Serie A

Opinião: O Campeonato Italiano precisa ser suspenso por causa do surto de coronavírus

Aquecimento para Parma x Spal, jogo de portões fechados pela Serie A

O futebol tem papel civilizador, nos ensina a obedecer regras, estimula a cidadania. O futebol nivela os relacionamentos sociais, é capaz de educar quem o acompanha. 

Os conceitos do antropólogo Roberto DaMatta foram criados após décadas de reflexão sobre o futebol brasileiro, quando ele descartou o conceito de “ópio do povo” para atribuir um papel mais nobre ao esporte. 

Não é só para o Brasil, porém, que definições assim fazem sentido. A relação profunda entre futebol e identidade nacional também vale para a Itália.

“Se a população não entender que precisa ficar em casa, a situação se tornará catastrófica“, disse um dos coordenadores de crise da Região Lombardia, Antonio Pesenti. E é por este motivo que o Campeonato Italiano precisa ser suspenso enquanto durar a emergência do coronavírus. O futebol tem de se enxergar como ferramenta de conscientização.

Os prejuízos financeiros e esportivos realmente seriam incalculáveis, mas o momento requer coragem para tomar medidas drásticas.

Um sinal forte

Hoje, parar a Serie A seria um sinal forte, tomado com sobriedade e responsabilidade coletiva. Interrompê-lo depois, quando o contágio chegar a um dos times da primeira divisão, não passaria de uma reação obrigatória que só serviria para aumentar o pânico da população.

Qualquer análise feita atualmente precisa ser bastante otimista para acreditar que a Serie A vá chegar ao fim da forma prevista, com a última rodada disputada em maio.

Este novo coronavírus, com seu simpático nome Sars-Cov-2, mata mais que a gripe e ocupa leitos de unidade de terapia intensiva por duas semanas, tornando inviável a continuidade de qualquer sistema de saúde de qualquer país. As medidas extremas tomadas pelo governo servem para reduzir o contágio. Mas não tem sido seguidas por toda a população.

Na madrugada

O decreto que isolou quase um terço da Itália (veja o mapa) foi assinado pelo primeiro-ministro Giuseppe Conte na madrugada de sábado para domingo. A entrevista coletiva que o anunciou começou às 2h15. A medida colocou 18 milhões de pessoas, quase um terço do país, em quarentena até 3 de abril – mas deu uma autorização especial de viagens para que competições esportivas continuem sendo disputadas, desde que em portões fechados. 

Dos 100 times profissionais da Itália, 32 estão nestas zonas vermelhas, e seguirão viajando se o futebol não parar. Foi ignorado o apelo do presidente do sindicato dos jogadores, Damiano Tommasi, de interromper o campeonato para evitar contágios entre os atletas, que obviamente não podem respeitar o limite de 1 metro de distância entre eles.

Cerca de oito horas antes da entrevista de Conte, vazou na imprensa e nas redes sociais o rascunho do decreto que fecharia a Lombardia (Milão, Brescia, Monza, Bérgamo, Como…) e mais 14 províncias fez as pessoas saírem correndo para suas casas, transportando o vírus para todo o país (veja o vídeo abaixo).

https://twitter.com/filippothecap/status/1236429778426777600

O resultado da fuga em massa não vai demorar a ser entendido. Nesta semana, um casal de idosos saiu sem autorização de Codogno, a primeira “zona vermelha” italiana, para passar férias no Trentino Alto-Ágide. Pouco depois de chegarem, foram parar no pronto-socorro. Deram positivo para o coronavírus.

Esses relatos mostram, basicamente, que boa parte da Itália ainda não entendeu o que está acontecendo – o governador da Apúlia, sim, captou a mensagem e anunciou que vai colocar em quarentena todos os que chegarem da Lombardia.

Fazer o que foi recomendado pelo governo, não aquilo que se bem entende: esta é a dificuldade a ser transposta pela comunicação. E o futebol pode ajudar a tornar essas mensagens mais compreensíveis.

Quem fica com o título? Quem vai para a Liga dos Campeões? Quem será rebaixado? Honestamente, aproveitemos que o futebol estimula a cidadania para entender que talvez não seja a hora de ele ser a estrela.

Informação é prevenção

Neste momento, seja no Brasil, seja na Itália, informação de qualidade é o mais importante. 

No G1, entenda como o vírus é transmitido, veja o que é fake news e acompanhe o que já se sabe e o que ainda falta esclarecer.

Na Folha, assista ao vídeo que mostra como lavar as mãos corretamente em três etapas. Ainda é o melhor modo de se prevenir. A BBC vai além e explica que secar as mãos é tão importante quanto lavá-las.

O Globo demonstra que a infecção por coronavírus e dengue ao mesmo tempo é possível, mas descarta motivo para pânico.

A Piauí conta a história do aplicativo de celular criado pela China para controlar quem pode pode sair de casa ou não, de acordo com risco de transmissão. 

No Correio Braziliense, tem a história do jogo criado por estudantes e professores para ajudar a achar a cura para o vírus.

E para seguir as notícias da Itália, direto da fonte, a agência Ansa também publica em português. Informe-se.

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1 Comentário

  • Também entendo que já não faz muito sentido o Calcio prosseguir na velha bota.. como bem salientou o texto, mesmo com portões fechados, há o risco de transmissão e contágio entre os atletas.. Forza Itália!

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