Os finalistas da Coppa Italia foram definidos em confrontos bastante equilibrados nas semifinais: no frigir dos ovos, Lazio e Atalanta farão uma decisão inédita na história do torneio. Os celestes vão em busca da sétima conquista com um trunfo: o ótimo desempenho recente da competição, com quatro finais disputadas nos últimos 10 anos. Após passarem pelo Milan, chegam à quinta decisão com a expectativa de aumentar o aproveitamento, que é de 50%, com duas vitórias e duas derrotas. A Dea por sua vez é o time sensação do futebol italiano há três temporadas, e, após eliminar a Fiorentina, irá ao Olímpico no dia 15 de maio para tentar conquistar a sua segunda Coppa Italia, podendo coroar uma geração que será lembrada como uma das melhores que o clube já teve.
Milan e Lazio chegaram com muita desconfiança para o duelo em San Siro, uma vez que ambos os times tiveram uma queda de rendimento muito grande nas últimas partidas. Os rossoneri engataram uma sequência muito ruim após a derrota no dérbi de Milão e, desde então, apresentaram um futebol muito pobre sob o comando de Gattuso. Por outro lado, a Lazio – que no mês de abril só tinha conquistado uma vitória em cinco jogos – tinha a difícil missão de sair do San Siro com o triunfo ou qualquer empate com gols para classificar-se. E fez uma de suas melhores partidas da temporada.
O pré-jogo foi marcado por atitudes lamentáveis fora do estádio. Primeiro, algumas horas antes da partida um grupo de “torcedores” se reuniu na Piazzale Loreto, onde Benito Mussolini foi executado em 25 de abril de 1945, durante a II Guerra Mundial, para rememorar e homenagear o ditador. Trata-se de um crime na Itália: a polícia de Milão identificou em torno de vinte torcedores de Lazio e Inter, que foram detidos. Além disso, os ultras da torcida Irriducibili entoaram cantos racistas contra Bakayoko, recorrendo até mesmo ao ridículo expediente de levarem bananas infláveis ao setor visitante do San Siro. Não é a primeira vez na temporada que acontecem casos de racismo no futebol italiano: Koulibaly, do Napoli, e Kean, da Juventus, também foram vítimas de preconceito racial durante jogos da Serie A. Em nenhuma das ocasiões as partidas foram interrompidas, como manda o regulamento.
Na partida que o árbitro Mazzoleni fraquejou ao não interromper, Gattuso abriu mão do habitual 4-3-3 e foi ao gramado escalou o time no 3-4-3, concentrando os ataques nas pontas com Suso e Castillejo. A Lazio de Simone Inzaghi optou por seu 3-5-2 habitual e entrava com a proposta de povoar o campo de defesa do adversário, provocando chutões para ficar com a segunda bola. O jogo começou equilibrado e defensivo, com poucas chances de gol em um primeiro tempo morno. Os dois treinadores tiveram que gastar uma alteração antes mesmo do intervalo, já que Milinkovic-Savic e Calabria se lesionaram e deram lugar a Parolo e Conti – o lateral milanista, inclusive, não joga mais em 2018-19.
A Lazio voltou melhor dos vestiários e foi absolutamente soberana nos minutos iniciais. Gattuso nada fez para mudar o panorama do jogo e o previsível gol dos visitantes veio a acontecer. Em péssimo escanteio cobrado por Suso, a Lazio rapidamente ligou o contragolpe com Immobile, numa situação de quatro jogadores contra três dos adversários. O atacante serviu Correa, que deu um toque rasteiro por baixo de Reina e abriu o placar.
A partir daí o Milan se lançou para o ataque de forma bem desorganizada e concedeu inúmeros contra ataques para os biancocelesti. O placar não foi maior graças às boas intervenções de Reina e por causa da ineficiência dos atacantes da Lazio – vale dizer que o zagueiro angolano Bastos teve as melhores chances, em tentativas de cabeça. O time de Gattuso não demonstrou poder de reação e sentiu bastante a ausência de Lucas Paquetá, principalmente na criação de chances de gol. A principal ocasião de perigo aconteceu aos 30 minutos, quando Cutrone recebeu cruzamento de Suso e balançou as redes, porém nitidamente em posição de impedimento.
No fim das contas, a equipe biancoceleste conseguiu uma vitória pela contagem mínima, que deixa o histórico do confronto ainda mais interessante. Se pela Serie A são mais de trinta anos sem vencer o Milan no San Siro, pela Coppa Italia a Lazio alcança sua quarta vitória nas nove partidas que aconteceram contra os rossoneri no mesmo período. O triunfo parece ter aliviado as ameaças ao cargo de Inzaghi – embora o time romano não tivesse a taça da copa como principal meta, terá uma chance de salvar a temporada. O Diavolo, por sua vez, perdeu a única esperança de título em 2018-19, mas ainda sonha com a vaga na Champions League através do campeonato, apesar de a concorrência ser alta.
História em Bérgamo
Depois de despachar o Cagliari e a Juventus com autoridade, a Atalanta chegou com moral às semifinais da Coppa. E, para a partida de volta contra a Fiorentina, no estádio Atleti Azzurri d’Italia, tinha a vantagem de empatar até por 2 a 2, já que havia arrancado um 3 a 3 em Florença. Vinda de uma sequência de nove partidas sem derrota, a equipe de Gasperini tinha no caminho a uma caixa de surpresas chamada Fiorentina, um dos times mais irregulares da temporada: a viola conseguiu a proeza de enfiar sete gols na Roma e de perder em casa para o Frosinone num espaço de 67 dias. Desde então, trocou o comando – Montella substituiu Pioli –, mas ainda não mudou a postura.
A partida começou em um ritmo acelerado, assim como foi o jogo de ida no Franchi. Com 14 minutos, já tínhamos um gol para cada lado. Aos 3, Chiesa deixou Muriel cara a cara com Gollini e causou um clima de apreensão em Bérgamo, já que possibilitou que o colombiano abrisse o placar para os visitantes. Mas a Atalanta conseguiu o empate graças a um pênalti generoso: Papu Gómez buscou o contato com Ceccherini, caiu na área e Calvarese apontou para a marca da cal. Ilicic converteu a cobrança e igualou o placar. A partir daí, os anfitriões entraram de vez no jogo e dominaram boa parte do primeiro tempo, com marcação alta e muitas roubadas no campo de ataque.
Jogando mais recuado, Gómez encontrou bastante espaço no meio-campo e foi um dos principais responsáveis por distribuir o jogo e criar chances para os nerazzurri. Na volta para o segundo tempo, o argentino foi premiado com o gol da virada: chutou de fora da área, com o pé direito, e viu a bola ir mansa para cima de Lafont, que espalmou para as próprias redes e deu uma grande ajuda para que ele fizesse o segundo.
A Fiorentina respondeu colocando Simeone em campo, mas mesmo assim não foi capaz de reagir. Chiesa – que havia marcado gol em todas as partidas de Coppa Italia até então – não esteve em seus melhores dias e passou em branco. A Dea espantou o fantasma de 1996, deu o troco na viola, que havia conquistado o título às suas custas, em Bérgamo, e com muitos méritos conseguiu a vaga na decisão. Em sua quarta final de Coppa Italia, a Atalanta buscará o seu segundo título no torneio, com quase 60 anos de distância para o primeiro, obtido em 1963. Terá pela frente, contudo, uma adversária copeira.