Não faltou fôlego nem sangue. Nem emoção. Nesta quarta, Roma e Liverpool protagonizaram mais um jogo franco e frenético pelas semifinais da Champions League, entrando para a história da competição. A vitória dos romanos por 4 a 2 conduziu a um placar agregado de 7 a 6, o maior desde 1960, quando Eintracht Frankfurt e Rangers marcaram 16 vezes na mesma fase. Não foi suficiente para a classificação dos italianos, mas colocou em xeque a máxima de que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar: a Roma ficou a um gol de conseguir uma segunda fantástica reviravolta nesta temporada.
O fato de a Roma ter levado dois gols no primeiro tempo atrapalhou muito que a “remonta” pudesse ser concretizada. O mais duro para o time italiano é que os tentos saíram de falhas da defesa e não por um problema tático. Dessa vez, Di Francesco foi feliz na estruturação do time e na proposta de jogo: os contra-ataques do Liverpool foram praticamente anulados, o que deixou Salah e Roberto Firmino distantes da maior parte das ações.
Sané, o mais acionado do trio de ataque dos Reds, foi responsável por abrir o placar aos 9 minutos. Nainggolan errou um passe no meio-campo, quando a defesa romanista estava desguarnecida, e acabou acionando Firmino. O brasileiro foi inteligente e esperou a hora exata para tocar para o atacante senegalês marcar, com uma conclusão precisa. A Roma empatou seis minutos depois, graças a outro presente: Lovren tentou afastar um passe de cabeça, mas acertou o rosto de Milner em cheio e viu a bola estufar as próprias redes.
Aos 24, Robertson fez uma grande jogada pelo lado esquerdo e passou para Mané, que obrigou Alisson a colocar para escanteio. Na cobrança, Dzeko dividiu no alto com Van Dijk (que pareceu usar o braço para deslocar o bósnio) e a bola acabou sobrando para Wijnaldum, sozinho, fazer 2 a 1. As desatenções acabaram deixando a Roma em uma situação complicada: precisava de quatro gols para levar o duelo para a prorrogação. Ainda no primeiro tempo, o time da casa ficou perto de empatar, mas um chute desviado de El Shaarawy parou na trave.
Logo na volta para a segunda etapa, a Roma apresentou uma postura ainda mais agressiva. Dzeko sofreu um pênalti claro de Karius, mas a jogada foi anulada por causa de um impedimento inexistente – o atacante estava na mesma linha. Pouco depois, aos 52, em outro lance dúbio, o bósnio aproveitou um rebote em chute de El Shaarawy e empatou. Havia dúvida sobre a posição do pé do romanista: uma indefinição que seria facilmente resolvida com o VAR, não usado na Liga dos Campeões.
Faltando quase 40 minutos para o fim do jogo, a Roma foi para cima, num 4-2-4, e ameaçou com Ünder. Após a defesa de Karius, o time da casa poderia ter empatado, mas Alexander-Arnold cortou um chute fulminante de El Shaarawy: com a mão, o que resultaria em pênalti para a Roma e expulsão do lateral. Mais uma vez, um lance capital que poderia ter sido resolvido com o auxílio do vídeo.
Os lances que não foram assinalados eram difíceis de serem vistos a olho nu e absolvem o trio liderado por Damir Skomina – que segundo informações do jornalista Tancredi Palmeri, ficou desolado quando descobriu que havia errado. Os erros, na verdade, acabam jogando um peso muito grande sobre a comissão de arbitragem da Uefa, que é liderada pelo italiano Pierluigi Collina e opta por não empregar o VAR. Nas quartas de final e na outra semifinal, disputada entre Bayern de Munique e Real Madrid, também aconteceram episódios duvidosos.
Do segundo pênalti não dado até o final do jogo, o Liverpool só assustou numa finalização de Firmino e numa escorregada de Alisson. Já a Roma desperdiçou uma oportunidade com Dzeko e viu Karius fazer ótima defesa em outra finalização do bósnio. Houve tempo para que Nainggolan se redimisse do seu erro nos últimos minutos, quando marcou o terceiro e o quarto gols dos romanistas, em belo chute da entrada da área e em cobrança de pênalti.
Só não houve tempo para que a reação se concretizasse e a equipe italiana pudesse avançar até a final. De qualquer forma, a Roma fez uma Liga dos Campeões muito acima das expectativas e deixou a competição ovacionada por seus torcedores e de cabeça erguida, muito maior do que quando entrou. Um tamanho que pode ser avaliado pelos dividendos obtidos por venda de ingressos, prêmios da Uefa e novos contratos de patrocínio para o seu uniforme. A gestão de James Pallotta tem como novo objetivo dar continuidade a este redimensionamento positivo.