verona fez jogo bastante duro e vacilou ao não ter garantido a vitória quando teve a oportunidade. Depois de Bastien ter aberto o placar pouco depois da volta do intervalo, os comandados de Maran poderiam ter ampliado. No final das contas, um empate que não desagrada nenhum dos dois times.
*Os nomes entre parênteses após os autores dos gols se referem aos responsáveis pelas assistências
Seleção da rodada
Handanovic (Inter); Florenzi (Roma), Skriniar (Inter), Pezzella (Fiorentina), Ghoulam (Napoli); Allan (Napoli), Kessié (Milan); Dybala (Juventus), Mertens (Napoli), Kalinic (Milan); Dzeko (Roma). Técnico: Maurizio Sarri (Napoli).