Tão perto, mas ao mesmo tempo tão longe. Em abril de 2007, a Roma estava a um empate de retornar a uma semifinal de Liga dos Campeões após 23 anos. Contudo, a formação capitolina sucumbiu a um dos maiores times ingleses de todos os tempos: 7 a 1, sem choro nem vela.
Comandado por Sir Alex Ferguson, o Manchester United de Cristiano Ronaldo, Ryan Giggs, Wayne Rooney e companhia atropelou a equipe de Luciano Spalletti, no jogo que marcaria a maior derrota da história giallorossa na competição – e que se repetiria sete anos depois, em 2014, contra o Bayern de Munique. Sem reação, o time italiano assistiu, paralisado, aos sete gols aplicados pelos futuros campeões ingleses em Old Trafford.
Apesar da derrota esmagadora, a Roma vinha de um vice-campeonato italiano e vivia, naquele momento, a sua melhor participação na era moderna da Liga dos Campeões. Desde que a competição havia sido transformada que a equipe da capital não chegava a fases tão agudas do torneio: chegara às quartas após avançar tranquilamente no grupo e eliminar o Lyon de Juninho, Cris, Fred, Karim Benzema, Éric Abidal e Grégory Coupet nas oitavas. Além disso, o ano de 2007 não foi ruim para o time de Spalletti. Depois da goleada histórica sofrida ante o Manchester United, a Roma ainda brigaria pelo scudetto da Serie A, terminando em segundo, novamente, e venceria a Coppa Italia ao bater a Inter por 7 a 3 no placar agregado.
O confronto entre United e Roma, válido pelas quartas de final da Liga dos Campeões, começou com uma vitória romana no jogo de ida. No estádio Olímpico, no dia 4 de abril de 2007, o time da casa venceu os mancunianos por 2 a 1, com gols de Rodrigo Taddei e Mirko Vucinic. Na volta, precisava apenas de um empate para se classificar para as semifinais da competição. Porém, do lado vermelho de Manchester havia um time faminto por conquistas e em plena ascensão.
Sem conseguir reverter um resultado negativo desde 1984 na Liga dos Campeões e com veteranos como Giggs, Edwin van der Sar e Ole Gunnar Solskjaer e jovens estrelas como Cristiano Ronaldo e Rooney, os Red Devils presentearam a sua torcida com uma das maiores atuações de sua história e derrubaram o péssimo retrospecto no mata-mata europeu. Tudo isso às custas do pesadelo romano no Teatro dos Sonhos.
O jogo
Com a vantagem no duelo, Spalletti escalou a Roma em um 4-2-3-1, com Doni no gol, Marco Cassetti e Christian Panucci nas laterais, Philippe Mexès e Cristian Chivu na defesa; David Pizarro e Daniele De Rossi na sustentação do meio-campo, além de Christian Wilhelmsson, Vucinic e Mancini como escudeiros de Francesco Totti. Já os diabos vermelhos foram a campo num 4-4-2 clássico. Além de Van der Sar, a linha defensiva contava com John O’Shea, Wes Brown, Rio Ferdinand e Gabriel Heinze. Ronaldo e Giggs faziam os lados do meio-campo, com Michael Carrick e Darren Fletcher no centro, devido à ausência do suspenso Paul Scholes, enquanto Rooney e Alan Smith comandavam o ataque.
A Roma começou o jogo bem, dando dois sustos na torcida inglesa. O primeiro deles foi com um belo chute do chileno Pizarro, de fora da área: a bola, rasteira, passou tirando tinta da meta de Van der Sar. Pouco tempo depois foi a vez de Totti avançar com a pelota e chutar, novamente rasteiro, no canto do goleiro holandês. Assim como no tiro de Pizarro, a bola passou perto da trave do United.
Porém o bom começo romano não perdurou. Aos 11 minutos, Cristiano Ronaldo recebeu na ponta esquerda e encontrou Carrick no meio. O volante inglês carregou a bola e chutou de bico, encobrindo Doni, que estava adiantado. Seis minutos depois, mais um gol do Manchester United: contra-ataque dos Red Devils e Giggs, de primeira, lançou para Smith contar com erro de Chivu e bater colocado, no canto de Doni – novamente adiantado. Dois minutos após sofrer o segundo gol, a Roma viu Rooney ampliar ao completar bom cruzamento de Giggs. Com menos de 20 minutos, o Manchester United dilacerava a vice-campeã italiana: 3 a 0.
Precisando de dois gols para avançar, a Roma até tentou abafar o time da casa, mas sem grande sucesso. Com Pizarro comandando as ações ofensivas dos giallorossi, a equipe pressionava o United contra a parede, mas não conseguia converter a pressão em chances claras de gols. Sem exigir nenhuma grande defesa de Van der Sar no primeiro tempo, a Roma ainda viu Cristiano Ronaldo aumentar o placar aos 44 minutos. O português recebeu na ponta, partiu para cima de Chivu e encontrou um buraco no canto esquerdo de Doni, mal posicionado.
O segundo tempo começou como havia terminado o primeiro: com gol de Cristiano. Aos 49 minutos, Ronaldo apareceu para completar mais um cruzamento rasteiro do capitão Giggs, que somou sua terceira assistência na partida. Mesmo com 5 a 0 no marcador, o Manchester United não parava de atacar. Aos 60, Carrick anotou o seu segundo gol no jogo, novamente encobrindo Doni. O inglês recebeu no meio e chutou colocado e com força, sem oferecer chances ao goleiro brasileiro: ele estava muito adiantado, mas não chegaria na bola ainda que estivesse bem posicionado.
A equipe visitante só diminuiu a vantagem aos 69, quanto De Rossi anotou o único gol romano na partida. E que gol: o sem pulo de costas para a meta de Van der Sar era uma finalização de altíssima dificuldade, mas nem foi comemorado por DDR, diante do vexame giallorosso.
O resultado, porém, só seria selado aos 81 minutos, quando Evra chutou de fora e anotou o último tento da partida. O gol do francês teve, mais uma vez, uma grande colaboração de Doni. O brasileiro aceitou um chute fraco e rasteiro de Evra, que soube se aproveitar do péssimo posicionamento do guarda-redes. Dos sete gols sofridos pela Roma, Doni teve colaboração em cinco.
A noite ruim do goleiro, contudo, não apaga o péssimo desempenho de toda a equipe italiana: só ajuda a explicar como um time com tanto talento ruiu diante de um United inspirado. Até porque, na edição seguinte da UCL, a Roma voltou a cair ante o time de Manchester. Ainda em 2006-07, os diabos vermelhos não passariam pelo Milan nas semifinais, já que Kaká deu show e levou o Milan à decisão (com direito a revanche) contra o Liverpool. Mas essa já é uma outra história.
Manchester United 7-1 Roma (8-3 no placar agregado)
Manchester United: Van der Sar; O’Shea (Evra), Brown, Ferdinand, Heinze; Ronaldo, Carrick (Richardson), Fletcher, Giggs (Solskjaer); Rooney, Smith. Técnico: Alex Ferguson.
Roma: Doni; Cassetti, Mexès, Chivu, Panucci; De Rossi (Faty), Pizarro; Wilhelmsson (Rosi), Vucinic, Mancini (Okaka); Totti. Técnico: Luciano Spalletti.
Local e data: Old Trafford, Manchester (Inglaterra), em 10 de abril de 2007.
Gols: Carrick (11′ e 60′), Smith (17′), Rooney (19′), Ronaldo (43′ e 48′) e Evra (80′); De Rossi (69′).
Árbitro: Lubos Michel (Eslováquia).