Muito antes da incensada “ótima geração”, jogadores nascidos na Bélgica transformaram a história de clubes importantes no futebol europeu. O líbero Georges Grün foi um deles. Além de construir uma linda história no Anderlecht e ter três Copas do Mundo como titular na bagagem, o defensor fez parte dos momentos iniciais da arrancada do Parma nos anos 1990.
A história de Grün no futebol italiano começou aos 28 anos. Parece tarde para os padrões atuais, mas isto era muito comum na década de 1980, época em que a maioria dos jogadores faziam história em seus países antes de rumar para experiências no estrangeiro. O líbero brilhou por oito temporadas no tradicional Anderlecht, um dos maiores clubes belgas e, pelos mauves, foi tricampeão nacional e campeão da Copa Uefa.
Em 1990, Grün se tornou um dos três jogadores estrangeiros contratados pelo Parma. Ao lado do sueco Tomas Brolin e do brasileiro Taffarel, foi um dos primeiros reforços do time financiado pela Parmalat, que debutaria na Serie A. Nos anos seguintes, além do debute na elite, a equipe do Ennio Tardini também fez sucesso em termos continentais e o belga, como um dos pilares da equipe, alcançou o estrelato internacional.

Grün fez parte da primeira leva de estrangeiros do endinheirado Parma em sua estreia na elite (Arquivo/Parma Calcio)
No primeiro ano, o líbero fez 33 jogos e teve destaque na primeira vitória do time pelo campeonato, contra o Napoli de Diego Maradona. Ao lado de Lorenzo Minotti e Enzo Gambaro, Grün fez parte da quarta defesa menos vazada da temporada. Surpreendentemente, o Parma terminou na sexta colocação, classificando-se para a Copa Uefa: os crociati herdaram a vaga do Milan, que foi excluído das competições europeias por ter abandonado o campo nas quartas de final da Copa dos Campeões contra o Marseille.
Na competição europeia o Parma não foi bem, mas no âmbito doméstico faturou a sua primeira taça – a da Coppa Italia. Grün participou ativamente da jornada dos ducali, atuando em 43 das 46 partidas da temporada e anotando cinco gols – dois deles foram decisivos e valeram vitórias contra adversários fortíssimos, como Sampdoria e Napoli. Nesta temporada (1991-92) foi considerado como um dos melhores jogadores de sua posição em atividade na Itália.
O belga atuou por mais dois anos no clube emiliano, que nas temporadas seguintes teve destaque especialmente nas competições europeias. Em 1993, Grün precisou superar um drama pessoal: a morte prematura de sua filha, que tinha apenas três meses. O defensor deu a volta por cima, colocou a cabeça no lugar e, com raça, não se eximiu de disputar jogo algum.
Naquela temporada, Grün também participou da final da Recopa Uefa, contra os conterrâneos do Royal Antwerp – e saiu do gramado de Wembley carregando a taça. O Parma começou a temporada seguinte com o título da Supercopa europeia e quase fez a dobradinha na Recopa, mas perdeu a final para o Arsenal.
Já no final do difícil ano de 1993, Grün sofreu uma lesão no menisco, que reduziu drasticamente seu número de partidas no período. Mesmo assim, conseguiu se recuperar na parte final da temporada e foi convocado para a Copa do Mundo dos Estados Unidos. Após a disputa na América, seu contrato com o Parma chegou ao final e Grün retornou ao Anderlecht.
O líbero ficou dois anos no clube violeta de Bruxelas. Em 1996, recebeu uma proposta para voltar à Bota e atuar num grande rival do Parma: a Reggiana. O elenco da equipe grená, porém, era muito fraco e não conseguiu competir com seus adversários. La Regia foi rebaixada com a lanterna da Serie A, quase 20 pontos abaixo do último time fora da zona de descenso. Grün, então com 35 anos, decidiu se aposentar após a melancólica temporada.
Muitos esperavam que o destino do hábil defensor belga, com privilegiado senso tático, seria o banco de reservas. Grün poderia trilhar uma carreira de sucesso também como treinador, porém, mesmo com o diploma em mãos, optou pelo caminho da TV: atualmente é comentarista do Canal Plus, na Bélgica.
Em 1998, denúncias sobre um suposto esquema de dopagem continuada colocou em dúvida os procedimentos dos médicos de Juventus e Parma. À época, Grün deu uma declaração polêmica relacionada ao assunto. “Quando jogava no Parma, nos ofereciam pílulas ou injeções para melhorar nosso rendimento em campo, mas éramos livres para dizer não. Eu nunca aceitei”, disse ao belga Le Soir. Todos os envolvidos afirmaram que as substâncias administradas eram lícitas e, no final das contas, não houve comprovação ou punições.
O caso não diminuiu seu amor pelo clube gialloblù. Em 2015, Grün foi um dos vários ex-jogadores que assinaram uma petição para tentar salvar o clube da falência. O apoio não foi suficiente e os ducali só voltaram à elite em 2018, depois que tiveram de recomeçar sua trajetória a partir da Serie D. Durante todo o caminho até a elite, Grün esteve na torcida pela reconstrução da equipe.
Georges Serge Grün
Nascimento: 25 de janeiro de 1962, em Schaerbeek, Bélgica
Posição: zagueiro
Clubes: Anderlecht (1982-90 e 1994-96), Parma (1990-94) e Reggiana (1996-97)
Títulos: Copa Uefa (1983), Campeonato Belga (1985, 1986 e 1987), Supercopa Belga (1985 e 1987), Copa da Bélgica (1988 e 1989), Coppa Italia (1992) e Recopa Uefa (1993)
Seleção belga: 77 jogos e 6 gols
O Milan abandonou o campo nas quartas de final, não foi?
Sim. Ajeitamos! Valeu!
[…] Na época, o Parma era um clube desconhecido no país. A injeção de dinheiro da Parmalat permitiu a ascensão, mas os gialloblù faziam apenas sua estreia na Serie A. Grün seria um dos escolhidos na primeira trinca de estrangeiros montada no Estádio Ennio Tardini, que ainda reunia Taffarel e Tomas Brolin. Não demorou para que o zagueiro brilhasse, numa linha defensiva que ainda reunia Luigi Apolloni e Lorenzo Minotti. O belga seria uma referência técnica aos dois jovens que chegariam à seleção italiana, primando por sua inteligência tática e sua capacidade técnica – leia mais na Calciopédia. […]