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Subestimado, o ótimo Daniele Conti se tornou um dos maiores ícones do Cagliari

Na Itália, poucos meio-campistas foram tão completos quanto Daniele Conti. Líder nato, o jogador aliava boa marcação à técnica necessária para distribuir passes precisos, dando-lhe uma capacidade ímpar de organização de jogo. Seu sucesso clubístico, porém, foi discreto: não teve nenhuma experiência em âmbito europeu, e jamais passou pela sensação de disputar as primeiras posições de uma tabela. Ótimo meia que foi, portanto, se converteu num nome tarimbado para o rol de subestimados da Serie A.

Nascido em Nettuno, pequena cidade próximo à capital italiana, a pressão futebolística não poderia ser menor: seu pai, Bruno Conti, é nada menos que um dos maiores ídolos da história da Roma. Daniele, ao lado de seu irmão Andrea – que também foi atleta, mas com trajetória discreta –, ingressou nas categorias de base dos giallorossi. Estreou pelo clube em 1996, e lá ficou até 1999, totalizando míseras seis atuações. Seu momento mais notável como romanista foi o gol contra o Perugia, na temporada 1998-98, em vitória por 5 a 1.

Sem oportunidades na capital, Conti foi cedido ao Cagliari em copropriedade. Se em Roma ele era indiferente ao elenco, na Sardenha a pressão começou a pesar. Frequentemente comparado ao pai, não demonstrou resultado tão rapidamente. Mesmo assim, teve seu passe adquirido por completo. Foi após a queda dos rossoblù, na temporada 1999-2000, que Daniele começou a chamar atenção por conta própria.

Conti não foi aproveitado em Roma e virou ícone do Cagliari (Getty)

Durante três temporadas de inúmeras trocas de treinador, o Cagliari figurou na Serie B. A chegada de Gian Piero Ventura, em 2002, começou a mudar a situação. Ele já havia feito o clube subir, em 1998, e o salvado no ano de 1999. Nada de mais glorioso acontecera depois de sua saída. Em seu retorno, a oitava posição, embora superior às medianas dos dois anos anteriores, não bastou.

A temporada 2003-04, porém, viu o Cagliari empatar com o Palermo na primeira colocação e retornar à divisão máxima. Inquestionável citar Gianfranco Zola como outra peça essencial à ascensão rossoblù, juntamente a Conti.

Se lá na frente Zola, Mauro Esposito e David Suazo elevavam o nível do time, alguém mais discreto lhes dava suporte. Conti, já totalmente estabelecido no clube e na cidade, tornava-se uma alternativa para receber a braçadeira de capitão. Na temporada 2004-05, o Cagliari chegou em décimo na Serie A e às semifinais da Coppa Italia.

Técnico e bom marcador, o volante fez história no Cagliari (Getty)

Depois, Zola se aposentou, Esposito, Suazo e outros bons nomes deixaram a Sardenha. Conti, entretanto, era inamovível, e assim assumiu a responsabilidade na equipe. O que perduraria por mais uma década inteirinha.

Os anos seguintes contaram com outras campanhas medianas, sem muito brilho. Capitão em várias oportunidades – oficialmente, o dono da tarja era o uruguaio Diego López –, Daniele Conti se converteu num dos pilares de um Cagliari que deixou de lutar desesperadamente para não cair. O meia certamente poderia ter recebido melhores oportunidades na sua carreira. Já sondado por clubes melhores e mais estruturados, como quando teve seu nome ligado a um Palermo “europeu”, em 2010, Daniele sempre afirmou que não deixaria a Sardenha. Dito e feito.

Ironicamente, marcou um golaço na Roma, na temporada 2008-09, em pleno Olímpico. As câmeras logo focaram seu pai, que deve ter pensado em como o talento de Daniele poderia ter sido mais bem aproveitado na equipe em que cresceu. Aquele tento, aliás, não foi o único: Conti guardou cinco bolas nas redes da Loba, que seria sua vítima favorita na carreira.

Ao longo de 16 anos, Conti dominou o meio-campo do Cagliari e se tornou o jogador com mais partidas pelo clube (Getty)

Conti se tornou o capitão do Cagliari em 2010, com a aposentadoria de López. Vestindo a braçadeira, seguiu liderando os isolani no meio-campo e colecionando méritos por salvar, ano após ano, o time da Sardenha do rebaixamento. E, também, colhendo louros individuais.

O volante se aposentaria em 2015, aos 36 anos, sendo 16 de Cagliari, depois de uma temporada em que não conseguiu evitar o descenso dos rossoblù. Conti fez 464 partidas pelo time e, com expressiva vantagem, é o atleta que mais vezes vestiu a camisa dos casteddu. Não à toa, entrou para o hall da fama do clube e foi eleito para a equipe ideal dos sardos. Outro dado interessante: com 140 cartões amarelos pela Serie A, o volante se tornou recordista no quesito, empatado com Giampiero Pinzi.

Logo depois de pendurar as chuteiras, Conti se aperfeiçoou e fez cursos para atuar como técnico e diretor esportivo. E seguiu como funcionário do Cagliari, atuando em cargos de coordenação nas divisões de base dos sardos até 2022, quando o relacionamento de 23 anos com o clube se interrompeu de forma definitiva.

Daniele Conti
Nascimento: 9 de janeiro de 1979, em Nettuno, Itália
Posição: meio-campista
Clubes: Roma (1996-99) e Cagliari (1999-2015)

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