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Houssine Kharja foi o jogador do norte da África que teve a carreira mais longeva na Itália

Com mais de 250 partidas entre as séries A e B, Houssine Kharja ajudou a colocar os marroquinos no radar do futebol italiano, seguindo o legado de Rachid Neqrouz, zagueiro titular do Bari na virada de século. Com trajetória sólida, a dupla abriu o caminho para compatriotas, como Medhi Benatia, Omar El Kaddouri, Achraf Lazaar e Adel Taarabt. Com passagens por Roma, Inter e Fiorentina, o meio-campista conseguiu um rápido destaque por Siena e Genoa no final da última década.

Antes, porém, Kharja começou sua carreira nas categorias de base do Paris Saint-Germain. Nascido em Poissy, nos subúrbios de Paris, o marroquino cresceu no clube de sua cidade natal até se mudar para a Córsega, onde completou sua formação pelo Gazélec Ajaccio. Mas a estreia profissional aconteceu mesmo em Portugal pelo time reserva do Sporting, na época em que a geração de Cristiano Ronaldo, Ricardo Quaresma, José Fonte, Hugo Viana e Custódio surgia.

O bom desempenho na terrinha não lhe valeu uma oportunidade no time principal e sua aventura no futebol italiano começou na temporada seguinte, no coração do Belpaese: a Úmbria. O meio-campista rapidamente conquistou seu espaço na Ternana e no segundo ano passou a ser convocado regularmente pela seleção marroquina, pela qual disputaria 78 partidas, com três participações na Copa Africana de Nações. Além do vice da CAN, em 2004, e da artilharia do torneio, oito anos depois, Kharja também participou dos Jogos Olímpicos de Londres, em 2012.

A Roma foi a primeira equipe de Kharja na elite do futebol italiano (AFP/Getty)

Os rossoverdi chegaram a bater na trave pelo acesso à Serie A em 2004. Se a equipe de Terni não subiu, Kharja ganhou a sua primeira oportunidade na elite de qualquer jeito, após os quatro bons anos pelo clube. O marroquino foi uma das primeiras contratações da Roma de Luciano Spalletti, que tinha chegado no clube na mesma época. O meia teve pouco espaço no começo da temporada, mas no final acabou acumulando 25 presenças entre Serie A, Copa Uefa e Coppa Italia, e terminou o ano relativamente bem, com moral pelo gol marcado contra a Juventus, em março de 2006.

Spalletti tinha interesse em seguir trabalhando com o marroquino, mas a Roma não chegou a um acordo com a Ternana pela contratação definitiva e o meio-campista acabou entrando em uma batalha judicial contra os umbros, que tinham caído para a terceira divisão. Kharja levou a pior e conseguiu a rescisão somente um ano depois, quando assinou com o Piacenza. A volta à Serie B durou pouco, porque após o bom primeiro turno, o jogador voltou a chamar a atenção da elite e se mudou para o Siena, em janeiro de 2008. Curiosamente, sua saída abriu espaço para o garoto Radja Nainggolan, que terminou o ano como titular.

Na Toscana, Kharja teve impacto imediato no time de Mario Beretta e começou a chamar a atenção da Inter. Os nerazzurri estavam encaminhando o scudetto com uma vitória por 2 a 1, mas o marroquino marcou o gol do empate que adiou o título interista para a última rodada. Voltaria a ser uma pedra no sapato de Roberto Mancini no mesmo ano, mas já na temporada seguinte, quando anotou o tento do 1 a 1 – a Beneamata venceu, mas precisou suar até o final do jogo.

Kharja assumiu protagonismo na Serie A com a camisa do Siena (AFP/Getty)

Nessa temporada, o versátil meio-campista se consolidou como trequartista no time de Marco Giampaolo e teve seu ano mais prolífico, com seis gols em 38 partidas, mostrando bons dotes para atacar a área adversária. Esta característica seria explorada por Gian Piero Gasperini, com quem trabalhou no Genoa por quase um ano e meio, depois de ser contratado em 2009. Kharja começou a temporada com dois gols em quatro partidas, mas uma ruptura no ligamento cruzado do joelho esquerdo, em outubro, lhe afastou dos gramados por cinco meses.

Kharja voltou à ação em março, com direito a gol em seu retorno. No entanto, somente na temporada seguinte o meia justificou sua contratação: mesmo após a saída de Gasperini, demitido em novembro, o marroquino seguiu em destaque com Davide Ballardini – o suficiente para novamente se reencontrar com a Inter. Dessa vez, Kharja firmou compromisso com os nerazzurri, já que foi contratado no final do mercado de inverno, em 2011, juntamente a Yuto Nagatomo, Andrea Ranocchia e Giampaolo Pazzini.

Sob o comando de Leonardo, o atleta magrebino conquistou seu espaço no meio-campo ao lado dos craques do Triplete de 2010, especialmente após a mudança do esquema para o 4-3-1-2. Jogando como trequartista ou mais recuado, como regista, Kharja contribuiu para a arrancada da equipe para o vice-campeonato e o título da Coppa Italia. A passagem por Milão também proporcionou sua única experiência na Liga dos Campeões, competição em que fez dois jogos, entrando no segundo tempo contra Bayern Munique e Schalke 04.

Entre boas atuações e lesões, Kharja não se firmou pelo Genoa (Getty)

A Inter tinha a opção de contratá-lo em definitivo, mas após a saída de Leonardo a direção mudou a estratégia no mercado com a contratação de Gasperini. Com isso, Kharja acabou indo para a Fiorentina, na trágica janela de transferências do verão de 2011 feita por Pasquale Corvino: vários reforços não renderam e a viola flertou com o rebaixamento.

O marroquino teve espaço com Sinisa Mihajlovic e Delio Rossi – especialmente com o segundo. Kharja terminou o ano como titular, depois de ficar ausente por três meses por causa da participação na Copa Africana de Nações e de uma lesão sofrida logo após a disputa no torneio continental. Mesmo assim, não convenceu a torcida e foi alvo constante de manifestações – algumas delas, lamentavelmente, de cunho racista.

Kharja e Fiorentina concordaram em rescindir o contrato em junho de 2012 e essa acabou sendo a última experiência do marroquino na Itália. O meia se mudou para o Qatar, onde jogaria pelo Al-Arabi por uma temporada. Apesar disso, em março trocou sopapos com o meia-atacante brasileiro Nenê (ex-Vasco, atualmente no São Paulo) e foi suspenso até o final do campeonato. O africano acabou entrando em outra novela judicial, dessa vez por atraso nos pagamentos, e ficou afastado dos gramados por mais um ano. Após se desvincular do clube catariano, voltou a jogar em outubro de 2014, pelo Sochaux.

Kharja chegou a defender a Inter, numa negociação que foi um tanto quanto surpreendente (Getty)

Na segunda divisão francesa, Kharja assumiu a titularidade em novembro, mas não convenceu durante a mediana temporada realizada pelo clube fundado pela Peugeot. O meia deixou a França no final do contrato, sem deixar grandes recordações, e teve sua última experiência no futebol da Romênia. Assinou pelo Steaua Bucareste, mas uma nova lesão no ligamento cruzado, dessa vez do joelho direito, o afastou definitivamente do futebol profissional.

Sem contrato desde 2016, Kharja tem sido presença constante no time master da Inter, que é liderado pelo ex-goleiro Francesco Toldo. No Inter Forever, o marroquino costuma jogar como titular e até tem algum destaque. Notável para quem, durante toda a carreira, se acostumou a ficar à margem dos grandes craques.

Houssine Kharja
Nascimento: 9 de novembro de 1982, em Poissy, França
Posição: meio-campista
Clubes: Sporting (2000-01), Ternana (2001-05; 2006-07), Roma (2005-06), Piacenza (2007-08), Siena (2008-09), Genoa (2009-11), Inter (2011), Fiorentina (2011-12), Al-Arabi (2012-13), Sochaux (2014-15) e Steaua Bucareste (2015-16)
Títulos: Coppa Italia (2011) e Copa da Liga Romena (2016)
Seleção marroquina: 78 partidas e 13 gols

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