Serie A

26ª rodada: Juve fatura Derby d’Italia mais atípico da história e retoma liderança

Em meio à epidemia de coronavírus, a Serie A teve jogos adiados da 26ª rodada recuperados neste fim de semana – confira aqui a análise dos demais confrontos, ocorridos entre 29 de fevereiro e 1º de março. Os duelos aconteceram com portões fechados e, mesmo sem público, ficaram a um fio de não serem realizados, já que a emergência na Itália continua e setores – inclusive do governo – pressionam para a suspensão das atividades esportivas no país. Isso pode ser definido nessa semana, em reuniões da Liga da Serie A, da FIGC (a federação italiana de futebol) e do próprio governo. O CONI, comitê olímpico italiano, já ordenou a suspensão dos eventos sob sua jurisdição.

Nesse contexto apocalíptico, o Derby d’Italia, realizado entre Juventus e Inter, seguiu a tendência de parcela significativa do norte do país, foco da epidemia de COVID-19, que está isolado do restante do mundo por um decreto de estado. Num Allianz Stadium vazio, a Velha Senhora bateu sua rival e voltou à liderança do campeonato. Confira o que houve nos jogos de uma rodada que entra para a história como uma das mais atípicas da história do campeonato.

Juventus 2-0 Inter

Gols e assistências: Ramsey e Dybala (Ramsey)
Tops: Bonucci e Bentancur (Juventus)
Flops: Candreva e Bastoni (Inter)

O jogo mais esperado do campeonato finalmente aconteceu e a Juventus pode comemorar novamente. A Velha Senhora não teve seus torcedores presentes no Derby d’Italia de atmosfera mais surreal da história, mas superou a Inter graças a um jogo de erro zero e retomou a liderança da Serie A. O time de Antonio Conte foi punido justamente por duas falhas que cometeu e mostrou que ainda não está a altura da rival. Por isso, com um jogo a menos, está nove pontos atrás dos bianconeri. O resultado vem de uma conta simples, cujos fatores são exatamente a partida a ser recuperada diante da Sampdoria e as duas derrotas para a Juve.

Para voltar a ter vantagem sobre a Lazio, segunda colocada, a Juventus teve que encarar 55 minutos de um duelo parelho para, só então, deslanchar. Os primeiros minutos foram de domínio do time da casa, que incomodava com a construção pelos flancos e nas jogadas aéreas. Handanovic, que voltou à baliza interista, se desdobrou para evitar os gols de De Ligt e Matuidi. Após 20 minutos, a Inter foi crescendo e igualou o jogo, a ponto de terminar o primeiro tempo melhor – como mostrou o forte chute de Brozovic – e manter o ritmo após o descanso. Porém, quando a Beneamata era superior, a Juve abriu a contagem.

A indolência de Candreva, que não dobrou a marcação em Alex Sandro custou caro aos nerazzurri. Aos 55 minutos, o brasileiro aproveitou a liberdade para cruzar na área e, após corte parcial de Bastoni, Ramsey mandou para as redes. O gol abalou o psicológico da Inter, que desmoronou após o placar ser aberto. Conte leu mal a partida, fez alterações que pioraram o desempenho de sua equipe e Maurizio Sarri aproveitou. O napolitano inseriu Dybala no jogo e viu La Joya matar a peleja aos 67. Bentancur (ótimo em substituição a Pjanic) lançou o argentino, que carregou, tabelou com Ramsey e ainda entortou Young antes de bater com nojo e fazer um golaço.

Atordoada, a Beneamata não reagiu e, nos acréscimos, só observou Ronaldo passar perto do terceiro em duas ocasiões. Se tivesse marcado, o português teria chegado a 12 rodadas seguidas indo às redes e estabeleceria um novo recorde em sua carreira. CR7 acabou ficando empatado com Batistuta e Quagliarella, que também balançaram as redes em 11 jogos consecutivos de Serie A.

Milan 1-2 Genoa

Gols e assistências: Ibrahimovic; Pandev (Sanabria) e Cassata (Schöne)
Tops: Sanabria e Cassata (Genoa)
Flops: Hernandez e Kessié (Milan)

O Milan que vinha numa curva ascendente ainda existe? Nas últimas cinco rodadas, a equipe de Stefano Pioli simplesmente estagnou: somou apenas uma vitória e não conseguiu entrar na zona de classificação para a Liga Europa. O Genoa de Davide Nicola, por sua vez, vem num ritmo oposto. Os rossoblù perderam só uma vez nos seis últimos compromissos e venceram três dos quatro mais recentes. A ótima fase, que atingiu seu auge com o triunfo em San Siro, tirou a equipe lígure do Z3.

A partida mal tinha começado e o time da casa já saiu perdendo. Aos 7 minutos, Hernandez bobeou na frente de Sanabria, que roubou a bola e cruzou na medida para Pandev completar. O segundo tento voltou a sair pelo lado do francês e com um cruzamento rasteiro para a pequena área, onde Cassata estava para empurrar. Enquanto o lateral canhoto sofria com Sanabria por ali, Cassata e Schöne dominavam Kessié, que não se mostrava capaz de reagir no meio-campo. Os dois milanistas citados, juntamente a Castillejo, foram os piores jogadores do Diavolo neste domingo.

É verdade que, apesar da atuação vexatória, o Milan poderia ter se imposto e saído com um resultado melhor do Giuseppe Meazza. No primeiro tempo, quando o Genoa ainda vencia por 1 a 0, Ibrahimovic e Çalhanoglu perderam oportunidades claríssimas frente a um reativo Perin. Ibra até descontou na reta final do jogo, mas na sequência voltou a desperdiçar uma chance cristalina e não evitou a derrota dos mandantes.

Sampdoria 2-1 Verona

Gols e assistências: Quagliarella (Depaoli) e Quagliarella (pênalti); Audero (contra)
Tops: Quagliarella (Sampdoria) e Amrabat (Verona)
Flops: Augello (Sampdoria) e Dawidowicz (Verona)

Em casa, os torcedores da Sampdoria passaram rapidamente de uma terrível sensação de desespero para um alívio reconfortante. Durante 80 minutos do domingo, o time treinado por Claudio Ranieri esteve na zona do rebaixamento, mas uma virada obtida num espaço de menos de 10 giros do ponteiro no relógio modificou a situação. O triunfo blucerchiato também foi bom para o Napoli, já que o Verona não conseguiu se aproximar dos azzurri, que estão na sexta posição.

A etapa inicial foi dominada pelo Verona, que exigiu muito do goleiro Audero. Se não fossem duas ótimas defesas do arqueiro, o Hellas teria aberto o placar antes dos 32 minutos, justo por uma infelicidade do número 1 doriano. A defesa da casa deixou Zaccagni sozinho, o meia tentou ajeitar para o meio da área e Audero acabou desviando para as próprias redes. No segundo tempo, a Sampdoria teve de buscar o empate e ia parando na zaga gialloblù. Até que Depaoli tabelou com Quagliarella, Rrhamani cometeu um raro erro de marcação e permitiu que o artilheiro tivesse espaço para chutar. Aos 86, o fraco Dawidowicz determinou a derrota do seu time ao fazer um pênalti absolutamente desnecessário em Ekdal.

Muito Genoa e pouco Milan: visitantes levaram a melhor em San Siro (Getty)

Parma 0-1 Spal

Gol: Petagna (pênalti)
Tops: Valoti e Vicari (Spal)
Flops: Gervinho e Brugman (Parma)

O clássico emiliano entre Parma e Spal será para sempre lembrado como o jogo que quase não aconteceu. Embora o governo italiano tenha permitido – e ratificado num decreto assinado na madrugada deste domingo – que eventos esportivos acontecessem de portões fechados, em virtude da epidemia de coronavírus, a situação na manhã era diferente. O Ministro do Esporte, Vincenzo Spadafora, e a a AIC, o sindicato dos jogadores profissionais, pressionavam por mais um adiamento das partidas da rodada. Os atletas de Parma e Spal chegaram a se recusar a jogar, mas uma reunião entre a federação local, a FIGC, e a Liga da Serie A, culminou na ordem para a realização da peleja.

Com 75 minutos de atraso, então, parmenses e spallini foram a campo. A partida não teve grandes emoções, uma vez que as duas equipes apresentavam pouca criatividade – apenas Valoti, da Spal, tentava algo diferente. Numa de suas chegadas à área adversária, aliás, Bruno Alves cometeu o pênalti decisivo, que Petagna converteu. Do outro lado, um Gervinho disperso se viu encaixotado entre Vicari e Bonifazi, produziu pouco e, quando teve chances claras, as desperdiçou. Com isso, a Spal venceu a primeira com Luigi Di Biagio e deixou a lanterna com o Brescia, enquanto o Parma se afastou da zona europeia.

Sassuolo 3-0 Brescia

Gols e assistências: Caputo (Defrel), Caputo (Bourabia) e Boga
Tops: Caputo e Boga (Sassuolo)
Flops: Chancellor e Ayé (Brescia)

No encerramento da rodada, o Sassuolo driblou as adversidades do primeiro tempo para construir um resultado contundente e subir para a 11ª posição na tabela, empatado com o Cagliari. O Brescia até ameaçou o goleiro Consigli no primeiro tempo, geralmente com Zmrhal e Balotelli, mas sentiu falta da capacidade organizativa de Tonali e sucumbiu aos erros defensivos. O time de Diego López é o lanterna do campeonato.

Quando um primeiro tempo de superioridade bresciana ia se encerrando, a história do jogo mudou. Chancellor errou ao afastar um levantamento e deu um presente a Defrel, que ajeitou para Caputo abrir o placar e comemorar com uma mensagem ao povo italiano, afetado pela epidemia de coronavírus. O gol mudou o percurso da partida, que passou a ter o domínio do time de Roberto De Zerbi, com Locatelli, Bourabia e Djuricic obtendo o controle do meio-campo e Boga espetando pelo flanco esquerdo.

Outros erros de Chancellor deixaram o Sassuolo perto de ampliar o placar, mas os outros dois gols acabaram surgindo por méritos próprios dos neroverdi. Um lançamento de Bourabia para a bela finalização de Caputo e a arrancada concluída com chutaço de Boga fecharam o placar. O camisa 9 emiliano chegou aos 13 gols na temporada e se tornou um dos três únicos a superarem tal marca nas duas últimas edições da Serie A. Os outros são Immobile e Ronaldo.

Udinese 0-0 Fiorentina

Tops: Mandragora (Udinese) e Castrovilli (Fiorentina)
Flops: Nestorovski (Udinese) e Vlahovic (Fiorentina)

O único jogo sem gols de toda a rodada também foi o pior deles. No meio da tabela, Udinese e Fiorentina não quiseram correr tantos riscos e acabaram parando tanto na falta de criatividade quanto nos sistemas defensivos mais cautelosos, armados tanto por Luca Gotti quanto Giuseppe Iachini. Nesse deserto de ideias, o empate ficou de bom tamanho para as equipes.

Na Dacia Arena, as melhores jogadas não saíram a partir do trabalho de meio-campistas, mas de lances picotados. Foi assim que Milenkovic acertou a trave friulana, no primeiro tempo, e que Okaka assustou a viola com uma cabeçada perigosa. De resto, muitas finalizações de fora da área e erros técnicos. O símbolo da partida foi a falha de Duncan, que teve chance de ouro para marcar, cara a cara com o goleiro Musso, e não conseguiu efetuar o domínio da pelota.

Seleção da rodada

Strakosha (Lazio); Romero (Genoa), Bonucci (Juventus), Vicari (Spal); Ilicic (Atalanta), Bentancur (Juventus), Mkhitaryan (Roma), Luis Alberto (Lazio); Caputo (Sassuolo), Zapata (Atalanta), Kalinic (Roma). Técnico: Gian Piero Gasperini (Atalanta).

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