Em 1993, Claudio Ranieri chegou para treinar e reconstruir uma Fiorentina em mais bocados. A morte de seu então dono, Mario Cecchi Gori, foi o ápice de uma sequência de situações negativas, com polêmicas e um rebaixamento para a segunda divisão. Nos anos seguintes, a Viola se tornou uma das agremiações mais poderosas da Itália, contando com vários craques e utilitários de valor comprovado. Um deles, Stefan Schwarz, passou três temporadas na equipe e foi essencial para a conquista de títulos.
Filho de pai alemão e mãe sueca, Schwarz começou nas categorias de base do Kulladals, em Malmö, sua cidade natal. A sua principal inspiração foi o próprio genitor, que jogou futebol em ligas menores na Alemanha. Com 16 anos, Stefan mudou de país e ingressou no setor juvenil do Bayer Leverkusen. No entanto, ele ficou por lá apenas por duas temporadas, retornando para a Suécia logo depois. Foi no país em que nasceu, inclusive, que o meia começou a carreira profissional.
Meio-campista central de características mais defensivas, Schwarz iniciou sua trajetória pelo Malmö, em 1987, e vestiu a camisa celeste até 1990, quando – depois de faturar dois títulos da Allsvenskan, a liga de seu país, e uma Copa da Suécia – se juntou ao compatriota Sven-Göran Eriksson no Benfica. Àquela altura, o treinador vivia a sua segunda passagem no time português, e tentava reforçar o elenco que perdera a final da Copa dos Campeões de 1989-90 para o Milan.
Naquela época, os encarnados chamavam a atenção na Europa por seu grupo de jogadores provenientes da Escandinávia. Na década anterior, por exemplo, o sueco Glenn Peter Strömberg – ídolo da Atalanta – e o dinamarquês Michael Manniche viraram estrelas com a camisa vermelha. Para 1990, a pedido de Eriksson, o Benfica construiu a “armada sueca”, um apelido para três peças-chave do grupo benfiquista: Schwarz, Jonas Thern e Mats Magnusson, um dos maiores nomes da história do clube.
Schwarz chegou a Lisboa como opção de banco e, curiosamente, só se tornou titular, num meio-campo que tinha ainda Paulo Sousa e Rui Costa, depois da saída de Eriksson. Com o Benfica, Stefan conquistou duas vezes a Primeira Liga e a Taça de Portugal em uma ocasião, além de ter atuado nos dois jogos que resultaram na eliminação do Arsenal na Copa dos Campeões de 1991-92 – a primeira após os times ingleses cumprirem seis anos de exclusão dos torneios continentais em virtude dos fatos que levaram à Tragédia de Heysel.
O sueco permaneceu em Portugal até 1994, quando se transferiu para a Inglaterra. Por ironia do destino, justamente para o Arsenal. A ascensão de Schwarz no futebol europeu se dava por conta de seu sucesso no Benfica, mas não só por isso. Na metade inicial daquela década, o meia central viveu o seu auge pela seleção da Suécia. Inicialmente, Stefan representou os Blågult na Copa do Mundo de 1990 e na Euro 1992. Na primeira competição, viu os escandinavos caírem na fase de grupos; na segunda, em casa, os ajudou a chegarem nas semifinais, onde foram eliminados pela Alemanha nas semifinais – o volante, porém, não disputou esta partida por suspensão.
Dois anos mais tarde, na Copa do Mundo realizada nos Estados Unidos, Schwarz foi um dos titularíssimos da Suécia na surpreendente campanha realizada pelos escandinavos. O jogador, que ainda defendia o Benfica, formou um potente trio de meias centrais com Thern e Klas Ingesson, que foi fundamental para que os Blågult alcançassem as semifinais. A única partida que Stefan não atuou foi aquela que resultou na eliminação, frente ao Brasil: afinal, fora expulso contra a Romênia e estava suspenso. Em seguida, com o encarnado em campo, os suecos venceram a Bulgária por 4 a 0 e garantiram o terceiro posto, que marcou o melhor desempenho da seleção desde o vice-campeonato, em 1958.
Portanto, Schwarz chegou ao Arsenal como uma grande contratação, feita para manter o clube na briga por títulos – na temporada anterior, os londrinos haviam batido o Parma e faturado a Recopa Uefa. Contudo, sua passagem pelos Gunners, foi complicada. Stefan atuou com a frequência de um atleta contratado para ser titular absoluto, mas o time tinha dificuldades de jogar bem por conta do defensivismo do escocês George Graham, que acabaria demitido em fevereiro de 1995 e substituído pelo interino Stewart Houston.
Pelo Arsenal, Schwarz amargou várias campanhas fadadas ao fracasso ao longo de 1994-95. Na Premier League, os Gunners ficaram apenas na 12ª posição, por exemplo – e nas copas nacionais também não foram longe. Em nível continental, os londrinos foram derrotados pelo Milan na Supercopa Uefa e, na Recopa, até chegaram perto de compensar a péssima época. Os ingleses eliminaram a Sampdoria nas semifinais, mas não conseguiram o bicampeonato do torneio porque o Zaragoza lhes derrotou na decisão. Aquela, inclusive, foi a última partida de Stefan com a camisa alvirrubra: no verão europeu de 1995, o diretor esportivo Oreste Cinquini o levou para a Fiorentina.
Em 1995, a Viola já tinha renascido das cinzas, vencido a Serie B e montado um elenco de respeito, sob o comando de Ranieri – o craque Gabriel Batistuta, é claro, fazia parte dele. Outros nomes também se destacavam: Francesco Toldo, Lorenzo Amoruso, Pasquale Padalino, Daniele Carnasciali, Francesco Baiano e Rui Costa, que Schwarz conhecia desde os tempos de Benfica. O sueco se adaptou com muito mais facilidade ao esquema ofensivo de Ranieri e virou peça fundamental do plantel, atuando como meia central ou até um pouco mais aberto pela esquerda.
Tendo Schwarz como elemento importante para equilibrar o time no meio-campo e ligar os demais setores, a Fiorentina fez uma excelente campanha na Serie A e ficou na quarta posição, com os mesmos 59 pontos da Lazio, terceira. Já na Coppa Italia, a equipe violeta produziu uma trajetória histórica: somou oito vitórias em oito jogos, 17 gols marcados e apenas três sofridos, com direito a duplo triunfo sobre a Atalanta nas duas partidas da decisão. Com o título, os gigliati encerraram um jejum de 21 anos sem grandes conquistas e garantiram vaga na Recopa Uefa.
O ano seguinte começaria logo com outro título: o da Supercopa Italiana. Em uma atuação de gala de Batistuta, os gigliati bateram o favorito Milan de George Weah, Franco Baresi, Paolo Maldini e outros craques, que haviam faturado o scudetto, em 1996. O restante da temporada, entretanto, não seria tão empolgante: tropeços na Serie A levaram a Fiorentina a se contentar com o meio da tabela – terminaria na nona posição – e a se dedicar aos torneios de mata-mata. Ou melhor, à Recopa, visto que a precoce eliminação na Coppa Italia, para o rival Bologna, no terceiro turno, ainda em outubro de 1996, transformou o sucesso na competição num imperativo para os comandados de Ranieri.
Na trajetória continental, Schwarz marcou o seu primeiro gol com a camisa violeta, nas oitavas, na vitória caseira por 2 a 1 sobre o Sparta Praga. O sueco e seus colegas até ficaram perto de fazer história na Recopa Uefa, mas o Barcelona de Ronaldo, Pep Guardiola e Luís Figo ganhou em Florença e eliminou os toscanos nas semifinais.
Em 1997, a situação da Fiorentina mudou bastante fora dos gramados. Ranieri decretou o fim de seu ciclo na agremiação e deixou a Itália para comandar o Valencia, da Espanha, sendo substituído por Alberto Malesani. O futebol apresentado pela equipe violeta foi bonito, mas irregular. Além disso, o comandante discutia publicamente com o presidente Vittorio Cecchi Gori – a gota d’água na guerra foi a contratação de Edmundo, que não agradava ao treinador pelo temperamento explosivo, similar ao seu.
Naquele turbilhão, Schwarz foi utilizado mais frequentemente no setor esquerdo do meio-campo, mas perdeu várias partidas por suspensão ou lesão – incluindo uma que sofreu no fim da temporada 1997-98, cujo tempo de recuperação se estendeu à época seguinte. Após ajudar os toscanos a ficarem na quinta posição da Serie A, o sueco deixou a Bota, somando 98 jogos e três gols. A propósito, o tento na goleada por 5 a 1 sobre o Brescia, ocorreu em sua derradeira aparição com a camisa violeta.
No verão europeu de 1998, após a Copa do Mundo – para a qual a Suécia não se classificou –, Stefan reencontraria Ranieri no Valencia. No único ano em que representou os espanhóis, o meio-campista escandinavo recebeu a camisa 10 e deu uma contribuição razoável para os che, que viveram uma temporada vitoriosa.
Schwarz foi utilizado em 30 partidas de La Liga e, com quatro gols, contribuiu para o quarto lugar, que rendeu ao Valencia uma vaga na Champions League. Além disso, o meia ajudou o clube a ganhar a Copa Intertoto, no início da temporada. Na trajetória que resultou em título da Copa do Rei, entretanto, Stefan só atuou em uma ocasião. Somando tudo, foi o suficiente para que o jogador ganhasse o prêmio Guldbollen, atribuído ao melhor sueco do ano, em 1999.
O desempenho positivo no Valencia levou Schwarz, que já tinha 30 anos, à Premier League. O sueco reforçou o Sunderland, que voltava à primeira divisão inglesa, e fez uma boa temporada de estreia, ajudando os Black Cats a ficarem na sétima posição. Contudo, uma lesão no tendão de Aquiles comprometeu o restante de sua carreira: lhe tirou da Euro 2000 e o obrigou a se aposentar da seleção de seu país pouco depois, além de limitar sua minutagem em campo.
Schwarz atuou pelo Sunderland até março de 2003. No período, contribuiu com dois sétimos lugares na Premier League e uma fuga do rebaixamento, em 2002. Na derradeira temporada, contudo, mal foi utilizado – só jogou mesmo na Copa da Liga Inglesa – e decidiu parar com quase 33 anos, antes mesmo do descenso dos Black Cats se confirmar.
Aposentado, Schwarz se transferiu para Portugal. O meia sueco teve bons momentos na Fiorentina, mas se identificou mesmo com o Benfica, e foi na região de Lisboa que fixou residência. Por lá, também arrumou um emprego: o de comentarista da BTV, canal oficial benfiquista.
Hans-Jürgen Stefan Schwarz
Nascimento: 18 de abril de 1969, em Malmö, Suécia
Posição: meio-campista
Clubes: Malmö (1987-90), Benfica (1990-94), Arsenal (1994-95), Fiorentina (1995-98), Valencia (1998-99) e Sunderland (1999-2003)
Títulos: Campeonato Sueco (1987 e 1988), Copa da Suécia (1989), Primeira Liga (1991 e 1994), Taça de Portugal (1993), Coppa Italia (1996), Supercopa Italiana (1996), Copa Intertoto (1998) e Copa do Rei (1999)
Seleção sueca: 69 jogos e 6 gols