A cabeleira em estilo black power lhe conferia o ar de frontman de uma banda de disco funk dos anos 1970, um sucesso qualquer nas discotecas do mundo inteiro. As pistas de dança, no entanto, eram apenas um passatempo para Gerónimo Barbadillo, que guardava os seus melhores passos para os gramados. O rápido e habilidoso peruano foi um dos destaques da Serie A na década de 1980, período em que atuou por Avellino e Udinese.
O sobrenome Barbadillo é nobre no futebol do Peru. A dinastia começou com o atacante Guillermo, pai de Gerónimo, que foi ídolo do Sport Boys, do Alianza Lima e da seleção do país nas décadas de 1940 e 1950. Willy, porém, não queria que seu filho fosse jogador profissional, para que não sofresse com comparações.
Embora quisesse proteger sua cria, impedir o florescimento de uma paixão era impossível. Gerónimo havia aprendido a amar o esporte graças ao pai, passava os dias batendo bola nas ruas das cidades de Lima e Callao e não queria ser médico, como desejava Guillermo. O jovem contava com o apoio da avó e, com a sua ajuda, conseguiu ir escondido à sede do Sport Boys para fazer um teste e assinar um contrato. Aos 16 anos, o sonho estava realizado: era jogador profissional.
Gerónimo estreou pelos rosados apenas dois anos após firmar seu contrato. Em Callao, cidade portuária vizinha à capital Lima, o menino Barbadillo se tornou gente grande. Prontamente após seus primeiros jogos, em 1972, foi convocado para a seleção do Peru. O atacante passou apenas dois anos no Sport Boys e, em 1974, acertou com o Defensor Lima, então campeão nacional.
Pelos Carasucias de Breña, Barbadillo disputou a Copa Libertadores de 1974, mas acabou vendo seu time ser eliminado no triangular que definiria um dos finalistas – o classificado foi o São Paulo, que acabou com o vice-campeonato. No entanto, durante sua estadia no clube, Gerónimo venceu a Copa Simón Bolívar (disputada por equipes de Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Paraguai e Venezuela) e também foi titular absoluto da seleção peruana campeã da Copa América de 1975. Foi o último título da blanquirroja, que eliminou o Brasil nas semifinais e bateu a Colômbia na decisão. Além do esterno destro, a histórica equipe inca tinha ainda Teófilo Cubillas e Oswaldo “Cachito” Ramírez.
Após conquistar a América do Sul, Barbadillo rumou para a parte norte do continente. Apesar do interesse do Boca Juniors, o peruano acertou com o Tigres, do México, graças ao aval e à mediação do treinador, o compatriota Claudio Lostaunau. Em Nuevo León, ganhou o apelido de “Patrulla”, pela semelhança com um jovem policial de um filme americano transmitido no país à época. Tal qual o personagem de cinema, Barbadillo era negro, tinha cabelo black power e, mais importante, era extremamente veloz na caça aos rivais: cobria com destreza toda a extensão direita do gramado e, além de realizar com louvor a função tática, ainda marcava muitos gols.
Em sete anos de México, Barbadillo se tornou ídolo máximo dos felinos, a ponto de ser presenteado com um carro pelo presidente do clube e de ter sua camisa 7 aposentada depois de sua saída. O peruano conquistou dois títulos mexicanos e uma copa local pelo clube, disputou 17 clássicos Regiomontanos contra o Monterrey e se tornou um dos cinco maiores artilheiros do Tigres, com 74 gols marcados. Em 1981-82, foi eleito o Bola de Ouro do Campeonato Mexicano, que também faturou na ocasião. Uma prévia para sua participação na Copa do Mundo.
Barbadillo não participou de nenhuma partida das Eliminatórias para o Mundial, mas era presença garantida na seleção blanquirroja, treinada pelo brasileiro Tim. Sua convocação gerou alguma polêmica, porque a federação peruana permitiu que o atacante se apresentasse muito depois dos companheiros, quase na data da estreia na Copa do Mundo. Isso porque o Campeonato Mexicano se encerrava no dia 6 de junho, nove dias antes do jogo entre Peru e Camarões.
A chegada de Barbadillo à Espanha foi bombástica, por causa do estilo que ele ostentava fora dos campos. Em uma época em que jogadores apenas começavam a chamar atenção pelo que vestiam, Patrulla mais parecia um astro da música: desembarcou em La Coruña com óculos escuros brilhosos, blazer branco, camisa de seda celeste, um jeans preto colado e cinto de couro combinando com a roupa, além de anéis, pulseiras e relógio de ouro. Pena que este momento foi muito mais estrondoso do que a participação dos incas e do próprio Gerónimo na competição.
O Peru ficou no Grupo 1, junto com Itália, Polônia e Camarões e foi eliminado após não vencer nenhum adversário: ficou no empate contra os africanos e a Nazionale e tomou uma bordoada dos poloneses. Barbadillo, desgastado fisicamente, não atuou em nenhuma partida completa e só começou jogando mesmo diante da Itália. Apesar de o ponta-direita peruano não ter cumprido a expectativa de ser um dos destaques da Copa de 1982, o agente italiano Nicola Gravina conseguiu emplacar uma transferência para o Avellino, por 1 bilhão de liras. O procurador já havia recomendado ao clube o brasileiro Juary, a quem Patrulla substituiria, e tinha trânsito com o presidente Antonio Sibilia.
Patrulla conhecia muito pouco sobre o futebol italiano naquela época e com certeza não tinha ouvido falar do excêntrico Sibilia. A primeira impressão da cidade não havia sido muito positiva, pois Avellino havia sido destruída por um terremoto em 1980 e ainda estava parcialmente em ruínas. Um de seus primeiros contatos com o cartola também não foi nada ortodoxo: logo após a contratação, o dirigente ordenou que o peruano ficasse nu para que ele examinasse seu físico. “Você tem pernas tortas, mas não faz mal, porque é driblador. Mas corte esses cabelos, hein?”, sentenciou Sibilia. Pelos cabelos, aliás, começou a ser chamado de Tartufon – eram similares aos do protagonista de um comercial de panetone, que tinha este nome.
Nos primeiros treinamentos, Barbadillo demonstrou sua potência: corria 3,5 quilômetros em 12 minutos. Com esses números, o jogador de 28 anos não teve problemas em virar titular do Avellino e manter o posto nas três temporadas em que defendeu os irpini. Entre 1982 e 1985, o velocista foi fundamental para que a equipe evitasse o rebaixamento, no final de sua década de ouro, mas foi em seu primeiro ano na Campânia que Barbadillo teve mais destaque. O peruano atuou em todas as partidas da Serie A e, contando com a pequena quantidade de gols marcados pelos atacantes Soren Skov e Alberto Bergossi, foi vice-artilheiro da equipe, atrás apenas do meia-atacante Beniamino Vignola. Patrulla se consolidou como um jogador “caseiro”: todos os seis gols do velocista foram anotados no estádio Partenio.
O sucesso no sul da Bota fez com que a Roma chegasse a sondar sua contratação. No entanto, Barbadillo permaneceu no Partenio e ganhou um novo parceiro no ataque: o argentino Ramón Díaz substituía Vignola, negociado com a Juventus. A temporada 1983-84 começou bem, com uma goleada por 4 a 0 sobre o Milan, na qual Patrulla deixou um golzinho. No entanto, o Avellino teve muitas dificuldades naquele campeonato e só se salvou na bacia das almas. O peruano ajudou, com tentos que valeram pontos contra o Catania e o Verona.
A terceira temporada foi a menos prolífica para o peruano, que só marcou uma vez, em um empate fora de casa com a Ascoli. O tento, porém, foi importantíssimo, já que aquele ponto foi uma raríssima conquista dos biancoverdi fora de seus domínios: na briga contra o rebaixamento, concretizada com sucesso no final do campeonato, 76% dos pontos do Avellino foram conquistados no Partenio. Além disso, Barbadillo, então com 30 anos, era o vice-capitão da equipe e tinha muita influência nos bastidores. Afinal, se tornou o estrangeiro com mais atuações pelo clube na Serie A, com 81 jogos realizados.
Em 1985, Patrulla receberia sua última convocação para a seleção do Peru. No mesmo ano, também acabou deixando o sul da Itália e foi negociado com a Udinese por um valor de cerca de 1,4 bilhão de liras. Barbadillo chegou ao Friuli para ocupar a vaga de estrangeiro deixada por Zico, mas em uma equipe bem enfraquecida: a saída do Galinho significou um redimensionamento dos bianconeri, que se verificou nas atuações ao longo da temporada. Barbadillo jogou um pouco mais recuado, como meia aberto, e realizou 22 partidas e dois gols na Serie A.
Barbadillo iniciou a temporada 1986-87 na Udinese e até disputou partidas da Coppa Italia, mas depois disso foi afastado da equipe principal e não mais entrou em campo. Antes mesmo de completar 32 anos, o Tartufon decidiu se aposentar, mas depois ainda voltaria aos gramados por equipes amadoras: a Sanvitese, em 1987-88, e o Milland, precursor do Südtirol, em 1991-92. Em ambas as ocasiões, disputou a sexta divisão.
Barbadillo fixou residência na Itália, país pelo qual se apaixonou e se tornou eternamente grato. “Minha grande satisfação foi chegar ao campeonato do país campeão do mundo numa época em que eram permitidos apenas dois estrangeiros por equipe. Quando você olhava para os outros nomes, a ficha caía”, disse a um site de torcedores do Avellino. Patrulla chegou a trabalhar nas categorias de base da Udinese e hoje é empresário de jogadores. Em maio de 2017, foi uma das estrelas da festa de 50 anos do Estádio Universitario, do Tigres.
Gerónimo Barbadillo González
Nascimento: 24 de setembro de 1954, em Lima, Peru
Posição: atacante
Clubes: Sport Boys (1972-73), Defensor Lima (1974-75), Tigres (1976-82), Avellino (1982-85), Udinese (1985-86), Sanvitese (1987-88) e Milland (1991-92)
Títulos: Copa América (1975), Copa Simón Bolívar (1975), Copa de México (1976) e Campeonato Mexicano (1978 e 1982)
Seleção peruana: 20 jogos e três gols
Olá,
O artigo é muito bom, parabens! Lembro ter visto a “Patrulla” Barbadillo no jojgo Uruguai 1 x 2 Peru, no Centenario em Montevideo e no Argentina 2 – 2 Peru, no Monumental de Buenos Aires, ambos jogados pelas eliminatorias para o Mundal de España 1982. Saudações!.