Apesar das incertezas nos últimos meses, inclusive anteriores à eliminação nas quartas de final da Liga dos Campeões para o Ajax, a interrupção antecipada do vínculo de Massimiliano Allegri com a Juventus ainda acabou pegando muita gente surpresa. Provavelmente pelo momento que o clube escolheu para o anúncio – dois dias antes do último jogo em casa na temporada, ocasião em que levantará a taça da Serie A pela oitava vez seguida. A decisão, tomada após consenso entre as partes, ocorre ainda em meio aos vários rumores de mercado, que seguiam rumo contrário e indicavam a permanência do treinador livornês.
Depois de reuniões com Andrea Agnelli, contudo, o destino de Allegri acabou sendo outro. O dia 26 de maio será o seu último no comando técnico da Juventus depois e encerrará uma passagem vitoriosa de cinco temporadas, que teve a conquista do recorde de cinco scudetti consecutivos, além de quatro títulos da Coppa Italia e dois da Supercopa Italiana. Mas, assim como seu antecessor, Antonio Conte, o treinador toscano sairá de Turim marcado pela ausência de sucessos fora do Belpaese: por suas vezes, foi vice na Liga dos Campeões, em 2015 e 2017.
A falta de títulos internacionais tornou a maior competição do continente europeu uma verdadeira obsessão para a Vecchia Signora – afinal, a Juve não ganha nada fora da Itália desde os anos 1990. O domínio da Serie A nesta década, com a sequência recorde de oito scudetti, não é o bastante para um time que parece intocável no futebol local, mas que vem de duas eliminações frustrantes na LC, com tropeços em casa, sendo a última mesmo depois da histórica contratação de Cristiano Ronaldo, vilão na outra queda, quando ainda atuava pelo Real Madrid.
O fato de ter chegado a duas finais europeias não foi suficiente para dar mais estabilidade a Allegri, que nos últimos meses entrou em colisão com alguns jogadores e tinha algumas exigências que não estavam de acordo com a visão da diretoria para uma renovação. Ambos os lados não pretendiam seguir na próxima temporada com um contrato curto, até julho de 2020, e, enquanto o treinador almejava um generoso aumento salarial, o clube não estava convicto de que deveria seguir o mesmo caminho e optou por antecipar o divórcio.
A princípio, a parte financeira da questão parece ter sido a causa do maior atrito, haja visto que o livornês esperava uma reformulação do elenco. De acordo com a Gazzetta dello Sport, os diretores Fabio Paratici e Pavel Nedved não enxergavam da mesma maneira, uma vez que “uma equipe que dominou o campeonato dificilmente pode ser aperfeiçoada”. Se o treinador sempre pediu para elevar a qualidade técnica do grupo, eventuais saídas de jogadores como Paulo Dybala e João Cancelo não fariam sentido nesse contexto.
O argentino teve um ano abaixo das expectativas e de pouca produção ofensiva, uma vez que atuou mais distante do gol adversário, com maior participação na organização e não na finalização das jogadas. O português, por sua vez, acabou sendo irregular: depois de um ótimo começo, no qual manteve a boa forma que apresentou na Inter, Cancelo caiu de rendimento na segunda metade da temporada, após uma lesão, e acumulou distrações na defesa, decisivas para tropeços em jogos importantes. São vistos dentro do clube como recuperáveis e parte importante do projeto.
Evidentemente, esse discurso pode mudar facilmente durante a janela de transferências, e não falta mercado para a dupla. Porém, se uma reformulação não é o objetivo da direção bianconera, ainda assim o diretor esportivo Paratici terá trabalho no verão: principalmente para reforçar a defesa, que não teve reposição à altura para Medhi Benatia e terá que trazer mais um jogador para o lugar de Andrea Barzagli, que anunciou aposentadoria. No meio-campo, apesar da chegada de Aaron Ramsey, o interesse estrangeiro por Miralem Pjanic deve ser tratado com cuidado.
A falta de um atacante que atue ao lado de Cristiano Ronaldo e também garanta de mais de 20 gols numa temporada também pode levar o clube a fazer alguns sacrifícios. Tendo fechado o último balanço no vermelho, a Juventus não poderá se dar ao luxo de ter uma grande diferença na proporção de receita entre compras e vendas. Douglas Costa, que acumulou problemas físicos e levantou incertezas sobre seu comportamento, é um dos mais cotados para sair. A se observar também a novela Mauro Icardi: o argentino continua afirmando estar comprometido com a Inter, mas pode reforçar o ataque rival.
Horas depois do anúncio da saída de Allegri, Agnelli participou de um evento social dos bianconeri e, enquanto guardou suas palavras sobre a decisão para a coletiva em conjunto com o treinador livornês, foi a público com uma frase de efeito enigmática: “a marca do nosso clube sempre foi a capacidade de inovar e ver o futuro antes dos outros”. Seguindo esse discurso, o próximo passo deverá ser tomado com muito cuidado para a Vecchia Signora alcançar seu objetivo internacional. Afinal de contas, quem será o futuro treinador do melhor time da Itália?
Com Conte e Allegri, a Juventus mostrou que pode tornar treinadores inexperientes ou pouco vencedores em campeões – mas, até o momento, esse discurso ficou restrito à Itália. Mal comparando, a saída de Allgeri se assemelha à de Roberto Mancini da Inter em 2008. Menos turbulenta, mas com o mesmo objetivo. Ou seja, os bianconeri precisam do seu José Mourinho: o treinador do salto internacional. No caso da Beneamata, nem mesmo o treinador foi suficiente, já que o elenco teve de ser recheado com jogadores experientes em nível europeu, como Lúcio, Wesley Sneijder e Samuel Eto’o.
E a Juve? Claro, o maior artilheiro da Liga dos Campeões já está em Turim, mas apenas os seus gols ainda não foram suficientes para o time levantar a orelhuda. O certo é que agora a Juventus será mais uma das tantas equipes que movimentará o mercado de treinadores da Serie A – o que implica que, na parte de cima da tabela, apenas o napolitano Carlo Ancelotti tem vaga cativa. O ex-bianconero Antonio Conte está destinado a acompanhar Beppe Marotta na Inter, enquanto Gennaro Gattuso e Claudio Ranieri não permanecerão com Milan e Roma.
Com Walter Mazzarri e Vincenzo Montella confirmados em Turim e Florença, Simone Inzaghi, Gian Piero Gasperini e Marco Giampaolo são os alvos mais óbvios para os grandes, enquanto Roberto De Zerbi, Sinisa Mihajlovic e Leonardo Semplici restam como opções atrativas para os que podem perder seus comandantes. No caso dos bianconeri, Inzaghi seria uma opção caseira e barata, sobretudo se considerarmos que o próprio deixou a porta aberta após a conquista da Coppa Italia. Mas o laziale efetivamente significaria uma melhora em relação a Allegri?
Se especula ainda que a Juventus possa fazer uma oferta a Maurizio Sarri, de futuro incerto em Londres. Esta seria uma escolha bastante chocante, uma vez que Sarri é napolitano e extremamente identificado com o Napoli, além de ter predileções táticas peculiares e estilo popularesco, quase incongruente com a aristocracia bianconera.
Com Pep Guardiola intocável no Manchester City, outro nome comentado é o de Mauricio Pochettino, finalista europeu com o Tottenham, cuja multa rescisória gira em torno de 20 milhões de euros. Também surge como alternativa o francês Didier Deschamps, campeão mundial com a França, que atuou no clube por cinco anos e também já o representou como técnico. Comandante da equipe na Serie B, em 2006-07, Deschamps foi o único estrangeiro a ter dirigido a Juve desde Cestmír Vycpálek, checo que teve sucesso no clube no início dos anos 1970.
Se a Juve tem uma missão complicada pela frente, Allegri, por sua vez, também não tem um cenário imediato dos mais frutíferos. Ainda que equipes importantes da Itália estejam trocando de técnico, o mais provável é que seu futuro esteja no exterior. O Arsenal parecia o maior interessado em seu trabalho, meses atrás, mas Unai Emery deve permanecer, após ter alcançado a final da Liga Europa. Tottenham e Chelsea são alternativas na Premier League, assim com o Bayern de Munique, na Alemanha, embora a maior parte das especulações liguem o toscano ao Paris Saint-Germain. A personalidade forte de Allegri não parece o melhor remédio para o dividido vestiário parisiense.
Dentre nomes consolidados, Maurício Pochettino.
Agora, se for para apostar, Sinisa Mihajlovic.. apesar de seus trabalhos um tanto inconsistentes, tem uma capacidade ímpar de potencializar jogadores e jogar um futebol muito vistoso (peca pelas defesas vulneráveis).. com um elenco como a da Juve, poderia fazer Dybala, D.Costa e CR7 um dos ataques mais temidos da europa, na prática..