Atacantes, brasileiros, brincos nas orelhas, carecas, sucesso meteórico pelo Cruzeiro. Logo quando chegou à Roma, em 1999, Fábio Júnior foi comparado a Ronaldo, ídolo da Inter à época. No entanto, apesar da similaridade com o Fenômeno, o mineiro de Manhuaçu não conseguiu corresponder às expectativas na Cidade Eterna.
Antes de explodir no Cruzeiro, Fábio Júnior teve um início complicado quando almejava chegar ao futebol profissional. Em 1996, aos 19 anos, o jovem atleta acabou barrado nas categorias de base do Corinthians por usar brincos. Em entrevista à revista Placar, o atacante alegou que haviam outros jogadores com o acessório para orelhas, mas só encrencaram com ele. Contudo, o diretor das categorias de base do Timão à época, Fredy Marcelo, rebateu as afirmações de Fábio Júnior, justificando que “nenhum garoto estava autorizado a usar brinco no Corinthians”.
Dispensado do time alvinegro após dois meses e meio, Fábio Júnior voltou a Minas Gerias para defender o Democrata, de Governador Valadares. Em julho de 1997, foi comprado pelo Cruzeiro, que desembolsou 300 mil reais para contar com o promissor atacante. Embora tenha sido contratado para atuar na equipe profissional, ele foi utilizado nas categorias de base celeste. E não deixou a desejar: terminou a Copa São Paulo de Juniores de 1998 como artilheiro da competição, com nove gols. Por ter sido expulso nas quartas de final contra o Fluminense, não atuou nas semifinais, diante do Internacional, que acabou derrotando a Raposa e faturou o título daquela edição.
Agora no primeiro time do Cruzeiro, Fábio Júnior levou a torcida cruzeirense ao êxtase ao marcar uma tripletta em cima do rival Atlético-MG pelo jogo de ida da final do Campeonato Mineiro de 1998, no Mineirão. O Cruzeiro venceu a partida de ida por 3 a 2 e segurou um empate sem gols na volta. O jovem de Manhuaçu comemorou seu primeiro título como profissional. No mesmo ano, Fábio Júnior foi artilheiro da Copa Mercosul ao lado do meia Alex, do Palmeiras, ambos com seis gols, e do Brasileirão, torneio em que balançou as redes 18 vezes e ajudou o time cruzeirense a terminar com o vice-campeonato.
Em 1998, ele recebeu suas primeiras oportunidades na seleção brasileira do técnico Vanderlei Luxemburgo. Foi convocado para três jogos do Brasil, mas só entrou contra o Equador, em outubro, passando em branco. Ao fim da temporada, foi selecionado para a seleção do Campeonato Brasileiro da Revista Placar. O excelente desempenho de Fábio Júnior colocou seu nome na pauta de vários clubes.
Depois de recusar ofertas de Monaco e Palmeiras (à época recebendo investimentos da Parmalat), o Cruzeiro estipulou o preço de 20 milhões de dólares para os clubes que quisessem contratar o atacante. Segundo rumores, a Juventus sondou o jogador ao final de 1998: os bianconeri pretendiam pagar entre 15 e 20 milhões de dólares para levar o garoto à Itália. No entanto, outro clube do Belpaese tomou frente na jogada e contratou Fábio Júnior.
Em janeiro de 1999, a Roma pagou 15 milhões de dólares ao Cruzeiro e comprou o jovem mineiro. Aos 21 anos, assinou contrato por cinco anos e meio com a equipe da capital. Chegou ao país sob a fama de ser o “novo Ronaldo”, devido à sua semelhança com o Fenômeno. Porém, o novo “fenomeno brasiliano” não foi nem de longe o jogador que a imprensa italiana e a torcida giallorossa esperavam.
Fábio Júnior pisou em Roma para ser o protagonista do time, mas logo de cara não teve a aprovação do então técnico romanista, Zdenek Zeman. O treinador havia sugerido a Franco Sensi, ex-presidente do clube, outro atacante para comandar o setor ofensivo: Andriy Shevchenko. O ucraniano estava despontando no Dynamo Kyiv e era desejado pelo comandante, mas acabou fechando com o Milan, equipe pela qual se tornaria o melhor jogador do mundo em 2004.
Zeman duraria até o fim da temporada 1998-99 à frente da Roma. Nesse meio tempo, o excêntrico treinador não poupou críticas ao camisa 27: “Ele não pode fazer quase nada e não tem o menor desejo de aprender”. Fabietto, apelido que Fábio Júnior recebeu meses depois que chegou a Trigoria, também não se ajudava
Além disso, suas entrevistas passavam um mix de superioridade e otimismo. “Acho que, no momento, eu sou o melhor atacante brasileiro em atividade. Ronaldo? Eu não sei, eu não tenho que pensar sobre o que está acontecendo na mente dos outros, do que estão convencidos”, afirmou. “Vocês verão que, jogando, demonstrarei que não sou muito caro. Os romanos ainda não viram meus gols”, prometeu.
No primeiro semestre de 1999, Fábio Júnior marcou três gols em nove partidas (sete da Serie A e duas da Copa Uefa). Ao todo, ficou 401 minutos em campo. Sua estreia aconteceu na derrota por 3 a 1 para o Venezia, fora de casa, pela 20ª rodada da Serie A 1998-99. No jogo seguinte, contra a Sampdoria do futuro romanista Vincenzo Montella, o centroavante recebeu bom passe na ponta esquerda e arrematou de canhota para marcar seu primeiro tento pelo time da Cidade Eterna. A Roma venceu o jogo por 3 a 1.
Os torcedores ficaram na expectativa de que Fabietto começasse a justificar na próxima temporada o investimento feito pelo clube. No entanto, o jogador perdeu ainda mais espaço após a chegada do técnico Fabio Capello. Depois de duas semanas de treinamento, Capello se reuniu com a cúpula romanista e pediu que o camisa 27 fosse negociado. A contragosto do técnico, Fábio Júnior seguiu no elenco. Ele atuou em apenas 14 jogos (a maioria deles, saindo do banco de reserva) e marcou somente dois gols. Ao todo foram 23 partidas e cinco bolas na rede em pouco menos de um ano e meio na capital.
Em entrevista ao jornal Hoje em Dia, publicada em março de 2016, Fábio Júnior admitiu o atrito com Capello, porém lamentou ter sido “impaciente” durante sua passagem pela Itália. “Não me arrependo de ter ido. Arrependo de não ter tido a paciência que hoje vejo que seria necessária. Poderia ter tido um tempo maior no futebol europeu. Estava sempre sendo convocado para a Seleção. Acabei ficando pouco na Roma. Tive problemas com o Fabio Capello, por isso e me faltou tranquilidade para lidar com aquela situação”, confessou.
Em março de 2000, já considerado um “flop” dos grandes, ele foi emprestado ao Cruzeiro até dezembro do mesmo ano por 1,1 milhão de dólares. O acordo incluía opção de compra ao término do vínculo. De volta a Belo Horizonte, Fábio Júnior ajudou a Raposa na conquista da Copa do Brasil. O centroavante, inclusive, marcou o primeiro gol dos celestes no 2 a 1 contra o São Paulo, valendo pela finalíssima da competição.
Um ano depois, Fabietto foi cedido por empréstimo ao Palmeiras, com passe fixado em 10 milhões de dólares. Em maio, o atacante se envolveu em uma polêmica. A Procuradoria da FIGC, a Federação Italiana de Futebol, acusou Fábio Júnior e outros jogadores estrangeiros que jogaram na Itália anteriormente de terem usado passaportes falsos. A entidade também denunciou a Roma, clube com o qual o atacante tinha vínculo.
Esse imbróglio aconteceu porque, na época, somente três jogadores extracomunitários poderiam atuar em cada time italiano. Isto é, havia limites para atletas sem cidadania de um dos 15 países (atualmente são 27) pertencentes à União Europeia. Visando ludibriar a lei, dirigentes e procuradores agiam nos bastidores – com ou sem anuência dos interessados – para obter passaportes europeus falsificados para eles, o que os tornaria cidadãos europeus. Fábio Júnior alegou ser estranho aos fatos. “Eu não fiz nada, mas não posso garantir que o clube não tenha feito algo. Acho difícil. É só ver o tipo de acusações que estão fazendo. Não dá para acreditar nesse tipo de coisa”, defendeu-se.
Na conclusão do inquérito, o comitê disciplinar da FIGC suspendeu por um ano 12 jogadores envolvidos no escândalo de falsificação de passaportes – além Fábio Júnior, nomes como Dida e Álvaro Recoba também foram punidos. O argentino Juan Sebastián Verón, ex-meio-campista da Lazio, foi o único absolvido. Os clubes dos jogadores também foram punidos: a Roma foi condenada a pagar 750 mil dólares.
Em janeiro de 2002, o clube romano emprestou o atacante novamente ao Cruzeiro. Após cumprir o gancho, Fábio teria a sua terceira passagem pelo clube, na qual entrou em campo 38 vezes e marcou 14 gols. Também fez parte da campanha estrelada que culminou nos títulos do Supercampeonato Mineiro e na Copa Sul-Minas. Um ano depois, o centroavante retornou à Europa para defender o Vitória de Guimarães por empréstimo até junho, mas ficou na agremiação portuguesa por apenas dois meses, pois a Roma finalmente conseguiu vendê-lo.
O Atlético-MG acertou, em março de 2003, a contratação de Fábio Júnior, que tinha 25 anos à época do negócio. Porém, a passagem do atleta pela equipe alvinegra não durou muito. Após ser artilheiro do alvinegro no Campeonato Brasileiro de 2003, com 14 gols, ele rescindiu contrato com a agremiação em janeiro de 2004.
Depois da curta jornada pelo Galo, Fábio Júnior se aventurou pelo futebol japonês: acertou compromisso com o Kashima Antlers, à época treinado por Toninho Cerezo. Entretanto, permaneceu apenas um ano na Ásia. Retornou ao Atlético-MG em 2005, mas em julho do mesmo ano rescindiu contrato com os mineiros para reforçar o Al-Wahda, dos Emirados Árabes. Depois, rodou por Bochum, da Alemanha, e Hapoel Tel Aviv, de Israel, sem muito destaque, mas ganhou dois títulos: a segunda divisão da Bundesliga (2005-06) e a Copa do Estado de Israel (2007).
Fábio Júnior retornou ao Brasil em 2008. Passou por Bahia (não jogou devido a problemas de documentação) e Brasiliense até chegar ao América-MG, em 2010. Atuou por três temporadas no Coelho, virou ídolo da torcida e foi artilheiro do Campeonato Mineiro de 2011, com 13 gols. Depois do América-MG, o centroavante passou por quatro clubes do interior mineiro: Minas Boca (2014), Boa Esporte (2014), Guarani (2015) e Villa Nova (2016).
Aos 40 anos, Fábio Júnior ainda procurava um time para defender. “Estou pronto para voltar a jogar. Eu me sinto ainda em plenas condições físicas e psicológicas, motivado também para jogar mais um período”, afirmou, em entrevista ao UOL Esporte publicada em julho de 2017. Não foi o que ocorreu. O mineiro não voltou aos campos e, aposentado, se tornou comentarista da Rede Globo, do Sportv e do Premiere.
Fábio Júnior Pereira
Nascimento: 20 de novembro de 1977, em Manhuaçu (MG)
Posição: atacante
Clubes: Cruzeiro (1997-98, 2000 e 2002), Roma (1999-2000), Palmeiras (2001), Vitória de Guimarães (2003), Atlético-MG (2003 e 2005), Kashima Antlers (2004), Al-Wahda (2005), Bochum (2005-07), Hapoel Tel Aviv (2007-08), Bahia (2008), Brasiliense (2009), América-MG (2010-13), Minas Boca (2014), Boa Esporte (2014), Guarani-MG (2015) e Villa Nova-MG (2016)
Títulos: Campeonato Mineiro (1998), Copa do Brasil (2000), Copa Sul-Minas (2002), Supercampeonato Mineiro (2002), Campeonato Emiradense (2005), 2. Bundesliga (2006), Copa do Estado de Israel (2007) e Campeonato Brasiliense (2009)
Seleção brasileira: três jogos
“O centroavante, inclusive, marcou o primeiro gol da vitória celeste por 2 a 0 na finalíssima contra o São Paulo.”
O primeiro jogo foi 0x0
Consertamos. Valeu!
2×0? Não foi 2×1?
Joga nada. Arrombado
Tu acabou comigo nesse teu comentário kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Fábio Junior sempre se declarou cruzeirense. Nunca foi atleticano. Corrijam isso aí.
Queria até encerrar s carreira no Cruzeiro: https://www.google.com.br/amp/s/www.gazetaesportiva.com/times/cruzeiro/ex-cruzeirense-veterano-de-40-anos-quer-encerrar-carreira-jogando-com-camisa-azul/amp/
A verdade é que os dois times erraram, o Cruzeiro por tê-lo vendido e a Roma por tê-lo contratado a peso de ouro pra tentar fazê-lo dele um novo Ronaldo Fenômeno. Com esses ingredientes, é fácil tudo dar errado.