A melhor Sampdoria que já existiu contou com algumas peças inamovíveis. Somente dois jogadores, porém, passaram 15 anos em Gênova e viveram todo o período dourado da Samp: Roberto Mancini, ídolo máximo do clube, e Moreno Mannini. O lateral direito conquistou sete títulos com a camisa blucerchiata, vestiu a faixa de capitão e ainda se destacou pela longevidade.
Embora seja um dos maiores exemplos recentes de fidelidade a um clube no futebol italiano, Mannini não começou a jogar pela Samp. Natural de Imola, na região da Romanha, o lateral se formou no clube local e estreou profissionalmente na Serie D. Depois disso, tudo caminhou rapidamente: em duas temporadas Moreno passou ao Forlì, da C1 e, ao Como, da segunda divisão.
Bastaram poucos meses para que Mannini tomasse conta da lateral direita dos lariani e fizesse duas ótimas campanhas. Em 1982-83, a equipe da Lombardia caiu nos play-offs de acesso à Serie A, mas no ano seguinte conseguiu a vaga. Antes de os biancoblù subirem, porém, o jogador já havia deixado a equipe.
O Como seria a sua porta de entrada para a Sampdoria. O bom relacionamento entre os donos dos clubes, o comasco Alfredo Tragni e o doriano Paolo Mantovani, acelerou o negócio, fechado em janeiro de 1984. Os dois já haviam conduzido as tratativas para que Pietro Vierchowod fosse para a Ligúria e propiciaram que a Samp assegurasse a contratação de mais uma futura bandeira do seu elenco.
Inicialmente, o jogador teve dificuldades de se firmar por causa de lesões musculares. No entanto, Moreno Mannini superou os problemas físicos e conseguiu fazer do lado direito do campo um latifúndio de sua propriedade. Logo na primeira temporada, 1984-85, o jogador participaria da conquista da primeira Coppa Italia da história da Sampdoria e também seria peça importante para que a equipe ficasse com a quarta posição na Serie A. O resultado era o melhor dos dorianos até aquele momento, juntamente ao do Italiano de 1960-61.
A conquista da copa foi só o primeiro passo para aquela Sampdoria, que viveria uma década de ouro e teria resultados relevantes até 1995. Com Mannini em campo, o time genovês conquistou mais três vezes a Coppa Italia, além de uma Supercopa italiana, uma Recopa Uefa e o histórico scudetto, em 1991. Além disso, os blucerchiati foram vice-campeões europeus e acumularam sete outras segundas posições nos campeonatos já citados – com exceção da Serie A. Também caíram em semifinais em outras duas oportunidades. Nada mal para um clube fundado em 1946, que tinha apenas uma Serie B no currículo.
Regular no apoio, mas muito sólido na marcação e sempre com atuações consistentes, Mannini viveu seu auge entre 1990 e 1992. Após uma lesão que o fez perder três meses em 1988-89, o defensor se recuperou e ocupou posição de destaque do time de Vujadin Boskov, que conquistou uma Recopa Uefa, a Serie A e uma Supercopa local naquele período.
Na temporada do histórico scudetto (1990-91), Mannini anotou um gol importantíssimo. No 3 a 0 sobre o Lecce, que garantiu o título, ele foi o autor do segundo tento. Logo ele, que não balançou as redes nem 20 vezes em sua longa carreira – na Serie A foram apenas sete.
Durante seus melhores momentos, Mannini foi convocado para defender a seleção italiana. Frequentou as listas de Azeglio Vicini em 1990, mas só estreou com Arrigo Sacchi, dois anos depois. Participando de alguns jogos das Eliminatórias para a Copa de 1994, o lateral direito ajudou a Itália a superar a desilusão por não ter ido à Euro 1992, mas não fez parte do grupo que viajou aos Estados Unidos.
Se não se firmou na Nazionale, Mannini teve 15 anos como patrão na Sampdoria. O lateral só não foi titular quando teve problemas físicos em 1988-89 e 1996-97 e perdeu alguns meses nas temporadas citadas. Por opção do treinador, só não encontrou espaço no onze inicial na sua última temporada, quando já tinha 36 anos.
A idade, porém, não foi o fator preponderante para que Moreno perdesse a vaga na lateral direita doriana. Em 1998-99, Mannini teve divergências com o técnico Luciano Spalletti e perdeu não só a braçadeira de capitão como a vaga no time, que foi rebaixado ao fim da temporada.
Na época, o lateral deu algumas declarações polêmicas sobre o técnico à Gazzetta dello Sport. “A velha guarda tentou dar conselhos, mas ele não nos ouviu. Spalletti não quis resolver os problemas com os jogadores, que não jogavam por ele. Tínhamos elenco para ficar no meio da tabela, mas ele não esteve à altura. Todo o grupo concorda comigo, com exceção de dois jogadores”, disparou à época.
O desgaste com o treinador fez com que Mannini optasse por deixar a Sampdoria, após 15 anos. Com isso, o lateral ficou com o segundo lugar na hierarquia de jogadores com mais participações com a camisa da Samp: 510 jogos disputados, abaixo apenas de Mancini.
Moreno acabou se transferindo para o futebol inglês. A convite de David Platt, seu ex-companheiro em Gênova, o italiano acertou com o Nottingham Forest, que acabara de ser rebaixado para a segunda divisão. No entanto, Mannini só ficou alguns meses no clube de East Midlands e retornou para encerrar sua carreira no Imola, clube que havia lhe revelado e estava na quarta divisão. Na Romanha, o lateral fez apenas seu jogo de despedida e se afastou inteiramente do esporte: nunca ocupou cargos em clubes ou resolveu ser comentarista.
Moreno Mannini
Nascimento: 15 de agosto de 1962, em Imola, Itália
Clubes: Imola (1980-81 e 2000), Forlì (1981-82), Como (1982-83), Sampdoria (1984-99) e Nottingham Forest (1999-2000)
Títulos: Coppa Italia (1985, 1988, 1989 e 1994), Recopa Uefa (1990), Serie A (1991) e Supercopa italiana (1991)
Seleção italiana: 10 jogos